sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

A CIDADANIA, O TESOURO DO NOSSO MUNDO INTERIOR E A INSUBSTITUÍVEL DISCIPLINA NA ESCOLA

“O tesouro oculto na montanha e a busca do nosso mundo interior
        
         Existia em certa região a crença de que um povo de grande sabedoria a habitara em tempos remotos e deixara um tesouro oculto no alta das montanhas. Afirmava-se que o homem que o encontrasse se tornaria o mais rico do mundo e que ninguém poderia roubar sua fortuna. De geração em geração mantivera-se a fé de que o encontro daquele tesouro atrairia ao lugar prosperidade e harmonia jamais vistas.
         Várias expedições foram empreendidas. Inúmeros rastreamentos e escavações foram feitos, tudo em vão. Os anos iam-se passando e o tesouro ia tornando-se lenda.
         Havia naquela região um jovem muito amado por todos. Também para ele o tesouro parecia inatingível. E, bem-sucedido em tudo a que se dedicava, era inexplicável o sentimento de vazio que sempre o acometia. Movido por imperiosa necessidade de refletir, passou a buscar quietude nas cercanias. No topo de uma montanha próxima dedicava-se a contemplar o Sol. Quase diariamente se dirigia àquele local para ver as luzes silenciosas do crepúsculo ou sentir o chamado à alegria do alvorecer.
         Após algum tempo, o jovem observou que sua insatisfação desaparecera. Um sentido de plenitude havia crescido em seu ser. Passou a observar também, sempre que retornava da montanha, que algumas pessoas o aguardavam no caminho e eram tocadas pelo mesmo estado de paz.
         Numa tarde de primavera, quando a natureza se desdobrava em flores e o céu resplandecia azul, o jovem lembrou-se do tesouro, e os raios do Sol fizeram-no ver o grande legado que quase sem se dar conta encontrara: pensamento luminoso para iluminar seus contatos e ação luminosa para iluminar seu mundo.
         Dentro de si, onde ninguém pode tocar, inextinguível e inviolável, estava o tão procurado tesouro.
         Como seres humanos, vivemos separados da nossa Fonte interior de energia e de luz e isso é que nos faz ingressar nos estados de ânimo corriqueiros. À medida que ampliamos a consciência e nos aproximamos do mundo interior e espiritual, nossas atitudes e interesses vão mudando e nossa vibração se eleva.
         Aquietarmo-nos para buscar esse mundo interior exige persistência, mas não significa deixar de pensar ou de usar a própria vontade. Sucede é que a mente humana e os pensamentos normais, embora continuem a existir, não mais se introduzem na calma que vai surgindo.
         O objetivo dessa busca silenciosa seria conseguir um estado de receptividade mental e emocional que nos permita ser canais para a fluência de uma energia superior, iluminada, inteligente e amorosa. E não, como muitos pensam, usar a mente e a vontade para fazer acontecer algo segundo nossas próprias convicções.
         Um dos primeiros passos para isso é tirar nosso pensamento de pessoas, de lugares e de coisas, do corpo, do dinheiro e de qualquer situação humana. Depois, enviá-lo ao centro da consciência. Se assim fizermos, com calma e persistência, poderemos perceber, dentro de nós, uma Presença que não se compara com nada deste mundo.
         É na luz do mundo interior que encontraremos nossa esperança, nosso rumo e nosso alento. Não nos desviemos jamais. Uma consciência apegada a coisas e imagens terrenas não pode comportar a imensidão de sua realidade interna!
         Muitos pretextos nos trará a mente para desviar-nos do verdadeiro caminho. Portanto, precisamos vigiar.”

(TRIGUEIRINHO. Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 5 de janeiro de 2014, caderno O.PINIÃO, página 16).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado na revista VEJA, edição 2355 – ano 47 – nº 2, de 8 de janeiro de 2014, página 20, de autoria de Cláudio de Moura Castro, que é economista, e que merece igualmente integral transcrição:

“Bagunça tóxica
        
         Ao serem divulgados os resultados das primeiras provas do Enem, um grande grupo educacional encomendou uma pesquisa com os alunos das dez melhores escolas do Brasil. Pois não é que eram todas bem parecidas? Chamava a atenção o fato de serem muito rígidas na disciplina. Ou seja, nada de bagunça. E entre as instituições públicas, com sua disciplina severa, os colégios militares têm ótimo desempenho.
         Viajando por outras terras, consideremos a França, a Alemanha e a Inglaterra. De lá vieram as mais abundantes colheitas de artistas, filósofos, cientistas, empresários e estadistas. Historicamente, suas escolas sempre foram extraordinariamente rígidas, chegando até a umas varandinhas aqui e umas reguadas acolá.
         Em maio de 1968, os universitários parisienses se rebelaram contra o atraso da universidade, promovendo um evento de espantosa visibilidade mundial. Barricadas na rua, paralelepípedos voando pelos ares, choques retumbantes com a polícia! Ecoava o slogan mais poderoso: “É proibido proibir”.
         As consequências do Maio de 68 varreram o mundo e remoldaram a alma da escola. Muitos manifestantes viraram professores, sentindo-se pouco confortáveis com sua autoridade. A epidemia do “proibido proibir” contaminou a América Latina.
         Em um dos seus primeiros discursos, depois de presidente, Sarkozy chama atenção para a lastimável erosão de autoridade do professor, com suas raízes em 68. O filósofo Luc Ferry, em entrevistas, também rememora a queda da disciplina escolar, resultante de professores inapetentes por manter a ordem na sala de aula. Antes de tudo, porque erodiram as regras de disciplina, claras e compartilhadas. Mas, segundo ele, o pêndulo volta, com as escolas francesas recobrando a capacidade de controlar a baderna.
         Não é preciso muito esforço para verificar a onipresença de problemas de indisciplina nas nossas escolas. Nem falamos de alunos agredindo professores. Há uma incapacidade generalizada dos professores em impedir bagunça nas aulas, sobretudo nas escolas públicas.
         No caso brasileiro, a alma penada de Maio de 68 parece muito presente, embora possa haver outros fatores contribuindo para as dificuldades de manter a disciplina. Aula chata? Quem sabe, a disseminação de uma caricatura  da psicanálise, com seus pavores de que uma disciplina rígida vá frustrar ou traumatizar alunos? Ou uma esquerda que confunde autoridade com autoritarismo? Ou um DNA tropical e insubmisso?
         Mas que consequências teria essa incapacidade da escola para manter a ordem? O professor James Ito-Adler fez para o Positivo uma pesquisa etnográfica – entrevistando uma amostra de alunos. Nela surge a descoberta surpreendente. Quando perguntou aos alunos o que mais atrapalhava o seu aprendizado, a resposta foi enfática: a bagunça dos outros! São os próprios estudantes que clamam por uma disciplina careta. Não é lamento de professor saudosista. Ou seja, os próprios alunos admitem que conversas e turbulência na sala de aula atrapalham os estudos. Resultados espúrios? Não parece, pois pesquisas nos Estados Unidos e na França sugerem o mesmo. A bagunça é tóxica.
         A ideia de que a escola não pode tolher a liberdade dos alunos é falsa. Embora possamos conduzir a discussão de forma mais sofisticada, vale a pena repetir o princípio de que a minha liberdade acaba onde começa a lesar  a liberdade de outrem. No caso, a liberdade dos colegas para estudar e aprender.
         Obrigar o aluno a ficar quieto, quando está com vontade de falar ou saracotear? Ficará traumatizado pela imposição de uma regra autoritária que não tolhe suas manifestações espontâneas? Isso não acontece com os alunos das melhores escolas nem nos países mais pródigos em gente criativa e produtiva.
         A solução começa na cabeça dos professores e diretores. No caso, os professores, no plural. Não basta convencer um. Se todos entenderem que bagunça na aula é inaceitável, mudará o clima da escola. As escolas católicas de Boston recebem alunos de regiões turbulentas e problemáticas. Mas, com olímpica tranquilidade, mantêm um clima de disciplina rígida. Afirma-se que isso explica o desempenho superior de seus alunos.
         Temos de nos livrar da bagunça tóxica.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 639 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação;cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade; entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e da equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...  

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