“Tomás
More:
patrono dos governantes e políticos
O quingentésimo
aniversário da publicação de A utopia,
em 1516, em Lovaina, oferece grande incentivo para refletir sobre a vida e a
obra de seu célebre autor, Tomás More. As múltiplas edições do livro em
diversos idiomas e a excelente acolhida ao filme, de 1966, A man for all seasons (intitulado no Brasil O homem que não vendeu sua alma), de Fred Zinnemann, são eloquentes
encômios a respeito dele.
Filho
de pais abastados e influentes, nasceu e faleceu em Londres (1478-1535). Com
estudos em Oxford e em outros famosos educandários, tornou-se advogado. Do seu
casamento com Jane Colt (1505-1511) nasceram quatro filhos. Seu lar acolhia
genros, noras e netos e estava aberto a amigos e jovens à procura de
orientação. Segundo biógrafos, foi de exemplar vida matrimonial.
Em
1504, elegeu-se, pela primeira vez, parlamentar. Em 1521, foi galardoado com o
título de Cavaleiro. Em 1523, tornou-se presidente da Câmara dos Comuns. Em
1529, Henrique VIII designou-o chanceler. Era estimado pela integridade moral,
competência, sutileza de pensamento, afabilidade e cultura ímpar.
Na
primavera de 1515, a pedido do rei e de mercadores ingleses, juntou-se à
delegação enviada a Flandres para negociar tratados comerciais e diplomáticos.
Dificuldades para se reunir com os representantes da França e dos Países Baixos
permitiram que More conversasse mais tempo com o amigo Erasmo de Rotterdam,
autor de Elogio à loucura e de A educação de um príncipe cristão. No
mesmo período, em visita à Antuérpia – cidade com feitoria portuguesa –,
palestrou com o notável navegante
lusitano Rafael Hitlodeu. Ambos conheciam bem autores helênicos e
romanos e interessavam-se pela organização política dos povos. Rafael havia
muito viajado, quer com Américo Vespúcio quer separadamente. Visitou a Ilha
“Utopia”. More registrou os seguintes comentários do seu interlocutor:
[...]
a justiça da Inglaterra e de muitos países se assemelha aos mestres que
espancam os alunos em lugar de instruí-los. Fazeis sofrer os ladrões pavorosos
tormentos; não seria melhor garantir a existência a todos os membros da
sociedade a fim de que ninguém se visse na necessidade de roubar primeiro e de
morrer depois? A principal causa da miséria pública reside no número do
excessivo de nobres zangões ociosos, que se nutrem do suor e do trabalho de
outrem e que para aumentar seus rendimentos mandam cultivar suas terras
escorchando os rendeiros até a carne viva [...]
Eles
subtraem vastos tratos de terra da agricultura e os convertem em pastagens;
abatem as casas, as aldeias, deixando apenas o templo para servir de estábulo
para os carneiros.
A
honra de vosso senhor e a sua felicidade consistem na riqueza de seus súditos
mais ainda do que na sua própria. Os homens fizeram os reis para os homens e
nãos os homens para os reis; colocaram chefes à sua frente para que pudessem
viver comodamente ao abrigo das violências e dos ultrajes; o dever mais sagrado
do príncipe é velar pela felicidade do povo antes de velar pela sua própria;
como um pastor fiel, deve dedicar-se ao seu rebanho e conduzi-lo às pastagens
mais férteis [...] A dignidade real não consiste em reinar sobre mendigos, mas
sobre homens ricos e felizes.
Rafael
louvou o general romano Fabricius, cônsul de 282 a 275 a.C., que expressou:
“Prefiro governar ricos a eu mesmo ser rico”. Sabe-se que Pirro tentou, em vão,
suborná-lo.
Em
1529, More exerceu, novamente, funções diplomáticas. Com Cuthbert Tunstall, em
Cambrai (Cambraia), em negociações com representantes de Francisco I da França
e de Carlos V, da Alemanha e da Espanha, assegurou interesses da Inglaterra.
More comemorou o êxito da missão na igreja de Chelsea, cidade vizinha de
Londres.
Em
1532, Tomás More se demitiu do cargo de chanceler. Em 1534, negou-se a aceitar
a pretendida supremacia de Henrique VIII (“Act of Supremacy”) como chefe da
igreja da Inglaterra. Não endossou o divórcio do rei. Entre 17 de abril de 1534
a 6 de julho de 1535, viveu encarcerado na Torre de Londres. Textos redigidos
durante sua dolorosa permanência nesse ergástulo foram publicados no livro A sós, com Deus, pela Editora Quadrante,
em São Paulo, em 2002. Antes de ser decapitado, declarou: “Morro servidor fiel
do rei, mas de Deus em primeiro lugar”.
Tomás
More grafou como seu epitáfio: “Não odioso à nobreza nem desagradável ao povo,
mas temido de ladrões, assassinos e heréticos”. O irlandês Jonathan Swift
(1667-1745), autor das Viagens de
Gulliver”, parco em elogios, enalteceu-o como “a pessoa mais virtuosa que
este reino jamais produziu”. Vladimir Lenin, em 1918, erigiu estátua sua no
Jardim Aleksndrovsky, perto do Kremlin. Dele declarou Pio XI: “Homem
verdadeiramente completo”. João Paulo II, na Carta Apostólica E Sanct Tomae
Mori, em 31 de outubro de 2000, proclamou-o “Patrono dos Governantes e dos
Políticos”. Nela se lê:
“Da
vida e martírio de São Tomás Moro emana uma mensagem que atravessa os séculos e
fala aos homens de todos os tempos da dignidade inalienável da consciência”.
A sua
figura é vista como fonte de inspiração para uma política que visa como seu fim
supremo o serviço da pessoa humana.
22 de
junho é a data da comemoração litúrgica do martírio seu e do bispo John Fisher.
Utopia
não é ucronia. O que não há hoje, poderá existir amanhã algures.”.
(JOSÉ CARLOS
BRANDI ALEIXO. Professor emérito da Universidade de Brasília, em artigo
publicado no jornal ESTADO DE MINAS,
edição de 12 de julho de 2016, caderno OPINIÃO,
página 7).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição,
caderno e página, de autoria de PATRÍCIA
COSTA, professora do Centro Universitário UNA, bióloga, mestre e doutora em
genética, e ANA CRISTINA GOMES SANTOS,
professora do Centro Universitário UNA, bióloga, mestre em ciência de alimentos
e doutora em imunologia, e que merece igualmente integral transcrição:
“A
importância da ciência
Atualmente, estamos vivendo
um período onde as mais diversas informações nos são apresentadas de maneira
quase involuntária. Muitas dessas informações são provenientes da mídia, de
blogs, do Facebook. Diariamente, lemos e recebemos uma infinidade de
informações. Por exemplo: óleo de coco emagrece? Citronela é repelente para o
mosquito da dengue? A vacina H1N1 deixa a pessoa gripada? Mas será que estas
questões já foram resolvidas pela ciência?
Ciência
significa conhecimento ou saber. Conhecimento que é adquirido a partir de um
observador que executa um método científico seguindo um conjunto de normas
estabelecidas. Dizemos popularmente: “Isto é cientificamente comprovado”. Mas,
se temos dúvidas no nosso dia a dia, podemos elucidá-las através de uma
pesquisa? A resposta para essa pergunta é sim. Dispomos, atualmente, de sites
de busca de artigos científicos, onde podemos procurar por autores e/ou
palavras-chaves. Os principais sites de busca são: Google acadêmico, PubMed e
ResearchGate.
O
Google acadêmico é uma versão científica do site de buscas mais utilizado no
mundo. O Google acadêmico disponibiliza um banco de dados que reúne artigos
científicos nacionais e internacionais. Já o PubMed é um site americano de
buscas de artigos científicos na área da saúde. O banco de dados do PubMed
pertence à Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos administrada pelo
governo norte-americano e considerada a maior biblioteca médica do mundo. Além
disso, um Facebook dos pesquisadores foi fundado em 2008. Ele se chama
ResearchGate e reúne hoje metade dos pesquisadores de todo o mundo. Então, se
você tem uma dúvida e quer saber a resposta científica para ela, basta entrar
nesse site, baixar os artigos e também mandar mensagens para os pesquisadores.
Utilizando essas ferramentas de buscas, em breve você terá uma resposta
científica à sua questão.
Nosso
conhecimento sobre o mundo também está em constante construção. Os principais
centros de pesquisa no Brasil são públicos e muitos estão vinculados a instituições
de nível superior de ensino. Já no exterior, muitos centros de pesquisa são
privados e contam com capital de investidores privados para se manter. Nas
universidades, o novo conhecimento se entrelaça ao vigente, novas perguntas
surgem a todo momento e a interdisciplinaridade favorece o processo. Não
podemos nos esquecer de que o conhecimento científico deve estar atrelado à
busca da melhoria de vida da população.
Já os
projetos de extensão têm, como missão, levar a informação sobre os mais diversos
temas à população. No Centro Universitário UNA, buscamos a harmonia entre
ensino-pesquisa e extensão. Esse pilar sustenta um trabalho interdisciplinar
que ocorre nos primeiros períodos dos cursos das áreas de humanas, exatas e
biológicas. Assim, nossos alunos buscam novos conhecimentos, mas também se
preocupam em levá-los à população. Em tempos de zika, chikungunya, H1N1,
desastre na barragem de Mariana, escassez de água e poluição ambiental
assolando a população, como não pensar em ciência e na sua importância? Afinal
de contas, estamos sempre em busca do melhor para a melhoria da saúde, da
qualidade de vida, dos avanços tecnológicos, de um viver integrado em
sociedade. Sem ciência, não temos progresso!”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a)
a educação
– universal e de qualidade –, desde a educação
infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em
pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas
crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –,
até a pós-graduação (especialização,
mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República
proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução
educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do
país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da
justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da
sustentabilidade...);
b)
o combate
implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e
mais devastadores inimigos que são: I – a inflação,
a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se
em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco
Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em maio a ainda
estratosférica marca de 471,3% para um período de doze meses; e, ainda em maio,
o IPCA acumulado nos doze meses chegou a 9,32%, e a taxa de juros do cheque
especial em históricos 311,3%...); II – a corrupção,
há séculos, na mais perversa promiscuidade
– “dinheiro público versus
interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária
ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da
Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor,
de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é
cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional; eis, portanto, que todos os valores que vão
sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 516
anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios,
malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a
corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo,
segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a
“... Desconfiança das empresas e das famílias é
grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase
nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses
recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à
ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de
infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de
planejamento...”;
c)
a dívida
pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e
municipal) –, com projeção para 2016, apenas segundo a proposta do
Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,348 trilhão, a título de juros,
encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão
de R$ 1,044 trilhão), a exigir
alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda
a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta
de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido
dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais
grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e
o amor à pátria, ao lado de abissais
desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes
necessidades de ampliação e modernização
de setores como: a gestão pública; a
infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a
Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das
exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das
organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
- 55
anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2016) ...
-
Estamos nos descobrindo através da Cidadania e Qualidade...
-
ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por
uma Nova Política Brasileira...
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