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quarta-feira, 13 de julho de 2016

A CIDADANIA, O PATRONO DOS GOVERNANTES E DOS POLÍTICOS E A IMPORTÂNCIA DA CIÊNCIA

“Tomás More: 
patrono dos governantes e políticos
        O quingentésimo aniversário da publicação de A utopia, em 1516, em Lovaina, oferece grande incentivo para refletir sobre a vida e a obra de seu célebre autor, Tomás More. As múltiplas edições do livro em diversos idiomas e a excelente acolhida ao filme, de 1966, A man for all seasons (intitulado no Brasil O homem que não vendeu sua alma), de Fred Zinnemann, são eloquentes encômios a respeito dele.
         Filho de pais abastados e influentes, nasceu e faleceu em Londres (1478-1535). Com estudos em Oxford e em outros famosos educandários, tornou-se advogado. Do seu casamento com Jane Colt (1505-1511) nasceram quatro filhos. Seu lar acolhia genros, noras e netos e estava aberto a amigos e jovens à procura de orientação. Segundo biógrafos, foi de exemplar vida matrimonial.
         Em 1504, elegeu-se, pela primeira vez, parlamentar. Em 1521, foi galardoado com o título de Cavaleiro. Em 1523, tornou-se presidente da Câmara dos Comuns. Em 1529, Henrique VIII designou-o chanceler. Era estimado pela integridade moral, competência, sutileza de pensamento, afabilidade e cultura ímpar.
         Na primavera de 1515, a pedido do rei e de mercadores ingleses, juntou-se à delegação enviada a Flandres para negociar tratados comerciais e diplomáticos. Dificuldades para se reunir com os representantes da França e dos Países Baixos permitiram que More conversasse mais tempo com o amigo Erasmo de Rotterdam, autor de Elogio à loucura e de A educação de um príncipe cristão. No mesmo período, em visita à Antuérpia – cidade com feitoria portuguesa –, palestrou com o notável navegante  lusitano Rafael Hitlodeu. Ambos conheciam bem autores helênicos e romanos e interessavam-se pela organização política dos povos. Rafael havia muito viajado, quer com Américo Vespúcio quer separadamente. Visitou a Ilha “Utopia”. More registrou os seguintes comentários do seu interlocutor:
         [...] a justiça da Inglaterra e de muitos países se assemelha aos mestres que espancam os alunos em lugar de instruí-los. Fazeis sofrer os ladrões pavorosos tormentos; não seria melhor garantir a existência a todos os membros da sociedade a fim de que ninguém se visse na necessidade de roubar primeiro e de morrer depois? A principal causa da miséria pública reside no número do excessivo de nobres zangões ociosos, que se nutrem do suor e do trabalho de outrem e que para aumentar seus rendimentos mandam cultivar suas terras escorchando os rendeiros até a carne viva [...]
         Eles subtraem vastos tratos de terra da agricultura e os convertem em pastagens; abatem as casas, as aldeias, deixando apenas o templo para servir de estábulo para os carneiros.
         A honra de vosso senhor e a sua felicidade consistem na riqueza de seus súditos mais ainda do que na sua própria. Os homens fizeram os reis para os homens e nãos os homens para os reis; colocaram chefes à sua frente para que pudessem viver comodamente ao abrigo das violências e dos ultrajes; o dever mais sagrado do príncipe é velar pela felicidade do povo antes de velar pela sua própria; como um pastor fiel, deve dedicar-se ao seu rebanho e conduzi-lo às pastagens mais férteis [...] A dignidade real não consiste em reinar sobre mendigos, mas sobre homens ricos e felizes.
         Rafael louvou o general romano Fabricius, cônsul de 282 a 275 a.C., que expressou: “Prefiro governar ricos a eu mesmo ser rico”. Sabe-se que Pirro tentou, em vão, suborná-lo.
         Em 1529, More exerceu, novamente, funções diplomáticas. Com Cuthbert Tunstall, em Cambrai (Cambraia), em negociações com representantes de Francisco I da França e de Carlos V, da Alemanha e da Espanha, assegurou interesses da Inglaterra. More comemorou o êxito da missão na igreja de Chelsea, cidade vizinha de Londres.
         Em 1532, Tomás More se demitiu do cargo de chanceler. Em 1534, negou-se a aceitar a pretendida supremacia de Henrique VIII (“Act of Supremacy”) como chefe da igreja da Inglaterra. Não endossou o divórcio do rei. Entre 17 de abril de 1534 a 6 de julho de 1535, viveu encarcerado na Torre de Londres. Textos redigidos durante sua dolorosa permanência nesse ergástulo foram publicados no livro A sós, com Deus, pela Editora Quadrante, em São Paulo, em 2002. Antes de ser decapitado, declarou: “Morro servidor fiel do rei, mas de Deus em primeiro lugar”.
         Tomás More grafou como seu epitáfio: “Não odioso à nobreza nem desagradável ao povo, mas temido de ladrões, assassinos e heréticos”. O irlandês Jonathan Swift (1667-1745), autor das Viagens de Gulliver”, parco em elogios, enalteceu-o como “a pessoa mais virtuosa que este reino jamais produziu”. Vladimir Lenin, em 1918, erigiu estátua sua no Jardim Aleksndrovsky, perto do Kremlin. Dele declarou Pio XI: “Homem verdadeiramente completo”. João Paulo II, na Carta Apostólica E Sanct Tomae Mori, em 31 de outubro de 2000, proclamou-o “Patrono dos Governantes e dos Políticos”. Nela se lê:
         “Da vida e martírio de São Tomás Moro emana uma mensagem que atravessa os séculos e fala aos homens de todos os tempos da dignidade inalienável da consciência”.
         A sua figura é vista como fonte de inspiração para uma política que visa como seu fim supremo o serviço da pessoa humana.
         22 de junho é a data da comemoração litúrgica do martírio seu e do bispo John Fisher.
         Utopia não é ucronia. O que não há hoje, poderá existir amanhã algures.”.

(JOSÉ CARLOS BRANDI ALEIXO. Professor emérito da Universidade de Brasília, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 12 de julho de 2016, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno e página, de autoria de PATRÍCIA COSTA, professora do Centro Universitário UNA, bióloga, mestre e doutora em genética, e ANA CRISTINA GOMES SANTOS, professora do Centro Universitário UNA, bióloga, mestre em ciência de alimentos e doutora em imunologia, e que merece igualmente integral transcrição:

“A importância da ciência
        Atualmente, estamos vivendo um período onde as mais diversas informações nos são apresentadas de maneira quase involuntária. Muitas dessas informações são provenientes da mídia, de blogs, do Facebook. Diariamente, lemos e recebemos uma infinidade de informações. Por exemplo: óleo de coco emagrece? Citronela é repelente para o mosquito da dengue? A vacina H1N1 deixa a pessoa gripada? Mas será que estas questões já foram resolvidas pela ciência?
         Ciência significa conhecimento ou saber. Conhecimento que é adquirido a partir de um observador que executa um método científico seguindo um conjunto de normas estabelecidas. Dizemos popularmente: “Isto é cientificamente comprovado”. Mas, se temos dúvidas no nosso dia a dia, podemos elucidá-las através de uma pesquisa? A resposta para essa pergunta é sim. Dispomos, atualmente, de sites de busca de artigos científicos, onde podemos procurar por autores e/ou palavras-chaves. Os principais sites de busca são: Google acadêmico, PubMed e ResearchGate.
         O Google acadêmico é uma versão científica do site de buscas mais utilizado no mundo. O Google acadêmico disponibiliza um banco de dados que reúne artigos científicos nacionais e internacionais. Já o PubMed é um site americano de buscas de artigos científicos na área da saúde. O banco de dados do PubMed pertence à Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos administrada pelo governo norte-americano e considerada a maior biblioteca médica do mundo. Além disso, um Facebook dos pesquisadores foi fundado em 2008. Ele se chama ResearchGate e reúne hoje metade dos pesquisadores de todo o mundo. Então, se você tem uma dúvida e quer saber a resposta científica para ela, basta entrar nesse site, baixar os artigos e também mandar mensagens para os pesquisadores. Utilizando essas ferramentas de buscas, em breve você terá uma resposta científica à sua questão.
         Nosso conhecimento sobre o mundo também está em constante construção. Os principais centros de pesquisa no Brasil são públicos e muitos estão vinculados a instituições de nível superior de ensino. Já no exterior, muitos centros de pesquisa são privados e contam com capital de investidores privados para se manter. Nas universidades, o novo conhecimento se entrelaça ao vigente, novas perguntas surgem a todo momento e a interdisciplinaridade favorece o processo. Não podemos nos esquecer de que o conhecimento científico deve estar atrelado à busca da melhoria de vida da população.
         Já os projetos de extensão têm, como missão, levar a informação sobre os mais diversos temas à população. No Centro Universitário UNA, buscamos a harmonia entre ensino-pesquisa e extensão. Esse pilar sustenta um trabalho interdisciplinar que ocorre nos primeiros períodos dos cursos das áreas de humanas, exatas e biológicas. Assim, nossos alunos buscam novos conhecimentos, mas também se preocupam em levá-los à população. Em tempos de zika, chikungunya, H1N1, desastre na barragem de Mariana, escassez de água e poluição ambiental assolando a população, como não pensar em ciência e na sua importância? Afinal de contas, estamos sempre em busca do melhor para a melhoria da saúde, da qualidade de vida, dos avanços tecnológicos, de um viver integrado em sociedade. Sem ciência, não temos progresso!”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);
b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em maio a ainda estratosférica marca de 471,3% para um período de doze meses; e, ainda em maio, o IPCA acumulado nos doze meses chegou a 9,32%, e a taxa de juros do cheque especial em históricos 311,3%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 516 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;
c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2016, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,348 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 1,044 trilhão), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”

- 55 anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2016) ...

- Estamos nos descobrindo através da Cidadania e Qualidade...
- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por uma Nova Política Brasileira...  
        






      

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

A CIDADANIA, A FORÇA DA BOA GOVERNANÇA E A NOVA VIAGEM EDUCACIONAL

“Princípios de um bom governo
        Embora  pouco conhecido e lamentavelmente de baixa aplicação, o Código Iberoamericano de um Bom Governo, assinado em Montevidéu por representantes de vários países, incluindo o Brasil, em junho de 2006, deveria ser melhor avaliado. Em seu preâmbulo, traz como premissa para os países desenvolverem que seus governos “reconheçam, respeitem e promovam todos os direitos humanos – civis, políticos, sociais, culturais e econômicos –, em sua natureza interdependente e universal”. Todo o código é articulado em torno de três tópicos fundamentais, indispensáveis à ação dos governantes, a saber: natureza democrática do governo, ética governamental e gestão pública. O primeiro retrata a importância do reconhecimento em sua plenitude da condição de estado democrático de direito dos países, garantindo a aplicabilidade de direitos, deveres e obrigações, consagrando o clássico princípio do direito da igualdade, em que os desiguais devem ser tratados de maneira desigual, sempre na busca da emancipação dos indivíduos e no seu crescimento pessoal. É sempre bom ressaltar que as democracias participativas e representativas devem ser compreendidas como complementares uma da outra e em hipótese alguma como uma inibidora da outra e em posição sobreposta.
         No caso brasileiro, claro está que já alcançada a democracia formal, simbolizada pelo direito de votar e ser votado, o grande desafio é concretização da democracia real, em que há o reconhecimento pleno da condição de cidadania e participação ativa de todos nos destinos dos países. O segundo item trata da ética governamental, tema da maior relevância principalmente nos chamados países em desenvolvimento, em que a impunidade se destaca, aliada a questões culturais que realçam falta de transparência nas ações dos governantes, seja em postos do Executivo ou do Legislativo. Muitas das vezes, o interesse público e o bem comum são desconsiderados em favor de interesses escusos, ilegais, imorais e antiéticos.
         Em relação ao terceiro ponto norteador do código, não há mais espaço para governos que não tenham elementos de gestão pública na ordem do dia. Cada vez mais, a cidadania exige que princípios da eficiência, celeridade e eficácia sejam observados na prestação de serviços públicos. A compreensão dos governantes deve ser inevitável de que os governos existem em função dos cidadãos e não o contrário. A relação poder público – cidadão é dupla, pois este é ao mesmo tempo patrão, como quem paga os salários, mediante impostos, e ao mesmo tempo clientes, na condição de destinatários da aplicação de políticas públicas. Por fim, cabe aos governantes, atuais e futuros, de cargos executivos e legislativos, seguirem, além dos dispostos no código, os ensinamentos de Santo Tomás Moro, proclamado pela Igreja Católica em 2000 patrono dos governantes e políticos. Nascido em Londres, sempre pautou sua vida preocupado com a formação educacional moral e intelectual dos povos. Como acentuou o então papa João Paulo II, o exemplo de Tomás Moro está “na necessidade que sente o mundo político e administrativo de modelos críveis que mostrem o caminho da verdade em um momento histórico em que se multiplicam árduos desafios e graves responsabilidades”.”.

(FÁBIO CALDEIRA. Advogado, mestre em ciência política (Espanha) e doutor em direito público (UFMG), em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 22 de maio de 2008, caderno OPINIÃO, página 11).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 11 de agosto de 2015, mesmo caderno, página 7, de autoria de MÁRCIA ESTEVES AGOSTINHO, doutora em engenharia de produção, professora e pesquisadora na Universidade Estácio de Sá, e que merece igualmente integral transcrição:

“Grande viagem educacional
        As mudanças trazidas por inovações tecnológicas que interconectam pessoas em tempo real vão muito além da forma como nos comunicamos. Seu poder de transformar estruturas hierárquicas em redes de decisão distribuída transpassa, potencialmente, todas as áreas da convivência humana – inclusive a universidade.
         Do ensino a distância (EAD) aos Massive Open On-line Courses (MOOCs), já são tantos os exemplos de introdução de novas tecnologias de informação e comunicação (TIC) no ensino que nem faz mais sentido considera-los inovadores. Além disso, o simples fato de disponibilizar conteúdos – por melhores que sejam – para acesso em todo o globo não garante educação, muito menos de qualidade. Para tal, mais do que informação, é preciso que o estudante tenha experiências significativas.
         No sentido de propiciar esse tipo de experiência, começam a surgir modelos de universidades que trocam a sala de aula tradicional pelo aprendizado ativo, em cursos de imersão interdisciplinares, por meio de trajetos curriculares customizados. Contudo, a rigor, também não podemos considera-los inovadores.
         Embora adaptada às restrições e possibilidades atuais, a estrutura desse modelo educacional nos remete ao fenômeno inglês do século 18 conhecido como “grand tour” – a grande viagem educacional, que os jovens aristocratas realizavam pelo continente europeu. Além de um rito de passagem para a vida adulta, a viagem representava a oportunidade de entrar em contato direto com a herança cultural da Renascença.
         Ainda que a viagem (que podia durar anos!) exigisse considerável soma de recursos, não bastava ser rico. Era preciso encontrar o tutor certo para guiar o rapaz por caminhos que pudessem, de fato, contribuir para sua formação. O tutor precisava ser alguém de reconhecido saber, capaz de adequar o “itinerário” tradicional aos interesses específicos do jovem sob sua orientação.
         Mais do que informações e o domínio de uma nova língua, a viagem garantia experiências significativas que levavam a um aprendizado para a vida. No início, esse tipo de formação era um privilégio da aristocracia. Porém, com a introdução das estradas de ferro – uma inovação tecnológica paradigmática –, o fenômeno se estendeu à classe média.
         Ampliar a educação de qualidade esse é o desafio que precisamos encarar. De que forma, exemplos como esses podem se tornar escaláveis? Como podemos oferecer a milhões de alunos espalhados por todo o Brasil uma formação geral sólida, que lhes permita adquirir conhecimentos específicos úteis e atualizados ao longo da vida?
         A resposta está na rede. Não a rede no sentido da internet ou das redes sociais, embora reconheça que elas façam parte da solução. Refiro-me à rede como uma estrutura de organização sistêmica. Nesse modelo, cada professor funcionaria como um tutor que o guia o grand tour de seus alunos por meio das expertises disponíveis entre os docentes e centros de conhecimento de uma universidade, promovendo experiências significativas.
         Se unir tecnologia à criatividade organizacional, a universidade terá a oportunidade de, de fato, inovar e, assim, influenciar o destino a favor dos estudantes. Da mesma forma que as estradas de ferro levaram o grand tour da aristocracia do século 18 para a classe média do século seguinte, as tecnologias de informação e comunicação podem ajudar a trazê-lo para o século 21.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em  junho a marca de 372,0% ao ano... e mais, em julho, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,56%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

     c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!
O BRASIL TEM JEITO!