“Um
mundo desumano
Não há sucesso de gestão sem contemplar a realização
humana, mas no mundo governamental ou corporativo, não é em assim que acontece.
A humanização no século 20 deixou muito a desejar e piora neste século. As
incertezas do futuro decorrem de o homem atual não usar o conhecimento
conquistado em benefício da maioria. O que está acontecendo na outrora poderosa
Europa serve de exemplo e reflexão. O desemprego e o medo tomam conta das
famílias não só da Grécia, Espanha e Portugal, e, coincidência ou não, os governos
são socialistas. Como pode tamanho fracasso da Espanha contabilizar 22,8% de
desempregados? As mesmas aflições caminham para a Itália, França e Reino Unido.
O povo paga a conta e o número de bilionários cresce mundo afora, e no Brasil é
surpreendente a lista, que aumenta a cada ano. Sobre a paz, grande valor
humano, o que acontece na Síria é assustador: mais de 60 mil mortes por causa
de uma única pessoa que não deixa o poder. Interesses econômicos de países com
poder de veto na ONU impedem uma intervenção.
O erro
histórico foi sempre não colocar o homem no centro das coisas. No Brasil,
embora nos encontremos em um momento melhor, estamos sempre à mercê das
informações inverossímeis dos governantes, do flagelo da corrupção e de
políticos notadamente desonestos infiltrados em todos poderes. A cada eleição
nossas esperanças se perdem, pois o país continua mal representado. Pior ainda,
esses políticos introduzem os filhos na política, criando um círculo vicioso,
de várias gerações de famílias que não deixam o poder, sempre à sombra de um
coronelismo ainda vivo.
No
Brasil, como na maioria dos países, há muito ranço da Idade Média, dos senhores
feudais que abandonaram a ética, a moral e os melhores princípios humanos
apregoados pela filosofia e religiões. Antropólogos e sociólogos contemporâneos
têm chamado a atenção sobre o risco de a nossa sociedade como um todo, sob a
ótica humanística, cair em um processo de involução, ou seja, deteriorar-se ao
ponto de ter que depurar-se para continuar. Pessimismos à parte, é assustador o
que está acontecendo com o respeito à vida, quando se mata até por diversão,
como se vê em São Paulo.
O
conformismo não pode tomar conta de nós e deixar princípios consagrados
esquecidos. Conhecimentos filosóficos criam barreiras de avanço de muitos males
sociais que estamos enfrentando. A sociedade precisa mobilizar-se. Os
formadores de opinião e responsáveis pela formação dos outros estão “sem
tempo”, jogando suas energias em tudo aquilo que dá resultado imediato e
dinheiro. Mudança de pensamento, entretanto, é lenta, pois começa ainda no
berço e nos bancos das escolas. Ideias ruins entram com muita facilidade,
demoram a sair e as boas, por consequência, encontram mais resistência. Assim é
o homem atual: imediatista e fechando-se nos próprios interesses. Entretanto
não podemos perder as oportunidades que surgem de mudança, como ora aconteceu
com o Supremo Tribunal Federal (STF), que, ao condenar figurões jamais
imaginados, com certeza irá fortalecer valores humanos e abrir-nos a esperança
e novos caminhos.”
(GILSON E.
FONSECA. Consultor de empresas, sócio da Soluções em Engenharia
Geotécnica/Soegeo), em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 29 de janeiro de 2013, caderno OPINIÃO, página 11).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 4
de agosto de 2012, caderno PENSAR, página
2, de autoria de JOÃO PAULO, que é editor de Cultura, e que merece igualmente
integral transcrição:
“Sempre
à esquerda
Não há nada mais velho
que a última moda. Do mesmo modo, nada mais é atual que as antigas certezas.
Entre as velhas palavras que voltam a ganhar significado na vida política está
a esquerda e, consequentemente, seu par antitético, a direita. A crise, em
todas as suas dimensões – econômica social e comportamental –, trouxe de volta
o poder heurístico e moral da esquerda como leitura do mundo, interpretação da
realidade e perspectiva de transformação. E estamos carentes desses três
territórios de humanidade: o olhar, a compreensão e a ação sobre as
circunstâncias.
Dois livros lançados
recentemente ajudam a pôr em ordem os conceitos e recuperar, se não as
certezas, pelo menos dúvidas mais bem arranjadas: A esquerda que não teme dizer seu nome, de Vladimir Safatle
(Editora Três Estrelas); e Marx estava
certo, de Terry Eagleton (Editora Nova Fronteira). São pensadores
insuspeitos em termos de conhecimento, vinculação acadêmica (Safatle é professor
de filosofia da USP e Eagleton da Universidade de Oxford), autores de obras
eruditas e que nunca se furtaram ao debate. Espécie rara de intelectual
público, cada vez mais em falta no mercado das ideias.
A
esquerda que não teme dizer seu nome é livro curto e
incisivo. Desde o título deixa às claras que o propósito do autor não é apenas
defender a esquerda, mas um certo tipo de esquerda, que se ousa ir além de sua
tradição. A esquerda que nos cabe hoje responde a novas exigências políticas e
econômicas e, por isso, precisa ao mesmo tempo acurar a análise e ousar na
intervenção. Ao dizer seu nome, não apenas como esquerda, adianta que algo precisa ser atualizado, revisto. A
esquerda mudou, porque o mundo e o capitalismo mudaram, mas se mantém esquerda
em sua essência. É esse movimento do surgimento do outro no seio do mesmo livro
que o diagnostica com precisão.
Vladimir Safatle inicia
seu texto recuperando as duas caricaturas mais conhecidas dos coveiros da
esquerda. De um lado há os que se aferram ao irrefletido argumento que defende
que a divisão entre esquerda e direita deixou de ter sentido com o fim das
ideologias; de outro, os viúvos arrependidos que se regozijam de participar de
um mundo em que o paraíso foi alcançado com a democracia representativa e com a
entronização do mercado. As injustiças, se há, são fruto da incompetência
individual ou alvo da benemerência (por incrível que possa parecer, até o
Estado de bem-estar social parece avançado demais).
O que o autor quer
recuperar é, em primeiro lugar, o espaço por excelência da esquerda: a
política. Quando se fala em desprestígio da política é bom entender que se
trata de demonizar certo tipo de
política. Não há nada mais político que classificar os movimentos sociais como
terroristas, assacar contra direitos sociais e trabalhistas, fechar as
instâncias diretas de participação. Nada mais político , nada mais de direita.
No entanto, essas e outras ações são feitas em nome de uma visão “racional” ou
técnica, que escarnece da dimensão política como reino da corrupção. O retorno à política dever ser feito não a
partir de negações, mas da afirmação do que é inegociável. É aí que a esquerda
precisa dizer o seu nome.
Quando se analisam as
crises no Oriente Médio e na Europa – de um lado as inconstâncias da política,
no outro as fragilidades da economia –, o receituário da direita quer se
confundir com a racionalidade e apontar soluções que são sempre refratárias ao
povo. No caso dos países do Norte da África e do Oriente Médio, a intervenção
militar; nas situações de crise da economia da zona do euro, os ajustes em
torno de medidas de austeridade e retirada de direitos. A capitulação ou o
caos.
O livro de Vladimir
Safatle é um convite ao exercício da esquerda em duas dimensões. De um lado, a
recuperação do que é inegociável, de outro a proposição de novas estratégias
que atendam às demandas colocadas pelo nosso tempo. A renovação da esquerda é
um projeto em aberto, mas que parte de alguns elementos de base. Para o autor,
o que não é passível de negociação, sob o risco de perder sua dimensão
fundante, é a defesa do igualitarismo, da soberania popular e do direito à
resistência. O progressismo, outro nome sobre o qual se buscou camuflar a
esquerda, é fruto de um princípio filosófico (a igualdade), de uma estratégia
política (a soberania popular ou a democracia que vai além do Estado do
direito) e de um valor moral (o direito à resistência).
Uma das mais interessantes
e argutas reflexões do autor se volta para o problema de como pensar as
diferenças numa sociedade cada vez mais plural. Para um pensamento que se
propõe a defender a igualdade, é fundamental saber avançar além do mero
reconhecimento das singularidades, como faz um certo multiculturalismo
constrangido. “Há, no entanto, uma crítica esquerdista às sociedades
multiculturais que consiste em dizer que elas, de certa forma, não são
suficientemente multiculturais. Elas procuram, apenas, atomizar a sociedade por
meio de uma lógica estanque do reconhecimento das diferenças que funciona,
basicamente, no plano cultural e ignora os planos político e econômico. Uma
sociedade verdadeiramente multicultural é uma sociedade radicalmente
universalista e indiferente às diferenças.”
ERROS
E ACERTOS Terry Eagleton é considerado um dos mais destacados
críticos marxistas da atualidade. No entanto, de forma paradoxal, ficou mais
conhecido por sua diatribe com os defensores do ateísmo. Eagleton desancou os
neorevolucionalistas como Richard Dawkins, não pela ciência, mas pela
ignorância em matéria de religião. O pensador inglês mostrou que Dawkins e
companhia podem entender muito de biologia, mas não sabem nada de filosofia. O
fato de Darwin estar certo no que tange aos fatos não torna a teologia um
equívoco. Um marxista que crê em Deus, defende a teologia e vê sentido em
debater a relação entre fé e razão precisa ser levado a sério.
O
livro de Eagleton, Marx estava certo,
foi escrito para tirar a caricatura de cena e pôr em seu lugar uma leitura
atenta, inteligente e contemporânea do pensamento marxista. Mais que defender
Marx das deturpações (coisa que ele não precisa, já que Marx, sempre, esteve
muito melhor que seus críticos), o projeto do autor é mostrar a pertinência e a
atualidade do maior crítico do capitalismo. O método é o da refutação, uma
limpeza na área.
A cada
um dos 10 capítulos Eagleton desautoriza as críticas apressadas e de má-fé, a
começar pela mais radical de todas: a de que o marxismo acabou. Se Marx era útil
no tempo da violenta exploração do trabalho, não deixa de ser necessário no
momento que tornou a injustiça quase uma segunda natureza, ainda que anódina.
Seguem outros ataques e ponderações de Eagleton: a de que o marxismo seria bom
na teoria e violento na prática; que seria um tipo incontornável de
determinismo; obcecado pelo conceito ultrapassado de classes sociais; defensor
de um Estado onipotente e ineficaz; incapaz de alimentar os movimentos sociais
contemporâneos; e por aí vai.
Ao
final o leitor aprende, entre outras, que Marx alimentava uma fé inquebrantável
no indivíduo, desconfiava de todo tipo de dogma abstrato, era cauteloso em
relação à noção de igualdade e não tinha tempo para arquitetar uma sociedade
perfeita. Marx acreditava em revoluções pacíficas e não se opunha a uma boa
reforma. Defendeu as mulheres, a paz mundial e a luta contra o fascismo. Se
você concorda com algumas dessas ideias, talvez seja de esquerda e nem saiba.
Aliás, não saber a verdade sobre o marxismo é a mais marxista das
meias-verdades levadas a cabo pela direita. Ideologia existe é para isso
mesmo.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas
estruturas educacionais, governamentais,
jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais,
de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, severo e sem trégua, aos
três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e
diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar
por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e
comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício,
em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e
danos, inexoravelmente irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e
intolerável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma
imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta
sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa
capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades
de ampliação e modernização de
setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); educação;
saúde; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); saneamento ambiental (água tratada,
esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística
reversa); meio ambiente; habitação;
emprego, trabalho e renda; assistência social; previdência social; segurança
alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal;
defesa civil; minas e energia; agregação de valor às commodities; logística;
turismo; esporte, cultura e lazer; sistema financeiro nacional; comunicações; pesquisa
e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; qualidade (planejamento
– estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade,
economicidade, criatividade, produtividade, competitividade), entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada,
qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que
permita a partilha de suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades
e potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos
e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de
Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a
Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das
exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das
empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias,
da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da
paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...