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segunda-feira, 21 de julho de 2014

A CIDADANIA, A EDUCAÇÃO, A PRODUTIVIDADE E UM NOVO JOGO CULTURAL

“Educação e produtividade
        
         Para que possamos levar metade da população ainda vulnerável a um padrão aceitável de qualidade de vida, o Brasil precisará de um crescimento médio anual de 4,2% do PIB até 2030, segundo especialistas. Uma meta factível se triplicarmos o crescimento da produtividade de uma forma sistêmica e generalizada. Mas, para aumentarmos a produtividade, precisamos produzir novos conhecimentos, desenvolver e empregar muita tecnologia. E, para isso, é necessário ter educação e pesquisa de qualidade. Os países que se desenvolveram mais rapidamente nas últimas décadas foram os que mais qualificaram sua força de trabalho.
         O Brasil é perfeitamente capaz disso. Desenvolvemos dois setores bem distintos: o agrícola e o aeroespacial, que hoje são altamente competitivos, principalmente devido à ênfase dada a pesquisa e desenvolvimento no passado, que continuam com muito investimento ainda hoje. Neste mundo globalizado e altamente conectado, precisamos atrair mais os talentos estrangeiros. Pasmem! O Brasil tinha, no início de 1900, 5% da força de trabalho de estrangeiros. Hoje, um século depois, temos somente 0,5%. Devemos não só atrair os estrangeiros, mas principalmente oferecer condições para que os brasileiros que estão no exterior tenham um vínculo maior com as instituições brasileiras, elevando, assim, o nível de qualificação de nossos profissionais e, consequentemente, de nossa produtividade.
         Para o país tornar-se competitivo, é necessário que suas empresas e organizações sejam competitivas, e, para isso, é necessário que seus colaboradores sejam profissionais competitivos, que, por sua vez, só o serão se forem qualificados e produtivos. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) mostrou que a produtividade do trabalhador na indústria brasileira caiu de 30% para 20% se comparado ao trabalhador da indústria norte-americana nos anos de 1973 a 2004. Hoje, um trabalhador norte-americano produz o equivalente à produção de cinco brasileiros, por um mesmo período. E somente com educação poderemos reverter esses números. Educação e pesquisa de qualidade geram novas tecnologias, processos, negócios e produtos.
         O Plano Nacional de Educação, aprovado recentemente no Congresso Nacional, deu ênfase ao aumento progressivo no investimento do setor público. O objetivo é chegar a 10% do PIB em 2024. Outra meta importante e ambiciosa é a de formar 60 mil mestres e 25 mil doutores por ano.
         A pesquisa de inovação tecnológica (Pintec), realizada pelo IBGE e divulgada no final de 2012, mostrou que, entre as 128,68 mil empresas pesquisadas, somente 35,6% haviam sido inovadoras. Essas empresas empregavam nas atividades internas de pesquisa e desenvolvimento somente 11 mil profissionais pós-graduados. Mostrou também que a falta de pessoal qualificado era um gargalo para o avanço da inovação em 72,5% das empresas.
         O Ietec, referência em educação no setor de engenharia há 27 anos, irá contribuir com essa meta na formação dos mestres, com o mestrado em engenharia e gestão de sistemas e processos. A união da engenharia com a gestão vem colaborar significativamente para o desenvolvimento do país. O Brasil tem cerca de 668 mil engenheiros registrados nos conselhos de engenharia e agronomia, e, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), desses, somente 28% exerciam efetivamente a função típica de engenheiro. Onde estão os outros? Grande parte exercendo cargos de gestão, e outros estão na área de pesquisa e desenvolvimento.
         Precisamos proporcionar a união da teoria acadêmica avançada dos pesquisadores com a prática profissional dos engenheiros, administradores e outros profissionais de ciências sociais e da terra, formando, assim, profissionais com base conceitual sólida associada à necessidade empresarial. A formação ideal do profissional é a combinação de uma base ampla de conhecimento matemático teórico com know-how prático. Educação e produtividade, com mais mestres, para um Brasil mais próspero e justo.”

(RONALDO GUSMÃO. Presidente do Instituto de Educação Tecnológica (Ietec), em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 17 de julho de 2014, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 18 de julho, mesmo caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente transcrição:

“Novo jogo cultural
        
   Jogadas as partidas da Copa do Mundo, concluído o evento, com os saldos positivos, a sociedade brasileira, incontestavelmente, está emoldurada pela exigência de investir em um novo jogo cultural. É pobre o discurso que considera apenas a avaliação exitosa do Mundial, como vitorioso contraponto às vozes dos que “torciam contra”, apostando no caos em aeroportos, trânsito e outros serviços. Não foi assim, felizmente. Contudo, poderia ter sido bem melhor se governantes agissem com mais lucidez, as burocracias não atrasassem processos e os interesses espúrios não fossem tão determinantes. Avanços mais expressivos seriam alcançados se prevalecesse um sentido cidadão por parte daqueles que têm tarefas determinantes na condução da sociedade plural.
         Não menos ingênuo, depois de sinalizações e posturas populares, nos estádios e nas ruas, é apontar aspectos negativos do evento para construir o discurso político da corrida eleitoral em processo. É inteligente saber que o sentimento popular resiste a essas estratégias utilizadas na confecção de linguagens políticas que buscam captar a benevolência de eleitores. O Mundial, junto das manifestações populares que ocorreram em meados de 2013, desenhou no horizonte da sociedade brasileira que é indispensável investir num novo jogo cultural, sob pena de atrasos e de vergonhosas goleadas em muitos campos, não só do futebol.
         Essa intuição não é de um político iluminado, de uma estrela do futebol e nem mesmo de reverenciados intelectuais de diferentes campos das ciências. O povo fez essa indicação não por um programa formal escrito, divulgado em redes sociais ou outros meios de comunicação. A postura popular, desde a presença nos estádios, suas manifestações de apoio ou descontentamento, a interação com diferentes culturas representadas por turistas e delegações esportivas, com as marcas da proximidade, do respeito e da alegria, sacramentou a grande necessidade de um novo jogo cultural na sociedade brasileira. Discursos repetitivos, consequentemente estéreis, e dificuldade de ouvir e dialogar, especialmente com os pobres e excluídos, tenderão a processual desmoronamento. Sem a necessária alma de caráter antropológico, capaz de compreender o conjunto da existência humana com suas demandas sociais, culturais, religiosas e políticas, perpetuarão os políticos com campanhas eleitorais de tempos passados, com discursos de recíprocos ataques. Predominará a superficial busca de construção de uma imagem de candidato perfeito e salvador da pátria, uma entediante comunicação que ninguém mais consegue ver e, sem alternativa, desliga a TV, o rádio. Prevalece a desilusão.
         A reivindicação desse novo jogo cultural torna-se mais intensa, particularmente, quando se avalia o percurso do grupo campeão da Copa – sua cultura, suas escolhas de planejamento, sua aptidão de cultivar uma autoestima que sustenta a capacidade de lutar, conjuntamente, por metas e ideais. Olhar para essa realidade mostra que a sociedade brasileira precisa analisar e desmontar os esquemas de elitização, que pouco ajudam nos avanços possíveis na atualidade. Incontestavelmente, é hora de aproveitar melhor a oportunidade para a instauração de processos em níveis diferentes da sociedade e nos seus funcionamentos, investindo numa grande obra educativa e cultural. Não se pode perder a chance de aprofundar análises para amadurecer intuições e alcançar indicadores novos, diante da necessidade de novas respostas. Torna-se inoportuno, simplesmente, contentar-se com as conquistas obtidas, pois ficaram abaixo do que era possível, por entraves ideológicos, incompetências de gestão e aprisionamento da cidadania em defesa dos interesses grupais.
         A condição continental do Brasil não pode dispensar a peculiaridade das diferentes regiões nos estados da Federação, com seus valores, tradições e patrimônios próprios. Será sempre inoperante tratar uma realidade grande e complexa sem considerar aquilo que a constitui: suas tradições e valores regionais. Esse raciocínio vale também para os campos da política, economia e religião. Não existe pessoa, ou instância, que, de modo solitário, possa reger um processo de dimensões continentais. Buscar uma nova realidade a partir do diálogo – com a competência de programas governamentais menos genéricos e teóricos, cultivo da autoestima e o investimento de base, iluminado por um horizonte marcado por valores humanísticos – poderá conduzir a sociedade brasileira no caminho indicado pelo povo. É hora de investir num novo jogo cultural.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, competente e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...

quarta-feira, 25 de junho de 2014

A CIDADANIA, O PROTAGONISMO JUVENIL, A COPA, O POVO E A POLÍTICA

“Protagonismo juvenil
        
         Os índices de evasão escolar no Brasil ainda são assustadores.O último censo escolar, realizado em 2011, revelou que a taxa de reprovação no ensino médio brasileiro é de 13,1%. O desinteresse é o principal impulsionador do abandono escolar, conforme pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, sendo que 40% dos entrevistados, jovens de 15 a 17 anos, apontaram esse  motivo como principal, seguidos de 27%, que precisam trabalhar, e 10,9% com dificuldade de acesso à escola. É preciso traçar estratégias para reconceituar o ensino médio, propondo aos jovens que sejam sujeitos centrais na sua formação, ou seja, tornando-os protagonistas.
         A realidade das escolas públicas aponta dois grandes problemas: alto índice de abandono escolar e de permanência em sala de aula. Os programas governamentais de universalização do ensino conseguiram amenizar um pouco os percentuais de evasão escolar quando se consideram os números registrados nas décadas passadas. Porém, o Brasil ainda tem a terceira maior taxa de abandono entre os países com maior Índice de Desenvolvimento Humano, atrás apenas da Bósnia Herzegovina (26,8%) e das ilhas de São Cristovam e Névis, no Caribe (26,5%).
         O panorama é ainda mais assustador ao se considerar o índice de reprovação, indicando que os jovens estão passando mais tempo repetindo a mesma série. Quanto maior o tempo despendido em uma mesma faixa escolar, menor o interesse em estudá-la por mais de um ano.
         A reversão desse quadro deve ser feita com a ajuda dos estudantes. O indivíduo é o principal responsável pela mudança de sua própria realidade. O papel da escola é criar oportunidade para que o jovem esteja no centro da sua formação educacional e direcione seu aprendizado, aliando seus interesses à grade curricular obrigatória dessa etapa.
         Educar é, antes de tudo, proporcionar uma formação integral ao estudante. A juventude é um período marcado por grandes transformações e amadurecimento. Temas como sexualidade, carreira e relacionamentos interpessoais são questionamentos comuns nessa faixa etária. Desconsiderar a realidade em que o jovem vive é o principal erro dos métodos de ensino tradicionais, por visar apenas à aprovação nos vestibulares e a boa classificação no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
         Não se constrói um país sem educação. Assim como não se ensina sem ética e valores. O interesse dos pelas atividades escolares cresce proporcionalmente à sua participação em projetos pedagógicos e atividades extracurriculares. O ensino deve abranger as disciplinas tradicionais, com exercícios para o cotidiano do aluno e ouvindo-o sobre suas opiniões e preferências.
         Atualmente, realizamos o Fórum de Jovens no colégio. A iniciativa reúne estudantes do 9º ano do ensino fundamental II e do ensino médio para criar laços e facilitar a transição de períodos. A organização parte da equipe pedagógica, mas conta com a participação dos alunos com a sugestão dos temas para abordagem, fazendo com que a proposta se torne ainda mais rica e alie as disciplinas aos anseios da faixa etária. A experiência já nos rendeu grandes resultados, principalmente, com o envolvimento e o comprometimento deles com os estudos.
         Quando o aluno é protagonista da sua própria formação educacional, não há queda da frequência escolar. A juventude é uma fase cheia de ideias que podem dar origem a grandes projetos educacionais. A evasão escolar será naturalmente reduzida quando a escola escuta os jovens e mostra o interesse em formá-los como cidadãos e, não apenas, em aprová-los e entregar-lhes um diploma.”

(ROSA LÚCIA SIMÕES. Coordenadora do ensino médio do Colégio ICJ, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 19 de junho de 2014, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 20 de junho, mesmo caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Copa, povo e política
        
         A Copa do Mundo no Brasil está desenhando importantes lições apontadas pelo povo, responsável pela progressiva construção de um quadro que, passo a passo, consegue distinguir os muitos aspectos que envolvem o torneio. De um lado, o interesse meramente econômico de dirigentes e mandatários, os altos salários inadmissíveis de jogadores e as indevidas apropriações políticas do esporte. Do outro, o gosto pelo futebol, sua arte e elemento de diversão, e o exercício de fraternidade universal, alegria e confraternização que reúne diferentes línguas, culturas e nações.
         Sem perder essa luz própria, mesmo com as sombras de algum cenário de violência e vandalismo, o povo mostra uma força que deve servir de alerta a governantes, especialmente neste ano eleitoral, e a todos os construtores da sociedade pluralista. Trata-se de uma mobilização que não apenas pode, mas deve se manifestar nas urnas. O voto consciente tem a propriedade para reconstruir a sociedade. Para alcançá-lo, é preciso reconhecer-se como cidadão, parte de uma grande comunidade que deve caminhar unida na busca da superação dos desafios que atrapalham o desenvolvimento do país. O ambiente que vem sendo construído pelo povo, ao longo desta Copa do Mundo, pode contribuir para que se alcance esse objetivo.
         A vibração pelo esporte e a inteligência de não se perder a oportunidade da confraternização entre as pessoas estão sendo vividas de uma maneira muito singular. Essa particularidade está na postura político-cidadã de gestos como a acolhida aos visitantes e a realização de manifestações pacíficas, altamente significativas. Nos próprios estádios, o povo quebra o protocolo dos organizadores e canta mais forte, de modo completo, o hino nacional, fazendo ecoar um recado de cidadania e o entendimento de que o governo de uma sociedade é feito pelo povo. Desse modo, seus delegados e representantes devem estar a serviço do bem comum.
         A Copa do Mundo gera uma oportunidade para o próprio povo mostrar que não é multidão amorfa, inerte, a ser manipulada e instrumentalizada. É, na verdade, a união de pessoas, cada uma no seu lugar e a seu modo, como ensina a doutrina social da Igreja Católica, com autonomia para formar opinião própria a respeito da coisa pública e de exprimir sua sensibilidade política em vista do bem comum. Quando os representantes do povo aprendem a ouvir a voz que vem das ruas, em vez de obedecer aos interesses partidários e de segmentos poderosos, tornam-se políticos dignos de autêntica estatura cidadã, capazes de trabalhar em busca de uma sociedade justa, solidária e civilizada.
         O povo está sinalizando aos “profissionais da política”, nos âmbitos Legislativo e Executivo, que é urgente a comprovação desse pacto com o bem comum antes de se submeter às urnas. A autoridade política não pode ser fruto meramente de conchavos, articulações partidárias interesseiras garantidas pelos leilões de cargos e de vantagens, mas de um incondicional respeito e vivência de inegociável moralidade. Compreende-se, portanto, que a autoridade política não se esgota simplesmente em alguns feitos quase sempre distantes das mais urgentes demandas sociais. Trata-se, justamente, de reconhecer  que essa autoridade é o povo, detentor da sua soberania, conforme bem ensina a doutrina social da Igreja.
         A Copa está confirmando a etapa inaugurada em junho do ano passado, quando a sociedade brasileira, em muitas manifestações, fez ouvir a sua voz. Há um senso comum no país recôndito da consciência popular, que está se aflorando pela alegria proporcionada pelo futebol. Um clima de confraternização que não inclui governos e deixa recados para os políticos, mantendo distância daqueles que usufruem absurdamente do que pertence ao bem comum. O Mundial, no conjunto de suas circunstâncias e desdobramentos, participação e debates, manifestações e indiferenças, está fazendo crescer – e que não seja perdida a oportunidade – uma sociedade brasileira politicamente diferente.
         Vive-se um momento que precisa de desdobramentos e não pode ser perdido, com o término da Copa e a partir da profusão de discursos políticos obsoletos, particularmente daqueles que se constroem com os ataques mútuos e com as promessas sempre não cumpridas. O Mundial pode mesmo ser um exercício de vitalidade do povo, por suas escolhas de alegrar-se, manifestar-se, manter distâncias, debater e formar opinião de modo que a participação política ultrapasse os atos formais de votar e mesmo de se reunir em associações, partidos e sindicatos. É hora de um passo qualificado na política, diante da insatisfação com governos e representantes, em busca de uma sociedade politicamente mais cidadã e igualitária. Quem sabe, por isso mesmo, esta será para os brasileiros a “Copa das Copas”, porque sem esgotar-se em euforias que permitem manipulações, aponta um amadurecimento político do povo.”

Eis, pois, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis (por exemplo, segundo a mídia, “apenas com acidentes fatais no trânsito e assassinatos, o Brasil perde até R$ 524 bilhões por ano,  no cálculo de especialistas, em estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea; número que equivale a 10% do PIB do país em 2014”);

c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

A CIDADANIA, OS ROLEZINHOS QUE DENUNCIAM A SOCIEDADE E A FRATERNIDADE NA ECONOMIA (56/4)

(Fevereiro = Mês 56; faltam 4 meses para a Copa do Mundo)

‘Rolezinhos’ que denunciam a sociedade e a fraternidade na economia
        
         O fenômeno dos “rolezinhos” que ocuparam shopping centers no Rio e em São Paulo suscitou as mais disparatadas interpretações. Eu, por minha parte, interpreto da seguinte forma tal irrupção.
         Em primeiro lugar, são jovens pobres, das grandes periferias, sem espaços de lazer e de cultura, penalizados por serviços públicos ausentes ou muito ruins, como saúde, escola, infraestrutura sanitária, transporte, lazer e segurança. Veem televisão, cujas propagandas os seduzem para um consumo que nunca vão poder realizar. E sabem manejar computadores e entrar nas redes sociais para articular encontros. Seria ridículo exigir deles que teoricamente tematizem sua insatisfação, mas sentem na pele o quanto nossa sociedade é malvada porque exclui, despreza e mantém os filhos e filhas da pobreza na invisibilidade forçada.
         O que se esconde por trás de sua irupção? O fato de não serem incluídos no contrato significa ter garantidos os serviços básicos: saúde, educação, moradia, transporte, cultura, lazer e segurança. Quase nada disso funciona nas periferias. O que eles estão dizendo com suas penetrações nos “bunkers” do consumo? Eles estão, com seu comportamento, rompendo as barreiras do apartheid social. É uma denúncia de um país altamente injusto (eticamente), dos mais desiguais do mundo (socialmente), organizado sobre um grave pecado social, pois contradiz o projeto de Deus (teologicamente). Nossa sociedade é conservadora e nossas elites, altamente insensíveis à paixão de seus semelhantes, por isso, cínicas.
         Em segundo lugar, eles denunciam nossa maior chaga: a desigualdade social, cujo verdadeiro nome é injustiça histórica e social. Releva constatar que, com as políticas sociais do governo do PT, a desigualdade diminuiu, pois, segundo o Ipea, os 10% mais pobres tiveram, entre 2001 e 2011, um crescimento de renda acumulado de 91,2%, enquanto a parte mais rica cresceu 16,6%. Mas essa diferença não atingiu a raiz do problema, pois o que supera a desigualdade é um infraestrutura social de saúde, escola, transporte, cultura e lazer. O “Atlas da Exclusão Social”, de Márcio Pochmann (Cortez, 2004), nos mostra que há cerca de 60 milhões de famílias no Brasil, das quais 5.000 detém 45% da riqueza nacional. Os “rolezinhos” denunciam essa contradição. Eles entram no “paraíso das mercadorias” vistas virtualmente na TV para vê-las realmente e senti-las nas mãos. Eis o sacrilégio insuportável para os donos dos shoppings. Estes não sabem dialogar, chamam logo a polícia para bater e fecham as portas a esses jovens. Os marginalizados do mundo inteiro estão saindo da margem e indo rumo ao centro para suscitar a má consciência dos “consumidores felizes” e lhes dizer: essa ordem é ordem na desordem.
         Por fim, os “rolezinhos” não querem consumir. Eles têm fome, sim, mas fome de reconhecimento, de acolhida na sociedade, de lazer, de cultura e de mostrar que sabem: cantar, dançar, criar poemas críticos, celebrar a convivência humana. E querem trabalhar para ganhar a vida. Tudo isso lhes é negado porque, por serem pobres, negros, mestiços, sem olhos azuis e cabelos loiros, são desprezados e mantidos longe, na margem.
         Essa espécie de sociedade pode ser chamada ainda de humana e civilizada? Ou é um forma travestida de barbárie? Esta última lhe convém mais. Os “rolezinhos” mexeram numa pedra que começou a rolar. Só vai parar se houver mudanças.”

(LEONARDO BOFF. Filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 31 de janeiro de 2014, caderno O.PINIÃO, página 20).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, mesma edição, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, que é arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Fraternidade na economia
        
         A fraternidade na economia é uma premissa determinante na construção da paz. Lamentavelmente, a idolatria do dinheiro tem estreitado mentes e corações, negociações e pactos, em razão da hegemonia exercida sobre o desejo e sobre as razões de viver das pessoas, de povos, grupos e culturas.
         Entre as dinâmicas da idolatria do dinheiro, além da mesquinhez que limita as oportunidades de partilhas, apoios e desenvolvimento de projetos básicos para o crescimento das populações, inscreve-se a devoradora compulsão pelo consumo. Conduta que está na base da crise de valores, experimentada em todo o mundo, por reduzir a pessoa ao seu poder aquisitivo.
         O desarvoro do consumo gera voracidade e tiranias incontroláveis no íntimo das pessoas, determinando dinâmicas perversas para a sociedade contemporânea. Como enfrentar adequadamente as graves crises financeiras e econômicas deste tempo? O lucro é determinante e deve ser sempre maior. Impõe o esvaziamento antropológico de entendimentos sobre o que é essencial na vida das pessoas, impedindo investimentos, partilhas e apoios. Torna-se meta principal, sacrificando projetos e programas que poderiam fazer a diferença em cenários de pobreza. A lógica do lucro que expulsa a fraternidade das dinâmicas da economia gera outras consequências igualmente preocupantes, tecendo uma rede de violências, perversidades e corrupção. Destrói o que poderia se traduzir em exercícios ricos de fraternidade. O papa Francisco, na convicção que rege o serviço evangelizador da Igreja, constata e chama à reflexão sobre o afastamento do homem, de Deus e do próximo e sobre o empobrecimento das relações interpessoais e comunitárias como causas fatais dessa realidade contemporânea.
         As pessoas são consequentemente empurradas na direção do consumo, na busca do lucro a todo custo e fora da lógica de uma economia saudável. O cenário é de desgoverno e de descontrole, realidade que pesa sobre todos os ombros. Não se pode continuar crescendo e avançando, comprometendo aspectos essenciais, gerando prejuízos irreversíveis, como a perda do sentido fundamental de humanidade que sustenta cada pessoa. O sistema de produção e os meios de comunicação, já dizia o bem-aventurado João Paulo II, têm enorme responsabilidade pela forte influência no dia a dia das pessoas e na formação de conceitos, que não priorizam o que, de fato, é importante.
         É clara a convicção de que as crises econômicas e suas injunções devem levar os construtores da sociedade pluralista, dirigentes governamentais e cidadãos a repensar os modelos de desenvolvimento e os estilos de vida. Transformações que têm sido claramente indicadas como possibilidades de proteger cada pessoa da agressividade dos mecanismos da sociedade do lucro e do consumo. A mudança de estilo de vida – frisa o papa Francisco, em sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, não pode abrir mão do cultivo das virtudes da prudência, temperança, justiça e fortaleza.
         A mudança da sociedade não virá, nem se sustentará, simplesmente pelas dinâmicas próprias da economia, que não possui arcabouço suficiente em si mesma para promover as transformações que a cultura contemporânea necessita. Apostar em outro modelo econômico como solução para as sociedades faria, apenas, aumentar a lista dos fracassos  na busca da paz e adiaria a possibilidade de uma justiça social mais abrangente e mais significativa.
         A fraternidade sim, tem a energia necessária para mudar a economia. Vivida e cultivada pela força motriz das virtudes tem propriedades singulares e únicas para extinguir a guerra, humanizar as relações econômicas e promover o entrelaçamento de pessoas. A fraternidade tem o poder de iluminar a inteligência gerando entendimentos que arquitetam pactos sociais e políticos. A fraternidade, como via para a paz, é o caminho novo para a economia.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis  prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreversíveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 639 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (transporte, trânsito, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São gigantescos desafios, e bem o sabemos, mas que, de maneira alguma abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária,   que permita a partilha de suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

A CIDADANIA, A BUSCA DA PAZ NA FAMÍLIA E O JOGO DO PODER

“Violência contra a mulher
         
         O papa Francisco, durante entrevista, sublinhou a importância e necessidade de buscar novos modos de participação da mulher na vida da Igreja. Uma sinalização esperançosa que pode fazer grande diferença no contexto eclesial, mas também uma indicação que deve desencadear um processo mais abrangente de mudança, com incidências em toda a sociedade. É preciso superar, sobretudo, um grave problema social, que, infelizmente, ocorre com muita frequência no contextos das famílias: a violência contra a mulher. É triste saber que a Lei Maria da Penha, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica  Aplicada (Ipea), não reduziu os índices de morte de mulheres agredidas. Diante de todos, está essa chaga terrível, que aflige pessoas e atormenta ambientes familiares, com impactos incalculáveis, tanto na vida das vítimas quanto no contexto social mais amplo.
         Os crimes contra mulheres são praticados quase sempre por parceiros e ex-parceiros. O estudo Violência contra a mulher, feminicídios no Brasil, publicação do Ipea, serve de grande alerta e estímulo a ações corretivas mais incidentes para transformar essa abominável realidade. Feminicídio é é o homicídio da mulher por questão de gênero, simplesmente porque é mulher. São geralmente abusos familiares, com consequentes prejuízos na consistência do tecido social. Ora, incontestável, hoje, é a convicção de que a família é célula vital da sociedade, e a agressão contra a mulher é também violência contra essa instituição.
         Comprometidos os vínculos naturais de afeto, todos sofrem prejuízos sem proporção. As consequências são muitas e de variados tipos, atingindo todos os membros de uma família. Instala-se um clima de irresponsabilidade geral, abrindo espaço para vícios como o alcoolismo, outras dependências químicas e o consequente  comprometimento do sentido de cidadania. Aqueles que agridem as mulheres são, pois, perigosos no contexto familiar, mas também oferecem riscos para toda a sociedade.
         Assim, o equilíbrio familiar deve se tornar meta a ser alcançada permanentemente. Reconhecendo  a centralidade da família, é preciso encontrar caminhos para reverter esse quadro abominável de violência. Mostra a pesquisa publicada que a Lei Maria da Penha não tem sido eficaz no propósito de alcançar metas de superação da violência doméstica. Vale refletir que é preciso conquistar algo além de uma legislação ou mais peso a normas e sanções. Elas têm sua importância pedagógica e corretiva. Há, contudo, uma perspectiva talvez não muito valorizada, em razão da mentalidade vigente na sociedade contemporânea. Trata-se daquela que indica ser a espiritualidade um caminho eficaz para mudar ambientes familiares, pela transformação mais profunda dos homens.
         Recentemente, surgiu um movimento espiritual chamado Terço dos Homens. É o cultivo da devoção a Nossa Senhora pela oração reverente, partilhada e meditada do terço, uma vez por semana. Igrejas recebem um grande número de homens, acompanhados de jovens e de crianças, filhos ou netos. Os testemunhos têm sublinhado caminhos de grandes mudanças, como o abandono da bebida, a retomada da competência do homem exercida no lar pelo afeto e carinho, mais presença junto aos filhos, resgate da fidelidade ao matrimônio e a conquista de sensibilidades indispensáveis para se viver de modo adequado.
         Vale conhecer e indicar o Terço dos Homens. Não são poucos os relatos de mulheres sobre as mudanças em suas casas. Um santo e eficaz remédio, a espiritualidade gerada e cultivada pela experiência simples da reza do terço produz grandes mudanças. É um valioso caminho para acabar com a triste realidade da violência contra a mulher.”

(DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO. Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 18 de outubro de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 16 de outubro de 2013, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de FREI BETTO, que é escritor, autor de Fome de Deus (Paralela), entre outros livros, e que merece igualmente integral transcrição:

“Jogo do poder
        
         O “golpe de mestre” de Marina Silva ao aderir ao PSB de Eduardo Campos comprova o quanto o Brasil necessita, urgentemente, de profunda reforma política.
         As manifestações  de rua, em junho, demonstraram que expressiva parcela da população, sobretudo jovens, não confia em partidos políticos. Estes se desgastaram devido à falta de fidelidade a seus princípios estatutários e programáticos.
         Mais do que rezam as cartas fundadoras dos partidos, na prática valem a fome de poder, o toma lá, dá cá, as alianças e coligações, ainda espúrias, promíscuas e seladas pelo vil metal da corrupção.
         A eleição presidencial de 2014 está fadada a se reduzir a uma competição de caciques políticos. Nos bastidores, as coligações partidárias, de olho em maior tempo de TV na propaganda eleitoral gratuita, serão armadas à base de promessas na distribuição dos ministérios, caixa dois, loteamento de cargos e funções.
         Ainda que os candidatos proclamem maravilhas aos eleitores, no frigir dos ovos, anunciado o resultado da eleição, terão importância apenas os acordos de bastidores firmados no decorrer do processo eleitoral. Eis o neocoronelismo, o Brasil dividido em currais eleitorais, as discordâncias programáticas escanteadas pelas ambições pessoais, o anseio de se apropriar da máquina do poder.
         Esse maquiavelismo é muito anterior ao próprio Maquiavel. Jesus foi vítima dele. Pilatos, governador da Judeia e interventor romano, não era benquisto aos olhos do Sinédrio de Cafás, o poder judaico. Os dois poderosos, entretanto, se puseram de acordo quando se tratou de defender a (des)ordem vigente criticada por Jesus, em especial ao derrubar as mesas dos cambistas no Templo de Jerusalém (equivalente a impedir, hoje, o funcionamento da bolsa de valores). Prisioneiro político, Jesus foi condenado pelo duplo poder.
         Como é difícil suscitar esperanças nos jovens, incutir utopia, convencê-los da importância de não ficarem indiferentes ao processo eleitoral, quando se constata que nenhum candidato coloca o projeto Brasil acima de seu projeto de poder! As opiniões dos marqueteiros terão sempre mais importância que as reivindicações dos eleitores.
         Desde 1980, quando foi fundado, até 2002, quando Lula se elegeu presidente pela primeira vez, o PT defendeu, como imprescindível ao Brasil, a reforma agrária. Após 10 anos no poder, pouco de fez nesse sentido. Ao contrário, os latifúndios se ampliaram, grandes extensões de terra têm sido apropriadas por estrangeiros, o agronegócio avança sobre a Amazônia e trata os povos indígenas como estorvo ao progresso.
         Não sou ingênuo a ponto de acreditar que a política depende de lideranças carismáticas, ainda que elas sejam privilegiadas captadoras de votos. A melhor liderança não poderá jamais ser coerente com os seus princípios enquanto perdurar essa estrutura política intrinsecamente antidemocrática, elitista e corrupta. De boas intenções o inferno está cheio.
         Enquanto não se convoca uma Constituinte exclusiva para a reforma política, resta ao eleitor manifestar-se nas ruas, demonstrar a sua indignação, organizar a esperança, e fazer de seu voto recurso de aposentadoria compulsória do caciquismo e promoção daqueles candidatos que, comprovadamente, estão dispostos a quebrar o ferrenho tabu de que as estruturas brasileiras são intocáveis.
         Como alertou Cazuza, muitas de nossas ilusões estão perdidas, nossos sonhos foram vendidos, e de nada vale ficar em cima do muro. Precisamos todos de uma ideologia que imprima sentido às nossas vidas e à nossa política.
         Caso contrário, seremos todos ludibriados pelo neoliberalismo, que busca fazer de todos nós consumistas, e não cidadãos; pelo fundamentalismo religioso, que insiste em negar a laicidade do Estado; pelos partidos que, como descreveu Lampedusa, pregam mudanças para que tudo permaneça como está.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inquestionavelmente irreparáveis;
  
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimentos e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; turismo; cultura, esporte e lazer; comunicações; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


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segunda-feira, 12 de agosto de 2013

A CIDADANIA, CULTURA DO ENCONTRO E DA SOLIDARIEDADE E O DESAFIO DA EDUCAÇÃO

“Encontro e solidariedade
        
         As palavras do papa Francisco no Brasil, pronunciadas durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), com simplicidade e de forma direta, entrelaçaram conceitos. Apresentaram a importância de um comprometimento de todos na busca de uma cultura do encontro e da solidariedade. O discurso do papa convida cada um a seguir na contramão de uma globalização da indiferença, risco terrível do contexto contemporâneo. Os pobres são os mais sacrificados. Suas urgências são desprezadas e continua aberta a ferida do desrespeito à dignidade humana. O convite à cultura da solidariedade e do encontro é um grito profético na suavidade da voz de quem não se deixa levar por pretensões e poderes, mas pauta as vida na simplicidade do evangelho e nos respeito pelo outro.
         Tornam-se ainda mais interpeladoras as palavras do papa Francisco graças aos seus gestos, à serenidade do seu sorriso, à atenção com todos. Uma autenticidade própria de quem não faz de si o centro, mesmo com a importância e singularidade de sua pessoa e de sua missão de sucessor do apóstolo Pedro. Já no voo de vinda ao Rio de Janeiro, conversando com os jornalistas, o papa sublinha um horizonte imprescindível para a cultura do encontro e da solidariedade, quando se refere ao jovem, que não pode ser isolado da sociedade, compreendendo-o como o verdadeiro futuro de um povo.
         A essa compreensão, sem demora, também faz referência aos idosos. Ensina que um povo tem futuro se caminha com a força dos jovens, impulsionando adiante as dinâmicas e projetos, e com a sabedoria insubstituível  carregada no coração e na experiência de vida dos mais velhos. Esses aspectos da mensagem do papa Francisco iluminam muitas sombras da sociedade brasileira, agora mais despertada para a preciosidade do jovem, mas ainda muito indolente nas suas estruturas e funcionamentos quanto à valorização e respeito aos idosos.
         Ao afirmar que a juventude é a janela pela qual o futuro entra no mundo, o papa Francisco desafia os brasileiros, particularmente governantes e dirigentes, a não relativizar, com análises inadequadas e, sobretudo, com um esfriamento proposital, o sentido positivo das manifestações populares alavancadas pelos jovens nas ruas do Brasil. A juventude merece mais contundência nas respostas. Obviamente, elas não podem reduzir-se à diminuição de tarifas de ônibus ou às propostas apressadas que caem rapidamente no descaso e na inviabilidade.
         A cultura da solidariedade é o único caminho que não permitirá apagar essa chama que já sinalizou a necessidade de mudanças mais profundas e de respostas mais urgentes. Por isso o papa Francisco deixou uma bela advertência, exatamente durante a cerimônia de boas-vindas, ante uma plateia de dirigentes governamentais, ao dizer que “a nossa geração se demonstrará à altura do promessa contida em cada jovem, quando souber abrir-lhe espaço; tutelar as condições materiais e imateriais para o seu pleno desenvolvimento; oferecer a ele fundamentos sólidos sobre os quais construir a vida; garantir-lhe segurança e educação para que se torne aquilo que ele pode ser; transmitir-lhe valores duradouros pelos quais a vida mereça ser vivida; assegurar-lhe um horizonte transcendente que responda à sede de felicidade autêntica, suscitando nele a criatividade do bem”.
         Essas palavras do papa Francisco mostram que é urgente revisar as dinâmicas institucionais da nossa sociedade. É preciso uma transformação profunda que inclui governos, escolas e universidades, criando círculos de solidariedade pela singularidade educativa do encontro entre amigos e irmãos. A riqueza e densidade das palavras do papa Francisco, em vista da superação da globalização da indiferença e cultivo da cultura do encontro e da solidariedade, encontra um momento significativo nas indicações dadas na homilia da missa no Santuário da Mãe Aparecida: conservar a esperança; deixar-se surpreender por Deus; viver na alegria. Importa a ousadia de ter uma visão positiva da realidade, tornando-se cada um, indica o papa, luzeiro de esperança, deixando-se conduzir por Deus. Assim brota a condição de viver na alegria. A confiança em Deus, a esperança e a alegria por tantos dons impulsionam a sociedade na conquista e vivência da cultura do encontro e da solidariedade.”

(DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 9 de agosto de 2013, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 3 de agosto de 2013, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de VIVINA DO C. RIOS BALBINO, que é psicóloga, mestre em educação, professora da Universidade Federal do Ceará, autora do livro Psicologia e psicologia escolar no Brasil, e que merece igualmente integral transcrição:

“O desafio da educação
        
         O recente Índice do Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) do Brasil, divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) e Fundação João Pinheiro (FJP) revela um expressivo avanço do Brasil nos últimos 20 anos – crescimento de 47,5%. O IDHM é composto por três dimensões: renda, longevidade e educação, e todas elas evoluíram positivamente nestes 20 anos. O IDHM do Brasil passou de muito baixo para alto. Dado extremamente positivo. É considerado muito baixo o IDHM inferior a 0,499, enquanto a pesquisa chama de alto o indicador que varia de 0,700 a 0,799.
         Porém, a educação continua sendo o principal desafio do país. O índice poderia até ser melhor, mas ela puxou para baixo o desempenho do Brasil. Embora seja a pior marcação, foi na educação que houve maior avanço nas duas últimas décadas, tendo dado um salto de 128%. O quadro era muito pior. O dado positivo na educação é que escola de ensino fundamental já consegue em algumas regiões até 91% de matriculados. O grande desafio é o ensino médio. Entre jovens de 18 a 20 anos, a proporção com ensino médio completo aumentou  de 13% para 41% apenas ao longo das duas décadas. Além disso, os números mostram que de cada 100 jovens na faixa de 18 a 20 anos, 59 ainda não tinham terminado essa etapa. A evasão é muita alta.
         Os maiores desafios são evitar a evasão escolar, aumentar a matrícula e retenção no ensino médio e principalmente melhorar a qualidade da educação brasileira em todos os níveis. Recursos existem, mas por falta de boa gestão há corrupção e desvios de dinheiro público nos municípios. A CGU acaba de descobrir desvios e má aplicação dos recursos do Fundeb na educação básica em 70% das cidades. Isso é muito grave e precisa ser apurado e corrigido. O quesito longevidade – expectativa de vida da população é a área que apresenta melhor pontuação. É o único componente que está na faixa classificada pela pesquisa como um IDHM muito alto, quando o índice ultrapassa 0,800. A cada ano os brasileiros vivem mais em todo o país. Dos 5.565 municípios brasileiros, 3.176 têm o IDHM longevidade muito alto. Nenhuma cidade está na faixa baixo ou muito baixo. A expectativa de vida no Brasil, hoje, varia de 65 anos, nas cidades de Cacimbas, na Paraíba, e Roteiro, em Alagoas, a 79 anos, nos municípios catarinenses Balneário de Camboriú, Blumenau, Brusque e Rio do Sul. O crescimento na expectativa de vida nos últimos 10 anos – 46% no Brasil e 58% no Nordeste – poderia ser ainda maior se não fosse o impacto da violência entre os jovens. Outro desafio.
         Já a renda mensal per capita saltou 14,2% no período, o que corresponde a um ganho de R$ 346,31 em 20 anos. Cerca de 73% dos municípios avançaram acima do crescimento médio nacional, mas a pesquisa evidenciou a concentração de renda do país, embora mostre redução na desigualdade entre Norte e Sul. As regiões Sul (64,7%, ou 769 municípios) e Sudeste (52,2%, ou 871 municípios têm uma maioria de municípios concentrada na faixa de alto desenvolvimento humano. No Centro-Oeste (56,9%, ou 265 municípios) e no Norte (50,3%, ou 226 municípios), a maioria está no grupo de médio desenvolvimento humano. Sul, Sudeste e Centro-Oeste não têm nenhum município na faixa de muito baixo desenvolvimento humano. Por outro lado, as regiões Norte e Nordeste não contam com nenhum município na faixa de muito alto desenvolvimento humano. O DF tem o IDHM mais elevado (0,824) e se destaca também como o único a figurar na faixa de muito alto desenvolvimento humano.
         Brasília tem o maior IDHM renda (0,863), o maior IDHM educação (0,742) e o maior IDHM longevidade (0,873). Na outra ponta, Alagoas (0,631) e Maranhão (0,639) são os estados com menor IDHM do país. O Ceará registrou crescimento de 68,4% em seu IDHM em 20 anos, sendo o segundo melhor do Nordeste, atrás apenas do Rio Grande do Norte. De modo geral, o Brasil melhorou muito, mas precisa ter acima de tudo uma gestão mais competente e fiscalizadora dos recursos públicos para oferecer uma educação de qualidade em todos os níveis, diminuição das desigualdades sociais e oferecer também outros serviços públicos de qualidade. Somente dessa forma podemos coibir desvios de dinheiro público e corrupção. Com recursos bem aplicados e fiscalizados, com certeza o Brasil pode ser muito melhor.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas  abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urgente ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia;emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; sistema financeiro nacional; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; esporte, cultura e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...