“Violência
contra a mulher
O papa
Francisco, durante entrevista, sublinhou a importância e necessidade de buscar
novos modos de participação da mulher na vida da Igreja. Uma sinalização
esperançosa que pode fazer grande diferença no contexto eclesial, mas também
uma indicação que deve desencadear um processo mais abrangente de mudança, com
incidências em toda a sociedade. É preciso superar, sobretudo, um grave
problema social, que, infelizmente, ocorre com muita frequência no contextos
das famílias: a violência contra a mulher. É triste saber que a Lei Maria da
Penha, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), não reduziu os índices de
morte de mulheres agredidas. Diante de todos, está essa chaga terrível, que
aflige pessoas e atormenta ambientes familiares, com impactos incalculáveis,
tanto na vida das vítimas quanto no contexto social mais amplo.
Os
crimes contra mulheres são praticados quase sempre por parceiros e
ex-parceiros. O estudo Violência contra a
mulher, feminicídios no Brasil, publicação do Ipea, serve de grande alerta
e estímulo a ações corretivas mais incidentes para transformar essa abominável realidade.
Feminicídio é é o homicídio da mulher por questão de gênero, simplesmente
porque é mulher. São geralmente abusos familiares, com consequentes prejuízos
na consistência do tecido social. Ora, incontestável, hoje, é a convicção de
que a família é célula vital da sociedade, e a agressão contra a mulher é
também violência contra essa instituição.
Comprometidos
os vínculos naturais de afeto, todos sofrem prejuízos sem proporção. As
consequências são muitas e de variados tipos, atingindo todos os membros de uma
família. Instala-se um clima de irresponsabilidade geral, abrindo espaço para
vícios como o alcoolismo, outras dependências químicas e o consequente comprometimento do sentido de cidadania.
Aqueles que agridem as mulheres são, pois, perigosos no contexto familiar, mas
também oferecem riscos para toda a sociedade.
Assim,
o equilíbrio familiar deve se tornar meta a ser alcançada permanentemente.
Reconhecendo a centralidade da família,
é preciso encontrar caminhos para reverter esse quadro abominável de violência.
Mostra a pesquisa publicada que a Lei Maria da Penha não tem sido eficaz no
propósito de alcançar metas de superação da violência doméstica. Vale refletir
que é preciso conquistar algo além de uma legislação ou mais peso a normas e
sanções. Elas têm sua importância pedagógica e corretiva. Há, contudo, uma
perspectiva talvez não muito valorizada, em razão da mentalidade vigente na sociedade
contemporânea. Trata-se daquela que indica ser a espiritualidade um caminho
eficaz para mudar ambientes familiares, pela transformação mais profunda dos
homens.
Recentemente,
surgiu um movimento espiritual chamado Terço dos Homens. É o cultivo da devoção
a Nossa Senhora pela oração reverente, partilhada e meditada do terço, uma vez
por semana. Igrejas recebem um grande número de homens, acompanhados de jovens
e de crianças, filhos ou netos. Os testemunhos têm sublinhado caminhos de
grandes mudanças, como o abandono da bebida, a retomada da competência do homem
exercida no lar pelo afeto e carinho, mais presença junto aos filhos, resgate
da fidelidade ao matrimônio e a conquista de sensibilidades indispensáveis para
se viver de modo adequado.
Vale conhecer
e indicar o Terço dos Homens. Não são poucos os relatos de mulheres sobre as
mudanças em suas casas. Um santo e eficaz remédio, a espiritualidade gerada e
cultivada pela experiência simples da reza do terço produz grandes mudanças. É
um valioso caminho para acabar com a triste realidade da violência contra a
mulher.”
(DOM WALMOR
OLIVEIRA DE AZEVEDO. Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, em artigo
publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição
de 18 de outubro de 2013, caderno OPINIÃO,
página 9).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
16 de outubro de 2013, caderno OPINIÃO, página
9, de autoria de FREI BETTO, que é
escritor, autor de Fome de Deus (Paralela),
entre outros livros, e que merece igualmente integral transcrição:
“Jogo
do poder
O “golpe de mestre” de
Marina Silva ao aderir ao PSB de Eduardo Campos comprova o quanto o Brasil
necessita, urgentemente, de profunda reforma política.
As
manifestações de rua, em junho,
demonstraram que expressiva parcela da população, sobretudo jovens, não confia
em partidos políticos. Estes se desgastaram devido à falta de fidelidade a seus
princípios estatutários e programáticos.
Mais
do que rezam as cartas fundadoras dos partidos, na prática valem a fome de
poder, o toma lá, dá cá, as alianças e coligações, ainda espúrias, promíscuas e
seladas pelo vil metal da corrupção.
A
eleição presidencial de 2014 está fadada a se reduzir a uma competição de
caciques políticos. Nos bastidores, as coligações partidárias, de olho em maior
tempo de TV na propaganda eleitoral gratuita, serão armadas à base de promessas
na distribuição dos ministérios, caixa dois, loteamento de cargos e funções.
Ainda
que os candidatos proclamem maravilhas aos eleitores, no frigir dos ovos,
anunciado o resultado da eleição, terão importância apenas os acordos de
bastidores firmados no decorrer do processo eleitoral. Eis o neocoronelismo, o
Brasil dividido em currais eleitorais, as discordâncias programáticas
escanteadas pelas ambições pessoais, o anseio de se apropriar da máquina do
poder.
Esse
maquiavelismo é muito anterior ao próprio Maquiavel. Jesus foi vítima dele.
Pilatos, governador da Judeia e interventor romano, não era benquisto aos olhos
do Sinédrio de Cafás, o poder judaico. Os dois poderosos, entretanto, se
puseram de acordo quando se tratou de defender a (des)ordem vigente criticada
por Jesus, em especial ao derrubar as mesas dos cambistas no Templo de Jerusalém
(equivalente a impedir, hoje, o funcionamento da bolsa de valores). Prisioneiro
político, Jesus foi condenado pelo duplo poder.
Como é
difícil suscitar esperanças nos jovens, incutir utopia, convencê-los da
importância de não ficarem indiferentes ao processo eleitoral, quando se
constata que nenhum candidato coloca o projeto Brasil acima de seu projeto de
poder! As opiniões dos marqueteiros terão sempre mais importância que as
reivindicações dos eleitores.
Desde
1980, quando foi fundado, até 2002, quando Lula se elegeu presidente pela
primeira vez, o PT defendeu, como imprescindível ao Brasil, a reforma agrária.
Após 10 anos no poder, pouco de fez nesse sentido. Ao contrário, os latifúndios
se ampliaram, grandes extensões de terra têm sido apropriadas por estrangeiros,
o agronegócio avança sobre a Amazônia e trata os povos indígenas como estorvo
ao progresso.
Não
sou ingênuo a ponto de acreditar que a política depende de lideranças
carismáticas, ainda que elas sejam privilegiadas captadoras de votos. A melhor
liderança não poderá jamais ser coerente com os seus princípios enquanto
perdurar essa estrutura política intrinsecamente antidemocrática, elitista e
corrupta. De boas intenções o inferno está cheio.
Enquanto
não se convoca uma Constituinte exclusiva para a reforma política, resta ao
eleitor manifestar-se nas ruas, demonstrar a sua indignação, organizar a
esperança, e fazer de seu voto recurso de aposentadoria compulsória do
caciquismo e promoção daqueles candidatos que, comprovadamente, estão dispostos
a quebrar o ferrenho tabu de que as estruturas brasileiras são intocáveis.
Como
alertou Cazuza, muitas de nossas ilusões estão perdidas, nossos sonhos foram
vendidos, e de nada vale ficar em cima do muro. Precisamos todos de uma
ideologia que imprima sentido às nossas vidas e à nossa política.
Caso
contrário, seremos todos ludibriados pelo neoliberalismo, que busca fazer de
todos nós consumistas, e não cidadãos; pelo fundamentalismo religioso, que
insiste em negar a laicidade do Estado; pelos partidos que, como descreveu
Lampedusa, pregam mudanças para que tudo permaneça como está.”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, meio à maior crise de
liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada
ordem; III – o desperdício, em todas
as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
inquestionavelmente irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
intolerável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma
imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimentos e de poupança e, mais contundente ainda,
afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e
o amor à pátria, ao lado de abissais
desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes
necessidades de ampliação e modernização
de setores como: a gestão pública; a
infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação;
turismo; cultura, esporte e lazer; comunicações; segurança alimentar e
nutricional; segurança pública; forças
armadas; polícia federal; defesa civil; qualidade (planejamento –
estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia,
efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade);
entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada,
qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que
possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos
e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as
obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da
era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...
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