As
experiências da amizade e do amor e os cuidados que exigem
A
amizade e o amor constituem as relações maiores e mais realizadoras que o ser
humano, homem e mulher, pode experimentar e desfrutar.
A
amizade é aquela relação que nasce de uma ignota afinidade, de uma simpatia de
todo inexplicável, de uma proximidade afetuosa para com a outra pessoa. A
amizade possui raízes tão profundas que, mesmo passados muitos anos, ao se
reencontrarem os amigos e amigas, os tempos se anulam e se reatam os laços e
até se recordam da última conversa havida há muito tempo.
A
relação mais profunda é a experiência do amor. Ela traz as mais felizes
realizações ou as mais dolorosas frustrações. Nada é mais misterioso do que o
amor. Ele vive do encontro entre duas pessoas que um dia cruzaram seus
caminhos, se descobriram no olhar e na presença, e viram nascer um sentimento
de enamoramento, de atração, de vontade de estar junto até resolverem fundir as
vidas. Nada é comparável à felicidade de amar e de ser amado. E nada há de mais
desolador, nas palavras do poeta Ferreira Gullar, do que não poder dar amor a
quem se ama.
A
experiência do amor serviu de base para entender a natureza de Deus: Ele é amor
essencial e incondicional.
Mas o
amor sozinho não basta. Por isso, são Paulo, em seu famoso hino ao amor, elenca
os acólitos do amor, sem os quais ele não consegue subsistir e irradiar. O amor
tem que ser paciente, benigno, não ser ciumento, nem gabar-se, nem ensoberbecer-se,
não procurar seus interesses, não se ressentir do mal (...) o amor tudo sofre,
tudo crê, tudo espera e tudo suporta (...) o amor nunca se acaba (1Cor 13,
4-7). Cuidar desses acompanhantes do amor é fornecer o húmus necessário para
que o amor seja sempre vivo e não morra de indiferença. O que se opõe ao amor
não é o ódio, mas a indiferença.
Quanto
mais alguém é capaz de uma entrega total, maior e mais forte é o amor. Tal
entrega supõe extrema coragem, uma experiência de morte, pois não retém nada
para si e mergulha totalmente no outro. O homem possui especial dificuldade
para essa atitude extrema, talvez pela herança de machismo, patriarcalismo e
racionalismo de séculos que carrega dentro de si e que lhe limitam a capacidade
dessa confiança extrema.
O
segredo maior para cuidar do amor reside no singelo cuidado da ternura. A
ternura vive de gentileza, de pequenos gestos que revelam o carinho, de
sacramentos tangíveis, como recolher uma concha na praia e levá-la à pessoa
amada e dizer-lhe que, naquele momento, pensou carinhosamente nela.
Amor e
cuidado formam um casal inseparável. Se houver um divórcio entre eles, ou um ou
outro morre de solidão. O amor e o cuidado constituem uma arte. Tudo o que
cuidamos também amamos. E tudo o que amamos também cuidamos.
Tudo o
que vive tem que ser alimentado e sustentado. O mesmo vale para o amor e para o
cuidado. O amor e o cuidado se alimentam da afetuosa preocupação de um para com
o outro. A dor e a alegria de um é a alegria e a dor do outro.
Para
fortalecer a fragilidade natural do amor, precisamos de Algo maior, suave a
amoroso, a quem sempre podemos invocar. Daí a importância dos que se amam
reservar algum tempo de abertura e de comunhão com esse Maior, cuja natureza é
de amor, aquele amor que, segundo Dante Alighieri, da “Divina Comédia”, move o
céu e as outras estrelas”, e nós acrescentamos: que comove os nossos corações.”
(LEONARDO
BOFF. Filósofo e teólogo em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 1 de novembro de 2013, caderno O.PINIÃO, página 20).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 25 de
outubro de 2013, caderno OPINIÃO, página
7, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE
AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente
integral transcrição:
“Grupos
de fé e política
A Igreja Católica, à
luz da consciência de sua missão de anunciar o Evangelho da vida, assume o
compromisso essencial com a caridade e a justiça. A caridade, coração da
experiência da fé, não pode jamais ser dissociada da justiça. Sua autenticidade
se comprova pelo permanente respeito e empenho para a efetivação de tudo o que
é justo. Óbvio se torna que todos os que professam a sua fé em Cristo Jesus,
cultivando a sua condição cidadã, têm responsabilidades e compromissos com a
política. A arte da política é instrumento de busca e efetivação da justiça.
O
compromisso cidadão de participar na política agrega ao horizonte dos que creem
os parâmetros e princípios da fé. Na vivência dos valores do Evangelho de Jesus
Cristo, brota uma moralidade indispensável na prática política que tem força
para correção de rumos e propriedade para importantes contribuições. Qualifica,
assim, todos os ordenamentos – a área econômica, social, legislativa,
administrativa e cultural – na busca pelo bem comum. A participação na política
é, portanto, um direito e um dever. E esse compromisso de participar se
fortalece na fé.
O bem
comum se alcança quando a justiça é assumida como virtude, gerando uma força
moral sustentadora que impede a perda de rumos e promove o respeito a cada
pessoa e a toda a sociedade, particularmente ao que se configura como
patrimônio público. A Constituição Gaudium
et Spes nº 76 do Concílio Vaticano II, iluminando o caminho da sociedade e
a participação cidadã e de fé dos discípulos de Jesus Cristo, faz uma preciosa
indicação para clarear entendimentos: “É de grande importância, sobretudo onde
existe uma sociedade pluralista, que se tenha uma compreensão exata das
relações entre a comunidade política e a Igreja, e ainda que se distingam as
atividades que os fiéis, isoladamente ou em grupo, desempenham em próprio nome,
como cidadãos guiados pela consciência de cristãos, e aquelas que eles exercem
em nome da Igreja, que em razão de sua missão e competência de modo algum se
confunde com a sociedade nem está ligada a qualquer sistema político
determinado, é, ao mesmo tempo, o sinal e salvaguarda da transcendência da
pessoa humana”.
As
devidas distinções são importantes para se tecer adequadamente a dinâmica da
vivência da fé na comunidade eclesial e o exercício da própria cidadania sem
jamais perder o horizonte largo e límpido que o Evangelho desenha. O
entendimento lúcido da experiência da fé e o nobre sentido do que é a política,
conforme indicado no Concílio Vaticano II, impulsionaram a formação dos grupos
de fé e política. Trata-se de uma rede com a desafiadora meta de ajudar os
cristãos na vivência de sua cidadania civil e de sua cidadania eclesial,
marcadas pelos valores do Evangelho e pelos compromissos daí decorrentes. Isso
significa um olhar sobre a realidade capaz de promover o sentido da
solidariedade e sua vivência, fazendo diferença nas dinâmicas que configuram os
rumos da sociedade contemporânea.
Os
grupos de fé e política cumprem uma imprescindível tarefa educativa e prestam
um serviço qualificado, acima de simples interesse partidário. Exercem a cidadania
à luz do Evangelho. Eles são uma efetiva possibilidade de corrigir descompassos
notados na sociedade quando se confunde a relação entre fé, religião e
política, especialmente no que diz respeito a instituições e eleições. É
lamentável quando se fala de bancada confessional. Um parlamento se configura
por razões políticas nobres e cidadãs. Jamais por interesses cartoriais de
grupos religiosos.
Os que
exercem cargos importantes em
instituições, têm responsabilidades e participam da vida cidadã devem fazer do
seu testemunho de fé um raio luminoso. Grupos de fé e política não são reforço
partidário e ideológico. Constituem-se em espaços educativos que animam a
cidadania à luz da fé, oferecendo contribuição indispensável à sociedade. Em
comunhão com outras comunidades eclesiais pelo Brasil afora, a Arquidiocese de
Belo Horizonte já tem tradição em investir na formação desses grupos, por meio
de seu Núcleo de Estudos Sociopolíticos (Nesp), da PUC Minas e do Vicariato
Episcopal para a Ação Social e Política. Vivencia assim, como compromisso de
fé, a qualificação no exercício da política.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim,
urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de
idades, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização,mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária
ordem; III – o desperdício, em todas
as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
inexoravelmente irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma
imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade
(planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência,
eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade,
competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada,
qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que
possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos
e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as
obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da
era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...
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