“Educação:
da língua à história
A educação é um assunto
inesgotável em todo o contexto que aborda o desenvolvimento sociocultural de
qualquer país. Em busca de soluções para melhorar a qualidade da educação
escolar, o Brasil discute alternativas e caminhos que possam mudar as
experiências fatídicas até hoje vividas.
Sabe-se que os índices atingidos nos testes e
pesquisas realizados sempre se mostram desfavoráveis a serviços educacionais de
qualidade. Fato comprovado com os resultados do Programme for International
Student Assessment (Pisa), da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE), que avalia os conhecimentos e habilidades dos alunos em
leitura, matemática e ciências e que reconheceu o Brasil em 2015 em 60º lugar
de 76 países no ranking de educação.
Assim,
percebem-se as falhas consideráveis da educação no Brasil quando os alunos se
submetem a testes e ratificam a fragilidade existente na aquisição dos
conteúdos, no desenvolvimento de suas habilidades e competências básicas, tais
como a compreensão de textos e o raciocínio lógico.
Enquanto
a preocupação na mudança da qualidade do ensino é um fator ostensivo e
preponderante para a sociedade, convive-se com a enfatização de mudanças
significativas no novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa e na abordagem
dos conteúdos em história. Em 2008, o Brasil aderiu ao novo acordo ortográfico.
Previsto para que entrasse em vigor em janeiro de 2013, o governo foi obrigado
a adiar devido às polêmicas e críticas da sociedade, e só agora, em 2016,
tornou-se obrigatório.
A
vigência obrigatória do novo acordo divide opiniões de especialistas; enquanto
uns acham de extrema importância tal mudança, outros defendem a ideia de que
pouca diferença fará na comunicação entre países, visto que as variações
ortográficas não comprometem a compreensão e não interferem no sentido do
texto.
Enquanto
os linguistas divergem em suas opiniões e a sociedade tenta assimilar as novas
regras, outra discussão não menos importante ocorre na reestruturação do
currículo de história. Desde setembro de 2015, há um diálogo polemizado sobre a
mudança no conteúdo de história ensinado nas escolas. A proposta preliminar causou
um grande desconforto para os idealizadores do programa, eles admitiram falhas
e propuseram novas discussões. Entendeu-se que a história antiga seria abolida
do conteúdo programático. Especialistas de todo Brasil se manifestaram e
argumentaram contrários a tais mudanças.
É
evidente a necessidade do estudo da história antiga como compreensão do atual
contexto sócio-político-cultural do país e do mundo. Propor um rompimento com
uma perspectiva eurocêntrica é suprimir um passado indispensável para a compreensão
dos questionamentos atuais. A importância do estudo da história antiga
evidencia sua relação com a filosofia, a literatura, a sociologia, o direito e
outras disciplinas afins, mostrando pelo diálogo a integração existente e a
base fundamental para a construção de sentido.
Assim
como no universo linguístico, numa realidade discursiva, não há enunciação sem
enunciado, ou seja, é da enunciação que vêm as orientações para o sentido do
enunciado. Em uma realidade histórica, não há compreensão do presente sem o
resgate do passado. A noção de temporalidade histórica depende da aquisição do
sentido do tempo: passado, presente e futuro. Logo, para que o ensino de
história crie condições de elaboração de novos sentidos e significados é
inegável que o aluno tome conhecimento das origens. Dessa forma, haverá um
comprometimento com a formação de um cidadão autônomo, capaz de construir
relações do conhecimento histórico com a atualidade.
No
mesmo viés, é possível perceber a importância do conhecimento da história
antiga para entender as formas de governo, a criação das leis e a preocupação
com o direito humano. Dessa maneira, não como dissociar o direito contemporâneo
dos seus primórdios. Foi em Atenas, símbolo da cultura grega, que se começou a
criar a ideia de democracia, conceito estudado exaustivamente na sociedade
contemporânea.
O
direito romano, por sua vez, é a base da ciência jurídica da maioria dos povos
modernos. Como então não abordar na história a pré-história, a Antiguidade e a
Idade Média, se são esses os conhecimentos prévios que o aluno irá adquirir
para confrontar com a realidade do seu tempo? Esses são assuntos fundamentais
que levam a uma visão sistêmica e complementar dos alunos.
Se o
mais importante é desenvolver práticas pedagógicas que ensinem noções de ética,
política e cidadania, como não passar pelo ensino das primeiras cogitações
filosóficas com Aristóteles, Sócrates e Platão? É necessário que o aluno saiba
e reconheça as influências gregas e romanas no mundo atual e revalide a
importância de conhecer o passado para tecer suas críticas em relação ao
presente.”.
(ALESSANDRA
APARECIDA SOUZA LIMA MARQUES. Advogada, professora, formada em letras, com
habilitação em português e francês pela UFMG, pós-graduada em estudos
linguísticos pelo UNI-BH, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 16 de março de 2016, caderno OPINIÃO, página 7).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
15 de março de 2016, mesmo caderno, página 17, de autoria de MARIA FLÁVIA BASTOS, professora do
Centro Universitário Una, e que merece igualmente integral transcrição:
“Humanística
e empreendedora
Desde muito tempo, é
comum ver nos noticiários nacionais o cenário inóspito da educação brasileira.
Nesses mesmos meios e, ainda, em eventos acadêmicos, veem-se, com constância,
debates inerentes à necessidade e à urgência de se promoverem no Brasil
mudanças e melhorias no processo ensino-aprendizagem. Essas temáticas tem
estado latente, já que vivemos um novo mundo, uma nova realidade que tem,
portanto, um novo aluno: conectado às novas tecnologias, atento às novas
descobertas e aberto ao novo. Além disso, tem-se apresentada também uma urgência
na formação dos gestores que chegam às organizações atuais.
Entendendo
que é preciso que as universidades troquem a formação de um tipo taylorista de
empregado – passivo e obediente – para a formação de um gestor ativo e
cooperativo, as escolas deverão repensar seus modelos e apostar em formatos
mais livres e humanísticos, que coloquem o aluno no centro, extrapolando os
espaços das salas de aula e dialogando com a comunidade.
Também
a educação universitária passa por questionamentos sobre o que é ensinar e
aprender, como ouvir e responder, o que oferecer e propor, numa tentativa de
construir uma nova dimensão da educação: propondo-se a romper as barreiras do
conhecimento para ir em busca de um saber reflexivo. Aliado a esse desejo de
mudança, temos um novo cenário na política e na economia do Brasil, que causa
mudanças comportamentais em vários aspectos, inclusive na educação. Mais jovens
e adultos, que antes não tinham acesso ao ensino superior, chegam às salas de
aulas. Boa parte desses estudantes já tem ocupações no mercado e busca por
melhorias salariais e sociais.
Numa
outra parcela desses estudantes apresenta-se um jovem ansioso, conectado e
inquieto, ávido por informações e mudança. Por conta desse novo panorama é
preciso repensar a educação. É preciso repensar, inclusive, o mercado, que, a
cada dia, tem tido bastante dificuldade para encontrar profissionais adequados
às suas necessidades. O que se apresenta, portanto, é um cenário controverso
que nos leva a refletir se, a partir do que existe como modelo tradicional de
educação, é possível fazer diferente. Os professores estão prontos para uma
mudança? E os alunos? E as escolas? E o mercado? Qual é, enfim, o papel da
universidade na formação dos novos empreendedores?
O
empreendedorismo é um tema que até bem pouco tempo não alcançava as barreiras
acadêmicas, mas hoje percebemos (especialmente dos alunos) a vontade de saber
empreender. Para se ter uma ideia dessa realidade, de acordo com uma pesquisa
da Endeavor e do Sebrae de 2014, dos quase 5 mil universitários entrevistados,
48,7% já fizeram alguma disciplina relacionada ao empreendedorismo. Assim, um
projeto pedagógico voltado para formar empreendedores deve prever que os alunos
aprendam a definir os contextos e tomar decisões quanto à própria carreira.
Infelizmente,
ainda vivemos realidades escolares em todos os níveis (fundamental, médio e
superior), onde o que prevalece é a aprendizagem cheia de regras, com o
professor sendo o detentor de todo o conhecimento e, logo, do poder, e o aluno
pressionado a ser (como únicas opções) “empregável” ou “empreendedor de
sucesso” numa rotina que obedece à ordem de avaliar, recompensar e punir. E,
assim, vamos fortalecendo o ciclo de uma sociedade cada mais presa a valores
materiais e tecnológicos, onde referências sobre o que é o relacionamento, ou o
ser humano, suas diferenças, sua cultura vão se perdendo cotidianamente.
Ao
mudar salas de aula, teremos uma possibilidade real (ao estimular novas
práticas – menos mecanicistas e mais cooperativas) de renovar organizações,
resgatando aquilo que elas têm de mais genuíno e de mais interessante: as
pessoas, sua amorosidade, sua história, suas diferenças.”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a)
a educação
– universal e de qualidade –, desde a educação
infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em
pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas
crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –,
até a pós-graduação (especialização,
mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República
proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução
educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do
país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da
justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da
sustentabilidade...);
b)
o combate
implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e
mais devastadores inimigos que são: I – a inflação,
a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se
em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco
Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em fevereiro a ainda
estratosférica marca de 419,60% para um período de doze meses; e mais, também
em fevereiro, o IPCA acumulado nos doze meses chegou a 10,36%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa
promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados”
–, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a
lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato,
Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso
específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e
que vem mostrando também o seu caráter transnacional; eis, portanto, que todos os valores que vão
sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515
anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios,
malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a
corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo,
segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a
“... Desconfiança das empresas e das famílias é
grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase
nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses
recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à
ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de
infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de
planejamento...”;
c)
a dívida
pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e
municipal) –, com projeção para 2016, apenas segundo a proposta do
Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,348 trilhão, a título de juros,
encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão
de R$ 1,044 trilhão), a exigir
alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda
a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta
de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já
combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de
poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições,
negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à
pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas
e sempre crescentes necessidades de ampliação
e modernização de setores como: a gestão
pública; a infraestrutura (rodovias,
ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada,
esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística
reversa); meio ambiente; habitação;
mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda;
agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência
social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança
pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e
desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer;
turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e
operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade
– “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade,
competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a
Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das
exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das
organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
-
Estamos nos descobrindo através da Cidadania e Qualidade...
-
ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por
uma Nova Política Brasileira...