“A
prova do Enem e a ideologia do triunfo permanente
No atual sistema
capitalista, mas bem além dele, com raízes longínquas na cultura do Ocidente,
viceja o espírito de competição. Deixa para trás os que perdem e seleciona cada
vez mais os da ponta. Depois tudo se converte em salários polpudos. A prova do
Enem não se isenta de tal maratona intelectual.
O
aspecto positivo da concorrência mostra-se na força de motivar os jovens para estudar
seriamente. E, de fato, muitos sacrificam o tempo, entregando-se aos livros a
fim de alcançar resultados que lhes abram as melhores universidades do país.
No
entanto, existem motivações mais dignas do ser humano do que a disputa para
vencer. A mais sublime vai na direção de pôr à disposição dos outros os
talentos recebidos, quer preparando-se bem para a vida profissional futura,
quer ajudando os colegas a também eles se disporem para tal. Afasta-se da mente
o espírito de vitória para pensar unicamente no serviço.
E os
que fracassam e tiram notas baixas? Há aqueles que “não estão nem aí”. Então
não há nada a fazer. Fizeram o exame como tomar um copo d’água sem nenhum
interesse, preparação e sentido de responsabilidade. O fracasso no resultado
não representa nada. Deixemos de lado tais casos.
Constitui-se
tema de reflexão o fato dos que se esforçaram , se prepararam e se viram
frustrados nos resultados nos resultados. Pinta logo sentimento de
inferioridade, de abatimento, de baixa autoestima. Tal situação merece
consideração especial. Não se trata de palavras banais de consolo, nem de
explicações estereotipadas. A reflexão vai na linha psicológica e sociológica.
Ninguém
se identifica, em profundidade, com determinada ação, com sucesso ou fracasso.
Somos mais ou menos, conforme o ângulo de análise. Valemos mais porque habita
em nós um infinito que tem espaços ilimitados de expansão, não necessariamente
aquele em que falhamos. Haja vista o exemplo do genial Albert Einsten, que foi
expulso da escola e recusado pela Escola Politécnica de Zurique. Se ele se
resumisse a tal fracasso, não conheceríamos a Teoria da Relatividade. Nem
teríamos o eminente estadista Winston Churchill, que foi reprovado na sexta
série e perdeu várias eleições. Os exemplos multiplicam-se até hoje em todos os
setores.
Quantos
e quantos tiveram insucessos solenes e depois se refizeram e tornaram-se até
exímios no campo em que fracassaram? Além de provar a distância enorme entre a
pessoa na totalidade e um evento concreto da vida, mostra que o fracasso, em
certos casos, serve como aguilhão para a pessoa avançar. Mais: a ideologia que
obriga a pessoa a sempre triunfar nos exames do Enem, do vestibular e de
seleção vem comandada por pobre concepção do ser humano. A maior riqueza humana
não reside nos rincões da intelectualidade escolar, mas na capacidade de
relação afetiva, de amar, de cuidar de outros, de ser companheiro e amigo. Tais
qualidades não dependem do sucesso do Enem, mas do trabalho no próprio caráter
e personalidade. Aí, sim, deveríamos cultivar os jovens para se criar geração
sadia e de valor humano ético em vez de fomentar vitoriosos individualistas de
triunfos papagueados pela mídia.”
(J. B.
Libanio. Teólogo, escritor e professor; padre jesuíta, em artigo publicado no
jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição
de 1 de setembro de 2013, caderno O.PINIÃO,
página 23).
Mais um importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 2 de
setembro de 2013, caderno OPINIÃO, página
9, de autoria de CARLOS ALBERTO DI
FRANCO, que é diretor do Departamento de Comunicação do Instituto
Internacional de Ciências Sociais (IICS), doutor em comunicação pela
Universidade de Navarra (Espanha), e que merece igualmente integral
transcrição:
“Síndrome
da censura
O mais recente caso de
proibição judicial ao trabalho
jornalístico – a proibição de que o jornal Gazeta
do Povo, do Paraná, publique informações sobre investigações abertas contra
o presidente do Tribunal de Justiça do estado, Cleyton Camargo – reacende a
síndrome da censura prévia no Brasil.
Vamos
aos fatos que serviram de gancho para o rebrotar da censura. Em abril, o
Conselho Nacional de Justiça (CNJ) abriu investigação para apurar a suspeita de
venda de sentença pelo desembargador Cleyton Camargo. A advogada de uma das
partes de uma ação que ele julgou, quanto atuava como magistrado da área de
família, o acusou de ter recebido dinheiro para decidir em favor da outra
parte, em uma ação que envolvia disputa da guarda de filhos, em 2011. No mês
passado, a corregedoria do CNJ abriu outro procedimento, desta vez para
investigar suspeita de que Cleyton Camargo teria usado sua influência para
favorecer a candidatura do filho, o deputado estadual Fábio Camargo (PTB), à
vaga de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Paraná. Fábio tomou
posse no final de julho.
A
liminar garantindo que as notícias sobre as denúncias não fossem publicadas no
jornal foi concedida há um mês. O desembargador, no pedido, sustenta que “os
fatos em notícia (...) vieram impregnados pelo ranço odioso da mais torpe mentira”.
Pediu, ainda, que as reportagens sejam banidas do portal do jornal na internet.
Quer dizer: censura prévia multiplataforma. Proíbe-se a sociedade de ter acesso
a informação de indiscutível interesse público.
Sem
prejuízo do meu sincero respeito pelas decisões do Judiciário, a censura prévia
é uma bofetada na democracia. O controle ao jornal é mais um precedente
gravíssimo. É importante que a sociedade reaja. Caso contrário, a violência
judicial pode se transformar em rotina.
“Nada
mais nocivo que a pretensão do Estado de regular a liberdade de expressão, pois
o pensamento há que ser livre, essencialmente livre. Liberdade de imprensa
concerne a todos e a cada cidadão. Essa garantia básica, que resulta da
liberdade de expressão do pensamento, representa um dos pilares em que repousa
a ordem democrática.” São palavras do decano do Supremo Tribunal Federal (STF),
ministro Celso de Mello, um sensível defensor dos valores democráticos.
O que
está em jogo, para além da garantia constitucional da liberdade de imprensa, é
o direito que tema sociedade de ser informada. É difícil imaginar que o Brasil
possa superar a gravíssima crise ética que transformou amplos setores do
serviço público num exercício de cinismo e arrogância sem ampla liberdade de
imprensa e de expressão.
Além
de inconstitucional, a liminar que censura o trabalho da Gazeta do Povo caminha na contramão do anseio de transparência no
comportamento dos homens públicos que domina a sociedade brasileira. A
experiência demonstra que a escassez de informação tem sido uma aliada da
perpetuação da impunidade. É claro que os veículos podem e devem ser
responsabilizados judicialmente por eventuais abusos cometidos na sua atividade
noticiosa. Mas isso nada tem a ver com a permissão para a prática da censura prévia.
Mas não são apenas decisões judiciais
equivocadas, mesmo por pouco tempo, que ameaçam a liberdade de expressão e de
imprensa. Preocupa, também, e muito, o controle da mídia por grupos com
projetos de poder e perfil marcadamente radical e antidemocrático. A democracia
cresce quando os meios de comunicação têm trajetórias transparentes. A defesa
do Estado de direito passa, necessariamente, por um compromisso claro e
histórico com plataformas de informação. Pode-se concordar ou discordar com a
linha editorial das empresas de comunicação, mas há um valor inegociável: a
transparência do negócio e o compromisso com valores éticos básicos. Jornalismo
não é, e não deve ser, propaganda ideológica ou passaporte para ações pouco
claras.
O combate à corrupção e
o enquadramento de históricos caciques da vida pública só tem sido possível
graças à força do binômio da democracia: jornalismo livre e opinião pública
informada.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta
de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada
ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis
perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
intolerável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma
imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas
instituições, negligenciando a justiça, a
verdade, a honestidade e o amor à
pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas
e sempre crescentes necessidades de ampliação
e modernização de setores como: a gestão
pública; a infraestrutura (rodovias,
ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada,
esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística
reversa); meio ambiente; habitação;
mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda;
agregação de valor às commodities; assistência social; previdência social;
sistema financeiro nacional; logística; segurança alimentar e nutricional;
segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil;turismo;
esporte, cultura e lazer; comunicações; qualidade (planejamento –
estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia,
efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade);
entre outros...
São, e bem o sabemos, dos gigantescos desafios mas
que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo
nem arrefecem o nosso entusiasmo e
otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação
verdadeiramente justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e
solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas,
oportunidades e potencialidades com todas
as brasileiras e com todos os
brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos
e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as
obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da
era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...