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segunda-feira, 25 de março de 2013

A CIDADANIA, A ÁGUA, A VIDA E A OPÇÃO PREFERENCIAL PELOS POBRES


“A água não é infinita

Temos um território vasto, repleto de florestas e de rios na maioria das regiões. Contamos com cerca de 11% da água doce do planeta. Parece pouco mas não é. O Brasil é o primeiro em disponibilidade hídrica em rios em todo o mundo. O Amazonas é o maior em extensão e volume de água.
As condições climáticas e geológicas permitem ainda a precipitação abundante de chuva e a consequente formação de uma extensa e rica bacia hidrográfica. A exceção dessa regra está na região Nordeste, conhecida pelas grandes estiagens, pelo clima seco e rios temporários.
Essa falsa sensação de abundância talvez tenha gerado uma cultura inadequada em relação a esse recurso. Desde criança nos acostumamos a brincar com a água. Seja na torneira ou numa mangueira, em clubes, lagos e cachoeiras, nos divertimos a valer usando e abusando dela. Vamos crescendo e nos acostumando a ter água limpa sempre disponível.
Basta abrir uma torneira e usá-la sem a menor dor na consciência. Nunca nos questionamos sua origem antes de ela chegar limpa em nossas casas e, nem mesmo, o que acontecerá com ela depois de utilizada. Sabemos que existe um processo, mas não nos perguntamos o quanto é complexo executá-lo e quanto isso custa verdadeiramente aos nosso bolsos e às nossas vidas.
É preciso saber que a taxa de desperdício está entre 50% e 70%. Significa dizer que para cada litro consumido, metade foi desperdiçada. As perdas ainda do processo de distribuição por meio de furtos ou vazamentos estão entre 40% e 60%. A qualidade do recurso após o consumo também é preocupante. A urbanização, a industrialização e o mau uso de produtos agrícolas são extremamente impactantes. Soma-se a esse cenário o problema do saneamento básico que despeja, em média, 90% dos esgotos domésticos e 70% dos afluentes industriais sem tratamento diretamente nos cursos de rios, açudes e mares.
Se adicionarmos ainda o lixo residencial, hospitalar e industrial que acaba sendo despejado às fontes hídricas, tornamos não renovável um recurso, que, em condições normais, deveria ser. Foi assim que descobri que a água não é infinita. Para muitos, ela vale ouro. Para outros é a única fonte de esperança.
No Dia Mundial da Água não devemos comemorar, mas devemos refletir sobre o que estamos fazendo por ela. Os governos deveriam trabalhar para melhorar o saneamento e ampliar as estações de tratamento. Deveriam ainda fiscalizar e penalizar empresas que poluem. Para o setor agrícola deveriam pensar numa melhor estruturação, no intuito de evitar os desperdícios e a contaminação de lençóis freáticos.
Para cada cidadão, resta o comportamento consciente: reaproveitar a água da chuva; usar somente o necessário, quando necessário; construir casas que tenham instalações hidráulicas privando pela economia e reaproveitamento; não roubando água; entre outras medidas. Estudos comprovam que o uso responsável permitiria que 90% das atividades modernas se realizassem com água de reuso. Por enquanto é uma utopia, mas, poderíamos torná-lo um objetivo para o médio prazo. Grandes mudanças são requeridas e começam com cada um de nós. Do contrário, será que teremos águas abundantes amanhã?”
(FÁBIO PESSOA. Professor de meio ambiente e sustentabilidade da Estácio, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 22 de março de 2013, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Igreja dos pobres
        
         O papa Francisco disse durante encontro com jornalistas, na semana de sua eleição como sucessor do apóstolo Pedro, que a Igreja deve ser, especialmente, dos mais pobres. Esse é o desejo mais profundo do coração de Deus. Jesus, na admirável passagem sobre o juízo final, narrada em parábolas pelo evangelista Mateus, sublinhou: “Todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes” (Mateus 25, 40). Jesus deixa, assim, uma clara lição aos seus discípulos, que deve ser sempre assumida pela Igreja como importante compromisso.
         O Concílio Vaticano 2º, na Constituição Pastoral Gaudium et Spes, dezembro de 1965, afirma que “as alegrias e esperanças, as tristezas e as angústias  dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e daqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração”. Assim, a voz do papa Francisco, fazendo ecoar esse desejo e sonho de Jesus, reacende no coração da Igreja a chama da opção preferencial pelos pobres. Essa opção, na sua força espiritual e suas consequências concretas na vida e nos empenhos, é um indispensável remédio que modula a Igreja, povo de Deus, comunidade de discípulos, com as orientações de seu Mestre e Senhor.
         Gesto primeiro e permanente é contemplar os rostos dos sofredores que doem em nós, sublinha o Documento de Aparecida, fruto da 5ª Conferência dos Bispos Latino-Americanos e Caribenhos, focalizando as pessoas que vivem nas ruas das grandes cidades, as vítimas da violência familiar, os imigrantes, os enfermos, os dependentes de drogas, encarcerados, os que carregam o peso e as consequências da discriminação, preconceitos, falta de oportunidades, além dos excluídos da participação cidadã. O papa Francisco, que esteve presente e participou de maneira decisiva da 5ª Conferência, convida a Igreja a viver o pacto ali assumido e assim detalhado no Documento de Aparecida: “Comprometemo-nos a trabalhar para que a nossa Igreja latino-americana e caribenha continue sendo, com maior afinco, companheira de nossos irmãos mais pobres, inclusive até o martírio”.
         Francisco indica um caminho que para ser percorrido, com eficácia, precisa de vigor espiritual, da coragem da profecia e da alegria verdadeira que só brota no coração de quem compreende bem o desejo de Deus. A Igreja está, pois, pela palavra e gestos do papa, a revisitar os tesouros da fé cristã, banhando-nos neles para alcançar uma compreensão espiritual capaz de conferir novos rumos à vida pessoal, organização eclesial e à sociedade. Uma via que deve se concretizar com o modelo da globalização da solidariedade e justiça internacional. Esse compromisso nascido da fé em Jesus Cristo irradia luz sobre o caminho renovador que a Igreja é chamada a trilhar, com força e tarefa de inspirar a sociedade a fazer novas escolhas, responsável que ela é também pelos pobres da Terra.
         A simplicidade que emerge de uma Igreja para os pobres há de alcançar raízes que tocam o mais profundo das diversas organizações sociais, exigindo mais transparência, singularmente na conduta pessoal, e a coragem de uma presença profética na vida dos necessitados, nas relações sociais e políticas. São urgentes ações na configuração de projetos, obras, diálogos, cooperação e comprometimentos que construam um rosto novo para a sociedade contemporânea, sem as rugas das exclusões produzidas ou das corrupções praticadas.
         Que a Igreja renove sempre sua opção preferencial pelos pobres, realizando projetos grandes ou pequenos, de menor ou maior significação, para reencontrar o ouro de sua fé e os caminhos para que ninguém sofra da mais terrível pobreza: a distância de Deus. Contemplar-se como Igreja para os pobres é viver uma recuperação pujante, revisão humilde e corajosa de atitudes, no compromisso com o bem e com a verdade, anunciando o reino de Deus. O broto de esperança desse tempo guarda potencial inesgotável para a novidade da Igreja de Cristo, no cumprimento de sua missão ampla e complexa , de ser dos pobres para os pobres.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção de nosso País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento  –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
    
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tamanha sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); educação; saúde; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente;  habitação; emprego, trabalho e renda; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; agregação de valor às commodities; logística; turismo; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; sistema financeiro nacional; esporte, cultura e lazer; minas e energia; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade), entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileira e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...