“O
líder e a atual encruzilhada humana
Estamos vivendo uma era
de transformações. A realidade do mundo moderno, as inovações tecnológicas e as
mudanças nos padrões culturais e sociais estão alterando sensivelmente as
relações do ser humano com seu ambiente familiar e corporativo.
Antes
vivíamos conectados com a natureza, a terra, a água, as coisas que nos faziam
bem. Hoje estamos, durante todo o tempo, conectados a um smartphone e a
internet, compartilhando individualidades, em uma busca desenfreada pela
exposição e com um sentimento de competição. Por fim, fica a sensação de que o
dia foi insuficiente para resolver todas as nossas tarefas.
Nossos
amigos agora são virtuais; compartilhamos mensagens em vez de emoções.
Pergunto-me se e pergunto-lhes será esse o caminho para o desenvolvimento da
humanidade. Se a informação por si só nos levasse a bons lugares, estaríamos
vivendo no paraíso. Entretanto, as pessoas estão cada vez mais querendo disputar
e demonstrar um status econômico e social. Isso faz com que elas sofram dentro
do ambiente corporativo.
Sabemos
que uma organização se faz com a união de pessoas focadas em trabalhar, se
organizar e ganhar dinheiro, pois necessitam satisfazer suas necessidades
pessoais e econômicas. Nesse ambiente, a palavra solidariedade deve caminhar
junto à competitividade e, infelizmente, não é o que observamos atualmente. As
pessoas, cada vez mais, tem visto seus colegas de trabalho como concorrentes ou
ameaças. Isso gera um sofrimento por estresse, doenças psicossociais ou até
físicas e apatia no trabalho. Elas vivem a segunda-feira como um martírio e
terminam a sexta-feira como se estivessem saindo de uma prisão.
De
acordo com pesquisa realizada pela International
Stress Management Association, no Brasil, quase metade dos profissionais,
hoje, está apresentando sintomas de estresse. E o trabalho é a principal causa
disso. Ainda segundo a pesquisa, quase 71% das pessoas entrevistadas apontaram
a falta de tempo, as relações e o excesso de tarefas como causas primordiais do
estresse.
Diante
desse cenário sem perspectivas de mudanças em curto prazo, a figura do novo
líder desponta como fator transformador dentro das organizações e na sociedade.
Grandes líderes sempre motivaram grandes mudanças movendo as pessoas e as
nações pela inspiração, pelo exemplo e pelas atitudes.
Segundo
o físico quântico indiano Amit Goswani, em seminário recente no Brasil, o novo
líder deve basear-se no princípio de amor no cérebro, liberando o medo e a
necessidade de controle, para deixar a intuição influir. O papel do novo líder
é esse. Motivar, transformar ambientes corporativos, defender e proteger o meio
ambiente, zelar pelos valores éticos e morais; ser uma vela sempre acesa,
inspirando a transformação em outras pessoas. E para isso, é preciso investir
fundo no autoconhecimento.
Um
verdadeiro líder precisa, antes de tudo, alcançar a liderança de sua própria
vida, para depois seguir como exemplo de transformação. O exemplo de Nelson
Mandela como um líder, que passou por um processo profundo de autoconhecimento
durante seu exílio e prisão mostrou como ele ficou depois disso, preparado para
conduzir uma revolução no seu país e promover mudanças que repercutiram em todo
o mundo. Essa é a encruzilhada atual da humanidade. Ou investimos nesse caminho
de autoconhecimento, estando preparados para as mudanças necessárias, ou
ficamos reféns dos modelos mentais coletivos, correndo o risco de passar a vida
sem deixar um legado.”
(GLAUCUS
PASSOS BOTINHA. Diretor do grupo Selpe Recursos Humanos e diretor da
Associação Comercial e Empresarial de Minas, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 1º de maio
de 2014, caderno OPINIÃO, página 7).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
21 de maio de 2014, caderno OPINIÃO, página
9, de autoria de FREI BETTO, escritor,
autor de A obra do artista – uma visão
holística do Universo (José Olympio), entre outros livros, e que merece
igualmente integral transcrição:
“Preconceitos
García Márquez, em Doze contos peregrinos, conta a história
de um cachorro que, todos os domingos, era encontrado no cemitério de
Barcelona, junto ao túmulo de Maria dos Prazeres, uma ex-prostituta.
Com
certeza se inspirou nas histórias reais de Bobby, um terrier de Edimburgo,
Escócia, que durante 14 anos guardou o túmulo de seu dono, enterrado em 1858.
Pessoas comovidas com a sua fidelidade cuidavam de alimentá-lo. O animal foi
sepultado ao lado e, hoje, há ali uma pequena escultura dele e uma lápide, na
qual gravaram: “Que a sua lealdade e devoção sejam uma lição para todos nós”.
Em
Tóquio, ergueram também uma estátua na estação Shibuya, em homenagem a Hachiko,
cão da raça Akita que todos os dias ali aguardava seu dono retornar do
trabalho. O homem morreu em 1925. Durante 11 anos o cachorro foi aguardá-lo na
mesma hora em que costumava regressar. Hoje, a estação tem o nome do animal.
Cães
e seres humanos são mamíferos e, como tal, exigem cuidados permanentes, em
especial na infância, na doença e na velhice. Manter vínculos de afeto é
essencial à felicidade da espécie humana. A Declaração da Independência dos EUA
teve a sabedoria de incluir o direito à felicidade, considerada uma satisfação
das pessoas com a própria vida.
Pena
que atualmente muitos estadunidenses considerem a felicidade uma questão de
posse, e não de dom. Daí a infelicidade geral da nação, traduzida no medo à
liberdade, nas frequentes matanças, no espírito bélico, na indiferença para com
a preservação ambiental e as regiões empobrecidas do mundo.
É o
chamado “mito do macho”, segundo o qual a natureza foi feita para ser explorada,
a guerra é intrínseca à espécie humana, como acreditava Churchill; e a
liberdade individual está acima do bem-estar da comunidade.
O
darwinismo social é uma ideologia cujos hipotéticos fundamentos já foram
derrubados pela ciência, em especial a biologia e a antropologia. Basta ler os
trabalhos do pesquisador Frans de Waal, editados no Brasil pela Companhia das
Letras. Essa ideologia foi introduzida na cultura ocidental pelo filósofo
inglês Herbert Spencer, que no século 19 deslocou supostas leis da natureza,
indevidamente atribuídas a Darwin, para o mundo dos negócios. John D.
Rockfeller chegou ao ponto de atribuir à riqueza um caráter religioso ao
afirmar que a acumulação de uma grande fortuna “nada mais é que o resultado de
uma lei da natureza e de uma lei de Deus”.
Na
natureza há mais cooperação que competição, afirmam hoje os cientistas. O
conceito de seleção natural de Darwin deriva de sua leitura de Thomas Malthus,
que em 1798 publicou um ensaio sobre o crescimento populacional. Malthus
afirmava que a população que crescer à velocidade maior que o seu estoque de
alimentos seria inevitavelmente reduzida pela fome.
Spencer
agarrou essa ideia para concluir que, na sociedade, os mais aptos progridem à
custa dos menos aptos e, portanto, a competição é positiva e natural. E os que
são cegos às verdadeiras causas da desigualdade social alegam que a miséria
decorre do excesso de pessoas neste planeta, e que medidas rigorosas de
limitação da natalidade devem ser aplicadas.
Nem
Malthus nem Spencer colocaram uma questão muito simples que, em dados atuais,
merece resposta: se somos 7 bilhões de seres humanos e, segundo a FAO,
produzimos alimentos para 12 bilhões de bocas, como justificar a desnutrição de
1,3 bilhão de pessoas? A resposta é óbvia: não há excesso de bocas, há falta de
justiça.
Quanto
mais são derrubadas barreiras entre classes, hierarquias, pessoas de cor de
pele diferente, mais os privilegiados e seus ideólogos se empenham em busca de
possíveis justificativas para provar que, entre humanos, uns são naturalmente
mais aptos que outros.
Outrora,
os nobres eram considerados uma espécie diferente, dotada de “sangue azul”.
Como quase não tomavam sol e tinham a pele muito branca, as veias das mãos e
dos braços davam essa impressão.
Com a
Revolução Industrial, gente comum se tornou rica, superando em fortuna a
nobreza. Foi preciso então uma nova ideologia para tranquilizar aqueles que
galgam o pico da opulência sem olhar para trás. “Que o Estado e a Igreja cuidem
dos pobres”, insistiam eles. E tão logo o Estado e A Igreja passaram a dar
atenção aos pobres (e é bom frisar, sem deixar de cuidar dos ricos, que o digam
o BNDES e a Cúria Romana), como no caso do Estado de bem-estar social, do
socialismo e da Teologia da Libertação, os privilegiados puseram a boca no
trombone, demonizando as políticas sociais, acusadas de gastos excessivos, e a
“opção pelos pobres” da Igreja.
Preconceitos
e discriminações não nascem na natureza. Brotam em nossas cabeças e contaminam
as nossas almas.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas
estruturas educacionais, governamentais,
jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais,
de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada
ordem; III – o desperdício, em todas
as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos (por
exemplo, os sempre crescentes congestionamentos especialmente nas regiões
metropolitanas...);
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma
imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal
sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa
capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte,
acessibilidade); minas e energia;
emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema
financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança
alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal;
defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e
inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento
– estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia,
efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade);
entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios que, de
maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e
solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas,
oportunidades e potencialidades com todas
as brasileiras e com todos os brasileiros.
Ainda mais particularmente no horizonte de investimentos bilionários previstos
e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do
PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da
globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...