sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

A CIDADANIA, O DESAFIO DAS FRONTEIRAS, A LIBERDADE E O RESPEITO

“Superar fronteiras e tocar o desconhecido
        A travessia, a nado, de grandes extensões, a escalada dos mais altos picos e cordilheiras, o mergulho em grandes profundidades, e o salto de imensas alturas exemplificam a vontade íntima do ser humano de transcender seus próprios limites. Com essas proezas ele tenta superar fronteiras e tocar o desconhecido.
         No caminho interior, aquele voltado para sua alma, a pessoa não mais deve empreender esforços ou canalizar suas energias externamente; trata-se de recolher-se e de preparar-se para viver um grande momento. São as fronteiras internas que devem ser cruzadas, são os elevados cumes da consciência que devem ser alcançados, e é a profundidade do ser interior que deve ser tocada. Toda e qualquer ação externa deverá ser fruto desse contato interior, desse mergulho no desconhecido, o cosmos revelando-se à consciência do homem, e este reconhecendo o seu destino infinito.
         Sagrados são os estados de tranquilidade e de impassibilidade, e bem poucos os conhecem. Para alcançá-los, o homem precisa não ter raízes que o mantenham preso, ou vínculos que o façam reagir diante dos confrontos externos. Liberto dos laços, ele se acerca do recolhimento com mais liberdade; sabe, porém, que a prova consiste em manter-se sereno também quando se move e quando é movido pela vida.
         Aquele que está unido ao Único – que chamamos Deus – vê, em tudo o que recebe, uma advertência que o faz lembrar-se de que há correto destino para cada coisa e de que tudo passa e flui sem jamais se deter. O que lhe é doado apenas completa o movimento de contínuo fluir. Assim, uma pessoa pode permanecer inabalável diante dos fatos da vida. Nada retendo, não está ao sabor das ondas do consciente coletivo; sabe qual é o seu lugar, e este não é afetado pela turbulência externa.
         Aquele que desatou os laços que o prendiam ao mundo dos homens pode percorrer os céus e a terra, pois traz a liberdade em seu interior. Não há vida liberta que não seja fruto do contato com níveis espirituais. Assim como não há vento sem ar, não há liberdade sem verdade e não há verdade sem que a essência da vida seja conhecida.
         Aquele que busca conhecimento deve descobrir primeiro o que está dentro de si mesmo para depois ocupar-se do que o rodeia. Enquanto a razão não se curvar à sabedoria, o homem estará como um cego andando em um deserto, padecendo sobre as areias quentes que ele mesmo escolheu como caminho.
         De nada vale querer chegar aos mundos internos, espirituais, pelos caminhos dos homens. Estes levam apenas aos confins da Terra, enquanto os caminhos que conduzem aos mundos sutis são trilhas em que os olhos não veem o solo onde pisam os pés. Sem fé, não é possível percorrê-los.
         É inútil clamar pelo Encontro Interno usando palavras do mundo; o reino interno é revelado àqueles que nada pedem. Encontrar esse estado de consciência não é como encontrar os valores dos homens. Os que quiserem entrar pelo seu portal terão que saber curvar o que há de miserável em si mesmos diante da grandiosidade do Espírito. Mas isso não é logrado pelos que se vangloriam dos próprios feitos.
         O Espírito, como energia, não leva em conta o que está guardado nos depósitos e cofres, mas o que vai pelos corações e pelo íntimo dos indivíduos. A energia espiritual penetra os pensamentos e os desejos, e conhece o grau de pureza que há neles.”

(TRIGUEIRINHO. Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 18 de janeiro de 2015, caderno O.PINIÃO, página 18).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 23 de janeiro de 2015, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Liberdade e respeito
        A contemporaneidade exige um aprendizado a respeito de como valer-se das conquistas alcançadas ao longo da história para se construir um mundo melhor. Há uma ciência própria que deve auxiliar o exercício da liberdade para que prevaleça também o respeito inegociável aos direitos e às autonomias. Deve-se considerar sempre a ética da alteridade, que exige uma específica competência cidadã. Somente assim é possível ver a vida e avaliar cenários não apenas a partir do próprio lugar e de interesses particulares, mas considerando perspectivas capazes de contemplar o bem maior da coletividade.
         Sem esse discernimento interpretativo, continuará a prevalecer o risco de autoritarismos e imposições que provocam desastres fatais e atingem não apenas contextos específicos, mas toda a humanidade. Por isso mesmo, o ponto de partida será sempre uma vívida responsabilidade quanto àquilo que se fala, os juízos emitidos sobre o outro, a respeito de culturas e de confissões religiosas. A liberdade individual e também a de imprensa não dão a ninguém o direito de posicionamentos que ultrapassem o limite delineado pelo respeito a identidades e diferenças.
         O uso abusivo da liberdade de expressão, sem medir as consequências, não raramente gera outros absurdos. Equívocos provocados por uma sucessão de irracionalidades. A liberdade não pode ser compreendida como perda do sentido de alteridade. Sempre deve haver respeito ao outro, às culturas, às confissões religiosas. Merece atenção específica o contexto digital e midiático, que tem papel decisivo na definição de comportamentos e escolhas, influencia a formação de juízos a partir da disseminação de todo tipo de opinião. Muitos de modo covarde, valem-se do anonimato possível na internet para perpetrar uma sentença algoz até contra quem não merece.
         A perda de parâmetros é um perigo e produz desastres que dividem a opinião pública, criando os chamados lados opostos. Assim, inviabiliza a abertura de uma nova e indispensável perspectiva que favorece diálogos construtivos. A liberdade, portanto, não pode se transformar em arma, usada irresponsavelmente para desferir golpes contra os outros. Utilizá-la desse modo é provocar reações também arbitrárias que geram cenários de perdas irreversíveis. A conduta irresponsável de simplesmente dizer o que se quer e bem entende não é caminho para se construir a sociedade do diálogo. Ora, é preciso ponderar antes de emitir opiniões. Trata-se de exercer o princípio ético, particularmente porque se sabe que a palavra tem força construtiva e demolidora.
         O mundo não é um pequeno espaço, um canto, e, por isso, ninguém deve se posicionar sem a devida consideração da pluralidade existente entre povos, culturas e grupos. A palavra dita e a palavra dada precisam ser balizadas pelo princípio ético. A globalização das informações, o direito de juízos e o uso de liberdades não permitem desconsiderar o respeito moral e cidadão ao outro. Portanto, é uma irresponsabilidade falar sem pensar e sem as indispensáveis ponderações. É um grave equívoco desprezar a avaliação daquilo que se diz pelos meios digitais, pela mídia, nas rodas de conversas, nas reuniões, nos parlamentos, onde for. Esse erro é cometido, muitas vezes, por governantes, empresários, líderes diversos e, também, pelo cidadão mais simples.
         Torna-se urgente mobilizar sensibilidades para se aprender, ou reaprender, que é indispensável refletir antes de dizer. Caso contrário, a palavra não será veículo do diálogo, mas arma que provoca arbitrariedades e gera a violência. O exercício da ponderação exige que a palavra a ser dita seja planejada no silêncio que está em falta em nossa sociedade, muito inquieta e barulhenta. A geração qualificada da palavra tem tudo a ver com a fonte da ética que forja moralidades necessárias a decisões, posturas e escolhas. A ética em defasagem produz a permissividade doentia que alimenta a corrupção, seduz mentes e corações pelo afã do dinheiro e cega muitos no exercício do poder.
         É hora de investir, em todo lugar e de formas variadas, como prioridade, na compreensão de que liberdade e respeito são indissociáveis. Isso significa reconhecer a grande pluralidade que caracteriza o mundo, uma urgência cultural e ética. Sem boa articulação entre liberdade e respeito, a sociedade contemporânea, mesmo com seus avanços, vai sofrer com os ataques e vandalismos, continuará a pagar altos preços.”

Eis, pois, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (a propósito, e mais uma vez, a taxa de juros do cheque especial encerrou 2014 no escorchante patamar de 200,6%, segundo o Banco Central...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, e novamente, a agudíssima crise da dupla falta – de água e de energia elétrica...);

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2015, segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO!
        

    

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