“A
cura dos apegos: luz que pode indicar uma direção segura
Sabemos que o apego é
algo que um dia todos teremos de superar. Surge quando não compreendemos o lado
interno, espiritual da vida, quando não estamos em contato com a essência das
coisas. Por falta desse contato, ficamos habituados, acostumados à forma que
reveste toda e qualquer essência, e nos apegamos a ela.
A vida
pode levar-nos a mudar de atividade
externa frequentemente. Em certas circunstâncias, podemos ficar numa profissão
algum tempo e depois ir para outra bem diferente. Mas, se o que nos move é a
intenção de evoluir e de servir melhor, e não alguma predileção pela forma
externa do trabalho, podemos perceber continuidade mesmo quando passamos para
uma atividade aparentemente oposta. Nossa intenção de servir e de melhorar, e
não a forma externa das atividades, é o fio que pode interligar as diferentes
etapas por que passamos, dando-nos impressão de coerência e harmonia, em vez
que percalços e contrastes.
Se
considerarmos as mudanças com superficialidade, como se fossem incômodos, as transformações podem
parecer-nos drásticas. Entretanto, se as vemos com mais atenção, percebemos que
não há diferença alguma entre as várias atividades quando as exercemos com o
mesmo espírito. O espírito com que se fazem as coisas, isso é o importante. O
espírito, a intenção, é o que traz unidade.
A cura
dos apegos soluciona os mais diversos problemas. Por meio dela, podemos
encontrar resposta para muitas perguntas: “Como perceber a essência do que nos
rodeia?”, “Como não perder a harmonia e a beleza que conhecemos em antigas
civilizações?”, “Como não perder o amor daqueles que partem?”, “Como não nos
sentirmos inativos se nosso trabalho termina ou é interrompido, ou se ficamos
impossibilitados de trabalhar por algum motivo?”, “Se perdemos bens materiais,
como não nos sentirmos privados deles?”, “Como, enfim, encontrar a essência das
coisas?”.
A
resposta para todas essas perguntas é uma só: ir para dentro do próprio
coração, para dentro do próprio ser. Lá, a consciência da alma, que é
universal, desde sempre nos aguarda.
“Como
faço para me desapegar de uma ideia?”. Vá para dentro, para o seu coração.
“Como faço para me desapegar de minha atual maneira de ser?”. Vá para o seu
coração. “Como faço para me soltar do que me prende?”. Vá para o seu coração,
na direção do seu centro. “Como faço para transcender os meus defeitos?”. Vá
para a sua essência, para o seu coração. “Como faço para superar os meus
complexos?”. Vá para o seu coração, para dentro de si, para o seu ser profundo.
“Como faço com essa enfermidade que os médios não sabem tratar?”. Busque luz em
seu coração. “Como faço com meus filhos, que não sei educar?”. Vá para dentro
do seu ser, e lá encontrará o amor para tratá-los. “Como faço para preencher o
vazio que sinto em minha vida?”. Vá para o seu coração. “Como faço para
resolver a minha insegurança, os meus medos?”. Vá para o seu coração.
É no
coração que se curam os apegos, porque ali está a essência de tudo. Ali, nada
nos falta.
As
dificuldades são resolvidas de forma simples quando nos é dado penetrar a
essência das coisas, quando enfim conhecemos a força universal do próprio
coração.
No
caminho interior, as únicas bagagens necessárias são o amor e a prontidão para
servir. Acima da mente há uma luz indicando a direção segura.”
(TRIGUEIRINHO.
Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 21 de julho de 2013, caderno O.PINIÃO, página 20).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição,
caderno, página 21, de autoria de J. B.
Libanio, que é teólogo, escritor e professor; padre jesuíta, e que merece
igualmente integral transcrição:
“A
visita do papa Francisco ao Brasil
Quando no Brasil
reinava tranqüila a maioria católica, a visita de um papa seria somente sinal
de júbilo, confirmação e reforço da religião. Caracterizava-se fundamentalmente
como ato religioso. Vivemos outros tempos. Além de crescer a faixa dos não
crentes e de crentes sem vínculos religiosos, modificam profundamente o cenário
religioso grupos evangélicos hostis às religiões tradicionais, inclusive as
oriundas da Reforma. Com mais razão, opõem-se à religião majoritária católica.
E a visita do papa Francisco provoca reações de desconforto, apelando para o
argumento de que um Estado laico não pode
favorecer e gastar por causa de tal visita.
A
distinção entre religioso e civil perdeu muito da validez. Seja porque a esfera
religiosa ocupa cada vez mais papel no mundo político, haja vista a bancada
evangélica na Câmara, seja porque o próprio Estado necessita, não raro, do
refrigério religioso para encontrar valores éticos perdidos na cultura. O
Estado salva a religião e a religião salva o Estado.
Vimos
na fatídica experiência do Leste europeu o que aconteceu com Estados hostis e
perseguidores das religiões. Hoje, são lembranças. Mesmo a secularizada Europa
convive com surtos religiosos importantes que influenciam a política. Logo após
a Segunda Guerra Mundial, a Europa viu dois países ditatoriais ruírem. E os
primeiros ministros que a refizeram vieram de alas cristãs e impregnados de
seus valores: De Gaspari, Adenauer, Schuman.
Voltando
à visita do papa Francisco. Ele transcende a simples figura de líder da Igreja
católica. Paulo VI definiu bem a presença de um papa nos dias de hoje. Quando
discursou na ONU, disse que se sentia representante de “humanidade”, e não da
Igreja católica. A ausência do artigo antes de humanidade alude aos valores que
ele pretende defender no fórum mundial de democracia.
No
momento em que o Brasil experimenta mobilizações populares, a presença de um
líder de humanidade calha perfeitamente. Ele não vem animar os jovens
simplesmente para manterem-se fiéis à religião católica, mas para despertá-los
para a defesa dos direitos fundamentais do ser humano contra a injustiça
social, a arrogância e a corrupção dos poderes.
Desde
os primeiros gestos do seu pontificado, a tônica principal bate no ponto chave
da proximidade com os pobres, com o povo sofrido. E disso deu magistral exemplo
ao escolher Lampedusa para a primeira viagem apostólica do pontificado. Ilha
italiana do Mediterrâneo que tem sido palco de enorme tragédia humana. Os
migrantes, sobretudo da África, lá aportam e recebem humilhante tratamento, sem
falar dos mortos. E o paga lá esteve na primeira viagem. Algo extremamente
simbólico e auspicioso para que ele continue na linha de humanidade.
A
visita ao Brasil não se restringe ao mundo católico, mas ao todo da
realidade brasileira, como alguém que
vem reforçar o que as ruas estão a pedir na linha da justiça, da igualdade, da
honestidade, da rejeição dos privilégios. Cada dia ele tem mostrado que não
quer privilégios, mas viver o mais simples possível no cargo que ocupa.
Precisamos de um exemplo como esse!”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
lúcidas e oportunas abordagens que
acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de
valores –, para a imperiosa e
urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da
modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada
ordem; III – o desperdício, em todas
as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
intolerável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma
imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; saneamento ambiental (água
tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana,
logística reversa); meio ambiente;
habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda;
agregação de valor às commodities; assistência social; previdência social;
logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação;
segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia
federal; defesa civil; turismo; comunicações; sistema financeiro nacional; esporte,
cultura e lazer; qualidade (planejamento – estratégico, tático e
operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade,
produtividade, competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada,
qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que
possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos
e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de
Janeiro; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os
projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização,
da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da
inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo
mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...