segunda-feira, 4 de novembro de 2013

A CIDADANIA, O PODER DA CONSTITUIÇÃO E OS DESAFIOS DA JUVENTUDE

“A Constituição cidadã e a teoria do direito
        
         No momento em que se celebram os 25 anos de nossa mais importante Constituição, a sociedade brasileira vê-se tomada por distintas e contraditórias manifestações a respeito da Carta de 1988. Ao mesmo tempo em que se louvam as conquistas democráticas e humanas entoadas por esta Constituição, vozes não faltam a dilapidá-la como instrumento de atraso e engessamento das relações políticas e econômicas do Brasil de hoje.
         Para além dos insondáveis desígnios das estratégias e dos interesses políticos, parece haver algo mais que permeia o nosso cenário de incompreensão constitucional. São pré-compreensões historicamente construídas que, permeando mesmo os períodos de efervescência democrática, têm marcado uma visão malformada ou distorcida sobre o fenômeno constitucional.
         Sob a égide da Carta de 1988, muitas foram as fecundas transformações que atingiram o direito brasileiro. Entre elas, merece especial destaque a estreita vinculação operada entre o direito constitucional e a teoria e filosofia do direito, que passaram a ser pensados e trabalhados de forma una e incindível. De fato, este tem sido um dos vetores mais importantes no ensino e na pesquisa em direito nos últimos anos, e seu impacto é sentido em diversas searas. Na jurisprudência dos tribunais, pode-se constatar uma vasta gama de temas que emergem desta rica e frutífera união: diálogo das fontes, garantismo penal, eficácia horizontal dos direitos fundamentais, aplicação de princípios, transformações na hermenêutica jurídica, entre tantos outros. O esgotamento dos postulados positivistas e cientificistas dos séculos 19 e 20 exige dos juristas o afastamento de toda concepção que possa ver no direito um mero artifício técnico ou abstrato, isolado da sociedade e da história, infenso a questionamentos e problematizações.
         Reconhecer a importância das disciplinas teóricas para o chamado “operador jurídico” é afastar um dos legados mais obtusos da tradição positivista. Esta, ao se estabelecer como discurso de clarificação e cientificização do direito, feita a reboque da construção epistemológica prevalente nas ciências naturais e exatas, esquecia-se de problematizar os seus próprios pressupostos e pré-suposições. Retornar à filosofia e ao nicho de disciplinas que lhe são conexas representa, a um só tempo, rechaçar o dogmatismo que, sob o argumento de garantir segurança e certeza, deixava de lado elementos fundamentais à manifestação do direito e à própria inserção de toda produção política e cultural no mundo da vida. Acima de tudo, busca-se assegurar o fundamental predicado humano, essencialmente humano, de pensar.
         Apesar de invisível, o pensamento tem força ingente sobre a vivência humana. Sócrates, um dos precursores do pensamento filosófico na Grécia antiga, chegou mesmo a compará-lo com os ventos. Apesar de invisíveis, tem uma força manifesta para todos, e sentimos sempre a sua aproximação e o seu impacto. Ademais, a história nos tem demonstrado a força das ideias e do pensamento como instrumento de transformação da realidade. Certamente, as revoluções modernas, das quais resultaria a criação do Estado de direito, não teriam sido possíveis sem a força das ideias de Jean Jacques Rousseau, Montesquieu e Kant. Como nunca cansava de advertir o notável advogado Geraldo Ataliba, “nada mais prático do que uma boa teoria”.
         Em livro recentemente publicado pela Editora Del Rey, procuramos refletir sobre os elementos dessa relação entre constitucionalismo e teoria do direito. Nele, procuramos repensar  não apenas as possibilidades do fazer científico jurídico, o método e a práxis jurídica, como também problematizar a própria questão do fundamento do direito. Diante da acentuada importância da Constituição na vivência jurídica da sociedade brasileira, e num tempo em que as barreiras que fragmentavam o conhecimento jurídico tendem a desaparecer, parece não haver espaço para uma teoria do direito que não se faça alicerçada no solo fecundo do constitucionalismo democrático. Vislumbramos a partir daí a possibilidade de uma construção científica-jurídica que se distancie da abstração da pura epistemologia de feições positivistas, abrace a concretude da facticidade histórica, e realize-se como “acontecer” (Ereignen) da “problemático-judicativa realização concreta do direito”, na síntese feliz de Castanheira Neves.
         Neste aniversário da Carta de Outubro, parece ter lugar, aqui também, a famosa provocação lançada por Immnuel Kant no alvorecer da era moderna: saperaude! Ouse conhecer! Ousemos nós todos conhecer e procurar discutir e esclarecer os verdadeiros sentidos de uma Constituição, seus pressupostos e suas possibilidades. Talvez, a partir de uma visão mais clara acerca dos significados do constitucionalismo, possamos entender mais e melhor acerca de nós mesmos, e do que o direito e a Constituição podem e devem fazer em uma sociedade politicamente organizada. Talvez possamos, a partir daí, aprender e aceitar a imperfectibilidade inerente a toda e qualquer Constituição, e melhor reconhecer  e implementar suas grandes conquistas. Que possamos então deixar de lado, os brasileiros, a obsessão de reformular simplesmente os textos – como se eles tudo pudessem, e passemos a reformular a interpretação, pela ampliação dos parâmetros de nossa própria compreensão.”

(FERNANDO JOSÉ ARMANDO RIBEIRO. Vice-presidente do Tribunal de Justiça Militar de Minas Gerais, doutor em direito pela UFMG, professor da PUC Minas, presidente da Academia Mineira de Direito Militar, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 1º de novembro de 2013, caderno DIREITO & JUSTIÇA, página principal).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Jovens em pauta
        
         Em comprometida sintonia com a juventude, torna-se sempre necessário afirmar que os jovens devem ser prioridade na pauta da sociedade. Essa sintonia é reafirmada na oportunidade da celebração do Dia Nacional da Juventude, mais um empenho que a Igreja Católica vive nesse profético ano, enriquecido pelos eventos da Campanha da Fraternidade – com o tema Juventude e Fraternidade, da Semana Missionária e da Jornada Mundial da Juventude. Trata-se de um dever de todos reafirmar efetivamente a opção preferencial pelos jovens.
         Essa dimensão prioritária nasce da importância da juventude, no presente e no futuro da sociedade. É preciso atentar-se para os diferentes cenários em que se inserem os jovens possibilitando ou impedindo seu desenvolvimento humano. Nesse exercício, a Igreja Católica é desafiada a contracenar com instâncias governamentais, busca permanentemente o diálogo com as famílias e se empenha na oferta de uma formação integral. Ao mesmo tempo, procura aprender com os jovens, escutando-os sempre.
         Escutar a juventude é uma exigência que desafia a Igreja, governos, famílias e instituições. Trata-se de uma necessária tarefa, que exige um modo próprio de agir, marcado pela grande disposição para aprender as novas linguagens, refletir valores e construir opções que articulem autonomia e liberdade. Nesse último aspecto, devem ser respeitados os princípios e valores sem os quais a edificação da vida corre o risco de facilmente ruir.
         Dizer que a juventude deve ser prioridade não é demagogia. É uma questão de vida, de futuro. A realidade estampa cenários que requerem essa convicção, para que sejam instituídos processos de serviço, intercâmbio e formação voltados para os jovens. Assim, eles serão devidamente reconhecidos como sujeitos na construção de sua história pessoal, familiar e adequadamente inseridos nas dinâmicas sociais. É importante lembrar que especialmente os mais jovens sofrem os impactos das grandes mudanças que estão afetando a economia, as ciências, a política, educação, religião, arte e esportes. Essas transformações que atingem a humanidade exigem aprendizagens e práticas para responder às exigências insubstituíveis quando se trata de edificar a vida.
         De modo especial, é preciso considerar as mudanças incidentes nas relações sociais. Particularmente, as alterações do papel do homem e da mulher, a partir das facilidades resultantes dos avanços tecnológicos e do terrível desafio que nasce da consolidação de uma afetividade autônoma e narcisista. Urgente também é reconhecer a grande batalha que ocorre e que exige providências: a mancha de óleo”, expressão do Documento dos Bispos na Conferência de Aparecida, que é o problema das drogas, invadindo tudo.
         Essa “mancha ataca países ricos e pobres, jovens de diferentes classes sociais, de todas as idades. É um flagelo que se configura em uma batalha de proporções assustadoras, mostrando inércias governamentais, carência de participação das instituições, empresas e lentidão por parte das instituições educativas e religiosas. A droga tem se tornado uma verdadeira pandemia a ser enfrentada com a coragem profética de colocar, especialmente, os jovens em pauta. Assim será possível alcançar respostas mais velozes e efetivas para transformar o atual cenário. Na busca pela formação integral dos jovens, além de infraestrutura, educação de qualidade, oportunidade de trabalho, dos modelos de tratamento em vista da prevenção e cura da dependência química, é urgente compreender o papel educativo completo da espiritualidade no desenvolvimento da juventude.
         Os jovens são sensíveis e têm grande abertura para a descoberta da vocação de serem discípulos e discípulas de Jesus. A espiritualidade a ser oferecida como contato, compreensão e experiência dos valores do Evangelho tem força própria para recompor interioridades e impulso profético no enfrentamento de tudo o que afeta a juventude. Há um apelo que deve se transformar em exigência para que nossa Igreja e instituições diversas usem mais seus espaços e recursos a serviço dos jovens, com projetos de arte, cultura, lazer, escuta, debate, formação social e política. A Igreja Católica quer ser o lugar da juventude, compreendendo que um tempo novo se consolidará pela coragem de manter sempre os jovens em pauta.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente democráticas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente  do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidade com todas as suas brasileiras e com todos os todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...        

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