segunda-feira, 1 de maio de 2017

A EXCELÊNCIA EDUCACIONAL, AS EXIGÊNCIAS DO SANEAMENTO BÁSICO E A URGÊNCIA DE UMA NOVA DEMOCRACIA NA SUSTENTABILIDADE (7/163)

(Maio = mês 7; faltam 163 meses para a Primavera Brasileira)

“10 anos da Lei do Saneamento: onde erramos?
        Relembro que antes da lei do saneamento de 2007, dizíamos que para resolver nosso déficit do setor necessitaríamos de duas coisas: um novo marco regulatório para substituir o Planasa dos anos 1970 e um endereço no governo federal. Já faz 10 anos que obtivemos as duas conquistas e não resolvemos o nosso déficit.
         Pode parecer normal, pois esse déficit levará mais de 10 anos para ser resolvido mas não é isso que preocupa mais. É o fato de a expectativa que criamos tanto para o marco quanto para o endereço não ter sido atingida. Os avanços ocorreram, sim, mas pífios, tanto que nesse ritmo não atingiremos a tão sonhada universalização antes de 2060, no mínimo uns 20 anos a mais que o previsto, que era de 30 anos.
         Onde erramos? O Planasa – Plano Nacional de Saneamento – gerou avanços consideráveis com um volume de investimentos da ordem de    US$ 15 bilhões ao longo de 15 anos.
         O nosso marco atual é mais complexo e mais completo, pois foi definido em meio a uma democracia, passou por negociações no Congresso e finalmente saiu do papel depois de mais de 20 anos de reflexões, discussões e negociações. É, sem dúvida, um bom marco: dinâmico, flexível e adequado às diversidades regionais do nosso país.
         Mas ficou solto no meio de um setor politizado e desestruturado, que foi incapaz de entender que a única saída para o saneamento é sua aplicação rigorosa por todos, sem exceção. Os seus três pilares – planejamento, regulação e regularização – parecem tão lógicos e simples, mas, no saneamento, se tornam irracionais e polêmicos.
         Os principais prestadores de serviços públicos de água e esgoto são até hoje as companhias estaduais de saneamento básico e as autarquias municipais, que se recusam a abandonar os conceitos autoritários do Planasa para aplicar os conceitos democráticos do novo marco. Não querem planejar, não querem ser regulados e não aceitam regularizar situações perante a nova legislação. Culpam os outros pela sua incompetência e incapacidade de cumprirem com sua obrigação.
         Os governos, que deveriam ser os guardiões do novo marco, são reféns das suas companhias ou autarquias públicas e se abraçam a elas como cegos para serem guiados. Não enxergam que a saída passa por mudar e aplicar as novas ferramentas modernas de gestão pública aportadas pelo conjunto de leis que compõem o marco regulatório do setor. Preferem utilizá-las para fazer política em vez de fazer saneamento.
         Achavam que necessitaríamos de uma crise, seja hídrica ou sanitária, para que fôssemos capazes de reagir. A crise hídrica passou por regiões importantes do país e foi embora deixando pouco aprendizado, apenas o alívio de ter acabado.
         Temos que ter confiança de que a solução para sair desse círculo vicioso, que nos faz rodar em volta do marco há 10 anos, é ter vontade e coragem política. Nossas necessidades hoje são diferentes das dos anos 1970. Estamos numa democracia na qual os governos devem aplicar a lei, ser responsabilizados por isso e prestar contas à sociedade.
         É inaceitável que o saneamento continue vivendo sob um modelo de regime totalitário que o mantém como um dos piores setores da nossa infraestrutura.”.

(YVES BESSE. Diretor-geral de Projetos para a América Latina da Veolia Water Technologies, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 28 de abril de 2017, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Excelência Educacional vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Escutem a voz do povo
        A voz do povo é a bússola que indica o melhor caminho a ser trilhado nas instâncias de decisão. Por isso, hoje e sempre, seja escutada essa voz, pois o povo é soberano. Quando governantes, dirigentes e líderes não ouvem a coletividade, a sociedade sofre. Os desgastes na história brasileira e no tecido social do país, que ainda hoje inviabilizam a conquista de mais igualdade e justiça, são fruto desse descaso com a voz do povo.
         Essa voz não é única. Trata-se de um coro de muitas vozes, inclusive as dissonantes e sem propósitos, que precisa ser ouvido. Mas não se pode considerar o período eleitoral, com o voto, o único momento para escutar a população. Isso porque a organização político-partidária dificulta a escolha da população. Assim, urgente é uma reforma política séria e inteligente, que não seja ajeitamento jurídico e sistêmico para hospedar no poder “representantes do povo” insensíveis diante das necessidades do país.
         O sistema vigente de organização política distancia os representantes dos representados: muitas vezes, quem está no poder permanece indiferente diante do necessário exercício de ouvir o povo. Consequentemente, perdem a sabedoria para encontrar respostas criativas capazes de transformar a realidade, superando, principalmente, o vergonhoso contraste de cenários: de um lado, miséria exclusão, do outro, o esbanjamento de privilégios.
         A voz do povo traz o clamor dos mais pobres que, quando escutado, derruba a ganância de alguns no abuso dos privilégios. Nesse sentido, é remédio contra a tentação de se praticar qualquer ato ilícito. Quem tem sensibilidade para os anseios da população torna-se ferrenho combatente da corrupção e dos prejuízos ao bem comum. Nas ruas está a voz do povo, que faz ecoar os sofrimentos e as exclusões de muitos. É, pois, força que denuncia os contextos vergonhosos da sociedade brasileira, marcados pela falta de solidariedade, por fomentar o péssimo hábito de se conviver com certos “jeitinhos” para se alcançar vantagens. Posturas que rebaixam o exercício da cidadania no país.
         Governantes, representantes do povo, líderes empresariais, religiosos e de diferentes segmentos não podem ignorar ou relativizar a voz que vem das ruas. O recomeço indispensável da sociedade brasileira, com as reformas todas que precisam ser feitas – política, trabalhista, previdenciária, tributária, entre tantas outras – tem que partir da escuta do povo. Na contramão dessa via, o risco é sério: a sociedade brasileira poderá sofrer com o caos e a desolação. Basta observar o que ocorre mundo afora em razão de autoritarismos, insensibilidades e da pouca coragem de governantes.
         No Brasil, os maiores e primeiros responsáveis pelos atropelos que afligem a população devem fazer um exame de consciência e redirecionar suas atitudes, que têm impedido o país de alcançar novo patamar civilizatório. Considerando as riquezas incalculáveis do território brasileiro, o povo poderia estar em melhor situação, caso esse patrimônio não fosse tratado como bem de alguns privilegiados. É também por isso que a voz do povo faz ecoar as vergonhas de se propor mais pesos e sacrifícios sobre os ombros dos pobres, com o perdão de dívidas bilionárias de quem tem o dever de pagá-las. Essa voz mostra que é urgente um recomeço, reconfigurando instâncias, a organização sistêmica dos poderes, os modos de escolha dos representantes do povo e o próprio exercício da cidadania.
         Emergencial é superar a partidarização exacerbada que se contrapõe à qualificada participação cidadã. Isso se faz pela recuperação da autoridade moral e política, do gosto de ser cidadão brasileiro, promovendo a valorização do grande mosaico cultural que compõe o Brasil. A voz do povo está profetizando e exigindo respostas urgentes de competência governamental e de empreendedores. A superação do atual quadro crítico, a esperada recuperação de uma representação que esteja à altura de conduzir processos inovadores, tudo isso só será possível se, em primeiro lugar, for observado o que vem das ruas. Escutem a voz do povo.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
a)     a excelência educacional – pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas, gerando o pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);
b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em março/2017 a ainda estratosférica marca de 490,3% nos últimos  doze meses, e a taxa de juros do cheque especial registrou históricos 328,0%; e já o IPCA também no acumulado dos últimos doze meses, chegou a 4,57%); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 516 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;
c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para 2017, apenas segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,722 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 946,4 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela excelência educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de infraestrutura, além de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo do direito, da justiça, da verdade, do diálogo, da liberdade, da paz, da solidariedade, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”

- 55 anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2016) ...

- Estamos nos descobrindo através da Excelência Educacional ...
- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por uma Nova Política Brasileira...  
        
 
 


    

Nenhum comentário: