“Pequenos gigantes
Ninguém precisa ser
empresário para saber da enorme concorrência que existe no mercado. A
globalização trouxe para a realidade local o acesso a produtos e serviços de vários
países e estimulou um forte processo de fusões empresariais. Competir contra
grandes corporações é um desafio, em especial para micro e pequenas empresas.
Assim, é uma boa surpresa a revelação de que pequenos negócios ganharam mais
espaço na produção de riqueza no Brasil.
Isso
foi o que constatou pesquisa encomendada pelo Sebrae à Fundação Getúlio Vargas
(FGV), usando a mesma metodologia do IBGE. Os pequenos negócios – aqueles que
faturam até R$ 3,6 milhões por ano – já respondem por mais de um quarto de toda
a riqueza produzida no Brasil. Juntas, as cerca de 9 milhões de micro e
pequenas empresas representam 27% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Em
1985, representavam 21%.
Essa
evolução é importante por várias razões, em especial em uma conjuntura marca
por crescimento econômico em menor ritmo. A última década marcou o ingresso de
cerca de 40 milhões de pessoas na classe média. As políticas públicas que
estimulam a ascensão social têm sido eficientes: em 10 anos, a renda dos 10%
mais pobres subiu cinco vezes mais do que a dos 10% mais ricos no país.
Se a
renda aumenta, cresce também a capacidade de consumo, o que é um ótimo
estimulador da economia. Os pequenos negócios podem contribuir mais para a
economia brasileira. Um crescimento mais significativo do PIB, como um todo,
não depende apenas das grandes empresas, em especial em um país como o nosso,
onde a quase totalidade dos negócios (99%) corresponde a micro e pequenas
empresas.
Mas
isso não acontecerá por inércia e muito menos por sorte. A forma de aumentar a
participação de pequenos negócios no PIB brasileiro é com muita capacitação. O
primeiro aspecto fundamental é conhecer o mercado. Uma ideia pode ser genial no
papel, mas é preciso testar o interesse do público em adquirir o produto ou serviço
que a empresa pretende comercializar.
Depois
disso, há outros quesitos importantes da gestão. Alguém consegue imaginar um
dono de mercadinho que não tenha noção quanto aos produtos estocados? Uma
cantina de colégio que não se prepare em vista das férias escolares?
Planejamento é essencial, assim como o controle do fluxo de caixa, a
profissionalização da gestão, a adoção de práticas sustentáveis.
Boas
práticas de gestão são decisivas diante de uma concorrência cada vez mais
acirrada. Os consumidores sempre surgem com novas demandas, com base não só no
que compraram na cidade onde vivem, como também no que experimentaram em
viagens a outras cidades e outros países.
O
aumento da renda viabiliza mais viagens, sem falar do imenso acesso à
informação que todos têm graças à internet. Novos produtos e serviços são
lançados o tempo inteiro e a fartura de opções torna mais complexo o processo
de decisão do consumidor.
Com
mais qualificação, as empresas têm maior chance de prosperar no longo prazo.
Nossa economia precisa de negócios sustentáveis, que continuem gerando emprego
e renda em todas as regiões do país.
No
Brasil, as micro e pequenas empresas tiveram um incentivo recente, com a
ampliação do Supersimples para todas as categorias de serviços antes excluídas
do regime especial de tributação. Um ambiente legal, com menos burocracia e
menos impostos, aliado à capacitação da gestão nos pequenos negócios, tem tudo
para fomentar o aumento da participação dos pequenos negócios no PIB brasileiro
– e esse cenário interessa a todos.”
(LUIZ
BARRETO. Presidente do Sebrae Nacional, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 14 de agosto
de 2014, caderno OPINIÃO, página 7).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
15 de agosto de 2014, mesmo caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo
metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:
“Flagelo
da desumanização
A sociedade
contemporânea é, contraditoriamente, marcada pelos grandes avanços e flagelos.
Guerras fratricidas, fome, catástrofes de todo tipo configuram uma lista que
desenha cenários preocupantes de avassaladora desumanização. Essas e outras
chagas precisam ser duramente enfrentadas com respostas adequadas e mais
velozes sob pena de testemunharmos a derrocada das tradições e narrativas,
sustentáculos do respeito aos princípios fundamentais que tornam possível a
vida humana no planeta. Para enfrentar o flagelo da desumanização, devem ser
priorizadas a paixão pela justiça e o gosto pela verdade.
O papa
Francisco, na sua Exortação apostólica
sobre a alegria do Evangelho, faz preciosa advertência que precisa tocar
mais fundo os corações. Ele sublinha a gravíssima responsabilidade de todos,
quando se consideram situações que estão produzindo, em velocidade assombrosa,
um processo de desumanização. Esse percurso nos leva a uma herança de
realidades difíceis de serem revertidas. Trata-se de sentença de morte, pois
nenhum progresso material é capaz de superar e recuperar estragos humanitários. São perdas que
desfiguram a condição humana, afasta-a de sua identidade e missão próprias.
A era
do poder e da informação que caracteriza este tempo inicial do terceiro milênio
está produzindo, lamentavelmente, um caminho na contramão da indispensável
humanização, único pilar capaz de sustentar a vida nas sociedades
contemporâneas. Basta navegar pelo ambiente digital, o domínio determinante e
poderoso das redes sociais, para que se chegue a essa constatação. Uma
referência comum é o trabalho jocoso e debochado da dor alheia, do luto
desrespeitado. Não menos grave é o anonimato covarde na internet para manipular
situações e confundir as pessoas sobre a verdade, condição fundamental para o
bem.
Essa
processo crescente de desumanização envenena as relações interpessoais e as
interfaces de instâncias da sociedade. Empurra pessoas, grupos, famílias e igrejas
para a condição de lobos uns dos outros, com aparência de cordeiros. Vive-se
uma realidade em que propaganda enganosa, artimanhas políticas, mentirinhas e
outros mecanismos são adotados pela convicção de que os fins justificam os
meios. É terrível o nível de hipocrisia e conveniência nas falas, atitudes e
apoios , gerando conivências tácitas com o mal, trazendo prejuízos irreparáveis
a instituições como a família, igrejas, governos e a terrível neutralização dos
mais pobres e dos indefesos. Hipocrisia que partidariza ao extremo as relações
e conduz a atitudes de descarte do outro, ignorando o compromisso interpessoal,
ensinado pelo evangelho, de ajuda ao próximo.
O
flagelo da desumanização está alimentando, com perversidade, a formação dos
guetos e as consequentes segregações que incapacitam para o diálogo, via única
para a urgente construção de relações qualificadas na sociedade contemporânea.
As contradições são muitas e tecem o emaranhado inexplicável que obscurece os
corações no sentido de amar. O que se faz por conveniência, sem escrúpulos.
Manipulam-se escolhas, juízos equivocados encontram justificativas, sempre.
A
sociedade desumanizada opera no submundo dos interesses mesquinhos, do uso das
instituições como lugares de satisfação de interesses particulares. Tudo
funciona num “faz de conta” que corrói o sentido e a alegria de viver com
liberdade e com autenticidade. Conta sempre o patológico desejo de ser
reconhecido como quem tem o poder. Assim, a hipocrisia e a arrogância
comprometem a humanização da sociedade. Elas passam a nortear decisões
determinantes à sobrevivência dos mais pobres, especialmente na área econômica.
O crescimento e o equilíbrio da economia mundial e nacional não podem ser
perseguidos apenas com os mecanismos matemáticos, nem só pelas esperadas
escolhas daqueles que governam e constroem, de modo decisivo, a sociedade
plural. Parafraseando o economês, humanismo é um capital determinante para a
sustentabilidade da sociedade mundial.
A
crise de sentido e de valores se sobressai entre aquelas que ameaçam a
humanização. Ela fere um legado básico que, comprometido, produz os cenários
aviltantes presenciados pelo mundo. São guerras estarrecedoras, apoiadas por
conivências e interesses espúrios, que atentam contra a nobreza da humanidade.
Uma realidade que condena os pobres ao isolamento, consequência da
incompetência de governos e da insensibilidade daqueles que têm poder para
dialogar, encontrar soluções sem o uso da força policial e sem o comodismo de
contentar-se com a segregação.
Transformar
essa realidade, contudo, exige mais do que esperar ser convocado para o
diálogo. É preciso agir e, no atual contexto, o pleito eleitoral é oportunidade
singular. Outras coisas são urgentes, mas urgentíssimo é enfrentarmos, juntos,
a tarefa de transformar as causas do devastador flagelo da desumanização.”
Eis, portanto, mais páginas que acenam, em meio à
maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas
estruturas educacionais, governamentais,
jurídicas, políticas, sociais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada
ordem; III – o desperdício, em todas
as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
inexoravelmente irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$
654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e
eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização setores como:
a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego,
trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro
nacional; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade,
produtividade, competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantes desafios mas que, de
maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e
solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas,
oportunidades e potencialidades com todas
as brasileiras e com todos os brasileiros.
Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e
que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos
do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da
internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da
inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo
mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...
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