“A
água não é infinita
Temos um território
vasto, repleto de florestas e de rios na maioria das regiões. Contamos com
cerca de 11% da água doce do planeta. Parece pouco mas não é. O Brasil é o
primeiro em disponibilidade hídrica em rios em todo o mundo. O Amazonas é o
maior em extensão e volume de água.
As condições climáticas
e geológicas permitem ainda a precipitação abundante de chuva e a consequente
formação de uma extensa e rica bacia hidrográfica. A exceção dessa regra está
na região Nordeste, conhecida pelas grandes estiagens, pelo clima seco e rios
temporários.
Essa falsa sensação de
abundância talvez tenha gerado uma cultura inadequada em relação a esse
recurso. Desde criança nos acostumamos a brincar com a água. Seja na torneira
ou numa mangueira, em clubes, lagos e cachoeiras, nos divertimos a valer usando
e abusando dela. Vamos crescendo e nos acostumando a ter água limpa sempre
disponível.
Basta abrir uma
torneira e usá-la sem a menor dor na consciência. Nunca nos questionamos sua
origem antes de ela chegar limpa em nossas casas e, nem mesmo, o que acontecerá
com ela depois de utilizada. Sabemos que existe um processo, mas não nos
perguntamos o quanto é complexo executá-lo e quanto isso custa verdadeiramente
aos nosso bolsos e às nossas vidas.
É preciso saber que a
taxa de desperdício está entre 50% e 70%. Significa dizer que para cada litro
consumido, metade foi desperdiçada. As perdas ainda do processo de distribuição
por meio de furtos ou vazamentos estão entre 40% e 60%. A qualidade do recurso
após o consumo também é preocupante. A urbanização, a industrialização e o mau
uso de produtos agrícolas são extremamente impactantes. Soma-se a esse cenário
o problema do saneamento básico que despeja, em média, 90% dos esgotos
domésticos e 70% dos afluentes industriais sem tratamento diretamente nos
cursos de rios, açudes e mares.
Se adicionarmos ainda o
lixo residencial, hospitalar e industrial que acaba sendo despejado às fontes
hídricas, tornamos não renovável um recurso, que, em condições normais, deveria
ser. Foi assim que descobri que a água não é infinita. Para muitos, ela vale
ouro. Para outros é a única fonte de esperança.
No Dia Mundial da Água
não devemos comemorar, mas devemos refletir sobre o que estamos fazendo por
ela. Os governos deveriam trabalhar para melhorar o saneamento e ampliar as
estações de tratamento. Deveriam ainda fiscalizar e penalizar empresas que
poluem. Para o setor agrícola deveriam pensar numa melhor estruturação, no
intuito de evitar os desperdícios e a contaminação de lençóis freáticos.
Para cada cidadão,
resta o comportamento consciente: reaproveitar a água da chuva; usar somente o
necessário, quando necessário; construir casas que tenham instalações hidráulicas
privando pela economia e reaproveitamento; não roubando água; entre outras
medidas. Estudos comprovam que o uso responsável permitiria que 90% das
atividades modernas se realizassem com água de reuso. Por enquanto é uma
utopia, mas, poderíamos torná-lo um objetivo para o médio prazo. Grandes
mudanças são requeridas e começam com cada um de nós. Do contrário, será que
teremos águas abundantes amanhã?”
(FÁBIO
PESSOA. Professor de meio ambiente e sustentabilidade da Estácio, em artigo
publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição
de 22 de março de 2013, caderno OPINIÃO,
página 7).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição,
caderno e página, de autoria de DOM
WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e
que merece igualmente integral transcrição:
“Igreja
dos pobres
O papa Francisco disse
durante encontro com jornalistas, na semana de sua eleição como sucessor do
apóstolo Pedro, que a Igreja deve ser, especialmente, dos mais pobres. Esse é o
desejo mais profundo do coração de Deus. Jesus, na admirável passagem sobre o
juízo final, narrada em parábolas pelo evangelista Mateus, sublinhou: “Todas as
vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos pequeninos, foi a mim mesmo que
o fizestes” (Mateus 25, 40). Jesus deixa, assim, uma clara lição aos seus
discípulos, que deve ser sempre assumida pela Igreja como importante
compromisso.
O
Concílio Vaticano 2º, na Constituição Pastoral Gaudium et Spes, dezembro de 1965, afirma que “as alegrias e
esperanças, as tristezas e as angústias
dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e daqueles que sofrem, são
também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos
de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre
eco no seu coração”. Assim, a voz do papa Francisco, fazendo ecoar esse desejo
e sonho de Jesus, reacende no coração da Igreja a chama da opção preferencial
pelos pobres. Essa opção, na sua força espiritual e suas consequências
concretas na vida e nos empenhos, é um indispensável remédio que modula a
Igreja, povo de Deus, comunidade de discípulos, com as orientações de seu
Mestre e Senhor.
Gesto
primeiro e permanente é contemplar os rostos dos sofredores que doem em nós,
sublinha o Documento de Aparecida, fruto da 5ª Conferência dos Bispos
Latino-Americanos e Caribenhos, focalizando as pessoas que vivem nas ruas das
grandes cidades, as vítimas da violência familiar, os imigrantes, os enfermos,
os dependentes de drogas, encarcerados, os que carregam o peso e as
consequências da discriminação, preconceitos, falta de oportunidades, além dos
excluídos da participação cidadã. O papa Francisco, que esteve presente e participou
de maneira decisiva da 5ª Conferência, convida a Igreja a viver o pacto ali
assumido e assim detalhado no Documento de Aparecida: “Comprometemo-nos a
trabalhar para que a nossa Igreja latino-americana e caribenha continue sendo,
com maior afinco, companheira de nossos irmãos mais pobres, inclusive até o
martírio”.
Francisco
indica um caminho que para ser percorrido, com eficácia, precisa de vigor
espiritual, da coragem da profecia e da alegria verdadeira que só brota no
coração de quem compreende bem o desejo de Deus. A Igreja está, pois, pela
palavra e gestos do papa, a revisitar os tesouros da fé cristã, banhando-nos
neles para alcançar uma compreensão espiritual capaz de conferir novos rumos à
vida pessoal, organização eclesial e à sociedade. Uma via que deve se
concretizar com o modelo da globalização da solidariedade e justiça
internacional. Esse compromisso nascido da fé em Jesus Cristo irradia luz sobre
o caminho renovador que a Igreja é chamada a trilhar, com força e tarefa de
inspirar a sociedade a fazer novas escolhas, responsável que ela é também pelos
pobres da Terra.
A
simplicidade que emerge de uma Igreja para os pobres há de alcançar raízes que
tocam o mais profundo das diversas organizações sociais, exigindo mais
transparência, singularmente na conduta pessoal, e a coragem de uma presença
profética na vida dos necessitados, nas relações sociais e políticas. São
urgentes ações na configuração de projetos, obras, diálogos, cooperação e
comprometimentos que construam um rosto novo para a sociedade contemporânea,
sem as rugas das exclusões produzidas ou das corrupções praticadas.
Que a
Igreja renove sempre sua opção preferencial pelos pobres, realizando projetos
grandes ou pequenos, de menor ou maior significação, para reencontrar o ouro de
sua fé e os caminhos para que ninguém sofra da mais terrível pobreza: a
distância de Deus. Contemplar-se como Igreja para os pobres é viver uma
recuperação pujante, revisão humilde e corajosa de atitudes, no compromisso com
o bem e com a verdade, anunciando o reino de Deus. O broto de esperança desse
tempo guarda potencial inesgotável para a novidade da Igreja de Cristo, no
cumprimento de sua missão ampla e complexa , de ser dos pobres para os pobres.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção de nosso País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e
pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e
diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar
por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e
comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício,
em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e
danos, inexoravelmente irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
intolerável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma
imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tamanha
sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa
capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades
de ampliação e modernização de
setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); educação;
saúde; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); saneamento ambiental (água tratada,
esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística
reversa); meio ambiente; habitação;
emprego, trabalho e renda; assistência social; previdência social; segurança
alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal;
defesa civil; agregação de valor às commodities; logística; turismo; pesquisa e
desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; sistema financeiro nacional;
esporte, cultura e lazer; minas e energia; comunicações; qualidade (planejamento
– estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade,
economicidade, criatividade, produtividade, competitividade), entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada,
qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileira e com todos os
brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos
e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de
Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a
Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das
exigências do século 21, da era da globalização, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...
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