quarta-feira, 18 de setembro de 2013

A CIDADANIA, O PIB, A FELICIDADE E A LIBERDADE DE EXPRESSÃO

“O PIB e a felicidade
        
         Pouca gente sabe que, em 1972, o então rei do Butão, Singye Wangehuc, decretou a substituição da apuração do Produto Interno Bruto (PIB) para a Felicidade Interna Bruta (FIB). Tal mudança deveria alicerçar-se em quatro pilares: desenvolvimento econômico sustentável; preservação da cultura; conservação do meio ambiente e boa governança. O monarca justificou ainda que o objetivo da vida não é a produção de bens materiais e o consumo, mas sim as necessidades humanas no percurso da vida. Muitos filósofos socialistas verdadeiros também imaginaram uma vida coletiva medida por esses parâmetros. Platão chegou a propor, em inflamado discurso, que a Grécia deveria ser governada por um rei filósofo, sem as leis, apenas com a sabedoria. Sonhos assim muitos tiveram, mas, no caso do Butão, a liberdade, que é o primeiro bem do homem, depois da vida, está negligenciada. Pode existir felicidade sem democracia e liberdade?
         A verdade é que todos os postulados apresentados pelo rei do Butão devem fazer parte de qualquer governo capitalista e democrático. Os países asiáticos que deram uma grande contribuição com a ciência da contemplação e observação, já na metade do século 20 em diante, perceberam que só com a filosofia continuariam pobres. Os chamados Tigres Asiáticos (Hong Kong, Cingapura, Taiwan e Coreia do Sul) renderam-se aos conceitos econômicos ocidentais (capitalistas) e deram uma extraordinária guinada para o crescimento econômico. A China depois de Mao Tsé Tung começou sua virada histórica e está prestes a ser a primeira economia do mundo, embora seu PIB per capita seja extremamente baixo e ainda é governada com mãos de ferro.
         No caso do Brasil, se tivéssemos medição pela felicidade interna, estaríamos longe de sermos a sétima potência do mundo. Nosso Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é um dos piores. O país ocupa a 73ª posição no ranking mundial. Nos bolsões de pobreza, até no nosso estado, como nos vales do Jequitinhonha e Mucuri, pouco se tem feito sobre saúde, educação e saneamento, sem contar a perversa corrupção, ainda mais freqüente  nesses lugares mais pobres. Como resultante temos a triste e inaceitável distribuição de riquezas. Em várias regiões do Nordeste brasileiro a situação é igual ou pior. Nossos políticos  são o espelho do pensamento de Francis Bacon: “Triste a sorte do homem que morre conhecido por todos e, ainda assim, desconhecido de si mesmo. As forças políticas, nos últimos anos, nunca estiveram tão voltadas para os interesses pessoais e corporativos, enfraquecendo princípios sólidos conseguidos a duras penas e contaminando os mais jovens.
         Vivemos em uma sociedade hedonista, um dos males do capitalismo, que exacerba o dinheiro e os bens materiais. A felicidade coletiva e ampla é de certa forma utópica: quando se ganha de um lado, perde-se de outro. De toda forma, para sermos felizes, não há como não reconhecer a sabedoria budista ao indicar que ela sempre vai passar pelo desejo. Portanto, penso que sempre teremos que tomar cuidados pessoais, porque quem deseja mais do que pode sofre. Quem deseja tanto quanto pode vive. Quem deseja menos do que pode, é feliz.”
(GILSON E. FONSECA. Consultor de empresas e sócio da Soluções em Engenharia Geotécnica (Soegeo), em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 16 de setembro de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno e página, de autoria de CARLOS ALBERTO DI FRANCO, que é Diretor do Departamento de Comunicação do Instituto de Ciências Sociais (IICS), doutor em comunicação pela Universidade de Navarra (Espanha), e que merece igualmente integral transcrição:

“Sem censura, sem máscaras
        
         Sempre defendi a liberdade de expressão. Não existe democracia sem pluralismo de ideias, debate livre e discussão aberta. Mas também não prospera a liberdade no terreno árido da violência e do vandalismo. Recentemente, experimentei o ferrão da censura. Publico meus textos em muitos jornais brasileiros. Disponho de plena liberdade, mesmo quando minha opinião se contrapõe às orientações editoriais dos veículos. A Gazeta do Povo, um belo jornal do Paraná, responsável por excelentes matérias investigativas, foi forçada a não publicar meu artigo. Estava sob censura judicial, providência patrocinada pelo presidente do Tribunal de Justiça do Paraná, Cleyton Camargo.
         Em minha coluna, serena e respeitosa, eu apenas repercuti uma reportagem do jornal paranaense. Nela, sem prejulgamento de qualquer tipo, tratei de um fato de interesse público, corretamente noticiado pelo jornal. Em abril, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) abriu investigação para a apurar a suspeita de venda de sentença pelo desembargador Cleyton Camargo. A advogada de uma das partes da ação que ele julgou quando atuava como magistrado da Vara da Família o acusou de ter recebido dinheiro para decidir em favor da outra parte, num processo que envolvia disputa da guarda de filhos, em 2011. No mês passado, a Corregedoria do CNJ abriu outro processo, desta vez para investigar a suspeita de que Cleyton Camargo teria usado sua influência para favorecer a candidatura do filho, o deputado estadual Fábio Camargo (PTB), à vaga de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Paraná. Fábio tomou posse no final de julho.
         A liminar garantindo que as notícias sobre as denúncias não fossem publicadas no jornal foi concedida. O desembargador, no pedido, sustentou que “os fatos em notícia (...) vieram impregnados pelo ranço odioso da mais torpe mentira”. Pediu, ainda, que as reportagens fossem banidas do portal do jornal na internet. Quer dizer, censura prévia multiplataforma. Proibiu-se a sociedade de ter acesso a informação de indiscutível  interesse público. Meu artigo, por óbvio, foi parar no limbo da censura autoritária. O desembargador, agora, desistiu da medida cerceadora. Ainda bem. Afinal, a providência está na contramão da Constituição e da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF). Como é longo o caminho que separa a democracia legal da democracia real!
         A democracia aceita que o Judiciário possa punir quem se exceda na manifestação do pensamento, mas não admite que jornais sejam proibidos previamente de publicar notícia, informação ou crítica. A censura judicial foi, sem dúvida, um escárnio, uma bofetada no Estado de direito.
         Mas, se a censura desfigura o rosto da democracia, a violência é a ditadura das minorias para encurralar a sociedade. O vandalismo dos mascarados, não obstante seu discurso pretensamente libertário e confrontador do sistema vigente, é tudo, menos democrático. Os mascarados não representam os brasileiros indignados que ocuparam as praças e avenidas em junho. É água e vinho. No Rio, grupos de encapuzados queimaram a bandeira do Brasil, semearam pânico e destruíram patrimônio público e privado. Eles não têm a cara do nosso país e da nossa gente. Ao contrário. Com seu radicalismo antissocial alimentam os delinquentes da política e fortalecem os ímpetos repressivos. Os caciques de Brasília vibram com a desqualificação das passeatas. E o coro em defesa da repressão aos baderneiros aumenta a cada nova arruaça. O radicalismo, conscientemente ou não, sempre conspirou contra a democracia. Tirem a máscara! A defesa das ideias demanda transparência.
         Censura e violência são a marca registrada do autoritarismo. Sempre! É preocupante o horizonte da democracia brasileira. Um país com imprensa fustigada, oposição esfacelada e acovardada, percepção crescente de impunidade é tudo, menos uma democracia. Cabe-nos resistir, como no passado, com as armas do profissionalismo, da ética inegociável e da defesa da liberdade. A democracia pode cambalear, mas sempre prevalece.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
     
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; esporte, cultura e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, de da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...