quarta-feira, 19 de março de 2014

A CIDADANIA, O PRAZER E A ALEGRIA NO RELAXAMENTO E OS DESAFIOS DAS MUDANÇAS INADIÁVEIS

“Relaxamento: passaporte para o prazer e a alegria
        
         Desconectemos, e assim será mais fácil entendermos o paradoxo dessa nossa era. Deus nos criou para a busca de prazer, recompensa, satisfação, alegria, e para o exercício desta finalidade existencial, criou o cérebro com arquitetura, precisão e funcionalidade inigualáveis.
         Ok, e daí, não é? Somos tão incompetentes e mal-aproveitados, que conseguimos criar uma sociedade na qual amarguras, ansiedade e angústias nos conduzem aos portões do mal viver. Quem sabe pela consciência de nossa transitoriedade, o caminho diuturno em direção a morte e, ainda mais lastimável, o temor desse mal-explicado fenômeno, que tanta controvérsia traz: afinal, somos eternos? Seremos julgados e colheremos, numa outra dimensão, a recompensa celestial, ou será uma segunda chance, algo assim como um purgatório, onde a possibilidade de luz ou trevas dependerá de arrependimentos, perdão, cura de ódios e outras lições libertadoras?
         Mas e o tal do inferno, tão belamente descrito por Dante, onde o pesadelo sem alívio de acordar nos torturará “ad aeternum”? Para os céticos e ateus, é o fim da frequência, decomposição dos elementos de uma tabela periódica, onde carnes, ossos e órgãos se desmancham em carbonos, cálcio, ferro, nitrogênios e tudo que habita nossa vida celular e molecular. Meio que um filme que acaba sem conclusão nem compreensão: “the end”!
         Que a ciência e as religiões se digladiem sem vendedores, pois radicais começam a perder espaço para cientistas e crentes que associam fé e ciência. Entendem que fé não é a prática de rituais religiosos, e sim uma energia imaterial, já quantificável, com possível sede no lobo temporal direito. E insisto na maior fé constatável: o efeito placebo, que cura entre 27 e 31% dos pacientes submetidos a controle duplo cego (nem o médico sabe que está dando pílulas da substância pesquisada, ou uma cápsula de farinha de trigo, nem o paciente sabe se recebeu a substância terapêutica ou a falsa cápsula). Daí a razão de só s autorizar um novo remédio se tiver ao menos o dobro do “efeito placebo”.
         Assim, a “fé” do médico e do paciente desencadeia um mecanismo de reestruturação do órgão lesado ou disfuncional, e água com açúcar ou farinha em comprimidos e ativações eletroquímicas no lobo temporal direito emitem a mais poderosa energia de cura, cessando sintomas e lesões. É indiscutível que temos circuitos ativadores de sensações prazerosíssimas, mediadas por uma química da dopamina, da noradrenalina, opióides naturais, que geram paixões viciantes e de tal forma recompensadoras que é difícil manter o prazer saudável, a alegria espontânea, pois tais situações são tão extracorpóreas. Há um êxtase de tal monta que o risco do vício patológico, overdoses, abusos de álcool, drogas e sexomania destruirão a vida pessoal, familiar e laborativa.
         Benditos são os orientais, que ao não pensar, entram no estágio máximo do relaxamento, da transcendência e, ao chegar ao “Nirvana”, encontram o paraíso (sem drogas, sem esforço, sem pensações e preocupações doentias). Quebram o tempo e espaço, viajam sem distinção “parte e todo” e frequentam a eternidade, com seu passaporte chamado relaxamento. Ali, nada é explicado pois a compreensão é total.
         A divinização é de tal forma simples e sábia que indianos e budistas são seres desprovidos da patologia do apego material, dos medos humanos, dos sentimentos animalescos que nos leva à violência sem sentido, guerras tribais e nacionalistas, a ilusão da matéria como pré-requisito ao bem-estar, a felicidade comprada em Miami. A ilusão consumista, vaidosa dos “selfies”, o pueril exibicionismo, sem a paz de espírito interna, a serenidade pessoal. Quer mudar? Eis algumas dicas:
         Primeiro, a preocupação é o câncer da mente, o princípio da infelicidade, a burrice em estado bruto, pois, ao antecipar sofrimentos, projetar problemas, imaginar sempre o pior e angustiante, adoece o corpo e alma, e ativa o desprazer, a dor, ativando um estresse imaginário, mas sintomático.
         Segundo, não dependa de ninguém para reciclar seus conceitos e comportamentos. Você e suas circunstâncias determinam suas opções por ser infeliz ou pleno existencialmente. Os príncipes e princesas encantados habitam apenas nossa capacidade interna de sermos lúdicos, serenos e felizes. Quem nos circunda receberá nossos fluxos de plenitude, e ainda que por osmose, tende a ser companheiro de viagem, cada qual dono de seu arbítrio e merecimento de suas construções terrenas. Cada um é o único responsável pela sua evolução e pelo seu destino, escreve seu enredo de vida. E daí sairão dramas, romances, tragédias, ficção, comédias e filmes “B”.
         E terceiro, cada um vê e constrói suas possibilidades de realidade. “Vê esse pôr de sol lindo, a mata, a cachoeira, as araras azuis e os tucanos, que me extasiam e fazem com que agradeça esse êxtase?”. E a parceira responde: “mas será que não viu aquele veado pantaneiro morto e devorado por urubus na beira da estrada?”. Cada um de nós vê a vida com a liberdade e olhar que generosamente nos gratifica ou gera desprazer. A natureza não é boa ou má, a vida pode ser uma cruz ou um gozo de sensações e satisfações. Cada um de nós é único, divino e fantástico, ainda que não tenhamos nos descoberto. Portanto, relaxe, tudo é um aprendizado evolutivo. Faça sua limonada com os belos limões que a vida lhe ofertar!
         Fé, força e luz!”.

(Eduardo Aquino. Escritor e neurocientista, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 16 de março de 2014, caderno GERAL, coluna Crônicas sobre o comportamento e o relacionamento humano, página 12).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 14 de março de 2014, caderno OPINIÃO, página 20, de autoria de LEONARDO BOFF, filósofo e teólogo, e que merece igualmente integral transcrição:

“Prolongar a dependência ou completar a invenção do Brasil?
        
         A atual sociedade brasileira, há que se reconhecer, conheceu avanços significativos sob os governos do Partido dos Trabalhadores. A inclusão social realizada e as políticas sociais benéficas para aqueles milhões que sempre estiveram à margem possuem uma magnitude história cujo significado ainda não acabamos de avaliar, especialmente se nos confrontarmos com as fases históricas anteriores, hegemonizadas pelas elites tradicionais que sempre detiveram o poder de Estado.
         Mas esses avanços não são ainda proporcionais à grandeza de nosso país e de seu povo. As manifestações de junho de 2013 mostraram que boa parte da população, particularmente dos jovens, está insatisfeita. Esses manifestantes querem mais. Querem outro tipo de democracia, a participativa, querem uma República de caráter popular, exigem, com razão, transportes que não lhes roubem tanto tempo, serviços básicos que os habilitem a entender melhor o mundo e a melhorar o tipo de trabalho que escolherem, reclamam saúde com um mínimo de decência e qualidade. Cresce em todos a convicção de que um povo doente e ignorante jamais dará um salto de qualidade rumo a outro tipo de sociedade menos desigual. O PT deverá estar à altura desses novos desafios e renovar sua agenda ao preço de não continuar jamais no poder.
         As próximas eleições possuirão, a meu ver, uma qualidade singular. Dada a aceleração da história, impulsionada pela crise sistêmica mundial, seremos forçados a tomar uma decisão: ou aproveitamos as oportunidades que os países centrais, em profunda Cris, nos propiciam, reafirmando nossa autonomia e garantindo nosso futuro autônomo, ou as desperdiçamos e viveremos atrelados ao destino decidido sempre por eles, que nos querem condenar a sermos apenas os fornecedores dos produtos in natura que lhes faltam e, assim, voltam a nos recolonizar.
         Não podemos aceitar essa estranha divisão internacional do trabalho. Temos que retomar o sonho de alguns de nossos melhores analistas, que propuseram uma reinvenção do Brasil sobre bases nossas, gestadas pelo nosso ensaio civilizatório.
         Esse é o desafio lançado de forma urgente a todas as instâncias sociais: elas ajudam na invenção do Brasil como nação soberana, repensada nos quadros da nova consciência planetária e do destino comum da Terra e da humanidade? Poderão elas  ser coparteiras de uma cidadania nova, que articula o cidadão com o Estado, o cidadão com o outro cidadão, o nacional com o mundial, a cidadania brasileira com a cidadania planetária, ajudando assim a moldar o devenir humano? Ou elas se farão cúmplices daquelas forças que não estão interessadas na construção do projeto Brasil porque se propõem inserir o país no projeto globalizado de forma subalterna e dependente, com as vantagens concedidas às classes opulentas, beneficiadas com esse tipo de aliança?
         As próximas eleições vão trazer à luz esses dois projetos. Devemos decidir de que lado estaremos. A situação é urgente, pois, como advertia, pesaroso, Celso Furtado, “tudo aponta para a inviabilização do país como projeto nacional”. Mas não queremos aceitar como tal essa severa advertência. Não devemos reconhecer as derrotas sem antes dar as batalhas, como nos ensina dom Quixote em sua gaia sabedoria..
         Ainda há tempo para mudanças que podem reorientar o país para o seu rumo certo, especialmente agora que, com a crise ecológica, o ambiente se transformou num peso decisivo da balança e do equilíbrio buscado pelo planeta Terra. Importa crer em nossas virtualidades, diria mais, em nossa missão planetária.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas)e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos (a propósito, a proximidade das eleições – a cada dois anos, e ainda com uma permissividade cruel e desafiadora –, afetando brutalmente o desempenho dos governos);

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana; logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana(trânsito, transporte, acessibilidade) ; minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...