quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A CIDADANIA, A ÉTICA NO TRABALHO E A EDUCAÇÃO PARA A PLENITUDE

“A ética no universo do trabalho

Curiosamente, na etimologia da palavra, competir significa chegar junto. Era o que o equilíbrio dos gregos buscava nos Jogos Olímpicos, onde o importante era alcançar a meta proposta, vencer o desafio e não os demais participantes. Isso mostra que para chegar a um lugar de sucesso verdadeiro não é preciso passar por cima nem querer ocupar o espaço de ninguém. Basta encontrar o próprio espaço, com mérito e justiça. E cada tem o seu. O problema é que pessoas e organizações imediatistas, de visão curta, mal-intencionadas e pouco criativas nunca veem as coisas assim. Não percebem que o mundo é grande e que as oportunidades são amplas para todos. Entendem que tudo é válido e descambam então para a falta de ética nas ideias e nos comportamentos.

Defeitos e limitações todos nós temos. Daí que podem ocorrer descuidos nas nossas relações profissionais. Não cumprimentar as pessoas, falar alto demais, ser inoportuno ou indiscreto, usar piadas ou brincadeiras de mau gosto, fazer críticas negativas, grosserias e outras coisas do gênero são exemplos desses deslizes. Bem, para isso é que existem as regras da educação que podem amenizar qualquer contratempo comportamental.

Mas há atitudes que ultrapassam esses limites. É o problema da má intenção, de fazer o mal calculadamente, de se aproveitar das situações, de ser desonesto nas transações comerciais, de tratar as pessoas com truculência, de usar os cargos indevidamente, de não ser justo nas avaliações, de trair a confiança, de fazer do preconceito uma arma, de espalhar mentiras, de não respeitar os limites alheios, de restringir ou tomar o espaço de outros, de fazer discriminações e outros comportamentos que mostram um claro objetivo de diminuir, magoar ou se aproveitar das pessoas.

Coisas assim ferem profundamente a ética e adquirem um caráter muito sério nas relações do trabalho. A especialista em etiqueta Amy Vanderbilt faz um alerta sobre isso ao afirmar: “A elegância inclui também a consideração e o respeito por subordinados, chefes e colegas, além da disposição em ser agradável e útil. A ética no escritório nos protege de colidir com os outros, de magoar os sentimentos dos colegas ou de prejudicar a reputação da empresa”.

A pergunta que emerge de tudo isso é se é possível para uma empresa ou um profissional sobreviver nesse cenário competitivo sendo ético, agindo correto, jogando as regras, enquanto seus competidores atuam sem nenhum parâmetro.

Para as organizações, hoje já existe uma certificação ética: a SA8000. São normas adotadas voluntariamente e que valorizam aquelas que não poluem, não fazem propaganda enganosa, não utilizam mão de obras infantil, respeitam os empregados, não criam discriminações, não fazem diferenças entre homens e mulheres, não subornam, não fazem fraude, não criam dificuldades para a saúde e a qualidade de vida dos trabalhadores, entre outras coisas. Com isso busca-se melhorar a conduta das organizações e equilibrar as relações de mercado. Para quem procura vantagens competitivas esse é certamente um caminho mais seguro.

Porém, existe algo mais eficiente no mercado: os consumidores. São eles que vão determinar a conduta ética das organizações. Isso significa uma clara transição de poder de quem vende para quem compra. Mais que qualquer outro argumento, a sanção social é muito pior e mais efetiva que a sanção legal. E, hoje, como o enorme desenvolvimento das telecomunicações e com o advento das redes sociais, vai sendo criada uma nova situação, mais aberta e investigativa, onde é difícil ocultar o mau comportamento.

Tudo o que faz falta se transforma em demanda. Daí que a ética virou um quesito de alto valor. Cada vez mais as pessoas vão ter um maior cuidado na aquisição de produtos e serviços. Também as empresas vão selecionar mais os novos profissionais que vão fazer parte do seu time. As vagas deverão ser ocupadas por aqueles que chegam para somar e melhorar, não para atrapalhar as coisas.

O mais importante é garimpar e depois treinar as pessoas para formar a melhor equipe possível, gente que tenha compromisso com seu profissionalismo e afinidade com os valores e metas da organização. No fundo, tudo é questão de criar uma cultura positiva e um local de trabalho agradável e motivador. Depois as próprias pessoas ganharão consciência da qualidade desse ambiente e vão lutar para mantê-lo e ampliá-lo. É assim que vamos aumentando a chamada “turma do bem”.”

(RONALDO NEGROMONTE, Professor, palestrante e consultor em desenvolvimento de pessoas e organizações, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 9 de dezembro de 2012, caderno MEGACLASSIFICADOSADMITE-SE, coluna MERCADO DE TRABALHO, página 2).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de MOBILIZAÇÃO PARA A CIDADANIA E QUALIDADE vem de artigo publicado na revista VEJA – edição 2299 – ano 45 – nº 50, de 12 de dezembro de 2012, páginas 105 e 106, de autoria de GUSTAVO IOSCHPE, que é economista, e que merece igualmente integral transcrição:

“Educação para quê?

A Galleria dell’Accademia, de Florença, exibe muitas obras-primas da criação artística universal. A mais famosa delas é o Davi de Michelangelo (1475-1564). Perto dele estão outras esculturas, do mesmo artista, que me chamaram mais a atenção. São cinco peças aparentemente inacabadas, em que figuras humanas estão emergindo do bloco de mármore ao qual pertencem. Elas não são obras incompletas. Michelangelo deixou-as assim de propósito. São a ilustração mais vívida da concepção que ele tinha sobre o seu ofício. Michelangelo entendia que o escultor não era o criador da escultura: sua função seria apenas libertá-la do bloco de mármore que a aprisionava. Ele dizia poder visualizar perfeitamente a obra acabada ao olhar para o bloco de mármore, e sua função seria apenas “revelar aos olhos dos outros aquilo que os meus já veem”.

Nesta coluna falo bastante sobre educação, seus problemas e o que precisamos fazer para melhorar, mas acabo não sendo explícito sobre a finalidade da educação que defendo. É verdade que a educação é fundamental para o desenvolvimento econômico, e que o país precisa de escolas melhores para crescer. Mas toda formulação macro depende de uma explicação micro, que apresente a lógica no nível do indivíduo. Ninguém vai à escola porque quer que seu país se desenvolva, nem mesmo para ter uma carreira melhor no futuro – uma criança de 7 anos não faz projeções de longo prazo nem, quando mais crescida, permanece em uma escola chata e frustrante. Pessoalmente, estou com Michelangelo. Acho que a boa escola, o bom professor, liberta o aluno e faz com que ele possa desenvolver suas potencialidades e sonhos até os limites impostos pelo ambiente. Deixe-me elaborar.

Todos nascemos com um nível de inteligência geral (quea pesquisa chama de “g”) cujo potencial é definido por nossos genes e posteriormente moldado por fatores do ambiente a que somos expostos (há uma enorme discussão acadêmica sobre quais os pesos da genética e de fatores ambientais na inteligência final do adulto. Não sou competente para resumir essa literatura aqui, mas há um consenso de que não se pode entender a inteligência humana sem levar em consideração tanto fatores genéticos quanto ambientais e a interação entre eles). Alguns de nós (ou todos nós, se você acredita em Paulo Coelho) nascemos com talentos não relacionados com a inteligência tradicional (lógico-dedutiva), como o talento musical, esportivo, interpessoal, comunicativo e outros.

A combinação dos fatores genéticos com um ambiente ideal, estimulante, traça o limite para o progresso de cada pessoa ao longo de sua vida. Depois da concepção do embrião que dará origem à criança, esse limite máximo vai sendo reduzido pela dificuldades da vida. Hoje sabemos que, se a futura mãe fuma, bebe ou passa por episódios agudos de stress durante a gravidez, seu filho terá danos para toda a vida. Depois do nascimento, há uma série de variáveis que conspiram para que o horizonte de possibilidades seja rebaixado. Algumas de ordem familiar – pais castradores, distantes ou irresponsáveis, que traumatizam seus filhos –, outras de natureza totalmente aleatória (não adianta ter a genética para surfe se o sujeito nasce no interior da Sibéria, por exemplo). Há diversas instituições que podem contribuir para que uma pessoa atinja seu pleno potencial. A escola é, disparado, a mais importante delas.

A função primeira da escola é dar a seus alunos os instrumentos de que necessitam para navegar no mundo: o domínio básico da escrita e das operações matemáticas. Sem elas, é impossível funcionar de maneira autônoma. Depois, a escola precisa transmitir aos alunos uma vasta base factual, expondo-os ao conhecimento acumulado pela humanidade. Não apenas porque esse conhecimento é indispensável para o desenvolvimento do raciocínio (falo mais sobre isso em artigo futuro, sobre neurociência), nem porque, se bem ensinado, é intelectualmente estimulante, uma vez que as crianças são naturalmente curiosas, mas também porque essa exposição é necessária para que demos às crianças a chance de ter contato com suas reais vocações. Talvez uma criança nasça com o potencial de se tornar um médico extraordinário, mas precisará de algum contato com a biologia para facilitar o encontro com a sua vocação. Claro, não podemos ensinar na escola todos os milhares de especializações do conhecimento humano, mas precisamos abordar as grandes áreas nas quais esses conhecimentos estão inseridos (genericamente: linguagem, matemática, ciências sociais, humanas e exatas, artes e educação física). Finalmente, a boa escola precisa fazer com que os alunos possam usar esses diversos conhecimentos como ferramenta para desenvolver sua própria capacidade de pensar. Não é importante estudar história para saber nomes e datas, mas sim ser exposto a nomes e datas para que se perceba como o estudo da história pode explicar o presente. Quanto mais ferramentas analíticas a pessoa tiver à sua disposição, melhores serão suas decisões, e mais próximo de seu máximo potencial ela vai chegar. Por isso é que mesmo o aluno que sabe que vai ser advogado deve estudar química: se bem ensinada, é mais uma ferramenta para ajudá-lo a pensar. Uma boa educação gera multiplicidade: de interpretações e de opções.

Um mau sistema educacional gera bloqueios, limites. A má escola é como o mau escultor: ela vai deixando tantas arestas, com tantos pedaços de mármore cobrindo a forma original, que ao fim do processo já nem é possível divisar a linda escultura que há dentro daquele bloco de pedra.

O problema da educação brasileira não é apenas relevante porque priva o país de riquezas e desenvolvimento. Riqueza não é um fim, é um meio. A finalidade da vida é a felicidade, a plenitude. E é isso que nos é roubado ao termos um sistema educacional tão incompetente: a cada dia, milhões de brasileiros ficam mais e mais longe do limite de suas realizações, da concretização de seus projetos. Quantos brilhantes escritores não estamos perdendo entre todos os analfabetos funcionais que saem de nossas classes de português? Quantos futuros médicos, advogados e engenheiros tiveram de sacrificar seus sonhos e viver uma vida apequenada porque não conseguiram entrar em uma universidade? Milhões e milhões, certamente.

Não é fácil aceitar que o papel da educação é a libertação do potencial de cada indivíduo. Presume aceitar que somos diferentes, com capacidades distintas e possibilidades idem. Requer que se admita que a escola não pode criar o novo homem, moldar o aluno. O professor pode apenas dar asas ao aluno para que alce voos mais altos, não determinar o local de chegada. No Brasil, crê-se que um sistema educacional justo é aquele que entrega, ao fim do processo, as mesmas esculturas, como se todos os mármores tivessem as mesmas origens e aspirações. Para chegar a esse nivelamento, o único caminho possível é a equalização por baixo, a chegada ao mínimo denominador comum. Se aceitamos as diferenças como inerentes à condição humana, percebemos como a busca pela igualdade é a mais atroz das formas de injustiça. Que em 2013 sejamos mais eficazes ao impedir essa mutilação silenciosa das nossas crianças. São os meus votos para o novo ano.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, pedagógicas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ÉTICA, de MORAL, de PRINCÍPIOS, de VALORES –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas EDUCACIONAIS, GOVERNAMENTAIS, JURÍDICAS, POLÍTICAS, SOCIAIS, CULTURAIS, ECONÔMICAS, FINANCEIRAS e AMBIENTAIS, de modo a promovermos a inserção do PAÍS no concerto das potências mundiais LIVRES, SOBERANAS, CIVILIZADAS, DEMOCRÁTICAS e SUSTENTAVELMENTE DESENVOLVIDAS...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

a) a EDUCAÇÃO – UNIVERSAL e de QUALIDADE, desde a EDUCAÇÃO INFANTIL (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de seis anos de idade na primeira série do ENSINO FUNDAMENTAL, independentemente do mês de seu nascimento –, até a PÓS-GRADUAÇÃO (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

b) o COMBATE, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a INFLAÇÃO, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a CORRUPÇÃO, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o DESPERDÍCIO, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

c) a DÍVIDA PÚBLICA BRASILEIRA, com projeção para 2012, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e intolerável desembolso da ordem de R$ 1 TRILHÃO, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos, a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz AUDITORIA...

Destarte, torna-se absolutamente INÚTIL lamentarmos a FALTA de RECURSOS diante de tanta sangria, que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a confiança em nossas instituições, negligenciando a JUSTIÇA, a VERDADE, a HONESTIDADE e o AMOR à PÁTRIA, ao lado de extremas e sempre crescentes demandas, necessidades, carências e deficiências, como as aqui adequadamente apontadas no âmbito da ética e da educação, o que aumenta o já colossal abismo das desigualdades sociais e regionais e nos afasta num crescendo do seleto grupo dos sustentavelmente desenvolvidos...

Sabemos, e bem, que são gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ÂNIMO nem arrefecem nosso ENTUSIASMO e OTIMISMO nesta grande cruzada nacional pela CIDADANIA e QUALIDADE, visando à construção de uma nação verdadeiramente JUSTA, ÉTICA, EDUCADA, CIVILIZADA, QUALIFICADA, LIVRE, SOBERANA, DEMOCRÁTICA, DESENVOLVIDA e SOLIDÁRIA, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com TODAS as brasileiras e com TODOS os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em 2013; a Copa das Confederações de 2013; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do PRÉ-SAL, segundo as exigências do século 21, da era da GLOBALIZAÇÃO, da INTERNACIONALIZAÇÃO das empresas, da INFORMAÇÃO, do CONHECIMENTO, da INOVAÇÃO, das NOVAS TECNOLOGIAS, da SUSTENTABILIDADE e de um possível e novo mundo da JUSTIÇA, da LIBERDADE, da PAZ, da IGUALDADE – e com EQUIDADE –, e da FRATERNIDADE universal...

Este é o nosso SONHO, o nosso AMOR, a nossa LUTA, a nossa FÉ, a nossa ESPERANÇA... e PERSEVERANÇA!...

O BRASIL TEM JEITO!...

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