“Mais
ciência, mais cidadania
Hoje, 16 de outubro,
Dia Nacional da Ciência e Tecnologia, gostaria de destacar a importância da
educação científica para o Brasil. Neste momento, não me refiro apenas à sua
relevância na formação profissional de jovens. Investir na educação científica
é colher benefícios para profissionais, empresas, instituições, sociedade,
enfim, todos. Acredito que uma educação que estimula a curiosidade, a
experimentação e o raciocínio lógico, características próprias do pensamento
científico, pode ajudar no desenvolvimento do nosso país e até mesmo na
evolução do Brasil como nação democrática e mais igualitária.
Explico:
a educação científica traz outros ganhos que, por vezes, não são percebidos
como advindos de um ensino mais plural. O pensamento científico impõe ordenação
(princípio, meio e fim) e análise das variantes (causa e consequência). Esse
tipo de instrução pode contribuir para um melhor entendimento dos desafios e
proposição de respectivas soluções. No exterior, o movimento que apoia o estudo
dessas disciplinas – ciências, tecnologia, matemática e engenharia (STEM, na
sigla em inglês) – já está mais maduro. No Brasil, algumas organizações já
procuram patrocinar iniciativas que incentivam o ensino dessas matérias desde a
mais tenra idade. O objetivo é criar um modelo mental que leva a uma sociedade
mais desenvolvida, que não apenas enxerga o problema, mas sabe questioná-lo e
apresenta as soluções necessárias. No cenário econômico, o pensamento
científico pode significar competitividade, um ganho tão almejado pelas
empresas. Com profissionais mais capacitados, inovação e sustentabilidade saem
do discurso corporativo para a realidade de produtos e serviços que usam menos
recursos naturais, ao mesmo tempo em que preservam o meio ambiente,
características essenciais para as empresas que buscam não somente prosperar,
mas continuar com seus negócios no longo prazo. Um dos entraves da educação
para as ciências hoje é a atual estrutura rígida dos currículos nas escolas brasileiras. É
preciso criar mais estímulo para as crianças, para que elas exerçam sua
curiosidade. Permitir um espaço para a elaboração de perguntas e que essas se
desdobrem em ações colaborativas. Um conhecimento dinâmico como é a sociedade
hoje. Nesse sentido, acredito que qualificar o professor, como interface para
se atingir os alunos, é umas das maneiras de colocar a ciência em pauta. É
também confirmar a importância dos educadores e torna-los protagonistas. É criar
momentos para a experimentação, deixando de lado o rótulo de que física,
química e outras matérias sejam algo amedrontador ou difícil, para se tornar
uma ocasião de compreensão e interação do ser humano com o mundo que o
circunda.
É
preciso, também, investir mais em espaços de educação não formal. Isso
significa fomentar visitas a museus de ciências, criar eventos de aproximação
da população com as universidades, enfim, dar acesso a mais pessoas aos
conteúdos científicos. E, assim, alimentar o círculo
virtuoso
da cidadania acima descrito: saber questionar os problemas e propor soluções
duradouras. A educação deve ser multiplicada e compartilhada, pois, assim,
enriquecerá todos.”
(LEONARDO
GLOOR. Superintendente da Fundação Arcelor/Mittal, em artigo publicado no
jornal ESTADO DE MINAS, edição de 16
de outubro de 2015, caderno OPINIÃO, página
7).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 9
de outubro de 2015, caderno PENSAR, página
principal, de autoria de VERLAINE
FREITAS, professor do Departamento de Filosofia da UFMG e pesquisador do
CNPq, por ocasião do 12º CONGRESSO INTERNACIONAL DE ESTÉTICA – BRASIL, “O
TRÁGICO, O SUBLIME E A MELANCOLIA”, realizado em Belo Horizonte), e que merece
igualmente integral transcrição:
“Sublime
contradição
Quando à noite olhamos
atentamente para o céu estrelado longe das luzes das grandes cidades, temos uma
experiência estética avassaladora. Os astros que brilham desde a imensidão
inalcançável de um cosmos e se derramam ao infinito não são apenas “belos”. Na
verdade, se tentarmos apreender todos aqueles pontos luminosos em nosso campo
perceptivo para formar uma totalidade, ao mesmo tempo em que reforçamos nossa
consciência de que por detrás de cada fonte de luz daquelas existem bilhões e
bilhões de outras; se tentarmos progredir rumo a uma unidade abrangente de tudo
o que podemos captar visualmente nessa enorme abóbada celeste, chegará
rapidamente um instante em que nos apercebemos de um limite: o infinito do
cosmos não cabe na finitude, no enquadramento de nossa visão.
Prestando
atenção a essa experiência, vemos que, no instante em que fracassamos ao tentar
produzir uma imagem total do infinito, temos uma sensação de desprazer, marcada
por uma insuficiência constitutiva de nossos poderes de conhecimento da
realidade. É como se desejássemos, inconscientemente, tornar comensurável a nós
aquilo que escapa a todas as medidas possíveis. Todos os objetos que admitem
essa equalização conosco podem, em grande parte, ser chamados “belos”, pois
nosso vínculo com eles é de harmonia, de um prazer positivamente experimentado.
Como classificaremos, porém, aquela experiência, em princípio dolorosa, com um
objeto grandiloquente, que escapa indefinidamente ao senso de harmonização?
Além disso, não haverá prazer mesclado a essa sensação de desconforto?
Desde
a Antiguidade grega reservou-se o conceito de sublime para demarcar a
experiência estética que escapa aos limites da beleza, colocando-nos face a
face com o incomensurável, ou seja, com o infinitamente grande. Para quem
realizou alguma vez de forma consistente essa experiência de contemplar a
miríade de astros luminosos que ressaltam como ondas estacionárias, recobrindo
de um véu espesso o fundo negro e abissal do firmamento, torna-se claro que o
desprazer do vínculo com um ilimitado que não cabe em nossa totalidade
perceptiva é acompanhado, sim, de um prazer. Trata-se de uma experiência que,
em toda sua completude, será satisfatória, de alguma maneira. A pergunta é:
como explicar esse prazer posterior que precisou atravessar a negatividade para
poder surgir?
Segundo
a perspectiva do filósofo alemão Immanuel Kant, esse infinito da natureza que
parece nos oprimir acabará sendo assimilado como uma espécie de eco ou reflexo
da grandiosidade de nosso próprio espírito. É como se nossa incapacidade de
fornecer uma imagem do infinito fosse instantaneamente transformada em uma
potência de figuração de uma outra ordem, em que somos levados a nos situar em
um novo plano de concepção de nós e da natureza, no qual a profundidade e o
poder e nossa razão, de nossa espiritualidade e de nossa subjetividade não
apenas podem ser comparados ao infinito, mas até mesmo vivenciados como superiores
a ele!
Entre
as diversas facetas desse movimento duplo de desprazer e prazer, uma que é
especialmente interessante e a da necessidade de nos mantermos conscientes de
que se trata apenas de uma experiência estética, contemplativa, calcada pela
busca de prazer. Se nos abandonarmos muito literalmente ao fluxo transbordante
de nos percebermos esmagados pela grandiosidade da natureza, acabaremos por não
sentir o prazer do sublime, mas sim algum outro, que talvez se assemelhe ao
êxtase religioso, por exemplo. Além disso, é necessário haver certa maturidade
cultural, pois uma criança dificilmente teria a sobriedade e altivez de
espírito suficientes para buscar forças íntimas, internas, para se medir com
essa infinidade esmagadora.
A
natureza, porém, não é sublime apenas em sua grandeza infinita, mas também em
sua força. Quando vemos uma tempestade colossal em alto mar, que pode abater em
sua fúria inominável qualquer embarcação humana, por maior e mais robusta que
esta seja; quando vemos a torrente de lavas vulcânicas arrasando várias cidades
que se desintegram instantaneamente soterradas por aquele fogo irrepresável;
quando presenciamos um furacão que arrasta a tudo e a todos em seu redemoinho
que não conhece nenhum obstáculo, seja ele natural ou humano – em todos esses
momentos podemos experimentar o desprazer de não sermos comensuráveis a uma
força gigantesca, mas, em um segundo momento, também podemos experimentar
aquela reviravolta de nos medirmos espiritualmente com isso que ultrapassa
todas as medidas humanas, sentindo prazer.
Esses
dois tipos de sublimidade, da grandeza e da força, foram ditos para a natureza.
Uma pergunta que intrigou diversos filósofos posteriores a Kant é: poderia a
arte também proporcionar esse tipo de prazer? – que ela seja capaz de
representar o que vemos como sublime na natureza não há dúvida, tal como em
pinturas de paisagens colossais, de maremotos, cordilheiras que se perdem ao
infinito etc. A questão mais difícil de responder é se esse movimento contraditório
pode ser vivenciado na própria relação com o objeto artístico.
Diversas
respostas foram tentadas por filósofos e artistas no século 20. Fazendo um apanhado
de pontos principais de algumas teorias, podendo dizer que o sublime é uma
categoria aplicável propriamente à arte moderna, que se firmou a partir das
vanguardas surgidas pouco antes e pouco depois de 1900. Quando a pintura deixa
de ter como seu elemento próprio a representação figurativa da realidade,
passando a ser não apenas abstrata, mas incorporando principalmente o feio, o
repugnante e o disforme como ingredientes de uma linguagem pictórica múltipla,
que extrapola e contradiz em grande medida o belo, temos aí um primeiro momento
de negatividade comparável ao desprazer inicial do sublime. Cada uma das
pinturas que rompem com nosso desejo de compreensão do que está sendo
representado, desafiando o nosso senso estético prévio, ajuda a estabelecer, no
conjunto das produções pictóricas, um horizonte que se alarga cada vez mais,
incorporando materiais tão divergentes e estranhos a esta arte, que a percepção
da ruptura radical de nossa apreensão de tais objetos se mostra análoga à
impossibilidade de fazer convergir o infinito da natureza em uma totalidade
perceptiva.
Ao
contrário da teoria de Kant, que percebia o momento de prazer sublime na
equalização do infinito da natureza à profundidade do espírito humano, na arte
moderna, segundo Theodor Adorno, a dimensão “positiva” do sublime continua a
ser negativa em certo sentido, a saber, na medida em que tomamos consciência do
quanto toda essa negatividade trazida à luz nas obras de arte é um testemunho
do que foi recalcado, expulso para o subterrâneo da história pelos padrões de
racionalidade, de moral, de concepção de produtividade econômica etc. É como se
todo o horizonte da beleza e dos ideais de harmonização figurativa fosse
rompido para dar acesso a uma verdade mais profunda e substantiva, que, embora
nos conecte com o absurdo, o sem-sentido, o feio e o repugnante, nos dá o
prazer do reconhecimento de extratos de experiência bem propriamente humanos,
afins ao que a psicanálise se esforça em desvelar laboriosamente por meio de
sua pesquisa sobre o inconsciente.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a)
a educação
– universal e de qualidade –, desde a educação
infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em
pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas
crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –,
até a pós-graduação (especialização,
mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República
proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução
educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do
país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da
justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da
sustentabilidade...);
b)
o combate
implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e
mais devastadores inimigos que são: I – a inflação,
a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se
em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco
Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em setembro a
estratosférica marca de 361,40% ao ano; e mais, também em setembro, o IPCA
acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,49%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa
promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados”
–, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a
lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato,
Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso
específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e
que vem mostrando também o seu caráter transnacional; eis, portanto, que todos os valores que vão
sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515
anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios,
malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a
corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo,
segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a
“... Desconfiança das empresas e das famílias é
grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase
nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses
recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à
ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de
infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de
planejamento...”;
c)
a dívida
pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e
municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do
Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros,
encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão
de R$ 868 bilhões), a exigir alguns
fundamentos da sabedoria grega:
-
pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e
ainda a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta
de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já
combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de
poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições,
negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à
pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas
e sempre crescentes necessidades de ampliação
e modernização de setores como: a gestão
pública; a infraestrutura (rodovias,
ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada,
esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística
reversa); meio ambiente; habitação;
mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda;
agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência
social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança
pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e
desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer;
turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e
operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade
– “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade,
competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a
Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das
exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das
organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
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