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quarta-feira, 21 de outubro de 2015

A CIDADANIA, A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA, A ARTE E O SUBLIME

“Mais ciência, mais cidadania
         Hoje, 16 de outubro, Dia Nacional da Ciência e Tecnologia, gostaria de destacar a importância da educação científica para o Brasil. Neste momento, não me refiro apenas à sua relevância na formação profissional de jovens. Investir na educação científica é colher benefícios para profissionais, empresas, instituições, sociedade, enfim, todos. Acredito que uma educação que estimula a curiosidade, a experimentação e o raciocínio lógico, características próprias do pensamento científico, pode ajudar no desenvolvimento do nosso país e até mesmo na evolução do Brasil como nação democrática e mais igualitária.
         Explico: a educação científica traz outros ganhos que, por vezes, não são percebidos como advindos de um ensino mais plural. O pensamento científico impõe ordenação (princípio, meio e fim) e análise das variantes (causa e consequência). Esse tipo de instrução pode contribuir para um melhor entendimento dos desafios e proposição de respectivas soluções. No exterior, o movimento que apoia o estudo dessas disciplinas – ciências, tecnologia, matemática e engenharia (STEM, na sigla em inglês) – já está mais maduro. No Brasil, algumas organizações já procuram patrocinar iniciativas que incentivam o ensino dessas matérias desde a mais tenra idade. O objetivo é criar um modelo mental que leva a uma sociedade mais desenvolvida, que não apenas enxerga o problema, mas sabe questioná-lo e apresenta as soluções necessárias. No cenário econômico, o pensamento científico pode significar competitividade, um ganho tão almejado pelas empresas. Com profissionais mais capacitados, inovação e sustentabilidade saem do discurso corporativo para a realidade de produtos e serviços que usam menos recursos naturais, ao mesmo tempo em que preservam o meio ambiente, características essenciais para as empresas que buscam não somente prosperar, mas continuar com seus negócios no longo prazo. Um dos entraves da educação para as ciências hoje é a atual estrutura rígida  dos currículos nas escolas brasileiras. É preciso criar mais estímulo para as crianças, para que elas exerçam sua curiosidade. Permitir um espaço para a elaboração de perguntas e que essas se desdobrem em ações colaborativas. Um conhecimento dinâmico como é a sociedade hoje. Nesse sentido, acredito que qualificar o professor, como interface para se atingir os alunos, é umas das maneiras de colocar a ciência em pauta. É também confirmar a importância dos educadores e torna-los protagonistas. É criar momentos para a experimentação, deixando de lado o rótulo de que física, química e outras matérias sejam algo amedrontador ou difícil, para se tornar uma ocasião de compreensão e interação do ser humano com o mundo que o circunda.
         É preciso, também, investir mais em espaços de educação não formal. Isso significa fomentar visitas a museus de ciências, criar eventos de aproximação da população com as universidades, enfim, dar acesso a mais pessoas aos conteúdos científicos. E, assim, alimentar o círculo virtuoso da cidadania acima descrito: saber questionar os problemas e propor soluções duradouras. A educação deve ser multiplicada e compartilhada, pois, assim, enriquecerá todos.”

(LEONARDO GLOOR. Superintendente da Fundação Arcelor/Mittal, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 16 de outubro de 2015, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 9 de outubro de 2015, caderno PENSAR, página principal, de autoria de VERLAINE FREITAS, professor do Departamento de Filosofia da UFMG e pesquisador do CNPq, por ocasião do 12º CONGRESSO INTERNACIONAL DE ESTÉTICA – BRASIL, “O TRÁGICO, O SUBLIME E A MELANCOLIA”, realizado em Belo Horizonte), e que merece igualmente integral transcrição:

“Sublime contradição
        Quando à noite olhamos atentamente para o céu estrelado longe das luzes das grandes cidades, temos uma experiência estética avassaladora. Os astros que brilham desde a imensidão inalcançável de um cosmos e se derramam ao infinito não são apenas “belos”. Na verdade, se tentarmos apreender todos aqueles pontos luminosos em nosso campo perceptivo para formar uma totalidade, ao mesmo tempo em que reforçamos nossa consciência de que por detrás de cada fonte de luz daquelas existem bilhões e bilhões de outras; se tentarmos progredir rumo a uma unidade abrangente de tudo o que podemos captar visualmente nessa enorme abóbada celeste, chegará rapidamente um instante em que nos apercebemos de um limite: o infinito do cosmos não cabe na finitude, no enquadramento de nossa visão.
         Prestando atenção a essa experiência, vemos que, no instante em que fracassamos ao tentar produzir uma imagem total do infinito, temos uma sensação de desprazer, marcada por uma insuficiência constitutiva de nossos poderes de conhecimento da realidade. É como se desejássemos, inconscientemente, tornar comensurável a nós aquilo que escapa a todas as medidas possíveis. Todos os objetos que admitem essa equalização conosco podem, em grande parte, ser chamados “belos”, pois nosso vínculo com eles é de harmonia, de um prazer positivamente experimentado. Como classificaremos, porém, aquela experiência, em princípio dolorosa, com um objeto grandiloquente, que escapa indefinidamente ao senso de harmonização? Além disso, não haverá prazer mesclado a essa sensação de desconforto?
         Desde a Antiguidade grega reservou-se o conceito de sublime para demarcar a experiência estética que escapa aos limites da beleza, colocando-nos face a face com o incomensurável, ou seja, com o infinitamente grande. Para quem realizou alguma vez de forma consistente essa experiência de contemplar a miríade de astros luminosos que ressaltam como ondas estacionárias, recobrindo de um véu espesso o fundo negro e abissal do firmamento, torna-se claro que o desprazer do vínculo com um ilimitado que não cabe em nossa totalidade perceptiva é acompanhado, sim, de um prazer. Trata-se de uma experiência que, em toda sua completude, será satisfatória, de alguma maneira. A pergunta é: como explicar esse prazer posterior que precisou atravessar a negatividade para poder surgir?
         Segundo a perspectiva do filósofo alemão Immanuel Kant, esse infinito da natureza que parece nos oprimir acabará sendo assimilado como uma espécie de eco ou reflexo da grandiosidade de nosso próprio espírito. É como se nossa incapacidade de fornecer uma imagem do infinito fosse instantaneamente transformada em uma potência de figuração de uma outra ordem, em que somos levados a nos situar em um novo plano de concepção de nós e da natureza, no qual a profundidade e o poder e nossa razão, de nossa espiritualidade e de nossa subjetividade não apenas podem ser comparados ao infinito, mas até mesmo vivenciados como superiores a ele!
         Entre as diversas facetas desse movimento duplo de desprazer e prazer, uma que é especialmente interessante e a da necessidade de nos mantermos conscientes de que se trata apenas de uma experiência estética, contemplativa, calcada pela busca de prazer. Se nos abandonarmos muito literalmente ao fluxo transbordante de nos percebermos esmagados pela grandiosidade da natureza, acabaremos por não sentir o prazer do sublime, mas sim algum outro, que talvez se assemelhe ao êxtase religioso, por exemplo. Além disso, é necessário haver certa maturidade cultural, pois uma criança dificilmente teria a sobriedade e altivez de espírito suficientes para buscar forças íntimas, internas, para se medir com essa infinidade esmagadora.
         A natureza, porém, não é sublime apenas em sua grandeza infinita, mas também em sua força. Quando vemos uma tempestade colossal em alto mar, que pode abater em sua fúria inominável qualquer embarcação humana, por maior e mais robusta que esta seja; quando vemos a torrente de lavas vulcânicas arrasando várias cidades que se desintegram instantaneamente soterradas por aquele fogo irrepresável; quando presenciamos um furacão que arrasta a tudo e a todos em seu redemoinho que não conhece nenhum obstáculo, seja ele natural ou humano – em todos esses momentos podemos experimentar o desprazer de não sermos comensuráveis a uma força gigantesca, mas, em um segundo momento, também podemos experimentar aquela reviravolta de nos medirmos espiritualmente com isso que ultrapassa todas as medidas humanas, sentindo prazer.
         Esses dois tipos de sublimidade, da grandeza e da força, foram ditos para a natureza. Uma pergunta que intrigou diversos filósofos posteriores a Kant é: poderia a arte também proporcionar esse tipo de prazer? – que ela seja capaz de representar o que vemos como sublime na natureza não há dúvida, tal como em pinturas de paisagens colossais, de maremotos, cordilheiras que se perdem ao infinito etc. A questão mais difícil de responder é se esse movimento contraditório pode ser vivenciado na própria relação com o objeto artístico.
         Diversas respostas foram tentadas por filósofos e artistas no século 20. Fazendo um apanhado de pontos principais de algumas teorias, podendo dizer que o sublime é uma categoria aplicável propriamente à arte moderna, que se firmou a partir das vanguardas surgidas pouco antes e pouco depois de 1900. Quando a pintura deixa de ter como seu elemento próprio a representação figurativa da realidade, passando a ser não apenas abstrata, mas incorporando principalmente o feio, o repugnante e o disforme como ingredientes de uma linguagem pictórica múltipla, que extrapola e contradiz em grande medida o belo, temos aí um primeiro momento de negatividade comparável ao desprazer inicial do sublime. Cada uma das pinturas que rompem com nosso desejo de compreensão do que está sendo representado, desafiando o nosso senso estético prévio, ajuda a estabelecer, no conjunto das produções pictóricas, um horizonte que se alarga cada vez mais, incorporando materiais tão divergentes e estranhos a esta arte, que a percepção da ruptura radical de nossa apreensão de tais objetos se mostra análoga à impossibilidade de fazer convergir o infinito da natureza em uma totalidade perceptiva.
         Ao contrário da teoria de Kant, que percebia o momento de prazer sublime na equalização do infinito da natureza à profundidade do espírito humano, na arte moderna, segundo Theodor Adorno, a dimensão “positiva” do sublime continua a ser negativa em certo sentido, a saber, na medida em que tomamos consciência do quanto toda essa negatividade trazida à luz nas obras de arte é um testemunho do que foi recalcado, expulso para o subterrâneo da história pelos padrões de racionalidade, de moral, de concepção de produtividade econômica etc. É como se todo o horizonte da beleza e dos ideais de harmonização figurativa fosse rompido para dar acesso a uma verdade mais profunda e substantiva, que, embora nos conecte com o absurdo, o sem-sentido, o feio e o repugnante, nos dá o prazer do reconhecimento de extratos de experiência bem propriamente humanos, afins ao que a psicanálise se esforça em desvelar laboriosamente por meio de sua pesquisa sobre o inconsciente.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)      a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)      o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em setembro a estratosférica marca de 361,40% ao ano; e mais, também em setembro, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,49%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

     c)       a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”  
  
     

   





terça-feira, 13 de outubro de 2015

A CIDADANIA, AS TRÊS PERGUNTAS DE KANT E O JORNALISMO DE QUALIDADE

“As três perguntas
        Vivemos momentos complicados no Brasil. Assistimos a manifestações de insatisfação sem resultado prático que se possa avaliar como positivo, e isso causa perplexidade. Confesso que me deixa perplexa o fato de a insatisfação declarada nem fazer cócegas na máquina pública.
         Se a vontade do povo, expressa nas manifestações, não é escutada e nada causa, o que é uma democracia? Um conceito ideal e abstrato que devemos defender, porém impraticável? Recuso-me a tal conclusão. Jamais podemos abrir mão da vontade democrática, que abriga contrários e divergentes. Nesse caso, parece um bom começo nos guiarmos pelas três perguntas de Kant, o filósofo da razão prática, para entender por que pouco vemos os efeitos das manifestações nestes tempos.
         Três perguntas norteiam a ética da prática da ação feita por Kant – O que posso saber? O que devo fazer? O que é lícito esperar?
         No Brasil da propina, que a maioria diz odiar e repudiar, nem todo político eleito pelo voto representa o eleitor. Precisamos saber um pouco mais sobre o mundo que nos cerca. Perceber que os parceiros escolhidos pelo governo atual são as ditaduras da América Latina, e é lá onde nosso dinheiro está sendo investido. Portanto, vivemos numa política autoritarista, que passa longe dos primeiros tempos do Partido dos Trabalhadores que se queria para o povo e pelo povo. Aquele PT já era.
         Devemos fazer oposição não apenas com panelaços ou redes sociais, mas nas urnas. É lá que se decide a quem dar a procuração que nos representará. Até agora, isso ocorre de forma absolutamente incompreensível ou suspeita. Só o voto de cabresto explica certas reeleições. Paira sobre essa questão um mistério. Somos obrigados por lei a reeleger o mesmo sistema.
         “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. O que devo fazer? Boa pergunta, ainda sem resposta. Precisamos construir saídas práticas, novas opções.
         O que posso esperar? A esperança. Polêmica. A última a sair da caixa de Pandora. Aquela que devemos deixar para trás ao adentrarmos o inferno de Dante. Para que serve a esperança senão para projetarmos nossos sonhos e anseios que a realidade trata de frustrar quase invariavelmente?
         A diferença entre os discursos kantiano e psicanalítico está na questão do universal e do particular. Para Kant, devíamos agir de modo que a máxima da nossa vontade pudesse valer como legislação universal. Por sua vez, a psicanálise trabalha com o particular mais íntimo e singular, sabendo que nenhum outro jamais poderá ter desejo idêntico ao nosso. Portanto, a alteridade radical presentifica a impossibilidade de comunhão plena e absoluta numa comunidade humana.
         Aqui, estaremos sempre lidando com a diversidade. É preciso que, mesmo e apesar da dificuldade que isso nos coloca, saibamos que o respeito pelo espaço comum, pelo ar que respiramos e pelos rumos da humanidade merece uma ética que possa acolher essa diversidade.
         Esperar que os ideais se tornem realidade é ilusão ingênua. Mas é preciso que um pouco deles possa ter lugar para que nem tudo esteja perdido. Talvez fosse viável que cada um de nós fizesse tais perguntas a si próprio antes de qualquer ação, para que saiamos do estágio de corrupção endêmica.
         Será necessário romper com valores, interesses e privilégios particulares. O problema é que a inversão de valores é adotada por parte dessa sociedade e, afinal, já não importa por que meios encontrar o valor que não está mais nas virtudes, no caráter e na solidariedade, mas no volume dos bolsos e das cuecas.”

(REGINA TEIXEIRA DA COSTA, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 11 de outubro de 2015, caderno CULTURA, coluna EM DIA COM A PSICANÁLISE, página 2).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 12 de outubro de 2015, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de CARLOS ALBERTO DI FRANCO, jornalista, e que merece igualmente integral transcrição:

“Jornalismo fascina e vende
        As virtudes e as fraquezas dos jornais não são recatadas. Registram-nas fielmente os sensíveis radares dos leitores. Precisamos, por isso, derrubar inúmeros desvios que conspiram contra a credibilidade dos jornais.
         Um deles, talvez o mais resistente, é o dogma da objetividade absoluta. Transmite, num solene tom de verdade, a falsa certeza da neutralidade jornalística. Só que essa separação radical entre fatos e interpretações simplesmente não existe. É uma bobagem.
         Jornalismo não é ciência exata e jornalistas não são robôs. Além disso, não se faz um bom jornalismo sem emoção. A frieza é anti-humana e, portanto, antijornalística. A neutralidade é uma mentira, mas a isenção é uma meta a ser perseguida. Todos os dias. A imprensa honesta e desengajada tem um compromisso com a verdade. E é isso que conta.
         Mas a busca da isenção enfrenta a sabotagem da manipulação deliberada, a falta de rigor e o excesso de declarações entre aspas. O jornalista engajado é sempre um mau repórter. Militância e jornalismo não combinam. Trata-se de uma mescla, talvez compreensível e legítima nos anos sombrios da ditadura, mas que, agora, tem a marca do atraso e o vestígio do sectarismo. O militante não sabe que o importante é saber escutar. Esquece, ofuscado pela arrogância ideológica ou pela névoa do partidarismo, que as respostas são sempre mais importantes que as perguntas.
         A grande surpresa no jornalismo é descobrir que quase nunca uma história corresponde àquilo que imaginávamos. O bom repórter é um curioso essencial, um profissional que é pago para se surpreender. Pode haver algo mais fascinante? O jornalista ético esquadrinha a realidade, o profissional preconceituoso constrói a história.
         Todos os manuais de redação consagram a necessidade de ouvir os dois lados de um mesmo assunto. Trata-se de um esforço de isenção mínimo e incontornável. Alguns desvios transformam um princípio irretocável num jogo de cena.
         Matérias previamente decididas e guetos engajados buscam a cumplicidade da imparcialidade aparente. A decisão de ouvir o outro lado não é sincera, não se fundamenta na busca da verdade. É uma estratégia.
         O assalto à verdade culmina com uma tática exemplar: a repercussão seletiva. O pluralismo de fachada convoca, então, pretensos especialistas para declarar o que o repórter quer ouvir. Personalidades entrevistadas avalizam a “seriedade” da reportagem. Mata-se o jornalismo. Cria-se a ideologia.
         É necessário cobrir os fatos com uma perspectiva mais profunda. Convém fugir das armadilhas do politicamente correto e do contrabando opinativo semeado pelos arautos das ideologias.
         A precipitação e a falta de rigor são outros vírus que ameaçam a qualidade da informação. A manchete de impacto, oposta ao fato ou fora do contexto da matéria, transmite ao leitor a sensação de uma fraude.
         Mesmo assim, os jornais têm prestado um magnífico serviço no combate à corrupção. Alguém imagina que a cascata de denúncias e prisões teria ocorrido sem uma imprensa independente? Jornais de credibilidade  oxigenam a democracia.
         O leitor que precisamos conquistar não quer o que pode conseguir na TV ou na internet. Ele quer algo mais. Quer o texto elegante, a matéria aprofundada, a análise que o ajude, efetivamente, a tomar decisões. Conquistar leitores é um desafio formidável. Reclama realismo, ética e qualidade.
         A autocrítica, justa e necessária, deve ser acompanhada por um firme propósito de transparência e de retificação dos nossos equívocos. Uma imprensa ética sabe reconhecer seus erros. As palavras podem informar corretamente, denunciar situações injustas, cobrar soluções. Mas podem também esquartejar reputações, desinformar. Confessar um erro de português ou uma troca de legendas é fácil. Mas admitir a prática de atitudes de prejulgamento, preconceitos informativos ou leviandade noticiosa exigem coragem, ética. Reconhecer o erro, limpa e abertamente, é o pré-requisito da qualidade.
         O jornalismo tropeça em armadilhas. Nossa profissão enfrenta desafios, dificuldades e riscos sem fim. É aí que mora o fascínio.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)      a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)      o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em agosto a estratosférica marca de 350,79% ao ano; e mais, também em agosto, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,52%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

     c)       a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”