segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

A CIDADANIA, A IGUALDADE NA MEDICINA E OS PROMOTORES DA PAZ (5/19)

(Janeiro 2015 = Mês 5; Faltam 19 meses para a Olimpíada de 2016)

“Uma medicina igual para todos
        Há três tipos de doenças. As primeiras são as de causa conhecida, mas que não requerem tratamento, porque quase todos os casos evoluem para a cura naturalmente. Os exemplos típicos são muitas viroses como a dengue e a gripe. A seguir, estão aquelas de patogenia parcialmente entendida, mas que há procedimentos clínicos ou cirúrgicos para curá-las, como a tuberculose e a apendicite. Finalmente, temos o maior grupo, representado pelas chamadas patologias crônicas degenerativas, as quais não sabemos nem a causa e nem a cura. Tão antigas quanto a humanidade e mesmo sabendo como explicá-las integralmente, são realizadas cirurgias ou usados medicamentos para minimizá-las. Podemos citar o diabete, a hipertensão arterial, o câncer, a aterosclerose e suas devastadoras consequências, como o infarto e o derrame.
         O maior desafio da medicina são essas moléstias crônicas incuráveis e sempre houve um grande esforço na busca da cura. Os médicos e hospitais particulares disputam a preferência da população e fazem publicidade prometendo tratamentos avançados. Num passado recente, a moda entre os mais endinheirados era procurar tratamento no exterior, especialmente nos Estados Unidos. Por ocasião da enfermidade de um presidente eleito, que faleceu antes de tomar posse, buscaram um especialista nos EUA e que voltou no mesmo avião, depois que diagnosticou que não havia nada mais a ser feito. Também o cantor sertanejo que morreu de câncer foi aconselhado nos EUA a se tratar aqui, pois o resultado seria idêntico. Alguns tipos de câncer podem ser curados apenas quando são extirpados no início da doença.
         Hoje, presenciamos o desfile de celebridades entrando e saindo dos mais equipados e caros hospitais privados. Enquanto isso, os pobres que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS) formam filas reclamando ou, em casa, pela televisão, assistem a este vaivém de famosos se lamentando de não terem a mesma sorte. Mas eles não sabem que o resultado final do tratamento é o mesmo, quando falamos de patologias crônicas degenerativas. Quando temos um doente ilustre são arranjadas entrevistas mostrando que ele se recupera – pura publicidade. Em caso de moléstia crônica degenerativa, nunca existe melhora e relação a ela, embora possa parecer assim quando episódios de agudização são tratados. O paciente sempre recebe alta pior do que entrou.
         Muitos são seduzidos pela propaganda e se dão mal. Recentemente, um político internou-se num desses hospitais para fazer um checape, foi vítima de uma complicação num exame invasivo e faleceu. Pelo menos disso os pobres são poupados. O sentimento de impotência diante das enfermidades crônicas degenerativas, que assombra o sono dos médicos, não é uma exclusividade daqueles que atuam no SUS. As taxas de mortalidade no SUS são maiores porque os critérios de internação são mais rígidos e os doentes sempre chegam num estado mais adiantado da doença.
         Qualquer médico tem acesso rápido às mais modernas técnicas do mundo. Em medicina, ninguém faz milagre, o que pode ser realizado no luxuoso hospital particular também pode ser feito no SUS. O que não se consegue tratar num também não tem cura no outro. Os hospitais particulares não são instituições de caridade, são empresas que vivem do lucro. Os hospitais privados podem incluir exames sofisticados na propedêutica, mas isso não acrescenta nada no tocante à cura. Com a informática, a medicina evoluiu muito no diagnóstico, mas em relação ao tratamento dos velhos e mortais males degenerativos crônicos anda a passos de tartaruga. Os médicos ainda têm muito que aprender.”

(PAULO TIMÓTEO FONSECA. Médico, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 2 de janeiro de 2015, caderno OPINIÃO, página 5).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Promotores da paz
        O ano de 2015 chegou e, como disse Carlos Drummond de Andrade, “quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial”. Todos têm a oportunidade singular de rever o caminho percorrido nos últimos 365 dias e planejar um recomeço urgente e necessário. Não se convencer da necessidade de reiniciar, em parâmetros novos e com dinâmicas não tão equivocadas, é escolha que compromete a paz almejada. É não assumir a maravilhosa responsabilidade, confiada por Deus a cada pessoa, de se promover a paz, celebrada mundialmente no dia 1º de janeiro. Com o início do ano-novo, um pacto precisa ser assumido para além de superstições, remanescendo mais do que o gosto da champanhe, reluzindo mais os fogos de artifício que já se apagaram: pela perpetuação do abraço fraterno, que ajusta as diferenças e as transforma em riquezas, é preciso promover a paz.
         O papa Francisco, na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz desde ano-novo, sublinha que é urgente recuperar a consciência de que “nossa vocação comum é colaborar com Deus e com todas as pessoas de voa vontade para a promoção da concórdia e da paz no mundo”. É hora de reconhecer e assumir o comportamentos que sejam dignos de nossa condição humana e cidadã. O ano de 2014, já passado, registrado nas páginas da história pode ser, embora com as lamentações inevitáveis do que nele ocorreu, uma oportunidade de ouro para que a sociedade brasileira renasça das cinzas, como uma fênix. Muitas cinzas foram produzidas e deixaram desolações abomináveis. Cenários de corrupção se multiplicaram, em razão da perda do sentido autêntico do dom da vida e do segredo da simplicidade como remédio para a ganância.
         Como conseqüência, cresceu a globalização da indiferença e aumentou o medo que empurra, na sua força paralisante, para o cuidado egoísta de si, dos seus e das suas coisas. Permanecem esquecidos os pobres, uma vergonha nacional, que nem um tratamento compensatório pode encobrir e deixar de incomodar governantes, religiosos, cidadãos e construtores da sociedade pluralista. A busca pela paz requer, no Brasil e no mundo, a sensibilidade e o empenho de cada cidadão para que prevaleçam novas posturas. Sem essa novidade, entre outras ameaças, corre-se o risco de uma irreversível deterioração do nosso tecido cultural, que tem tudo para ser construtivo e igualitário. Uma cultura edificada com a colaboração de personagens históricos, tempos e etapas, privilegiada em sua natureza, que sempre oferece indicações sobre o caminho certo a ser seguido e a conduta cidadã a ser adotada.
         É urgente o despertar de uma consciência nacional que faz cada pessoa assumir a tarefa e a missão de ser promotor da paz. Não basta um grupo, um segmento, uma confissão religiosa, alguns projetos – trata-se de um dever de todos. Esse despertar não é um simples hino, nem uma manifestação passageira. Não basta um protesto, nem mesmo as investigações indispensáveis e as inadiáveis punições. É preciso reconhecer com simplicidade de aprendiz os muitos sinais de morte que transformam, aceleradamente, o tecido de nossa cultura em violência, dependência química e em outros males. Gradativamente, são perdidos os sentidos da fraternidade e da concórdia.
         Lançar o olhar sobre a realidade e tratá-la adequadamente deve ser prioridade para evitar o comprometimento dos projetos que impulsionam na direção do bem. O papa Francisco, na sua mensagem pela paz, adverte que “há alguns de nós que, por indiferença, porque distraídos com as preocupações diárias, ou por razões econômicas, fecham os olhos”. Pois é hora de abri-los bem. Caso contrário, a mediocridade vai empurrar a sociedade para um estado gravíssimo de escravidão, amenizado pelos luxos sem sentido, pelas esnobações de todo tipo e pelo atraso que faz crescer o abismo entre ricos e pobres. A alegria, o bem e a beleza podem ajudar na reconstrução da sociedade.
         O ano começou com a posse de governantes e parlamentares. Se esta virada pela promoção da paz começar por eles – devedores da confiança da representatividade que os obriga a servir o povo – e incluir os mais diversos segmentos, todos ancorados na convicção de que bom é ser honesto, será dado o salto esperado na sociedade brasileira. Todos têm o dever de se reconhecer e de agir como promotores da paz.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País  no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, e mais uma vez, o petróleo em si não mancha as mãos dos trabalhadores; mas as mãos dos corruptos mancham até o petróleo...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!


O BRASIL TEM JEITO!

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