“Superar
fronteiras e tocar o desconhecido
A travessia, a nado, de
grandes extensões, a escalada dos mais altos picos e cordilheiras, o mergulho
em grandes profundidades, e o salto de imensas alturas exemplificam a vontade
íntima do ser humano de transcender seus próprios limites. Com essas proezas
ele tenta superar fronteiras e tocar o desconhecido.
No
caminho interior, aquele voltado para sua alma, a pessoa não mais deve
empreender esforços ou canalizar suas energias externamente; trata-se de
recolher-se e de preparar-se para viver um grande momento. São as fronteiras
internas que devem ser cruzadas, são os elevados cumes da consciência que devem
ser alcançados, e é a profundidade do ser interior que deve ser tocada. Toda e
qualquer ação externa deverá ser fruto desse contato interior, desse mergulho
no desconhecido, o cosmos revelando-se à consciência do homem, e este
reconhecendo o seu destino infinito.
Sagrados
são os estados de tranquilidade e de impassibilidade, e bem poucos os conhecem.
Para alcançá-los, o homem precisa não ter raízes que o mantenham preso, ou
vínculos que o façam reagir diante dos confrontos externos. Liberto dos laços,
ele se acerca do recolhimento com mais liberdade; sabe, porém, que a prova
consiste em manter-se sereno também quando se move e quando é movido pela vida.
Aquele
que está unido ao Único – que chamamos Deus – vê, em tudo o que recebe, uma
advertência que o faz lembrar-se de que há correto destino para cada coisa e de
que tudo passa e flui sem jamais se deter. O que lhe é doado apenas completa o
movimento de contínuo fluir. Assim, uma pessoa pode permanecer inabalável
diante dos fatos da vida. Nada retendo, não está ao sabor das ondas do
consciente coletivo; sabe qual é o seu lugar, e este não é afetado pela
turbulência externa.
Aquele
que desatou os laços que o prendiam ao mundo dos homens pode percorrer os céus
e a terra, pois traz a liberdade em seu interior. Não há vida liberta que não
seja fruto do contato com níveis espirituais. Assim como não há vento sem ar,
não há liberdade sem verdade e não há verdade sem que a essência da vida seja
conhecida.
Aquele
que busca conhecimento deve descobrir primeiro o que está dentro de si mesmo
para depois ocupar-se do que o rodeia. Enquanto a razão não se curvar à
sabedoria, o homem estará como um cego andando em um deserto, padecendo sobre
as areias quentes que ele mesmo escolheu como caminho.
De
nada vale querer chegar aos mundos internos, espirituais, pelos caminhos dos
homens. Estes levam apenas aos confins da Terra, enquanto os caminhos que
conduzem aos mundos sutis são trilhas em que os olhos não veem o solo onde
pisam os pés. Sem fé, não é possível percorrê-los.
É
inútil clamar pelo Encontro Interno usando palavras do mundo; o reino interno é
revelado àqueles que nada pedem. Encontrar esse estado de consciência não é
como encontrar os valores dos homens. Os que quiserem entrar pelo seu portal
terão que saber curvar o que há de miserável em si mesmos diante da
grandiosidade do Espírito. Mas isso não é logrado pelos que se vangloriam dos
próprios feitos.
O
Espírito, como energia, não leva em conta o que está guardado nos depósitos e
cofres, mas o que vai pelos corações e pelo íntimo dos indivíduos. A energia
espiritual penetra os pensamentos e os desejos, e conhece o grau de pureza que
há neles.”
(TRIGUEIRINHO.
Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 18 de janeiro de 2015, caderno O.PINIÃO, página 18).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 23 de
janeiro de 2015, caderno OPINIÃO, página
7, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE
AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente
integral transcrição:
“Liberdade
e respeito
A contemporaneidade
exige um aprendizado a respeito de como valer-se das conquistas alcançadas ao
longo da história para se construir um mundo melhor. Há uma ciência própria que
deve auxiliar o exercício da liberdade para
que prevaleça também o respeito inegociável aos direitos e às autonomias.
Deve-se considerar sempre a ética da alteridade, que exige uma específica
competência cidadã. Somente assim é possível ver a vida e avaliar cenários não
apenas a partir do próprio lugar e de interesses particulares, mas considerando
perspectivas capazes de contemplar o bem maior da coletividade.
Sem
esse discernimento interpretativo, continuará a prevalecer o risco de
autoritarismos e imposições que provocam desastres fatais e atingem não apenas
contextos específicos, mas toda a humanidade. Por isso mesmo, o ponto de
partida será sempre uma vívida responsabilidade quanto àquilo que se fala, os juízos
emitidos sobre o outro, a respeito de culturas e de confissões religiosas. A
liberdade individual e também a de imprensa não dão a ninguém o direito de
posicionamentos que ultrapassem o limite delineado pelo respeito a identidades
e diferenças.
O uso abusivo
da liberdade de expressão, sem medir as consequências, não raramente gera
outros absurdos. Equívocos provocados por uma sucessão de irracionalidades. A
liberdade não pode ser compreendida como perda do sentido de alteridade. Sempre
deve haver respeito ao outro, às culturas, às confissões religiosas. Merece
atenção específica o contexto digital e midiático, que tem papel decisivo na
definição de comportamentos e escolhas, influencia a formação de juízos a
partir da disseminação de todo tipo de opinião. Muitos de modo covarde,
valem-se do anonimato possível na internet para perpetrar uma sentença algoz
até contra quem não merece.
A
perda de parâmetros é um perigo e produz desastres que dividem a opinião
pública, criando os chamados lados opostos. Assim, inviabiliza a abertura de
uma nova e indispensável perspectiva que favorece diálogos construtivos. A
liberdade, portanto, não pode se transformar em arma, usada irresponsavelmente
para desferir golpes contra os outros. Utilizá-la desse modo é provocar reações
também arbitrárias que geram cenários de perdas irreversíveis. A conduta
irresponsável de simplesmente dizer o que se quer e bem entende não é caminho
para se construir a sociedade do diálogo. Ora, é preciso ponderar antes de
emitir opiniões. Trata-se de exercer o princípio ético, particularmente porque
se sabe que a palavra tem força construtiva e demolidora.
O
mundo não é um pequeno espaço, um canto, e, por isso, ninguém deve se
posicionar sem a devida consideração da pluralidade existente entre povos,
culturas e grupos. A palavra dita e a palavra dada precisam ser balizadas pelo
princípio ético. A globalização das informações, o direito de juízos e o uso de
liberdades não permitem desconsiderar o respeito moral e cidadão ao outro.
Portanto, é uma irresponsabilidade falar sem pensar e sem as indispensáveis
ponderações. É um grave equívoco desprezar a avaliação daquilo que se diz pelos
meios digitais, pela mídia, nas rodas de conversas, nas reuniões, nos
parlamentos, onde for. Esse erro é cometido, muitas vezes, por governantes,
empresários, líderes diversos e, também, pelo cidadão mais simples.
Torna-se
urgente mobilizar sensibilidades para se aprender, ou reaprender, que é
indispensável refletir antes de dizer. Caso contrário, a palavra não será
veículo do diálogo, mas arma que provoca arbitrariedades e gera a violência. O
exercício da ponderação exige que a palavra a ser dita seja planejada no
silêncio que está em falta em nossa sociedade, muito inquieta e barulhenta. A
geração qualificada da palavra tem tudo a ver com a fonte da ética que forja
moralidades necessárias a decisões, posturas e escolhas. A ética em defasagem
produz a permissividade doentia que alimenta a corrupção, seduz mentes e
corações pelo afã do dinheiro e cega muitos no exercício do poder.
É hora
de investir, em todo lugar e de formas variadas, como prioridade, na
compreensão de que liberdade e respeito são indissociáveis. Isso significa
reconhecer a grande pluralidade que caracteriza o mundo, uma urgência cultural
e ética. Sem boa articulação entre liberdade e respeito, a sociedade
contemporânea, mesmo com seus avanços, vai sofrer com os ataques e vandalismos,
continuará a pagar altos preços.”
Eis, pois, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas;
b) o
combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero (a propósito, e mais uma vez, a taxa de
juros do cheque especial encerrou 2014 no escorchante patamar de 200,6%,
segundo o Banco Central...); II – a corrupção,
há séculos, na mais perversa promiscuidade
– “dinheiro público versus
interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária
ordem; III – o desperdício, em todas
as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, e novamente, a agudíssima crise da
dupla falta – de água e de energia elétrica...);
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2015, segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de
exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e
refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e
eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e
nem arrefecem o nosso entusiasmo e
otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação
verdadeiramente participativa, justa,
ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e
desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas
riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos
os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos
bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as
obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da
era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!
O
BRASIL TEM JEITO!
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