terça-feira, 13 de janeiro de 2015

A CIDADANIA, A FELICIDADE E A ACUPUNTURA URBANA

“O que é o Eu? É a felicidade
        Um dos métodos de meditação oriental consiste em atentar para os pensamentos, mas sem viajar neles. Sem interferir, só observando e focando o intervalo entre eles. Cada um de nós pode ter uma média de 40 a 50 pensamentos por minuto. E seu houver muita dedicação, após um tempo, pode ser atingido de quatro a cinco pensamentos por minuto. O estado “vazio” mental aumenta. Para manter essa média é necessário continuar meditando. Esse resultado permite uma maior percepção de si mesmo. Ir além é quase impossível, exige muito talento.
         No Oriente e no zen-budismo, atingir o estágio sem pensamentos automáticos e repetitivos, estar no “vazio”, consiste em um estado de atenção plena, em inglês “mindfullness”. O Eu no Oriente é o “vazio” – conceito ainda sem tradução. É o conhecimento original com o qual nascemos e perdemos com a inserção na sociedade. Os monges, os samurais, os militares, os executivos japoneses aprendem esse método para agir com o máximo de foco sem se distrair com pensamentos. Mas esse Eu oriental é uma redução do Eu real e natural. É obtido pela denegação (nega que nega), pela repressão profunda e consciente das emoções. O resultado é um estado de impassividade.
         Aqui, no Ocidente, criamos um Eu idealizado com o qual nos identificamos. É uma projeção social, não é a natureza humana. O Eu é maior, de grande potencialidade, conforme pesquisas recentes das neurociências, das imagens cerebrais, da biologia comportamental, da psicologia experimental. Essa é a visão externa. Para a visão interna, uma proposta é apreender o Eu oriental e expandir os conhecimentos. Pode ser visualizado como o estar “vazio” e aprender que não sou meus pensamentos. São criações do Eu, mas não é o Eu. Também não sou: sensações, sentimentos, emoções e ações.
         As ações podem se estruturar em comportamentos, criando condutas, nos identificando. Mas não são o Eu, são criações do Eu. Por exemplo, nós temos medo de sentir medo. Esse estado ansioso vem do Eu, é parte dele, e pode ser percebido como uma possibilidade de crescimento. Se consigo avançar e identificar o medo como um fracasso, tenho condições pela minha natureza de poder enfrentar, fugir, ficar paralisado ou buscar ajuda. Aprender a lidar com a ansiedade de modo proativo é um método para visualizar o Eu. Estar diante do medo e permitir sentir angústia, desespero, pode fortalecer uma abertura para o Eu real e natural.
         O zen-budismo propõe não nomear conceitos. Aprender o que é, sem palavras, direto na essência. O estado “vazio” é o lugar onde não há nada, como escreveu o samurai Musashi, não faz parte do conhecimento cultural. Só pode ser alcançado pelo desenvolvimento da atenção sobre si mesmo, o que exige coragem, até que a atenção plena começa a parecer um sentimento de muita liberdade. O “vazio” é um estado de paz no Oriente. Aqui, no Ocidente, queremos felicidade: paz com alegria – o que é muito difícil.”

(Jorge Raggi. Empresário, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 27 de dezembro de 2014, caderno O.PINIÃO, página 15).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 7 de janeiro de 2015, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de FABÍOLA CARVALHIDO, arquiteta e urbanista da CSul Desenvolvimento Urbano, e que merece igualmente integral transcrição:

“Acupuntura urbana
        Assim como o corpo humano, uma cidade também apresenta uma importante característica que a torna mutável e adaptável às necessidades das pessoas ao longo do tempo: a organicidade. Podemos comparar a dinâmica de um centro urbano às funções exercidas pelos diferentes sistemas que compõem um indivíduo. E, se formos mais a fundo nessa analogia, nos é permitido afirmar que, assim como as pessoas, as cidades também apresentam “fraquezas” e estão suscetíveis a “doenças” que, se não tratadas, podem comprometer o funcionamento do todo. É por isso que, há alguns anos, diversos arquitetos, urbanistas e estudiosos da área do mundo inteiro trabalham com um conceito que propõe modificar a relação entre o ser humano e o espaço que ele ocupa, refletindo em melhorias para toda a cidade: a acupuntura urbana.
         Criado pelo arquiteto e teórico social francês Marco Casagrande, o termo faz parte de uma teoria que combina o desenho urbano e a milenar terapia chinesa. O grande pensamento por trás da ideia é: da mesma forma como a acupuntura estimula pontos específicos do corpo que se irradiam para o resto do organismo, nas cidades também é possível realizar pequenas intervenções que são sentidas em toda a tessitura urbana. Essas ações pontuais, embora pequenas, podem promover impactos significativos na cidade e contribuem para resolver questões que vão muito além da mobilidade urbana ou acessibilidade – fatores importantes para o bom funcionamento da cidade – mas contemplam, também, pilares como sustentabilidade e socioafetividade.
         Existem alguns exemplos no Brasil que servem para ilustrar a aplicabilidade do conceito de acupuntura urbana, como a reforma da Pinacoteca do Estado de São Paulo, que refletiu em toda a área do Parque da Luz, dando vitalidade ao local; e a revitalização do Pelourinho, em Salvador, que incluiu a instalação de bares, lojas, pequenos comércios, escolas e a recuperação de fachadas e prédios, atraindo um maior movimento de pessoas e gerando mais visibilidade ao Centro Histórico. Em Belo Horizonte, podemos considerar como principal modelo de acupuntura urbana o Complexo da Pampulha, que foi projetado, inicialmente, para ser apenas um ponto de retenção de água, mas, devido ao seu conjunto arquitetônico, acabou se convertendo em um símbolo da capital mineira, famoso em todo o mundo.
         O conjunto de ações pontuais e de revitalização, que podem mudar progressivamente a dinâmica de áreas urbanas degradadas e/ou abandonadas, também é uma estratégia para regiões que ainda serão desenvolvidas. Nesse caso, a intervenção ou acupuntura urbana funciona como um catalisador da ocupação e apropriação do espaço. O resultado a médio e longo prazo é a consolidação da ocupação e a apropriação dessas regiões por parte da população, que passa a conferir diferentes usos a esses locais, entendendo-os como parte importante do conjunto da cidade.
         Há uma tendência geral em analisar os problemas dos centros urbanos com certo pessimismo, pois ainda persiste a ideia de que a única maneira de resolvê-los é realizando obras grandiosas e projetos megalomaníacos. No entando, a acupuntura urbana mostra que, com pequenas “agulhadas” nos lugares certos, é possível irradiar uma nova vitalidade para todo o conjunto e promover melhorias gradativas nesse corpo humano que é a cidade.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País  no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, noticia a mídia que “o jornalista Paulo Francis, por exemplo, já havia afirmado em 1997 no programa Manhattan Conection que existia esquema de roubalheira na Petrobras. Ao contrário de ver o início de uma investigação séria sobre a acusação, foi o próprio condenado em um processo de US$ 100 milhões...”); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2015, segundo o projeto de Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO! 
        



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