“O
tesouro oculto na montanha e a busca do nosso mundo interior
Existia em certa região
a crença de que um povo de grande sabedoria a habitara em tempos remotos e
deixara um tesouro oculto no alta das montanhas. Afirmava-se que o homem que o
encontrasse se tornaria o mais rico do mundo e que ninguém poderia roubar sua
fortuna. De geração em geração mantivera-se a fé de que o encontro daquele
tesouro atrairia ao lugar prosperidade e harmonia jamais vistas.
Várias
expedições foram empreendidas. Inúmeros rastreamentos e escavações foram
feitos, tudo em vão. Os anos iam-se passando e o tesouro ia tornando-se lenda.
Havia
naquela região um jovem muito amado por todos. Também para ele o tesouro
parecia inatingível. E, bem-sucedido em tudo a que se dedicava, era
inexplicável o sentimento de vazio que sempre o acometia. Movido por imperiosa
necessidade de refletir, passou a buscar quietude nas cercanias. No topo de uma
montanha próxima dedicava-se a contemplar o Sol. Quase diariamente se dirigia
àquele local para ver as luzes silenciosas do crepúsculo ou sentir o chamado à
alegria do alvorecer.
Após
algum tempo, o jovem observou que sua insatisfação desaparecera. Um sentido de
plenitude havia crescido em seu ser. Passou a observar também, sempre que
retornava da montanha, que algumas pessoas o aguardavam no caminho e eram
tocadas pelo mesmo estado de paz.
Numa
tarde de primavera, quando a natureza se desdobrava em flores e o céu resplandecia
azul, o jovem lembrou-se do tesouro, e os raios do Sol fizeram-no ver o grande
legado que quase sem se dar conta encontrara: pensamento luminoso para iluminar
seus contatos e ação luminosa para iluminar seu mundo.
Dentro
de si, onde ninguém pode tocar, inextinguível e inviolável, estava o tão
procurado tesouro.
Como
seres humanos, vivemos separados da nossa Fonte interior de energia e de luz e
isso é que nos faz ingressar nos estados de ânimo corriqueiros. À medida que
ampliamos a consciência e nos aproximamos do mundo interior e espiritual,
nossas atitudes e interesses vão mudando e nossa vibração se eleva.
Aquietarmo-nos
para buscar esse mundo interior exige persistência, mas não significa deixar de
pensar ou de usar a própria vontade. Sucede é que a mente humana e os
pensamentos normais, embora continuem a existir, não mais se introduzem na
calma que vai surgindo.
O
objetivo dessa busca silenciosa seria conseguir um estado de receptividade
mental e emocional que nos permita ser canais para a fluência de uma energia
superior, iluminada, inteligente e amorosa. E não, como muitos pensam, usar a
mente e a vontade para fazer acontecer algo segundo nossas próprias convicções.
Um dos
primeiros passos para isso é tirar nosso pensamento de pessoas, de lugares e de
coisas, do corpo, do dinheiro e de qualquer situação humana. Depois, enviá-lo
ao centro da consciência. Se assim fizermos, com calma e persistência,
poderemos perceber, dentro de nós, uma Presença que não se compara com nada
deste mundo.
É na
luz do mundo interior que encontraremos nossa esperança, nosso rumo e nosso
alento. Não nos desviemos jamais. Uma consciência apegada a coisas e imagens
terrenas não pode comportar a imensidão de sua realidade interna!
Muitos
pretextos nos trará a mente para desviar-nos do verdadeiro caminho. Portanto,
precisamos vigiar.”
(TRIGUEIRINHO.
Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 5 de janeiro de 2014, caderno O.PINIÃO, página 16).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado na revista VEJA, edição 2355 – ano 47 – nº 2, de 8
de janeiro de 2014, página 20, de autoria de Cláudio de Moura Castro, que é economista, e que merece igualmente
integral transcrição:
“Bagunça
tóxica
Ao serem divulgados os
resultados das primeiras provas do Enem, um grande grupo educacional encomendou
uma pesquisa com os alunos das dez melhores escolas do Brasil. Pois não é que
eram todas bem parecidas? Chamava a atenção o fato de serem muito rígidas na
disciplina. Ou seja, nada de bagunça. E entre as instituições públicas, com sua
disciplina severa, os colégios militares têm ótimo desempenho.
Viajando
por outras terras, consideremos a França, a Alemanha e a Inglaterra. De lá
vieram as mais abundantes colheitas de artistas, filósofos, cientistas,
empresários e estadistas. Historicamente, suas escolas sempre foram
extraordinariamente rígidas, chegando até a umas varandinhas aqui e umas
reguadas acolá.
Em
maio de 1968, os universitários parisienses se rebelaram contra o atraso da
universidade, promovendo um evento de espantosa visibilidade mundial.
Barricadas na rua, paralelepípedos voando pelos ares, choques retumbantes com a
polícia! Ecoava o slogan mais poderoso: “É proibido proibir”.
As
consequências do Maio de 68 varreram o mundo e remoldaram a alma da escola.
Muitos manifestantes viraram professores, sentindo-se pouco confortáveis com
sua autoridade. A epidemia do “proibido proibir” contaminou a América Latina.
Em um
dos seus primeiros discursos, depois de presidente, Sarkozy chama atenção para
a lastimável erosão de autoridade do professor, com suas raízes em 68. O
filósofo Luc Ferry, em entrevistas, também rememora a queda da disciplina
escolar, resultante de professores inapetentes por manter a ordem na sala de
aula. Antes de tudo, porque erodiram as regras de disciplina, claras e
compartilhadas. Mas, segundo ele, o pêndulo volta, com as escolas francesas
recobrando a capacidade de controlar a baderna.
Não é
preciso muito esforço para verificar a onipresença de problemas de indisciplina
nas nossas escolas. Nem falamos de alunos agredindo professores. Há uma
incapacidade generalizada dos professores em impedir bagunça nas aulas,
sobretudo nas escolas públicas.
No
caso brasileiro, a alma penada de Maio de 68 parece muito presente, embora
possa haver outros fatores contribuindo para as dificuldades de manter a
disciplina. Aula chata? Quem sabe, a disseminação de uma caricatura da psicanálise, com seus pavores de que uma
disciplina rígida vá frustrar ou traumatizar alunos? Ou uma esquerda que
confunde autoridade com autoritarismo? Ou um DNA tropical e insubmisso?
Mas
que consequências teria essa incapacidade da escola para manter a ordem? O
professor James Ito-Adler fez para o Positivo uma pesquisa etnográfica –
entrevistando uma amostra de alunos. Nela surge a descoberta surpreendente.
Quando perguntou aos alunos o que mais atrapalhava o seu aprendizado, a
resposta foi enfática: a bagunça dos outros! São os próprios estudantes que
clamam por uma disciplina careta. Não é lamento de professor saudosista. Ou
seja, os próprios alunos admitem que conversas e turbulência na sala de aula
atrapalham os estudos. Resultados espúrios? Não parece, pois pesquisas nos
Estados Unidos e na França sugerem o mesmo. A bagunça é tóxica.
A
ideia de que a escola não pode tolher a liberdade dos alunos é falsa. Embora
possamos conduzir a discussão de forma mais sofisticada, vale a pena repetir o
princípio de que a minha liberdade acaba onde começa a lesar a liberdade de outrem. No caso, a liberdade
dos colegas para estudar e aprender.
Obrigar
o aluno a ficar quieto, quando está com vontade de falar ou saracotear? Ficará
traumatizado pela imposição de uma regra autoritária que não tolhe suas
manifestações espontâneas? Isso não acontece com os alunos das melhores escolas
nem nos países mais pródigos em gente criativa e produtiva.
A
solução começa na cabeça dos professores e diretores. No caso, os professores,
no plural. Não basta convencer um. Se todos entenderem que bagunça na aula é
inaceitável, mudará o clima da escola. As escolas católicas de Boston recebem
alunos de regiões turbulentas e problemáticas. Mas, com olímpica tranquilidade,
mantêm um clima de disciplina rígida. Afirma-se que isso explica o desempenho
superior de seus alunos.
Temos
de nos livrar da bagunça tóxica.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas
estruturas educacionais, governamentais,
jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais,
de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada
ordem; III – o desperdício, em todas
as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
inexoravelmente irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 639 bilhões), a exigir igualmente uma
imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização setores como:
a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação;cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade,
produtividade, competitividade; entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada,
qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos
e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do
PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da
globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e da
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...