“Eu
não sei o que comemorar
Quando eu era criança,
comemorava como criança: bolo, velas, refrigerantes e votos de ‘parabéns para
você’, e se recebia presentes, eram presentes de criança.
Hoje,
adulto, 39 anos, busco motivos adultos para comemoração.
Ontem,
não minha infância, mas dia 27, houve a solenidade de proclamação dos
vencedores do primeiro turno. Um até mandou representante.
Essa
proclamação seria um bom motivo para comemoração se os dois candidatos dessem
provas concretas, irrefutáveis, de que enxergam, em toda sua amplitude, o
verdadeiro universo de suas responsabilidades: - o Brasil. É difícil entender?
Não é
difícil compreender, penso eu, que procuramos e necessitamos de um Presidente
que se aproxime de um Estadista. Que saiba, ao menos, que do governante de uma
Nação não é muito esperar sabedoria e inteligência, competência e honestidade,
austeridade e imaculabilidade, para que se possa assimilar bem sua verdadeira missão:
- governar pelo e para o Povo. Isso mesmo, com maiúscula, para não se excluir
ninguém: - nem branco, nem negro; pobre ou rico; trabalhador ou empresário;
profissional liberal, autônomo ou industrial; religioso ou ateu; criança ou
velho; tarefeiro ou artista; bancário ou banqueiro; aluno ou professor; militar
ou civil; modelo ou mendigo; menor ou maior de rua; dona-de-casa ou dos de
meios de comunicação. Penso que já seja suficiente para entender o que quero
dizer: - governa-se para todos, sem exceção. Todos são igualmente importantes e
responsáveis pelos destinos da Nação.
Antes
de continuar, permitam-se uma profissão de fé: creio em Deus, creio no Brasil e
creio na humanidade.
Parece-me
que os graves problemas que assolam o Brasil, advêm de causas elementares. Ou
elementar é minha inteligência. Senão vejamos:
Os
políticos não vêem a política como a arte de bem governar. Mas, sim, no geral,
como um meio de se locupletarem às sombras magnânimas da Pátria. O preço disso
não é outro senão a grande massa de brasileiros sem voz e sem vez, analfabetos,
famintos, maltrapilhos, doentes, ignorantes dos seus mais elementares direitos.
O governo se desvia dos grandes instrumentos que dariam dignidade e até
felicidade a esses nossos irmãos: saúde, saneamento básico, previdência social,
educação, habitação, transporte, emprego e salários justos e, por que não,
lazer. Não é favor, é obrigação do governo. Ou não, senhores governantes?
O povo
não pede nada disso. É a dignidade humana que o exige. Tudo isso e muito mais:
espírito público, patriotismo e grandeza de alma, são atributos inalienáveis
dos que se lançam a cargos públicos, eletivos ou não.
A
função pública, para mim, se aproxima, e muito, de um sacerdócio.
E, de
passagem, por em falar em sacerdócio: será que a Igreja se esquece de sua
sagrada missão, que é curvar-se ao ministério de Deus? Para mim, leigo e
pecador, sem formação específica – Teologia e Filosofia, para ficar só em duas
disciplinas, tenho que a Igreja é Católica, Apostólica e Romana. Esclareçam-me
senhores Teólogos da Libertação, pois sei que os partidos políticos são
instituições temporais, mundanas e finitas. Ou não? Por favor...
Os
empresários sabem que ‘o mais importante numa empresa são os seus recursos
humanos’. Grandes profissionais, grandes empresas. O que se sente bem consigo
mesmo, produz melhor. Ou não, Esclareçam-me, por favor, senhores
administradores, empresários e industriais.
Os
grandes latifundiários sabem que as cidades não sobreviverão sem os campos
produtivos. E mais, que os campos só serão produtivos com investimentos:
homens, insumos e máquinas. E sabem também que, sem um mínimo de conforto e
segurança, sem uma vida digna, o homem não fica no campo. Ou não?
Esclareçam-me, por favor senhores, proprietários.
Eu
estou procurando, já disse, motivos para comemoração.
Os
policiais sabem que não são juízes, mas insistem em fazer justiça com o
gatilho. A sociedade, é claro, não pode prescindir da missão árdua da Polícia.
A dignidade humana também exige que haja justiça. O império deve ser o das
leis. Ou não? Esclareçam-me, por favor, senhores agentes da Segurança.
Os
Congressistas, até a pouco também Constituintes, sabem que ainda devem muito: a
Carta Magna ainda não está acabada. Onde estão e o que andam fazendo deputados
federais e senadores? Trabalhando pela democracia? Parlamentarismo x
Presidencialismo não é tarefa para 1993? E os graves problemas atuais, que
exigem dedicação, patriotismo, coragem? Ou não? Esclareçam-se, por favor,
senhores Congressistas.
Os
eleitores sabem que devem escolher o melhor. O momento é grave, já disse, e é
também histórico. Aguardamos 29 anos. (Não me lembro mais se comemoração dos
meus 10 anos foi servido bolo ou fel...). A omissão, a indiferença, são
atitudes por tudo imperdoáveis, condenáveis, porque sinais de covardia. O País
espera que cada um cumpra o seu dever. Foi dito, cada um. É difícil de
entender? É o eleitor, o cidadão livre que decide. O voto é único e uno. O
eleitor deve entender que a cabine eleitoral é um templo sagrado, sob o império
de sua consciência. São os destinos da Pátria que estão em suas mãos, dependem
do seu voto. Ouça, esclareça-se e decida-se com independência, autenticidade,
sinceridade. Democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo. Ou não?
Esclareçam-me, por favor, senhores eleitores de todo o Brasil.
Desculpem-me,
é o meu aniversário e eu não sei o que comemorar. Sei, todavia, qual deveria
ser o meu melhor presente: a consolidação definitiva da Democracia e o império
da Liberdade e da Justiça.”
(MÁRIO LÚCIO
MOREIRA, texto datilografado e esquecido em meios a tantos artigos e
livros, por ocasião de meu aniversário em 28 de novembro de 1989).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 24 de julho
de 2009, caderno OPINIÃO, página 11,
de autoria de GERALDO MAGELA TEIXEIRA, reitor
do Centro Universitário UNA, e que merece igualmente integral transcrição:
“Educação
para a cidadania
Diante do farto
noticiário de escândalos em todas as estâncias do Estado Brasileiro, sentimos
necessidade de uma verdadeira revolução nos costumes públicos. São escândalos
federais, estaduais e municipais. Envolvem também, empresas públicas e
privadas. Com isso todo o tecido social se esgarça e se banaliza o crime contra
o erário.
Neste
ano que antecede as eleições mais decisivas do país, caberia uma campanha pela
educação dos eleitores, tendo em vista que só eles serão capazes de fazer uma
revolução nos costumes políticos, banindo da vida pública os assaltantes do
tesouro. É evidente que os nossos políticos têm uma certa representatividade,
pois a própria sociedade é vulnerável na medida em que pratica pequenas
corrupções, tentando corromper o guardinha de trânsito encarregado das multas
ou procurando políticos para pequenos privilégios. É dessa massa que é feita a
maioria dos nossos políticos. Daí meu apelo por uma educação para a cidadania a
partir da juventude.
Todos
nós, que condenamos os escândalos devemos ter autoridade para tal, nos
policiando diante das tentações de abusos de atestados médicos para nossas
falhas no serviço público e mesmo privado, na apropriação ou danificação de
equipamentos públicos. Isso é fruto do patrimonialismo, por meio de instituições
que ali se instalou com o colonizador, por meio de instituições como as
capitanias hereditárias.
Interessante
é notar como os políticos mais vulneráveis a procedimentos inadequados sempre
estão apelando para o termo republicano. Nem sei se sabem que a República, aqui
como em Roma, veio como reação aos desmandos do império no trato da coisa (res)
pública.
O
Partido Republicano, surgido no império, pleiteava, entre outras coisas, o fim
dos privilégios da oligarquia, da fraude nas eleições, das benesses para os
amigos do rei. Mas foram necessários poucos anos para que os verdadeiros
republicanos se convencessem de que o imperador era inatacável e morria pobre
num hotel de segunda em seu exílio na França. Enquanto isso, os mesmos
privilegiados do império se apropriavam do Estado republicano. Além do mais a
República foi aos poucos dominada pela ética weberiana, que justifica certa
corrupção, desde que isso facilite o alcance de um bem público maior e mais
abrangente. Norberto Bobbio contesta, exigindo que a chamada ética da
responsabilidade não se afaste dos princípios morais, nem considerando a
grandeza dos fins, ou as grandes coisas, segundo Maquiavel.
A
purificação da sociedade brasileira não será tarefa de pouco tempo, nem de uma
geração, nem pode ser alcançada apenas em tempo de eleições, quando ocorrem,
essas campanhas saneadoras. É uma tarefa permanente que exige constante
vigilância. Não pode restringir-se à elaboração de uma lista de candidatos
confiáveis. Primeiro porque tais campanhas têm se demonstrado inócuas, segundo
porque muitos candidatos recomendados costumam decepcionar. Precisa ser uma
campanha permanente, a começar da escola, do lar, das igrejas, das ONGs.
Deveríamos ter consciência de que a amizade cívica, de que fala Aristóteles,
faz parte da formação dos nossos jovens.
Tivemos
poucos governantes preocupados com tarefa tão urgente e tão prioritária. Depois
de José Bonifácio, que, infelizmente, só comandou o país por quatro anos,
nenhum outro governo teve um projeto harmonioso de nação contemplando a
educação nacional e a criação de um Estado moderno e probo.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas;
b) o
combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade –
“dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se
espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos
e comprometimentos de vária ordem (a propósito, e mais uma vez, a pedagogia do
procurador-geral da República, Rodrigo Janot: “... Corruptos e corruptores
precisam conhecer o cárcere e precisam devolver os ganhos espúrios que
engordaram suas contas, à custa da esqualidez do tesouro nacional e do
bem-estar do povo. A corrupção também sangra e mata...”); III – o desperdício, em todas as suas modalidades,
também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2015, segundo o projeto de Orçamento Geral da União, de
exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e
refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e
eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e
nem arrefecem o nosso entusiasmo e
otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação
verdadeiramente participativa, justa,
ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e
desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas
riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos
os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos
bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as
obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da
era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!
O
BRASIL TEM JEITO!
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