“As
três perguntas
Vivemos momentos
complicados no Brasil. Assistimos a manifestações de insatisfação sem resultado
prático que se possa avaliar como positivo, e isso causa perplexidade. Confesso
que me deixa perplexa o fato de a insatisfação declarada nem fazer cócegas na
máquina pública.
Se a
vontade do povo, expressa nas manifestações, não é escutada e nada causa, o que
é uma democracia? Um conceito ideal e abstrato que devemos defender, porém
impraticável? Recuso-me a tal conclusão. Jamais podemos abrir mão da vontade
democrática, que abriga contrários e divergentes. Nesse caso, parece um bom
começo nos guiarmos pelas três perguntas de Kant, o filósofo da razão prática,
para entender por que pouco vemos os efeitos das manifestações nestes tempos.
Três
perguntas norteiam a ética da prática da ação feita por Kant – O que posso
saber? O que devo fazer? O que é lícito esperar?
No
Brasil da propina, que a maioria diz odiar e repudiar, nem todo político eleito
pelo voto representa o eleitor. Precisamos saber um pouco mais sobre o mundo
que nos cerca. Perceber que os parceiros escolhidos pelo governo atual são as ditaduras
da América Latina, e é lá onde nosso dinheiro está sendo investido. Portanto,
vivemos numa política autoritarista, que passa longe dos primeiros tempos do
Partido dos Trabalhadores que se queria para o povo e pelo povo. Aquele PT já
era.
Devemos
fazer oposição não apenas com panelaços ou redes sociais, mas nas urnas. É lá que
se decide a quem dar a procuração que nos representará. Até agora, isso ocorre
de forma absolutamente incompreensível ou suspeita. Só o voto de cabresto
explica certas reeleições. Paira sobre essa questão um mistério. Somos
obrigados por lei a reeleger o mesmo sistema.
“Quem
sabe faz a hora, não espera acontecer”. O que devo fazer? Boa pergunta, ainda
sem resposta. Precisamos construir saídas práticas, novas opções.
O que
posso esperar? A esperança. Polêmica. A última a sair da caixa de Pandora.
Aquela que devemos deixar para trás ao adentrarmos o inferno de Dante. Para que
serve a esperança senão para projetarmos nossos sonhos e anseios que a
realidade trata de frustrar quase invariavelmente?
A
diferença entre os discursos kantiano e psicanalítico está na questão do
universal e do particular. Para Kant, devíamos agir de modo que a máxima da
nossa vontade pudesse valer como legislação universal. Por sua vez, a
psicanálise trabalha com o particular mais íntimo e singular, sabendo que nenhum
outro jamais poderá ter desejo idêntico ao nosso. Portanto, a alteridade
radical presentifica a impossibilidade de comunhão plena e absoluta numa
comunidade humana.
Aqui,
estaremos sempre lidando com a diversidade. É preciso que, mesmo e apesar da
dificuldade que isso nos coloca, saibamos que o respeito pelo espaço comum,
pelo ar que respiramos e pelos rumos da humanidade merece uma ética que possa
acolher essa diversidade.
Esperar
que os ideais se tornem realidade é ilusão ingênua. Mas é preciso que um pouco
deles possa ter lugar para que nem tudo esteja perdido. Talvez fosse viável que
cada um de nós fizesse tais perguntas a si próprio antes de qualquer ação, para
que saiamos do estágio de corrupção endêmica.
Será
necessário romper com valores, interesses e privilégios particulares. O
problema é que a inversão de valores é adotada por parte dessa sociedade e,
afinal, já não importa por que meios encontrar o valor que não está mais nas
virtudes, no caráter e na solidariedade, mas no volume dos bolsos e das cuecas.”
(REGINA
TEIXEIRA DA COSTA, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 11 de outubro de 2015, caderno CULTURA, coluna EM DIA COM A PSICANÁLISE, página 2).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania
e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 12 de
outubro de 2015, caderno OPINIÃO, página
7, de autoria de CARLOS ALBERTO DI
FRANCO, jornalista, e que merece igualmente integral transcrição:
“Jornalismo
fascina e vende
As virtudes e as
fraquezas dos jornais não são recatadas. Registram-nas fielmente os sensíveis
radares dos leitores. Precisamos, por isso, derrubar inúmeros desvios que
conspiram contra a credibilidade dos jornais.
Um
deles, talvez o mais resistente, é o dogma da objetividade absoluta. Transmite,
num solene tom de verdade, a falsa certeza da neutralidade jornalística. Só que
essa separação radical entre fatos e interpretações simplesmente não existe. É
uma bobagem.
Jornalismo
não é ciência exata e jornalistas não são robôs. Além disso, não se faz um bom
jornalismo sem emoção. A frieza é anti-humana e, portanto, antijornalística. A
neutralidade é uma mentira, mas a isenção é uma meta a ser perseguida. Todos os
dias. A imprensa honesta e desengajada tem um compromisso com a verdade. E é
isso que conta.
Mas a
busca da isenção enfrenta a sabotagem da manipulação deliberada, a falta de
rigor e o excesso de declarações entre aspas. O jornalista engajado é sempre um
mau repórter. Militância e jornalismo não combinam. Trata-se de uma mescla,
talvez compreensível e legítima nos anos sombrios da ditadura, mas que, agora,
tem a marca do atraso e o vestígio do sectarismo. O militante não sabe que o
importante é saber escutar. Esquece, ofuscado pela arrogância ideológica ou pela
névoa do partidarismo, que as respostas são sempre mais importantes que as
perguntas.
A
grande surpresa no jornalismo é descobrir que quase nunca uma história
corresponde àquilo que imaginávamos. O bom repórter é um curioso essencial, um
profissional que é pago para se surpreender. Pode haver algo mais fascinante? O
jornalista ético esquadrinha a realidade, o profissional preconceituoso
constrói a história.
Todos
os manuais de redação consagram a necessidade de ouvir os dois lados de um
mesmo assunto. Trata-se de um esforço de isenção mínimo e incontornável. Alguns
desvios transformam um princípio irretocável num jogo de cena.
Matérias
previamente decididas e guetos engajados buscam a cumplicidade da
imparcialidade aparente. A decisão de ouvir o outro lado não é sincera, não se
fundamenta na busca da verdade. É uma estratégia.
O
assalto à verdade culmina com uma tática exemplar: a repercussão seletiva. O
pluralismo de fachada convoca, então, pretensos especialistas para declarar o
que o repórter quer ouvir. Personalidades entrevistadas avalizam a “seriedade”
da reportagem. Mata-se o jornalismo. Cria-se a ideologia.
É
necessário cobrir os fatos com uma perspectiva mais profunda. Convém fugir das
armadilhas do politicamente correto e do contrabando opinativo semeado pelos
arautos das ideologias.
A
precipitação e a falta de rigor são outros vírus que ameaçam a qualidade da
informação. A manchete de impacto, oposta ao fato ou fora do contexto da
matéria, transmite ao leitor a sensação de uma fraude.
Mesmo
assim, os jornais têm prestado um magnífico serviço no combate à corrupção.
Alguém imagina que a cascata de denúncias e prisões teria ocorrido sem uma
imprensa independente? Jornais de credibilidade
oxigenam a democracia.
O
leitor que precisamos conquistar não quer o que pode conseguir na TV ou na
internet. Ele quer algo mais. Quer o texto elegante, a matéria aprofundada, a
análise que o ajude, efetivamente, a tomar decisões. Conquistar leitores é um
desafio formidável. Reclama realismo, ética e qualidade.
A
autocrítica, justa e necessária, deve ser acompanhada por um firme propósito de
transparência e de retificação dos nossos equívocos. Uma imprensa ética sabe
reconhecer seus erros. As palavras podem informar corretamente, denunciar
situações injustas, cobrar soluções. Mas podem também esquartejar reputações,
desinformar. Confessar um erro de português ou uma troca de legendas é fácil.
Mas admitir a prática de atitudes de prejulgamento, preconceitos informativos
ou leviandade noticiosa exigem coragem, ética. Reconhecer o erro, limpa e
abertamente, é o pré-requisito da qualidade.
O
jornalismo tropeça em armadilhas. Nossa profissão enfrenta desafios,
dificuldades e riscos sem fim. É aí que mora o fascínio.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a)
a educação
– universal e de qualidade –, desde a educação
infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em
pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas
crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –,
até a pós-graduação (especialização,
mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República
proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução
educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do
país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da
justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da
sustentabilidade...);
b)
o combate
implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e
mais devastadores inimigos que são: I – a inflação,
a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se
em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco
Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em agosto a
estratosférica marca de 350,79% ao ano; e mais, também em agosto, o IPCA
acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,52%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa
promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados”
–, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a
lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato,
Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso
específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e
que vem mostrando também o seu caráter transnacional; eis, portanto, que todos os valores que vão
sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515
anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios,
malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a
corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo,
segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a
“... Desconfiança das empresas e das famílias é
grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase
nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses
recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à
ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de
infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de
planejamento...”;
c)
a dívida
pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e
municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do
Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros,
encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão
de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos
da sabedoria grega:
-
pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e
ainda a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta
de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já
combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de
poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições,
negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à
pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas
e sempre crescentes necessidades de ampliação
e modernização de setores como: a gestão
pública; a infraestrutura (rodovias,
ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada,
esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística
reversa); meio ambiente; habitação;
mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda;
agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência
social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança
pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e
desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer;
turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e
operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade
– “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade,
competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a
Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das
exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das
organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
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