Mostrando postagens com marcador Código Civil. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Código Civil. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

A CIDADANIA, OS EMBARGOS INFRINGENTES, A FRATERNIDADE E A POBREZA

“Embargos infringentes
        
         O novo Código Civil emendado está quase pronto. Resta votar destaques. Três deles merecem comentários. Primeiro, a suspensão dos prazos processuais no final do ano e início do entrante, garantindo sossego e descanso aos advogados. Segundo, a equiparação da fiança securitária e do seguro garantia judicial a dinheiro de contado. Essa medida, de largo alcance, sofistica o mercado de seguros, diminuindo os prêmios de risco e, além disso, livra o caixa das empresas da espoliação absurda que a penhora on-line vinha fazendo nos seus recursos financeiros nos processos de execução patrocinados pelos fiscos federal, estaduais e municipais.
         O Convênio Bacen-Jud proporciona aos juízes, a pedido da Fazenda exequente, invadir contas bancárias particulares e confiscar os recursos depositados para deixá-los “penhorados”, com o agravante de os governos passarem a mão imediatamente nos recursos, a custo zero (“funding”), enquanto os processos judiciais se delongam anos a fio. Com a fiança e o seguro valendo dinheiro vivo, o Código de Processo Civil dá por garantido o juízo, condição indispensável para os contribuintes embargarem a execução, oferecendo resistência às pretensões fazendárias, frequentemente ilegais e descabidas, sem sacrificar seu capital de giro ou recorrer a empréstimos par poder ligitar com o príncipe (o Estado), dotado de todos os privilégios.
         Vem em boa hora a decisão da Câmara dos Deputados. O Banco Central tem agora o HAL, (sistema sofisticado de supercomputadores) que segue, em tempo real, milhões de transações bancárias, sem similar no mundo, exceto na Alemanha, numa supervisão total dos depósitos e do sistema de pagamentos brasileiro. Esses dados são repassados ao judiciário e à Receita Federal. Feito um depósito ou transferência, em 20 minutos fica-se sabendo, para as providências cabíveis e incabíveis.
         Finalmente, pretende-se substituir os embargos infringentes nas decisões dos tribunais “por maioria” por um novo julgamento, com outros magistrados. Isso é um disparate. O nossos sistema recursal é bom, cumpre apenas evitar os abusos. Vamos lá. É garantia do cidadão que a decisão de um juiz seja revista (apelação) por três sobrejuízes, ao menos, num tribunal (2º grau) que reexaminará os fatos, as provas, o direito e as razões de decidir do juiz monocrático, confirmando ou reformando a sentença. Afora as decisões interlocutórias a desafiarem agravo (a que não aceita seguro judicial, v.g., como sucedâneo do dinheiro vivo), há necessariamente embargos declaratórios de decisões de mérito, seja de juiz singular ou juízo colegiado (turma, câmara, seção ou plenário) para esclarecer, ou mesmo refazer (nesse caso, com efeitos infringentes do julgado) obscuridade, omissão, contradição ou  ofensa ao direito (pré-questionamento). Trata-se de economia processual. Os juízes, menos na apelação, podem se retratar, evitando recursos.
         Ao meu sentir – não sou processualista – os infringentes, propriamente ditos, somente deviam ser cabíveis de um órgão tribunalício fracionário para o tribunal pleno ou composição quase-plena (câmaras cíveis reunidas, v.g.). Noutras palavras, quando uma turma, câmara ou sessão decidem de modo contrário de outra ou contra a jurisprudência mansa e pacífica dos tribunais, caberiam os embargos infringentes ou de uniformização da jurisprudência, a bem da segurança jurídica. Aqueles embargos arcaicos do regimento do Supremo são excrescentes, não se justificam. (Os mesmos juízes vencidos e vencedores votam de novo o que já votaram, sem falar do expediente da substituição, que é absurdo, pois não foram os substitutos os juízes naturais do processo.)
         Pois bem, é isso que se quer agora ampliar. É barafunda processual, especialmente no Superior Tribunal de Justiça, onde, todo semestre, ministros são mudados. Para o governo é uma “mão na roda” mudar a composição dos tribunais superiores, à deriva do bom direito, complicando em causa própria o sistema recursal. O mesmo se daria nos tribunais de Justiça estaduais relativamente aos governadores. Essa não! Seria retrocesso inadmissível. Basta investigar a origem do destaque. Encontraríamos a mão do príncipe.
         A separação dos poderes implica independência política, formal  e material dos juízes relativamente ao Executivo.
         Contra a morosidade – mazela irritante – e desnecessário violentar o sistema recursal, bastando aperfeiçoá-lo. Necessário, isso sim, é evitar que as Pessoas Jurídicas de Direito Público (União, estados, municípios, suas autarquias e fundações) recorram ao Judiciário por direitos que não têm ou deveres que descumprem, além de recorrer mesmo contra a jurisprudência assente. O Executivo, no Brasil, legisla em lugar do Parlamento e usa o Judiciário para não cumprir seus deveres. Um desastre institucional.”

(SACHA CALMON. Advogado, coordenador da especialização em direito tributário das Faculdades Milton Campos, ex-professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), presidente da Associação Brasileira de Direito Financeiro (ABDF) no Rio de Janeiro, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 26 de janeiro de 2014, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 24 de janeiro de 2014, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, que é arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Fraternidade e pobreza
        
         A solidariedade cristã é pauta pela convicção de que a fraternidade é premissa para vencer a pobreza, como lembra o papa Francisco na sua primeira mensagem dedicada ao Dia Mundial da Paz. O papa recorda seu predecessor Bento XVI, que, na Carta Encíclica Caritas in Veritate, apresentou a falta de fraternidade – entre pessoas e nações – como uma das principais causas da pobreza. Trata-se de uma deficiência que inviabiliza a urgente superação da miséria, que castiga considerável parcela da humanidade.
         Gestores e executivos, de instituições governamentais e privadas, precisam reconhecer e viver mais o princípio  da fraternidade. Sem essa vivência, correm o risco de se aprisionarem no território do que é cartorial e, assim, tornam-se incapazes de contribuir para as mudanças rápidas e urgentes do atual cenário, que faz crescer a brecha entre ricos e pobres. Bastaria que cada cidadão levasse a sério a indicação secular de São Vicente de Paulo. O santo afirma que, quando alguém vê um irmão na miséria, deveria sentir-se envergonhado. Mas, como diz o papa Francisco, na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, a globalização da indiferença é um sério problema a ser enfrentado. Esta insensibilidade tranquiliza as consciências e entorpece cidadanias. Desse modo, incapacita pessoas para o exercício do altruísmo. A indiferença impede a superação da pobreza, que pesa sobre os ombros de tantos e é um vergonha social.
         A falta de fraternidade que perpetua situações lastimáveis de miséria tem também como causa a pobreza relacional, nos contextos familiar e comunitário. Sem o sentido da fraternidade não se avançará adequadamente para se alcançar metas que mudem os quadros. Por isso mesmo, é tão comum ancorar-se em justificativas, contabilizando o que já se fez em detrimento das urgências e necessidades. Aí está um fruto indigesto do modo como se faz política na sociedade brasileira, dando mais importância e força ao partidário e seus “conchavos” do que à meritocracia.
         A pobreza origina-se da carência de um sentido humanístico e compreensão ética adequada da dignidade de cada pessoa humana, fazendo surgir situações extremas de riqueza e desperdício de um lado e, do outro, a miséria de muitos, com o peso da fome, da enfermidade e da exclusão social. As desigualdades sociais crescentes em uma determinada região e contexto cultural precisam incomodar mais a consciência cidadã. Assim é possível avançar na busca de soluções e de respostas, em diferentes níveis e condições. Nessa perspectiva está, portanto, um horizonte lúcido para se fazer política. Isso significa um empenho mais efetivo para garantir a todas as pessoas, iguais na sua dignidade e nos seus direitos fundamentais, o acesso aos serviços, especialmente aos recursos educativos e de saúde, possibilitando a cada pessoa a construção de seu projeto de vida.
         O papa Francisco, na mensagem para o Dia Mundial da Paz, relembra um importante ensinamento da Igreja, sobre a hipoteca social. Como diz Santo Tomás de Aquino, é lícito e até necessário que a pessoa tenha propriedade dos bens. Porém, quanto ao uso, “não deve considerar as coisas exteriores que legitimamente possui só como próprias, mas também como comuns, no sentido de que possam beneficiar não só a si, mas também aos outros”. Se assumido como princípio ético, esse ensinamento permitirá à cidadania dar um salto de qualidade e produzirá, sem dúvida, uma grande transformação. A globalização da indiferença é responsável por desvios morais que fazem da economia o território da idolatria ao dinheiro. Daí nasce uma séria crise antropológica, ao se negar a primazia de cada pessoa, substituindo-a por outros interesses e lógicas. A perversidade se revela no crescimento que privilegia poucos e castiga muitos, fruto de uma ideologia que defende a absoluta autonomia de mercados e a especulação financeira.
         O papa Francisco, exemplar e coerente, indica um passo primeiro, determinante, com força para fazer a diferença na busca da fraternidade, antídoto para vencer a pobreza. Ele fala do desapego vivido por quem escolhe estilos de vida sóbrios e essenciais, partilhando as suas riquezas, conseguindo, assim, experimentar a comunhão fraterna com os outros. Não será outro senão esse o primeiro compromisso cristão, de quem quer autenticamente seguir Jesus Cristo. É desafiador, gera dúvidas, mas trata-sede um caminho certo para cultivar a fraternidade, eficaz na superação da pobreza. O ponto de partida dessa revolução é a convicção firme de que o relacionamento fraterno com o próximo é o bem mais precioso.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, graves e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 639 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (transporte, trânsito, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...