segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A CIDADANIA, A ECONOMIA E A VIDA

“[...] O discurso sobre a evolução do movimento histórico deve necessariamente dar um lugar central a um pensamento econômico responsável, um pensamento que levante a questão da produção das riquezas e que, antes de falar da eficácia comercial de uma categoria de competidores, sustente a preocupação do interesse geral. Arquitetar soluções pensando que, no coração do sistema, existe uma vaca de leite inesgotável que basta ordenhar para dispensar políticas sociais sem limite é uma pista falsa. Uma economia nova, pois é disso que se trata, que não se preocupasse, dentro de uma mesma lógica, com a criação de riqueza, com sua distribuição e com a gestão do patrimônio comum não responderia à questão que se levanta hoje em dia para todos os povos e todos os países do mundo. Se nós podemos ter, às vezes, a ilusão da vaca de leite, nossos parceiros do Sul nem mesmo podem alimentar essa ilusão. A questão que nos interpela não é a do dimensionamento das políticas sociais, ela, é muito mais fundamental. Do mesmo modo, um pensamento que pudesse propor um caminho, etapas, tampouco serviria para guiar uma ação. Não podemos mais, sem dúvida, nos permitir rupturas que deixariam no vazio sociedade, as nossas, que perderam a capacidade de garantir sua própria subsistência e que correm o risco de naufragar num excesso de dependência. Se quisermos evitar futuros dramas planetários, essa , capacidade deverá ser restaurada em parte. Assim como os hospitais devem ser dotados de geradores, as sociedades devem conservar, além de uma defesa nacional, uma boa dose de economia territorial, uma capacidade econômica para assumir as funções vitais em caso de ruptura da economia-mundo. Tal ruptura seria catastrófica hoje em dia. Portanto, não é sensato imaginar o futuro de outro modo que não por movimentos e evoluções do conjunto da economia, isto é, por pressões determinadas de um movimento social interagindo com as forças econômicas e pela ação de um movimento cidadão marcado pelo interesse geral e pela vontade de construir uma sociedade de iniciativa e de solidariedade e um desenvolvimento sustentável.”
(HENRI ROUILLÉ D’ORFEUIL, in Economia Cidadã – Alternativas ao neoliberalismo; tradução de Patrícia Chittoni Ramos. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2002, páginas 184 e 185).

Mais uma IMPORTANTE e OPORTUNA contribuição para o nosso trabalho de MOBILIZAÇÃO PARA A CIDADANIA E QUALIDADE vem de artigo publicado no Jornal ESTADO DE MINAS, edição de 19 de fevereiro de 2010, Caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, que merece INTEGRAL transcrição:

“Economia e vida


Pelo terceiro ano, 2000, 2005 e agora, 2010, a Campanha da Fraternidade Ecumênica é promovida em conjunto pelas igrejas que fazem parte do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic): Igreja Católica Apostólica Romana, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia. Os cristãos todos têm a insubstituível tarefa de testemunhar a fraternidade e trabalhar, incansavelmente, pela justiça e pela paz. Essa convocação deve ecoar e ser acolhida, fazendo valer, mais do que as diferenças, a unidade em torno da recomendação de Jesus: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13, 35). O que é próprio do discípulo, o amor fraterno, com consequente empenho pela paz e pela justiça, é o selo de sua qualidade e de sua autenticidade. Essa é a razão fundamental para que a Campanha da Fraternidade Ecumênica/2010 tenha em sua questão central “como a fé cristã pode inspirar uma economia que seja dirigida para a satisfação das necessidades humanas e para a construção do bem comum?”.

É incontestável que o balizamento moral de que a economia precisa estar, de modo abundante e fundamentado, nas propostas e princípios da fé cristã. Esta é o sustentáculo da cultura da sociedade brasileira e precisa ser levada em conta de modo sério para ajudar a superar os desafios e equívocos que cotidianamente ocorrem em nossa sociedade. A fé cristã, alimentando um permanente processo de conversão pessoal na “pertença” eclesial e confessional, tem força e tarefa de impulsionar a mudança estrutural para que a economia esteja a serviço da vida.

Economia e vida, tema da Campanha da Fraternidade Ecumênica/2010, baliza um empenho missionário que deve congregar todos os que creem em Cristo, iluminando suas responsabilidades cidadãs em prol da justiça social e da implantação urgente de correções morais e práticas para uma sociedade mais justa, fraterna e solidária. A Campanha da Fraternidade, promovida durante o tempo da quaresma, tradição quase cinquentenária na prática da Igreja Católica, busca a construção de novas relações sustentadas nos princípios da justiça e ancoradas na denúncia de ameaças e violações da dignidade humana e dos direitos de toda pessoa. Só a fraternidade e a solidariedade têm força própria para edificar a sociedade como família, em paz, harmonia e segurança. A iluminação, que só o evangelho de Jesus Cristo traz,convida todos os homens e mulheres a se voltarem para a valorização da pessoa, o cuidado da natureza e os direitos dos seres humanos.

O que se quer, portanto, como objetivo geral da Campanha da Fraternidade Ecumênica é “colaborar na promoção de uma economia a serviço da vida, fundamentada no ideal da cultura e da paz, a partir do esforço conjunto das Igrejas Cristãs e de pessoas de boa vontade, para que todos contribuam na construção do bem comum em uma sociedade sem exclusão”. Isso se fará concretamente como o crescimento da sensibilização indispensável na valorização de cada pessoa, na superação do consumismo, na criação de laços que sedimentem uma convivência mais próxima, superando os individualismos inócuos, fomentando a prática da justiça e convencendo a todos a respeito das responsabilidades de cada um diante dos problemas decorrentes da vida econômica. A Campanha da Fraternidade Ecumênica traz o foco para o complexo tema da economia para iluminá-lo com a luz do evangelho, ajudando a compreendê-lo com intuições criativas que possibilitem a superação da lógica econômica vigente, geradora de exclusões. Essa luz tem elementos inigualáveis para alavancar o processo de superação do quadro, ainda tão vergonhoso, da exclusão social que configura os cenários das sociedades contemporâneas. Ao pensar economia e vida com a iluminação do dizer orientador e educativo de Jesus aos seus discípulos, no clássico Sermão da Montanha, “não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24), toca-se em aspectos e temáticas que têm a ver com o cotidiano de todos. A moldura dessa proposta convocatória é o caminho penitencial do tempo da quaresma, iniciado na quarta-feira de cinzas e que se estende até a celebração das Páscoa.

O tempo da quaresma, 40 dias, é uma pedagogia de Deus na vivência da fé para iluminar a vida de todos, tocando os recônditos da consciência moral de cada um – chama que apagada compromete tudo – para alavancar uma conduta marcada por princípios éticos e morais com força de sustentação, equilíbrio, correção e conquistas. Tudo começa e se mantém com a escuta do profeta Joel 2,13: “Voltai para o Senhor, vosso Deus” e pela convocação do apóstolo Paulo: “Deixai-vos reconciliar com Deus” (II Cor 5,20).”

São páginas e compromissos que nos MOTIVAM e nos FORTALECEM nesta grande CRUZADA NACIONAL pela CIDADANIA e QUALIDADE, buscando congregar TODOS na construção de uma NAÇÃO verdadeiramente JUSTA, ÉTICA, LIVRE, SUSTENTAVELMENTE DESENVOLVIDA e SOLIDÁRIA, que possa tornar BENEFICIÁRIOS das INCOMENSURÁVEIS RIQUEZAS do solo pátrio TODOS os BRASILEIROS e TODAS as BRASILEIRAS, e mais ainda no horizonte dos INVESTIMENTOS BILIONÁRIOS que se avizinham como a COPA DO MUNDO de 2014, a OLIMPÍADA de 2016 e os projetos do PRÉ-SAL.

Este é o nosso SONHO, a nossa LUTA, a nossa FÉ e a nossa ESPERANÇA!...

O BRASIL TEM JEITO!...

Um comentário:

Ana Maria disse...

A Campanha da Fraternidade ecumênica vem trazer a tona mais uma vez a discuss~so sobre a exclusão, que passa pelo setor economico do país. O chamado para que todos contribuam na construção do bem comum em uma sociedade sem exclusão, nos leva a refletir sobre a importância de olharmos de frente para os problemas e as crises de ética que passa nossa política e sentir que é chegado o momento de deixarmos de lado a acomodação e o ostracismo que nossa sociedade vive para buscar reais mudanças em nosso cenário seja municipal, estadual e federal. Pensar em crescimento real quando se tem como governantes políticos que deixaram de lado os princípios éticos e morais, para se manter no poder e fazer deste um trampolim de enriquecimento ilícito deles próprios, das famílias e dos "aliados" torna-se inadimissível. Mas senão retomarmos o exemplo do beija-flor que queria de gota em gota fazer sua parte e acabar com o incêndio da floresta, teremos que a cada dia encarar os fantasmas da corrupção e da desigualdade que assombram o país. Mudar começa em pequenas ações e o que as torna grande é a união destas pequenas iniciativas. Devemos lembrar da força desta união:uma gota inícia uma chuva e a união de milhões de gotas trazem uma tempestade.