sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A CIDADANHIA, A LIÇÃO OLÍMPICA E A FELICIDADE

“Pira olímpica ensina

A cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, fruto da imaginação do cineasta Danny Boyle, é uma produção gerada pela força da paixão. O cineasta ensina que sem paixão os projetos são pálidos, a força é reduzida e o pensamento é estreito, condicionando a inteligência a satisfazer-se com o que é mais comum.

O espetáculo planejado por Boyle, no cenário do Estádio Olímpico, foi uma recriação da história, incluindo homenagens a personagens importantes, como Tim Berners-Lee – criador do “www” (world wide web), que possibilitou a comunicação em tempo real com a internet e mudou o mundo. Momentos de alta significação, passando pela literatura, música, cinema, incluindo de modo magistral a encenação da revolução industrial, a centralidade do direito das mulheres e dos trabalhadores. Não menos significativa a referência ao sistema de saúde como comprovação do compromisso político e organizacional com a dignidade cidadã de todos os membros daquela sociedade.

Tudo foi retratado de maneira artística, com incomensurável energia. Inesquecível a encenação da metalurgia com os seus operários e um círculo imitando ferro derretido, formado no centro do estádio. Esse círculo foi suspenso para juntar-se a grandes aros que deram forma ao símbolo olímpico. O espetáculo, ainda mais iluminado com fogos de artifício, levou ao delírio o público presente, que aplaudiu a cena de pé. A música britânica foi retratada com uma sequência de sucessos dos anos 60 até a atualidade, relembrando bandas inesquecíveis e figuras emblemáticas.

A recriação da história mostra como é importante ter a consciência da própria caminhada. É um exercício de retomada e valorização das próprias raízes capaz de gerar respostas contemporâneas no atendimento de necessidades e na abertura de novos horizontes. Essa genialidade da apresentação configurou, para além de simplesmente um espetáculo visual, referência maior ao sentido de pátria, amor e cidadania, o cenário para a parada dos atletas com as delegações das 204 nações participantes dos jogos. O ápice foi o momento dedicado à pira olímpica, constituindo-se, pela força das imagens e pelo conceitual que o definiu, em lições da mais alta importância.

Enquanto a tocha vinha pelo Rio Tâmisa, para o mais esperado momento da cerimônia, todos perguntavam quem seria o escolhido que iria acender a pira olímpica no estádio. A pergunta, naturalmente, remetia-se ao modo tradicional de acendê-la. A inovação de Boyle se torna uma lição, que, aprendida, conserta muita coisa, supera descompassos, lega a culturas e sociedades dinâmicas que podem ser o remédio para tudo o que desfigura funcionamentos, multiplica burocracias que atrasam metas, produz distanciamentos do sentido mais nobre da dignidade de cada pessoa. Não foi um famoso que acendeu pira. Em vez disso, um grupo de atletas jovens, indicados por seniores, acendeu as 204 tochas que formaram a pira olímpica, dando início aos Jogos. Um engenho que remete a um aprendizado fundamental para a vida.

Esse momento foi precedido pela dignidade de um medalhista que entrou no estádio com a tocha, indo ao encontro dos jovens atletas, que, ao darem a volta olímpica, revezando entre si a chama, numa leveza admirável, explicitaram em gestos, harmonia e cadência a lição da reciprocidade. Essa é a maior força. Na verdade, é o remédio que cura o egoísmo, o apego que não permite o crescimento dos outros, o gosto patológico que atrasa avanços e dissemina deslealdades. Vale rever essas imagens que ensinam a reciprocidade como meio primeiro de sustentabilidade da espécie humana.

A cena que mostra a pira olímpica sendo acesa ensina que a reciprocidade é a competência necessária aos seres humanos para reciclar a sua própria energia vital. É indicativo o olhar alegre dos atletas adultos dirigido aos jovens, esperança de um futuro marcado por novas conquistas e por inovações sustentadoras do progresso indispensável. Uma lição iluminada pela consciência da própria história para acionar inteligências e corações na direção corajosa de buscar o novo, eleger organização e funcionamentos que priorizem o apreço pela dignidade humana. A reciprocidade gera amor e comunhão necessários para tecer a paz, legar serenidade e alimentar a convicção da importância da solidariedade. É o que ensina o engenho inteligente e espetacular da pira olímpica.”

(DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 3 de agosto de 2012, Caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma IMPORTANTE e OPORTUNA contribuição para o nosso trabalho de MOBILIZAÇÃO PARA A CIDADANIA E QUALIDADE vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 8 de agosto de 2012, Caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de FREI BETTO, Escritor, autor do romance Minas do ouro (Rocco), entre outros livros, e que merece igualmente INTEGRAL transcrição:

“A busca da felicidade

Um grupo de amigos conversava sobre o maior bem que um ser humano pode obter e que todos buscam, até mesmo ao praticarem o mal: a felicidade. O que é uma pessoa feliz? O que faz alguém feliz?

Como não se tratava de um grupo de pessoas que considera que a felicidade reside na fama, poder e dinheiro (pois citamos conhecidos que, apesar de terem alcançado esses bens, transparecem profunda infelicidade), decidimos recorrer aos filósofos, sábios guias da razão.

Na Apologia, de Platão, Sócrates interpela um amigo: “Não te envergonhas de preocupares com as riquezas para ganhar o mais possível, e com a fama e as honrarias, em vez de te preocupares com a sabedoria, a verdade e a tua alma, de modo a te sentires cada vez mais feliz?”. Se para Epicuro a felicidade consiste na ausência de dor e sofrimento, para Descartes, seria o “perfeito contentamento de espírito e profunda satisfação interior, ter o espírito perfeitamente contente e satisfeito”.

Será que ausência de dor e sofrimento é suficiente para uma pessoa ficar feliz? Descartes vem em socorro a Epicuro ao acrescentar “a profunda satisfação interior”. Leibnitz dirá que “é o prazer que a alma sente quando considera a posse de um bem presente ou futuro como garantida.” E Kant, a “satisfação de todas as nossas inclinações”, para, em seguida enfatizar: “É o contentamento do estado em que nos encontramos, acompanhado da certeza de que é duradouro”.

Sartre dirá que a felicidade é como “uma conduta mágica que tende a realizar, por encantamento, a posse do objeto desejado como totalidade instantânea.”

“Como se observa”, ponderou um dos amigos, “há quem considere a felicidade um estado de espírito, uma decorrência da subjetividade, e quem a atribua à posse de algo – poder, riqueza, saúde, bem-estar.” Concordamos que na sociedade neoliberal em que vivemos o ideal de felicidade está centrado no consumismo e no hedonismo. O que não significa que, de fato, ela resulte, como sugere a publicidade, da posse de bens ou da soma de prazeres.

Lembramos uma lista de celebridades que, malgrado fortuna e sucesso, sofreram uma atribulada vida de infortúnios. Muitos tiveram morte precoce por excesso de medicamentos que tapassem os buracos da alma. Um dos amigos observou que o cristianismo, frente ao sofrimento humano, foi sábio ao deslocar a completa felicidade da Terra para o céu, embora admitindo que aqui nesta vida se possa ter momentos de felicidade. Ao que outro objetou que o céu cristão é apenas uma metáfora da plenitude amorosa. E que Deus é amor e não há nada melhor do que amar e sentir-se amado.

Da felicidade o papo avançou para o amor. O que amor? Decidimos deixar de lado os filósofos e conferir a partir de nossas experiências. Um dos amigos disse se sentir feliz por ter um matrimônio estável e dois filhos que só lhe davam alegrias. Outro, na via contrária, lamentou não ter encontrado a felicidade em nenhum dos três casamentos que tivera.

Foi então que o mais velho entre nós, e não menos sábio, ponderou que uma das grandes inquietudes do mundo de hoje é que os extraordinários avanços tecnocientíficos promovem uma acentuada atomização dos indivíduos, obrigando-os a perderem seus vínculos de solidariedades (afetivas, religiosas etc.). Esses vínculos são substituídos por outros, burocráticos, administrativos e, sobretudo, anônimos (redes sociais), distantes das antigas relações afetivas entre duas pessoas unidas uma à outra sob o signo da igualdade e da fraternidade, com os mesmos direitos e deveres, independentemente das desigualdades exteriores.

“O que faz uma pessoa feliz – disse ele – não é a posse de um bem ou uma vida confortável. É sobretudo o projeto de vida que ela assume. Todo projeto – conjugal, profissional, artístico, científico, político, religioso – supõe uma trajetória cheia de dificuldades e desafios. Mas é apaixonante. E é a paixão, ou se quiserem, o amor, que adensa a nossa subjetividade. E todo projeto supõe vínculos comunitários. Se o sonho é pessoal, o projeto é coletivo.

Demos razão a ele. Viver por um projeto, uma causa, uma missão, um ideal ou mesmo um utopia é o que imprime sentido à vida. E uma vida plena de sentido é, ainda que afetada por dores e sofrimentos, o que nos imprime felicidade.”

Eis, portanto, mais páginas contendo IMPORTANTES, ABRANGENTES e OPORTUNDAS abordagens e REFLEXÕES que acenam, em meio à MAIOR crise de LIDERANÇA de nossa HISTÓRIA – que é de ÉTICA, de MORAL, de PRINCÍPIOS, de VALORES –, para a IMPERIOSA e URGENTE necessidade de PROFUNDAS TRANSFORMAÇÕES em nossas estruturas EDUCACIONAIS, GOVERNAMENTAIS, JURÍDICAS, POLÍTICAS, SOCIAIS, CULTURAIS, ECONÔMICAS, FINANCEIRAS e AMBIENTAIS, de modo a promovermos a inserção do PAÍS no concerto das POTÊNCIAS mundiais LIVRES, SOBERANAS, CIVILIZADAS, DEMOCRÁTICAS e SUSTENTAVELMENTE DESENVIDADAS...

Assim, URGE ainda a efetiva PROBLEMATIZAÇÃO de questões deveras CRUCIAIS como:

a) a EDUCAÇÃO – UNIVERSAL e de QUALIDADE, desde a EDUCAÇÃO INFANTIL (0 a 3 anos, em creches; 4 e 5 anos, em pré-escolas) – e mais o IMPERATIVO de matricularmos nossas crianças de seis anos na 1ª série do ENSINO FUNDAMENTAL, independentemente do mês do NASCIMENTO –, até a PÓS-GRADUAÇÃO (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como PRIORIDADE ABSOLUTA de nossas POLÍTICAS PÚBLICAS;

b) o COMBATE, implacável e sem TRÉGUA, aos três dos nossos MAIORES e mais AVASSALADORES inimigos que são: I – a INFLAÇÃO, a exigir PERMANENTE e DIUTURNA vigilância, de forma a manter-se em patamares CIVILIZADOS; II – a CORRUPÇÃO, como um CÂNCER a se espalhar por TODAS as esferas da vida NACIONAL, gerando INCALCULÁVEIS prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o DESPERDÍCIO, em TODAS as suas modalidades, também a ocasionar INESTIMÁVEIS perdas e danos, inexoravelmente IRREPARÁV EIS;

c) a DÍVIDA PÚBLICA BRASILEIRA, com projeção para 2012, segundo o ORÇAMENTO GERAL DA UNIÃO, de ASTRONÔMICO e INTOLERÁVEL desembolso da ordem de R$ 1 TRILHÃO, a título de JUROS, ENCARGOS, AMORTIZAÇÃO e REFINANCIAMENTOS, a exigir igualmente uma IMEDIATA, ABRANGENTE, QUALIFICADA e eficaz AUDITORIA...

Diante do exposto, torna-se absolutamente INÚTIL lamentarmos a FALTA de RECURSOS diante de tanta SANGRIA, que DILAPIDA o nosso já escasso DINHEIRO PÚBLICO, MINA a nossa capacidade de INVESTIMENTO e de POUPANÇA e, mais GRAVE ainda, AFETA a confiança em nossas INSTITUIÇÕES, negligenciando a JUSTIÇA, a VERDADE, a HONESTIDADE e o AMOR da PÁTRIA, ao lado de extremas e sempre crescentes DEMANDAS, NECESSIDADES, CARÊNCIAS e DEFICIÊNCIAS, o que aumenta o já abissal fosso das DESIGUALDADES sociais e regionais e nos afasta num crescendo do seleto grupo dos SUSTENTAVELMENTE DESENVOLVIDOS...

Sabemos, e bem, que são GIGANTESCOS DESAFIOS mas que, de maneira alguma, ABATEM o nosso ÂNIMO nem ARREFECEM o nosso ENTUSIASMO e OTIMISMO nesta grande CRUZADA NACIONAL pela CIDADANIA E QUALIDADE, visando à construção de uma NAÇÃO verdadeiramente JUSTA, ÉTICA, EDUCADA, QUALIFICADA, CIVILIZADA, LIVRE, SOBERANA, DEMOCRÁTICA, DESENVOLVIDA e SOLIDÁRIA, que permita a PARTILHA de suas EXTRAORDINÁRIAS e generosas RIQUEZAS, OPORTUNIDADES e POTENCIALIDADES com TODAS as BRASILEIRAS e com TODOS os BRASILEIROS, especialmente no horizonte de INVESTIMENTOS BILIONÁRIOS previstos e que contemplam EVENTOS como a 27ª JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE no RIO DE JANEIRO em 2013; da COPA DAS CONFEDERAÇÕES de 2013; a COPA DO MUNDO de 2014; a OLIMPÍADA de 2016; as obras do PAC e os projetos do PRÉ-SAL, segundo as exigências do SÉCULO 21, da era da GLOBALIZAÇÃO, da INTERNACIONALIZAÇÃO das empresas, da INFORMAÇÃO, do CONHECIMENTO, da INOVAÇÃO, das NOVAS TECNOLOGIAS, da SUSTENTABILIDADE e de um POSSÍVEL e NOVO mundo da JUSTIÇA, da LIBERDADE, da PAZ, da IGUALDADE – e com EQUIDADE –, e da FRATERNIDADE UNIVERSAL...

Este é o nosso SONHO, o nosso AMOR, a nossa LUTA, a nossa FÉ, a nossa ESPERANÇA... e PERSEVERANÇA!...

O BRASIL TEM JEITO!...