quarta-feira, 29 de julho de 2015

A CIDADANIA, A JUVENTUDE, A CONSCIÊNCIA ÉTICO-POLÍTICA E AS CIDADES SUSTENTÁVEIS

“Consciência ético-política dos jovens
         O atual cenário político brasileiro, com tantos problemas de corrupção, abre espaço para debates importantes. O que se pode fazer para educar as próximas gerações de forma diferente para que elas não repitam os mesmos erros de hoje e do passado? É possível transformar o país por meio de uma população conscientemente ética? A educação, vista como um caminho para a construção de um país melhor, na atual conjuntura, torna-se ainda mais indispensável no sentido de internalizar valores sólidos de crianças que serão a transformação necessária.
         As escolas, os professores e os pais têm um papel fundamental nesse processo de educação e formação de princípios éticos. As crianças e adolescentes de hoje são muito diferentes das gerações passadas, principalmente devido à grande difusão de ferramentas e plataformas digitais. Antigamente, os professores e o material didático eram as fontes de conhecimento e informação. Hoje, os mestres são mais orientadores que guiam o conhecimento e a consciência social, pois a informação está ao alcance de qualquer um que disponha de conexão de internet.
         As notícias divulgadas em diversas plataformas diferentes, como televisão, rádio, jornais, revistas, portais e, até mesmo, nas redes sociais, chegam com muito mais frequência e facilidade às crianças. Consequentemente, o despertar político ocorre mais cedo. Nas minhas aulas, por exemplo, ocorrem muitos debates espontâneos, partindo dos próprios alunos com suas dúvidas e vontade de aprender mais sobre o que está acontecendo. Esse despertar tão precoce é muito relevante, pois mostra que eles têm engajamento e querem, ativamente, fazer parte desse momento.
         Claro que as escolas e educadores não são os únicos influenciadores na vida deles. As famílias têm participação determinante na formação de valores e opinião. Muitos dos meus alunos participaram de algumas manifestações junto com pais e irmãos mais velhos. Eles escutam os parentes debatendo assuntos políticos e ficam atentos, captam informações de fontes diversificadas, formando a própria opinião e trazendo questões para a sala de aula também.
         As instituições de ensino participam do processo, não só com os professores, mas com as normas. As crianças aprendem que existem regras para ser seguidas, caso contrário pode haver punição. Absorvem a noção de que uma atitude fora das normas tem consequências, sendo fundamental para o aprendizado e formação do caráter.
         Outro fator importante é ter pessoas em quem se espelhar. Se os alunos não conseguem encontrar alguém que possa servir-lhes de exemplo de cidadão ético e consciente, acabam ficando um pouco perdidos. Então, a família e os professores devem ser a fonte que precisam para se tornar adultos com princípios bem estabelecidos. Assim, não correrão o risco de se corromper ao longo do caminho, como tem acontecido com muitos políticos, empresários e até no mundo do futebol, tão relevante para muitos dos alunos.
         Despertar a consciência ético-política nos jovens não é apenas uma demanda social, mas uma demanda dos próprios adolescentes, que querem uma bagagem intelectual e moral para formarem opinião de maneira autônoma, participar ativamente da vida social e política do país e deixar de apenas consumir informação.”

(WALISSON ANTUNES. Professor de história do Colégio ICJ, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 8 de julho de 2015, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 24 de julho de 2015, mesmo caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Cidades em discussão
        O papa Francisco, preocupado com os aspectos humanísticos e espirituais que norteiam os processos de urbanização, se reuniu com os prefeitos das grandes metrópoles do mundo para um momento de diálogo e reflexão. Um encontro de partilha para sublinhar o alto grau de responsabilidade quando se pensa cada cidade, a definição de prioridades, os graves prejuízos em razão da corrupção, do excesso de burocracia e, acima de tudo, do tratamento dedicado aos mais pobres e sofredores.
         Os especialistas em urbanismo e urbanizações revelam complexidades, urgências e apontam saídas. Desafiam os gestores e governantes a apresentar respostas efetivas ante a série de graves problemas que comprometem a cultura e desrespeitam a dignidade da pessoa humana, o que inclui a lamentável indiferença em relação aos que estão sem terra, sem casa, sem saúde e educação. É oportuno focalizar a abordagem do papa Francisco, na carta encíclica Louvado Sejas – sobre o cuidado da casa comum, quando trata da crise do antropocentrismo moderno e suas consequências. Trata-se de significativa contribuição, que vai além das dimensões técnicas.
         O antropocentrismo moderno colocou a razão técnica acima da realidade. Condicionou o ser humano a considerar a natureza apenas como espaço e matéria. Isso o leva a tratá-la sem medir o que pode suceder como consequência. Clara perda do sentido humanístico e espiritual no tratamento adequado do meio ambiente, que é dom da criação para o bem de todos. Esse descompasso explica o quadro abominável de devastação ambiental, com exploração ilimitada, que ameaça a própria dignidade da pessoa humana. Uma dignidade desrespeitada por posturas tolerantes com o desperdício, encurralada pela mesquinhez da ganância, desconsiderada pela indiferença, que preside o coração de quem perdeu a sensibilidade, particularmente diante da miséria e da exclusão.
         Esse quadro se agrava com a ineficiência de governantes que não conseguem levar adiante, com a qualidade e a velocidade requeridas, os processos de atendimento das necessidades da população. Também são expressão desse quadro desalentador os desencontros de atitudes, falas e escolhas de prioridades, de líderes que ocupam lugares importantes nos contextos político, religioso, educacional e cultural. O desafio primeiro para tornar as cidades verdadeiramente sustentáveis – não apenas embelezadas, mas justas com os cidadãos, especialmente com os mais pobres – começa com a indispensável consciência que o ser humano deve ter sobre si e sobre o lugar onde vive.
         Há um adequado entendimento sobre o sentido de humanidade e de presença no planeta. A consequência é terrível no tratamento da realidade, precipitando-a num verdadeiro caos. Torna-se indispensável, ao lado da técnica e das análises pertinentes, uma espiritualidade que possibilite alcançar profunda compreensão sobre o ser humano e o meio ambiente. O papa Francisco adverte que nos tempos modernos verificou-se notável excesso de perspectivas antropocêntricas. Com isso, enfraqueceram-se o sentido e o respeito do que está no âmbito do bem comum, e a importância dos laços sociais. É preciso superar essa perda, pois as cidades sustentáveis incluem o compromisso com um desenvolvimento humano e social mais fecundo e saudável. Isso significa repensar a relação do ser humano com o mundo para qualificar, por lições preciosas, os vínculos entre as pessoas, configurando uma cidadania capaz de encontrar respostas para graves problemas, como a violência, a exclusão e os esquemas destrutivos da corrupção.
         Os governantes e os cidadãos estão convocados a buscar políticas que podem dar um rosto novo e sustentável a cada cidade, promover mudanças no contexto local, sem perder de vista o global. Cada pessoa deve se dedicar às muitas situações que demandam respostas para se alcançar o bem comum – não simplesmente o atendimento de interesses ideológicos e políticos, com privilégios de alguns em detrimento, especialmente, dos fracos e dos pobres. O papa Francisco formula um interessante princípio, que pode trazer a possibilidade de um passo novo na superação de marasmos e de gargalos que fazem das cidades um verdadeiro caos.
         O Santo Padre diz que a estrutura política e institucional não existe apenas para evitar malversações, mas para incentivar as boas práticas, estimular a criatividade que busca novos caminhos, facilitar as iniciativas pessoais e coletivas. O segredo é contar com líderes que contribuam na condução desses processos e que promovam a ampla participação, ajudando a construir os cenários próprios de cidades sustentáveis. Percebe-se que há um longo caminho a percorrer. É preciso mudar a cultura e as mentalidades. Um processo que exige reflexões e a contribuição de todos sobre o lugar onde se vive.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do IBGE, a inflação de junho medida pelo IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo – e acumulada nos últimos doze meses atingiu 8,89%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

     c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br);

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO!...   
     
        
 


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