quarta-feira, 2 de abril de 2014

A CIDADANIA, O EXERCÍCIO DA SOLIDARIEDADE E AS MUDANÇAS GLOBAIS (58/2)

(Abril = mês 58; faltam 2 meses para a Copa do Mundo)

“Exercício da solidariedade
        
         Se existe uma seara em que minha esperança se renova é a da solidariedade. O impulso de ajudar o outro em momentos difíceis não é novo, mas continua sendo o princípio mais desafiador para cada pequeno ser em sua passagem pela Terra. Não se deve esquecer, contudo, o potencial transformador que essas atitudes representam para o crescimento interior do próprio indivíduo. Podemos chamar de empatia, caridade, amor ao próximo. O nome importa pouco – o significado é que surpreende. Quem experimenta ser solidário conhece a imensa satisfação de prazer e bem estar que é abandonar seu universo particular e caminhar na direção do outro. Mesmo que pareça um ato pouco significativo em termos de ajuda, é um movimento que provoca mudanças profundas no estado de espírito. Quem recebe um ato solidário conquista benefícios, é claro. Mas quem oferta momentos de afago e carinho ao outro ganha ainda mais. Pesquisas indicam que trabalhos voluntários altruístas estimulam a alegria, aliviam tristezas e aumentam a imunidade, evitando doenças.
         Pessoas que se sentem solidárias expressam mais satisfação pela vida e desenvolvem maior capacidade de lidar com as dificuldades. Em geral se tornam mais felizes e encontram sentido às ações e atitudes. A ajuda desinteressada também reflete na identidade pessoal e social. Aumenta a autoestima e introduz sentido às nossas competências. Recompensa-nos com a alegria de contribuir para a felicidade de nossos semelhantes e nos dá a sensação de participar da melhoria da sociedade. Percebemos que somos um conjunto de seres pequeninos unidos em prol de algo maior. Atraída pela vontade de fazer alguma coisa, mínima que fosse, em 2003, segui o conselho de um amigo a apadrinhei uma criança do ChildFund Brasil – Fundo para Crianças. Uma organização cuja atuação é reconhecida internacionalmente na erradicação da pobreza infantil no país. A experiência de 11 anos de apadrinhamento me ensinou que é preciso muito pouco para fazer a diferença na vida de uma criança em situação de risco ou vulnerabilidade social. Entendi isso definitivamente quando, depois de alguns anos como madrinha, pude conhecer o trabalho do ChildFund e passei a apoiá-lo também como embaixadora. Realizamos uma visita a Medina, cidade do Vale do Jequitinhonha onde mora meu afilhado Fernando. Conhecê-lo pessoalmente me permitiu compreender a dimensão que minha pequena ajuda tinha em sua vida.
         Cerca de 16 milhões de brasileiros vivem abaixo da linha da pobreza, sobrevivendo com até R$ 70 por mês. Mesmo não sendo diretamente responsáveis pelo que acontece na vida desses brasileiros, podemos, sim, ser causadores de uma grande mudança na vida delas. Praticar o bem eleva o espírito e salva o corpo também. Um exercício que todos nós deveríamos priorizar. Como a endorfina da atividade física, o hormônio que se espalha pelo nosso corpo ao dar um pequeno passo na direção de um universo diferente do nosso é transformador porque bombeia o afeto. E, como bem cantaram os Beatles, afeto sempre foi e continua sendo, definitivamente, o que o mundo mais precisa.”

(CRIS GUERRA. Escritora, comunicadora e embaixadora da ONG ChildFund Brasil, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 29 de março de 2014, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 28 de março de 2014, caderno O.PINIÃO, página 28, de autoria de LEONARDO BOFF, filósofo e teólogo, e que merece igualmente integral transcrição:

“Depois da grande tribulação, a Terra terá seu merecido descanso
        
         Achamos muito oportunas as reflexões do autor Waldemar Boff, formado em filosofia e sociologia nos Estados Unidos e que anima o Serviço de Educação e Organização Popular na Baixada Fluminense. Eis seu texto:
         “Ninguém sabe ao certo o dia e a hora. É que já estamos no meio dela sem notarmos. Mas que está vindo, está, cada vez com mais intensidade e nitidez. Quando acontecer a grande virada, tudo vai parecer como se fosse de surpresa.
         “Embora haja dados seguros que apontam a inevitabilidade das mudanças globais devidas ao clima, os interesses econômicos das grandes nações e a falta de visão em longo termo de seus líderes não lhes permitem tomas as medidas necessárias para mitigar os efeitos e adaptar seu modo de vida ao estado febril da Terra.
“Poderíamos imaginar um cenário plausível em que furacões varrerão regiões inteiras. Ondas gigantescas engolirão cidades e civilizações. Secas prolongadas farão com que se troquem todas as riquezas por um simples copo de água suja. O calor e o frio extremos farão lembrar com saudades as histórias das avós que falavam das brisas da tarde e do aconchego de uma lareira no inverno. Comer-se-á só para sobreviver, sempre pouco e de gosto duvidoso.
         “ Mas tudo isso ainda não será o pior. A mãe, de tão fraca, não conseguirá enterrar a filha, e o neto matará o avô por causa de côdea de pão. A fome chegará a tal ponto que, como na Jerusalém sitiada, os famintos aguardarão a próxima vítima da morte para disputar-lhe a carne esfiapada.
         “‘O país ficará devastado e as cidades se tornarão escombros. Todo o tempo em que ficar devastada, a Terra descansará pelos sábados que não descansou quando nela habitáveis’ (Lev. 26:33-35).
         “Mas será o fim de toda a biosfera? Não. Por causa dos justos e sensatos, Deus abreviará esses dias e não dizimará toda a vida sobre a Terra. Mas é necessário que o ser humano passe por essa tribulação para acordar do seu egocentrismo e reconhecer em definitivo que ele é parte da comunidade da vida e o principal guardador dela.
         “Que fazer para nos prepararmos para esses tempos? Primeiramente, reconhecer que já vivemos neles.
         “Depois, importa ficar quieto, vigiando os sinais que indicam a aceleração dos processos de mudança. E, sobretudo, é imprescindível converter-se, mudar de hábitos de vida, uma mudança profunda, pessoal e definitiva. Só então estaríamos em condições morais de pedir aos outros que façam o mesmo.
         “Deveríamos, ainda, voltar às raízes, recomeçar, como tantas vezes já fez a humanidade arrependida, reconhecendo que somos apenas criaturas, e não Criador, que somos companheiros, e não senhores da natureza.
         “Para esses tempos de carestia que virão, é fundamental recuperar as ancestrais artes e técnicas do plantar, colher, comer; do cuidar dos animais e servir-se deles com respeito; do fazer utensílios e ferramentas, com arte e tecnologia local; do selecionar e plantar as ervas que curam e os grãos que nutrem; do recolher para tecer; do preservar as fontes d’água. Desse saber recuperado e enriquecido surgiria uma civilização do contentamento, uma biocivilização, a Terra da boa esperança.
         “Depois dessa longa temporada de lágrimas e esperanças, superaremos essa estúpida guerra de religiões, essa intolerável disputa de deuses. Para além dos profetas e tradições, quem sabe voltemos a adorar o único Criador de todas as coisas. E poderemos, enfim, organizar verdadeiramente a união de todos os povos do mundo e um autêntico parlamento de todas as religiões”.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, humanas, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, atingindo ondas oceânicas...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos (por exemplo, a quase sempre danosa, lesiva aos cofres públicos, proliferação de aditivos contratuais...);

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...


Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...