“A
medicina na era da precisão
Já na escola de
medicina, o estudante se depara com uma formação norteada pela busca do
desenvolvimento de técnicos ultraespecializados. Durante a universidade, há cerca de 20 anos,
vivenciei uma tímida tentativa de maior socialização e humanização da medicina,
numa época em que o SUS, o maior sistema de saúde do mundo, ainda era um bebê.
Na residência, aprendemos de forma dura como é a vida do médico nas relações
humanas, que sofre com a solidão da decisão e com o caos de nossos serviços de
saúde.
É indiscutível
a relevância do conhecimento técnico para um serviço de qualidade. Mas, olhando
em retrospectiva, constato que não tivemos acesso, na nossa formação, aos
princípios de administração e ao exercício de um melhor entendimento sobre o
funcionamento do modelo de saúde e o cenário em que estávamos inseridos. Não
parece estranho que os profissionais de medicina sejam tão inconscientes da
atual dinâmica e desempenho das instituições de saúde? Certamente, além de
fragilizar a qualidade da atividade, creio que o maior ônus para o setor está
na perda de oportunidades de melhorias contínuas.
Temos
tantos profissionais que se destacam pelas elevadas capacidades cognitivas,
excelência técnica e atitude solidária em relação ao sofrimento humano. Porém,
o país desperdiça esse potencial ao excluí-lo dos debates e processos de
decisões do nosso modelo de saúde. Vivemos um paradoxo entre a medicina da
precisão, que se destaca pelos grandes avanços e ganhos de assertividade na
condução dos tratamentos dos pacientes, e um sistema de saúde ineficiente. Isso
porque toda essa expertise não se estende e nem se reflete na gestão e na
performance de toda essa estrutura.
Acredito
que nós, técnicos da saúde, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, entre outras
especialidades, precisamos ter uma visão sistêmica da cadeia em que atuamos.
Duas mudanças podem ser determinantes na construção desse protagonismo médico
na gestão da saúde. A primeira seria incluir nas grades curriculares das
universidades as teorias da administração, com o mesmo peso que outras
disciplinas técnicas. A segunda seria o desenvolvimento individual de cada
técnico nas competências humanas e gestoras.
É
preciso motivar e valorizar o comportamento empreendedor, a visão estratégica,
a inovação, a criatividade, o planejamento, entre outras competências humanas
na área de saúde, de forma a permitir reflexões mais profundas sobre a
realidade do setor. Em todas as profissões, essa é uma tendência latente e a
medicina também precisa estar aberta a desenvolver seu potencial para aprimorar
sua capacidade de oferecer eficiência e qualidade.
Não se
trata de desviar a competência técnica desses profissionais para a esfera da
gestão. Quando defendo uma atitude mais empreendedora, me refiro a uma postura
mais participativa e engajada no sentido de vislumbrar e propor novas soluções
para o sistema, cujos problemas e questões impactam no nosso trabalho.
O
setor de saúde tem um longo histórico marcado por investimentos reduzidos,
baixa qualidade gerencial, insatisfação dos trabalhadores e usuários e muitos
desperdícios. Tudo isso limita nossa capacidade de inovar na gestão e no
atendimento e compromete a atratividade da área para novos profissionais com
competências humanas e gerenciais diferenciadas.
Assim,
defendo um exercício de ampliação do papel da medicina e da visão global desses
técnicos sobre esse contexto e seus desafios. Conhecemos de perto essa
realidade e temos potencial para ajudar a reverter tais problemas e expandir as
oportunidades de aprimoramento. E essa é uma iniciativa que cabe a todos nós,
profissionais de saúde, e demais atores envolvidos como instituições públicas e
privadas e própria sociedade civil.”.
(RICARDO
DUPIN. Médico e diretor do Laboratório São Marcos, em artigo publicado no
jornal ESTADO DE MINAS, edição de 26
de janeiro de 2017, caderno OPINIÃO,
página 7).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Excelência Educacional vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
27 de janeiro de 2017, mesmo caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO,
arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral
transcrição:
“Encantar-se
com a verdade
Encantar-se com a
verdade pode ser importante indicativo para a recondução da sociedade na
direção do bem e da justiça. O conhecimento da verdade e sua prática
confeccionam o tecido de uma cultura assentada na solidariedade e na
competência de prezar os valores e respeitar, incondicionalmente, a dignidade
de cada pessoa. Não basta a referência à verdade objetiva de fatos e
acontecimentos tratada nos parâmetros da verdade jurídica. Embora seja esse
curso indispensável para equilibrar os compassos intocáveis no funcionamento de
uma sociedade, não tem a força preventiva e educativa necessária. É semelhante
ao apagar o fogo de incêndios que surgem a todo momento e vão se agravando, em
quantidade e intensidade. Assim, torna-se impraticável dominar as labaredas em
curto prazo, sem atingir a base do fogo, a exemplo do que ocorre, na atualidade,
com o sistema prisional, que exige reformas radicais.
A
sociedade, hoje, cruelmente, paga o preço de uma realidade carcerária
organizada ora como cartel, ora com descaso e, sobretudo, sem o entendimento
adequado do que é necessário para recuperar o tecido degradado da dignidade
humana, em tantas pessoas que cometem crimes, transgredindo as leis. Situações
análogas estão presentes em outros setores sociais que contabilizam graves
prejuízos produzidos pelo comprometimento da verdade, assumida e empunhada como
bandeira de honra do viver cotidiano.
Esse
processo de relativização da verdade na sua formulação filosófica e conceitual
compromete a sua vital assimilação na dinâmica ético moral. Abre as portas à
permissividade, impedindo as substituições necessárias capazes de deter os
descalabros da corrupção, da violência e da indiferença, passivos que atrasam a
sociedade nos seus projetos de desenvolvimento e esgarçam as relações sociais e
políticas. Relativizar a verdade produz o caos, a exemplo do que vivenciamos
neste momento, atravanca o encontro de saídas para crises que, retardadas na
sua solução, multiplicam esses passivos, exigindo muito mais tempo e recursos
investidos para serem corrigidos.
O
processo de encantar-se com a verdade, sempre libertadora, começa pela prática
de atitudes muito simples, embora de grande relevância, a principal delas,
banir do dia a dia o terrível costume das chamadas pequenas mentiras – ilusória
preservação da própria privacidade, defesa desnecessária da individualidade, ou
ainda tolice de se justificar perante fatos e pessoas. Na convivência familiar,
por exemplo, essas práticas constituem-se verdadeira armação de bombas futuras,
quando adultos, até inconscientemente, exercitam crianças e jovens nesse tipo
de conduta. É fundamental rechaçar toda e qualquer forma de distorção da
verdade, até mesmo quando a própria cultura adota como “um jeito de ser”, nunca
mentir, mas jamais dizer a verdade toda. Esquece-se de que a verdade só pode
ser assim considerada quando é inteira, nunca em pedaços. A sabedoria é dizer a
verdade na hora certa à pessoa certa.
Não há
outro caminho para a edificação de relacionamentos autênticos e impulsionadores
na direção do bem. Desde a intimidade de cada casa, de cada família, ao
Parlamento, nas instituições e nos ambientes de trabalho tem que valer a
sinceridade no dizer e compartilhar a verdade. Ninguém há de se iludir. O
alicerce da arquitetura da corrupção, devastadora da sociedade, reside na
mentira e nora pouco apreço pela verdade moral, valor capaz de prevenir pessoas
e instituições de armar esquemas de favorecimentos e privilégios que desvirtuem
os caminhos de uma sociedade justa e solidária. Assim, ao perder no coração de
cada cidadão o encantamento pela verdade, a sociedade precipita-se na direção
irreversível de seu fracasso.
Esse
mesmo raciocínio vale no estabelecimento das relações interpessoais. Quando não
se consegue ser transparente, por conveniência ou até mesmo por respeito
humano, as relações sofrem abalos de grandes proporções, gerando desconfianças
que varrem projetos comuns e quebram alianças de todo tipo. Quantas famílias
desestruturadas, amizades de uma vida inteira desfeitas, projetos de cooperação
mútua arruinados em razão da falta de apreço pela verdade, no dizer e no seu
alcance moral, quebrando toda a confiança.
Essa
cultura contamina a política partidária e as instituições governamentais, que
perdem a credibilidade pela ausência dessa prática doméstica de não dizer a
verdade a quem precisa ouvi-la. A exemplo do que ocorre no âmbito pessoal,
prevalecendo o falso apreço pela autoimagem, os interesses na preservação de
cargos e lugares, tudo fecundado pelo abominável costume de bajulações e
interesses mesquinhos, empurrando gente a mentir e a distanciar-se do encanto
pela verdade. Para obter ganhos, avanços, ou apenas para manter situações, pode
parecer vantajosa a estratégia de esconder a verdade, mas não se iludam: essas
conquistas não se sustentarão quando as incoerências vierem à tona.
Conhecendo
a verdade é que se encontrará a verdadeira e duradoura libertação – ensina o
mestre Jesus. Vale também recorrermos a santo Agostinho, que afirma nunca ter
encontrado alguém que gostasse de ser enganado com mentiras e inverdades. Esses
são ensinamentos que devem nortear a conduta humana em todos os tempos.
A
sociedade contemporânea é a do cansaço. Não menos é a sociedade da mentira ou
do escasso encanto pela verdade. Sua reorganização e avanços na superação das
muitas crises devem ser precedidos de estratégias e políticas públicas
assertivas, com investimentos prioritários nas áreas da educação, saúde,
trabalho e inovações. Mas é imprescindível a atitude cidadã individual para
configurar um novo rosto e um novo tecido cultural para a sociedade, retomando,
assim, o encanto e gosto pela verdade, no ser e no dizer.
As
necessidades de mudanças são grandes e é interminável a lista das exigências
para o respeito à dignidade de cada cidadão, numa sociedade desigual como a
brasileira. O caminho é longo, mas importa começar com assertividade, com o que
há de mais simples. O segredo é, em tudo, no ser e no dizer, encantar-se pela
verdade.”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a) a excelência educacional – pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas, gerando o pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional (enfim,
125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o
início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas
as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da
educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação,
da sustentabilidade...);
b) o combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, em
dezembro e no acumulado dos últimos doze meses, a taxa de juros do cartão de
crédito atingiu a estratosférica marca de 484,6%; a taxa de juros do cheque
especial registrou históricos 328,6%; e, finalmente, o IPCA chegou a 6,29%); II
– a corrupção, há séculos, na mais
perversa promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados”
–, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a
lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato,
Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico
de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem
mostrando também o seu caráter transnacional;
eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos
borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 516 anos já se formou um
verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque,
rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim,
é crime...); III – o desperdício, em
todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O
Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança
das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é
desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de
problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos,
quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas
de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à
corrupção e à falta de planejamento...”;
c) a dívida pública brasileira - (interna e
externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para
2017, apenas segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável
desembolso de cerca de R$ 1,722 trilhão,
a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com
esta rubrica, previsão de R$ 946,4
bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda
a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);
Destarte,
torna-se absolutamente inútil lamentarmos
a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela excelência
educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os brasileiros.
Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos em
inadiáveis e fundamentais empreendimentos de infraestrutura, além de projetos
do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à luz das exigências do século 21, da
era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo do direito, da
justiça, da verdade, do diálogo, da liberdade, da paz, da solidariedade, da
igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
- 55
anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2016) ...
-
Estamos nos descobrindo através da Excelência Educacional ...
-
ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por
uma Nova Política Brasileira...