domingo, 1 de maio de 2016

A CIDADANIA, A ARTE DO BEM-VIVER E A RIQUEZA DA SOLIDARIEDADE (21/3)

(Maio = mês 21; faltam 3 meses para a Olimpíada 2016)

“Desapego: a arte do bem-viver
        Somos desde sempre atormentados por nossa finitude. A cada dia seguimos, na estrada da vida, o caminho inexorável em direção à morte. Assim sendo, a angústia se torna companheira de viagem. Da alegria do nascimento até a tristeza do fim, seguimos malresolvidos, enquanto, a cada dia, sentimos na pele o constante desgaste de nossa frágil materialidade. Envelhecer é algo que no início é imperceptível, em nível celular. Após décadas, se amplia para os nossos órgãos e corpo físico. Envoltos numa luta diária pela sobrevivência, numa penúria estressante para nos adaptarmos aos desafios que o meio ambiente nos impõe, mal temos tempo e serenidade para compreender o sentido da vida.
         Basicamente encontramos, num extremo, os que amam a vida e temem seu fim e, no outro extremo, os que pede a morte como solução de seus sofrimentos físicos, psicológicos, existenciais. Daí uma pergunta que nunca se cala: vir à luz é um milagre ou dádiva, ou seria um fardo pesado e uma prisão no tempo e no espaço, na qual cumprimos uma pena terrível e sofrida? Para cada um de nós, a resposta é íntima e pessoal. Afinal, somos sujeitos de nossas ações, autores do nosso personagem, arquitetos de nosso mundo. Mas, acima de tudo, responsáveis por nosso arbítrio. Peço que não culpemos o mundo, as pessoas ao nosso redor, por nossas trajetórias e insatisfações. Somos o que merecemos ser, frutos de escolhas e renúncias.
         Daí vem uma palavra e, mais que isso, um conceito, que, se praticado a cada dia, se mostra um bálsamo: o desapego! Sofrida a vida de quem teme perder. Deprimente o cotidiano daqueles que temem a morte de si ou de pessoas queridas e próximas. Insensata a existência dos que acumulam matéria e poder. Pobres serão de espírito. Tudo é ilusório e transitório. Ninguém, mesmo que seja pai, irmão, cônjuge, amigo do peito, tem o poder de alterar os enredos que já nascem em cada ser. No máximo, ajudamos ou atrapalhamos a vida dos que amamos. Numa última e mais íntima instância, somos naturalmente solitários, no nosso mundo mental. Dialogamos a cada segundo com aquela voz interior, nossa consciência. Entre preocupações desnecessárias, sofrimentos imaginários, ideias de ruína, medos paralisantes, mal sobrevivemos, num ambiente caótico e pessimista.
         Benditos os desapegados, que entendem as leis naturais, que compreendem os ciclos da vida, que lutam para evoluir, mas sabem lidar  com as adversidades e aprendem com elas. Bem-vindos os que amam sem reter, possuir, sofrer com ciúmes, ódios, mágoas. Os que vivem o presente, se recusando a habitar a ansiedade quanto ao futuro, ou remoendo os traumas do passado depressivo. Tudo passa, se transforma, flui. Vaidades, tempo que voa. Beleza, riqueza, poder. E pergunto se conhece a história do pai do seu bisavô. Pois o filho de seu bisneto nem lembrará de seu nome, e você achando que tem que deixar algo para filhos, netos... Algum pássaro mora nos ninhos que os pais fizeram? Ensiná-los a construir os seus próprios ninhos é sábio, e mais sábio ainda é entender que podem ser maus construtores, ou simplesmente não merecem ter um ninho. Como diria meu avô, “caixão não tem gaveta” assim como ser generoso é partilhar conhecimento, respeitando aqueles que não se interessam por isso. Usufruir o momento, sem medo de viver ou perder.”.

(Eduardo Aquino. Neurocientista, autor de Crônicas sobre o comportamento e o relacionamento humano, em artigo publicado no jornal SUPER NOTÍCIA, edição de 3 de abril de 2016, caderno GERAL, coluna Bem-vindo à vida, página 15).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 29 de abril de 2016, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Solidariedade: lacre do bem
        A menina Júlia Macedo, de 11 anos, aluna do Colégio Santa Maria, aqui de Belo Horizonte, brilha como uma luz no fim do túnel, diante dos cenários confusos e desesperançados da política, das dificuldades que afligem milhões de pessoas provocadas pelos descompassos na economia e pela crise moral. Um gesto simples de solidariedade incendeia uma campanha, Lacre do Bem, que troca os lacres das latas de alumínio por cadeiras de rodas. Em dois anos, a garota, com o apoio dos pais e dos colegas, conseguiu juntar 26 milhões de lacres, agregando a essa campanha muitas outras pessoas, com a força da solidariedade que transforma vidas e corações. É um broto de esperança exemplar apontando a direção certa da aposta que precisa ser assumida como lição. O segredo é simples, revelado nos traços do rosto sereno, inocente e sustentado pela convicção do bem que está no coração da garota de 11 anos.
         O segredo maior é alicerçar o coração e a mente nos balizamentos da solidariedade. Obviamente, esse é o remédio para curar os desvios que embaraçam os exercícios da representação política. O investimento prioritário, portanto, na família, na escola e nas relações sociais todas é entender e vivenciar a solidariedade como princípio social, pois é ela que agiganta ações como a campanha Lacre do Bem. Esse investimento efetiva soluções para problemas que se arrastam sem saída nos debates políticos, nas análises sociológicas sofisticadas, mesmo nos discursos de denúncias ou na superficialidade de apontar o dedo para os outros. As instituições não conseguem encontrar seu ordenamento adequado e esperado fora dos parâmetros da solidariedade como princípio social. Sem esses balizamentos, os funcionamentos institucionais todos, da família à escola, da empresa à universidade, as relações entre as pessoas e os povos caem na incapacidade de eleger o bem comum como prioridade. Perdem a sensibilidade de cultivar o cuidado com os mais pobres.
         Uma garota consegue mudar quadros na vida de pessoas, alimentar esperanças nos funcionamentos de creches e outras instituições com a força transformadora, a sabedoria própria e incisiva do amor ao próximo. Convence que há possibilidade de crescimento e consolidação de estruturas de solidariedade. É isso que pode, deve e é urgente ocorrer com a criação e modificação de leis, regras de mercado e ordenamentos, da mais alta esfera até as relações mais domésticas. Só assim será possível configurar novo tecido cultural solidário, capaz de tirar a sociedade do caos, da falta de horizontes. A ausência da solidariedade produz prejuízos terríveis, a exemplo do preço patente e devastador da corrupção que compromete o bem comum. É próprio da solidariedade, como virtude moral a ser aprendida e praticada, manter acesa na consciência de cada um a determinação de se empenhar pelo bem comum, priorizando os mais pobres. Somente esta virtude poderá evitar os esquemas de corrupção, o terror do crime organizado e frear a indiferença para com o próximo.
         Sem solidariedade não se alcançará a almejada paz no mundo, o bem comum sempre estará comprometido. Quando, pois, se afirma, com  certeza, que na base de todas as crises que afetam a sociedade está a crise moral, compreenda-se que o remédio é a aprendizagem da lição da solidariedade, investimento prioritário na formação de criançada e da juventude, pela comprometida modelagem que os adultos devem assumir como tarefa primeira.
         Só a solidariedade articula os pilares fundamentais da vida social: verdade, justiça e liberdade. É hora de grandes correções de rumos, ajustamentos de procedimentos, intervenções incisivas. É hora de envolver o conjunto dos cidadãos em práticas, pequenas ou grandes, para além de obras públicas ou dos convencionais deveres de investimentos, inserindo as camadas todas da população brasileira em campanhas, projetos e programas que mereçam o reconhecimento, pelo alcance de sua solidariedade, como o Lacre do Bem.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);
b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em março a ainda estratosférica marca de 449,1% para um período de doze meses; e mais ainda em março, o IPCA acumulado nos doze meses chegou a 9,39%, com os juros do cheque especial em históricos 300,8%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;
c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2016, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,348 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 1,044 trilhão), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”

- 55 anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2016)...

- Estamos nos descobrindo através da Cidadania e Qualidade...
- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por uma Nova Política Brasileira...