quinta-feira, 25 de setembro de 2014

A CIDADANIA, A FUGA DE CÉREBROS E A QUALIFICAÇÃO DO DEBATE NACIONAL



“A fuga de cérebros
        Atualmente, muitos pais planejam o futuro de seus filhos antes mesmo do nascimento deles. Com um mercado de trabalho cada vez mais competitivo, proporcionar educação de qualidade aos jovens tornou-se algo primordial para que tenham chances de competir com profissionais capacitados no mundo todo. No Brasil, ensino de excelência é privilégio para poucos: temos apenas uma universidade no The times higher education university, prestigiosa publicação que elege as melhores ao redor do globo.
         Tendo em vista esse cenário, não é de admirar que mais de 200 mil estudantes embarcaram para participar de programas de intercâmbio no exterior no ano passado. Entre as 100 instituições listadas como melhores no já citado ranking, 44 estão nos Estados Unidos e 31 na Europa. Escolas cujos graus de organização, infraestrutura e qualidade de ensino são indubitáveis. Lá se encontram professores não apenas graduados, mas com Ph.D e doutorado, e centros de pesquisa que são referência no mundo todo.
         Já faz tempo que jovens partem para viagens de estudos no exterior, mas nos últimos anos a aposta das famílias em educação internacional tem crescido consideravelmente. Como gestor e fundador de uma grande empresa do setor, acompanhei de perto as mudanças que ocorreram nesse cenário. Na década de 1980, já era necessário aprender outro idioma e conhecer diferentes culturas por causa da crescente globalização. Hoje, a segunda língua é praticamente obrigatória, e destacam-se os que falam a terceira, a quarta e a quinta. Além disso, partir em uma empreitada de estudos fora do Brasil não é mais apenas aprimorar um idioma.
         A experiência internacional proporciona novas concepções, que convidam à reflexão, ao desenvolvimento da capacidade de aceitar as diferenças culturais e a ampliar a habilidade de enfrentar os desafios com mais confiança. O domínio do inglês também é o passaporte de entrada para ingressar em escolas qualificadas, como Harvard, Oxford, Cambridge. E as chances de uma carreira internacional em grandes companhias, que essas graduações proporcionam, são extremamente abrangentes. Isso já é uma realidade, tanto que, atualmente, cerca de 20 mil brasileiros estão cursando universidades conceituadas pelo mundo, e mais de 10 mil se matricularam em universidades norte-americanas no ano letivo de 2012/2013. E isso não ocorre apenas por causa da ampliação da malha aérea e das novas formas de pagamento, que facilitam a concretização da viagem. Ocorre porque executivos, pais e jovens vislumbram cada vez mais o leque de oportunidades que está aberto no exterior. Minha experiência no segmento mostra ainda que, nos próximos cinco anos, poderemos ter um crescimento de 50% nesses números.
         Executivos investem cada vez mais e com mais frequência em masters, pós-graduações e MBAs nos EUA, França e Inglaterra. O conhecimento de ponta que adquirem nas salas de aula é um grande diferencial no currículo, e faz dessa vivência algo praticamente obrigatório atualmente. Educação é prioridade em qualquer nação desenvolvida. Enquanto o Brasil não investir em melhorias efetivas em seu sistema educacional, a fuga de bons cérebros para o exterior só tende a aumentar, pois universidades e empresas estrangeiras estão de olho nos nossos talentos.
         Pesquisa conduzida no Escritório Nacional de Pesquisa Econômicas dos Estados Unidos mostrou que 8,3% dos cientistas brasileiros estão desenvolvendo pesquisas lá fora. São grandes mentes, que foram descobertas durante o período de aperfeiçoamento em solo estrangeiro e trilharam carreira profissional longe de seu país. A base é tudo para uma carreira promissora. Conheço famílias no interior de São Paulo que preferem que suas crianças cursem high school no exterior a matriculá-las em escolas da Grande São Paulo. Além de ser mais barato, o estudante pode viver com mais liberdade e assimilar outro idioma mais cedo, o que torna o aprendizado mais fácil, com conhecimento ainda mais sólido para o futuro profissional.
         Diante desse contexto, o que se constata é que o planejamento é fundamental e também é a garantia de carimbar o passaporte profissional para uma carreira de sucesso, nacional ou internacional. E você, já pensou nisso? Nunca é tarde demais para viver experiências diferenciadas, seja como estudante de high school, de universidades, de cursos profissionalizantes, MBAs, ou até de cursos livres. Mais do que isso, o que importa é pensar no futuro para fazer a diferença e ter sucesso.”

(JOSÉ CARLOS HAUER SANTOS JR. Presidente do Student Travel Bureau (STB), em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 9 de setembro de 2014, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 19 de setembro de 2014, mesmo caderno, página 9, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Debate, réplica, tréplica
        Há de se dar plena razão aos que consideram a participação dos candidatos nos debates veiculados pelos meios de comunicação inócua e pouco relevante para o processo de discernimento dos eleitores. Também são coerentes os argumentos dos que apontam a propaganda eleitoral como verdadeira enganação. Pode não chegar a tanto, mas essas produções chamam a atenção pela exposição pouco nobre de pessoas que, no afã de ganhar voto, por meio de seus discursos, se desenham como “salvadoras da pátria”. Em suas falas, buscam aproximar-se dos heróis da ficção. Talvez, posse até constituir objeto de estudo a semelhança entre os personagens folclóricos da literatura e a imagem que a propaganda eleitoral produz sobre candidatos. Eles aparecem como cidadãos e cidadãs com identidade, trajetória e história não condizentes com o que, de fato, são: e sempre longe do que podem vir a ser. Viver de miragens do próprio ego, incontestavelmente, é uma das mais trágicas situações existenciais, com a produção de prejuízos para a cidadania e comprometimentos sérios na vida política.
         Neste sentido, o desempenho dos candidatos nos debates eleitorais não consegue corresponder às demandas do processo eleitoral. Na busca pelo voto a todo custo, sob a pressão das pesquisas, os candidatos à Presidência da República portam-se como se estivessem em um ringue de boxeadores, com uma plateia de torcedores. O eleitor-torcedor – perdão se for exagero –, não simplesmente movido pelo grande desejo de que sejam encontradas saídas para os graves problemas sociais, se deixa afetar por descompassos afetivos. Alegra-se ao ver seu candidato desferir “um golpe certeiro” no adversário. Os comentários pós-debate sublinham, sobretudo, como um “esfregar de mãos”, o discurso ferino, as evasivas de uns, as conivências e posturas comprometedoras de outros. O saldo é pouco educativo.
         De fato, lamentavelmente, as perguntas e as respostas formam uma dinâmica que se resume aos “golpes” e autoelogios. O processo tem muito da perversão humana, predatória, de ganhar e convencer por nocautear o outro. Os ataques perpassam a análise de incompetências . Também se fundamentam nas falhas morais que levam à corrupção e à incapacidade de se compreender que a cidadania, a presidência de uma república, o governo de um estado, da própria casa ou da empresa, alcança nobreza e incontestada importância quando a meta prioritária é o bem comum. Lamentável, pois, é a classificação medíocre da participação política. As escolhas vão sendo definidas por temas que não deveriam ser tão recorrentes na vida do povo.
         O atual processo de discussão sobre o perfil mais adequado para a Presidência da República, em vez de contribuir para a decisão do eleitor, deixa mais dúvidas, por se reduzir a lógica do ringue. Não se consegue revelar o perfil estadista dos candidatos. Além disso, é muito humilhante prestar-se à desmoralização mútua, lógica do discurso para simplesmente conseguir voto. Isto não é próprio de quem reúne condições para ser representante do povo no cargo mais importante do país. Não se está conseguindo construir um caminho em que os candidatos possam debater seus entendimentos, propostas e compromissos. Um percurso necessário para o amadurecimento dos projetos e, também, para o discernimento dos eleitores.
         Uma via possível é investir nas sabatinas em diferentes ambientes, enriquecidas pela presença de especialistas de diversos campos, representantes da sociedade – especialmente daqueles comprometidos com os interesses dos mais pobres – para ajudar na avaliação da estatura do candidato. Não é fácil dar este passo novo, por muitas razões. Alguns vão dizer que a política é assim no mundo inteiro e, por isso, a sociedade brasileira não teria condições de fazer diferente, tornando-se exemplo. Infelizmente,  a mediocridade na política brasileira é um veneno. Segue perpetuada pelos interesses partidários e desejo de galgar o poder; nele permanecer para fazer da máquina administrativa o lugar do serviço a seus pares, e não aos pobres.
         Incluindo a competência de gerentes, o carisma de líderes, o Brasil precisa de homens e mulheres com componentes morais para a saudável e relevante representação política. Esta tarefa consiste em compartilhar sentimento do povo e em buscar, com políticas emancipatórias –, a solução de problemas sociais. Tem este perfil quem exerce o poder com espírito de serviço. Isto significa ter paciência, moderação, modéstia, caridade e esforço de partilha – remédios para a ganância pelo poder. A corrupção política do sistema democrático não permitirá o surgimento de gente com o perfil esperado, perpetuando a triste conclusão de que os debates, com suas réplicas e tréplicas, mostram uma realidade pouco interessante. Revelam candidatos que buscam convencer o eleitor indicando que os outro são ainda piores.
         Que venham as reformas necessárias para mudar o cenário político e que chegue logo o momento em que nossos dirigentes exerçam o poder não como se fosse sua propriedade ou de partidos, mas como uma delegação, a vivência de uma representatividade. O façam ancorados sempre nas quatro exigências fundamentais: verdade, justiça, amor e liberdade, que podem dar envergadura e perfil a quem se aventura em propor seu nome a cargos eletivos e representativos.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam – em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, severo e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional) –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!....

O BRASIL TEM JEITO!...


terça-feira, 16 de setembro de 2014

A CIDADANIA, O NOBRE POLÍTICO E O MOMENTO CRUCIAL

“O nobre político
        
         A política brasileira está podre. Ela é movida a dinheiro e poder. “Dinheiro compra poder, e poder é uma ferramenta poderosa para se obter dinheiro. É disso que se trata as eleições: o poder arrecada o dinheiro que vai alçar os candidatos ao poder. Saiba que você não faz diferença alguma quando aperta o botão verde da urna eletrônica para apoiar aquele candidato oposicionista que, quem sabe, possa virar o jogo. No Brasil, não importa o estado, a única  coisa que vira o jogo é uma avalanche de dinheiro. O jogo é comprado, vence quem paga mais.” Assustador o diagnóstico que o juiz Márlon Reis faz da política brasileira. Conhecido por ter sido um dos mais vibrantes articuladores da coleta de assinaturas para o projeto popular que resultou na Lei da Ficha Limpa, foi o primeiro magistrado a impor aos candidatos a prefeito e a vereador revelar os nomes dos financiadores de sua respectivas campanhas antes da data da eleição. Seu livro O nobre deputado: relato chocante (e verdadeiro) de como nasce, cresce e se perpetua um corrupto na política brasileira (Ed. LeYa, 2014), inspirou o título do deste artigo.
         A radiografia do juiz, infelizmente, acaba de ser poderosamente confirmada pela s revelações feitas pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. Em resumo, amigo leitor, durante oito anos – de 2004 a 2012 – os contratos da maior empresa brasileira com grandes empreiteiras eram usados como fonte de propina para partidos políticos. Dá para entender as razões da crise da Petrobras. É pilhagem, saque, puro banditismo. Atinge em cheio os governos de Dilma e Lula.
         Trata-se só do começo. O ex-diretor decidiu fazer a delação premiada para tentar encurtar sua temporada na prisão. Não quer repetir a experiência de Marcos Valério, condenado a 40 anos de prisão. Quando Valério quis fazer acordo de delação premiada, o operador do mensalão não tinha mais nada a oferecer à Justiça porque o esquema já estava desvendado. Agora, a conversa é outra. Com o processo no início, não havendo ninguém denunciado, é o momento propício para Costa oferecer o que os investigadores precisam: os autores e as provas do crime. As coisas estão difíceis para os acusados.
         O novo escândalo é a ponta do iceberg de algo mais profundo: o sistema eleitoral brasileiro está bichado e só será reformado se a sociedade pressionar para valer. Hoje, teoricamente, as eleições são livres, embora o resultado seja bastante previsível. Não se elegem os melhores, mas os que têm mais dinheiro para financiar campanhas sofisticadas e milionárias. Empresas investem  sem qualquer idealismo. É negócio. Espera-se retorno do investimento. A máquina de fazer dinheiro para perpetuar o poder tem engrenagens bem conhecidas no mundo político: emendas parlamentares, convênios fajutos e licitações com cartas marcadas.
         Indignação? Desencanto? É óbvio. O macroescândalo da Petrobras promete. O mensalão vai parecer berçário. O Brasil está piorando? Não. Está melhorando. A exposição da chaga é o primeiro passo para a cura do doente. Ao divulgar as revelações do ex-diretor da Petrobras, a imprensa cumpre um papel relevante: impede que o escândalo fique na gaveta de uma CPI do Congresso.
         Existem razões para otimismo? Acho que sim. A Lei da Ficha Limpa começa a dar frutos. Muitos candidatos podem estar fora das eleições em outubro – um deles, José Roberto Arruda (PR), pressionado, desistiu da candidatura a governador do Distrito Federal. A promiscuidade entre políticos e empresas parece estar com os dias contados. O Supremo Tribunal Federal (STF), provavelmente, votará pelo fim das doações de empresas, na ação movida nesse sentido pela OAB. A imprensa de qualidade, livre e independente, está aí. Incomodando. Felizmente. Lei jornais. Informe-se. Acredite no Brasil, não em salvadores da pátria. E vote bem. O caminho é longo, mas vale a pena.”

(CARLOS ALBERTO DI FRANCO. Doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra (Espanha), em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 15 de setembro de 2014, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 13 de setembro de 2014, caderno PENSAR, página 2, de autoria de CID VELOSO, médico, foi reitor da Universidade Federal de Minas Gerais entre 1986 e 1990 e presidiu a Associação Médica de Minas Gerais de 1991 a 1993, e que merece igualmente integral transcrição:

“Momento crucial
        
         Superados na história humana os conceitos políticos de direita e esquerda devido à falência de experiências  e revoluções realizados em nome da ideologia esquerdista, resta redefinir as tendências dos grupos políticos ideológicos sejam extintos quanto que seja vitorioso o princípio monolítico do poder do dinheiro dobre todas as coisas.
         Assim, podem-se conceituar duas tendências básicas de atuação política de governantes, sem desconhecer que os conceitos não são rígidos nem radicais, mas representam posições que influem nas ações dos grupamentos humanos. Em alguns governos, houve alguma confluência das tendências e, na maioria, houve radicalização das ações governamentais.
         A primeira tendência é a do capitalismo radical, selvagem, denominado neoliberalismo, que basicamente privilegia, no topo das ações, leis e discursos, o império do dinheiro, da economia e dos valores materiais. Ouvi uma frase que define bem o neoliberalismo: prevalece o princípio de que devemos olhar e cuidar do próprio umbigo, não nos interessando pelo outro – o parente, o vizinho, o colega de trabalho, a comunidade. Em outras palavras: cada um para si e nem Deus para todos. É sempre citado o princípio da civilização capitalista, que prega a liberdade total (com pouca interferência do governo, o chamado governo mínimo) de atuação econômica e financeira, garantindo que o mercado atue como a mão invisível que regula todas as transações e ações econômicas.
         Embora tudo isso seja real e possa participar da política de uma maneira controlada, há um fato que ainda não é citado e passa batido, por se tratar de um segmento da sociedade que tem pouca voz: as classes C, D, E, F e G e os “excluídos” (pobres, negros, homossexuais e trabalhadores da lavoura, entre outros). Eles não estão incluídos nesse mercado, portanto, não são beneficiados pela dinâmica da “mão invisível”. Acredito, portanto, que essa dinâmica deve existir, mas com interferência do Estado (no sentido amplo, incluindo os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário) para criar condições de incluir as classes desprivilegiadas.

MISÉRIA NOS EUA O país paradigmático desse sistema é os Estados Unidos. A nação mais rica do mundo, mais poderosa e mais militarizada tem uma grande massa populacional excluída: 40 milhões de pessoas não contam com assistência à saúde regular formal, pois lá não existe Sistema Único de Saúde (SUS) – que é cheio de problemas, mas atende realmente toda a população brasileira. Com demora e filas, mas atende. Esses cidadãos americanos não podem pagar planos de saúde nem médicos particulares; só são atendidos em caso de acidente ou urgência por algumas instituições filantrópicas limitadas. Visitando Seatle no fim do ano passado, vi muitos moradores de rua dormindo em passeios e praças. Anteriormente, nos arredores de New Orleans, pude ver muitas casas em áreas semelhantes às nossa favelas com moradores em estado de grande pobreza.
         Infelizmente, temos presenciado em quase todo o mundo a atitude neoliberal de cuidar de si – os outros que se danem, Faço parte da classe média, mas tenho criticado muito a “atitude de classe média”. De vez em quando, no bairro onde moro, vejo ocupantes de carros que passam por minha rua jogarem latinha de cerveja ou papel velho pela janela. Temos um sistema de vigias em minha rua, contribuímos com mensalidades para mantê-lo, mas alguns vizinhos não participam, por decisão individual, embora estejam sendo vigiados!

CLASSE MÉDIA Essa detestável “atitude classe média” é evidente no trânsito. Não se concede espaço para o carro que sai da garagem, fura-se sinal vermelho em faixa de pedestre, bloqueiam-se cruzamentos. O pior é que quem adota essas atitudes são exatamente os que cometem a “pequena corrupção” de cada dia: sonegam impostos; não exigem nota fiscal; pagam honorários médicos menores sem recibo; burlam os fiscais da alfândega quando trazem compras do exterior; obtêm atestado medido falso para faltar ao serviço; compram DVDs piratas; fazem “gatos” de ligações de luz e de TV. Condenam a violência, mas compram cocaína para um festinha à noite em casa – contradição inaceitável.
         Nos últimos tempos, tivemos finalmente a legislação para beneficiar empregados domésticos. Vigora a lei que regula a profissão. Apesar da demora, vêm sendo regulamentados o FGTS e o auxílio-desemprego para esses profissionais, além da lei que pune quem não paga o INSS dos domésticos. Além disso, o salário mínimo, que teve reajustes importantes nos últimos anos, favorece a classe. O que se ouve frequentemente  em nosso meio é a queixa de que não há mais empregado doméstico e está muito difícil manter um deles. Só faltam dizer, mas está subentendido, que  deveria ser mantida a situação anterior de informalidade e exploração da mão de obra escrava.
         A segunda tendência política de governantes é o conjunto de ações, leis, discursos e projetos destinados às classes mais desprotegidas. Era chamado socialismo, mas devemos evitar o nome, queimado por experiências ditatoriais histórias que não devem se repetidas ou copiadas. Essa política privilegia o direcionamento de recursos orçamentários  e leis para dar a todos oportunidades iguais, principalmente em termos de educação, condições básicas de vida e segurança pública. Não se trata de distribuir a riqueza, retirando dos ricos  e dando aos pobres, como dizem em tom crítico os que são contra, mas de proporcionar a todos oportunidades para estudar e crescer profissionalmente, reduzindo-se a desigualdade econômica e social. A proposta não é dar esmolas (deve-se eliminá-las baseado no velho aforismo “não dê o peixe, mas ensine a pescar”), mas apoiar e ajudar pessoas em situação crítica. Também não creio na divisão equitativa dos ganhos, pois deve haver um diferencial segundo competência, criatividade e liderança. O que não é aceitável é a enorme desigualdade entre o patrão e o trabalhador.
         É lógico que o empreendedor tem mais visão, mais coragem de investir, corre maior risco, mas é o trabalhador quem efetiva o negócio, devendo ter participação real mais significativa nos resultados/lucros. Várias empresas avançaram e mantêm a política de participação de lucros, embora muito abaixo do justo. Assim, são louváveis os programas de farmácia popular, casa própria, Mais Médicos, leis para empregados domésticos, valorização do salário mínimo, Bolsa-família, cotas em universidades e restaurantes populares.
         Obviamente, para um governo atuar de acordo com a segunda tendência, são necessários recursos econômicos. Portanto, devem ser desenvolvidas ações para obtê-los, incentivando a indústria, diminuindo os gastos públicos, mantendo boa política cambial, estimulando a exportação, reduzindo as importações, reformulando a política fiscal, combatendo a corrupção – o que o atual governo não está fazendo suficientemente. O ponto fundamental é: essas ações econômicas são necessárias, mas não devem ser o foco principal do governo, que deve atuar intensivamente na política de diminuir a desigualdade econômica e proporcionar aos cidadãos de classes mais desprotegidas oportunidades reais.
         O capitalismo radical/neoliberalismo é dominante por causa da índole do homem de competir, lutar contra os outros, conquistar espaços, progredir e enriquecer, perseguindo desesperadamente o poder do dinheiro sem ética, sem caridade e sem sentido humanitário. O dinheiro acaba corrompendo todos os governos (não é só no Brasil), os políticos, as eleições, a imprensa e as religiões, deixando mínimo espaço para atitudes e atividades comunitárias, sociais e humanitárias.

BEM-ESTAR É muito difícil mudar a tendência capitalista em favor de governos mais voltados para o bem-estar da população. As revoluções comunistas tiveram inicialmente esse objetivo, mas não conseguiram sucesso por ter implantado ditaduras ferozes, que descaracterizaram os princípios de convivência social livre e democrática. Várias nações europeias adotaram a política do bem-estar social, mas, depois dos governos de Margareth Thatcher, na Inglaterra, e Ronald Reagan, nos EUA, o continente descambou para o neoliberalismo. Um reflexo claro disso foi a crise que ocorreu em 2008: a população protestou violentamente contra cortes na área social, sobretudo na Grécia, Espanha e Portugal. Apenas os escandinavos ainda mantêm grande parte dessa política de bem-estar social.
         Em resumo: a humanidade é muito complexa, mas precisa caminhar para um modelo de maior solidariedade, maior proteção social aos excluídos e maior espírito comunitário, desenvolvendo políticas econômicas  apenas suficientes para sustentar esse modelo.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, destaca a mídia: “Mais de US$ 30 bilhões em dinheiro sujo ligado à evasão de impostos, ao crime e à corrupção saem do Brasil todos os anos, o dobro de uma década atrás, mostrou um estudo do Global Financial Integrity (GFI), um grupo de pesquisa baseado em Washington que defende a transparência financeira...”; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
     
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria..
     
     Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos);  a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...      

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A CIDADANIA, O SOCIALISMO HUMANÍSTICO E A AGENDA ATRAVÉS DO JORNAL DE QUALIDADE


“A necessidade de assumir o socialismo humanístico
        A nossa geração viu caírem dois muros aparentemente inabaláveis: o de Berlim, em 1989, e o de Wall Street, em 2008. Com o muro de Berlim, ruiu o socialismo marcado pelo estatismo, pelo autoritarismo e pela violação dos direitos humanos. Com o muro de Wall Street, se deslegitimaram o neoliberalismo como ideologia e o capitalismo como modo de produção.
         Apresentavam-se como duas visões de futuro e duas formas de habitar o planeta, agora incapazes de nos dar esperança e de reorganizar a convivência planetária.
         É nesse contexto que ressurgem as propostas vencidas no passado, mas que podem ter agora chance de realização, como a democracia comunitária e o “bem viver” dos andinos.
         O capitalismo realmente existente (a sociedade de mercado) eu descarto de antemão porque é tão nefasto que, a continuar com sua lógica devastadora, pode liquidar a vida humana sobre o planeta. Ao socialismo, particularmente o PSB com o lamentado Eduardo Campos, cabem algumas chances.
         Os fundadores do socialismo (Marx pretendeu dar-lhe um caráter científico contra os outros que chamava de “utópicos”) nunca o entenderam como simples contraposição ao capitalismo, mas como a realização dos ideais proclamados pela revolução burguesa: a liberdade, a dignidade do cidadão, o seu direito de livre desenvolvimento e a participação na construção da vida coletiva e democrática. Gramsci e Rosa Luxemburgo viam no socialismo a realização plena da democracia.
         A questão básica de Marx era: por que a sociedade burguesa não consegue realizar para todos os ideais que ela proclama? Produz o contrário do que quer. A economia política deveria satisfazer as demandas humanas (comer, vestir-se, morar, instruir-se, comunicar-se etc.), mas, na verdade, ela atende as necessidades do mercado, em grande parte artificialmente, e visa a crescente lucro.
         Para Marx, a não consecução dos ideais da revolução burguesa não se deve à má vontade dos indivíduos ou dos grupos sociais. É consequência inevitável do modo de produção capitalista. Esse se baseia na apropriação privada dos meios de produção (capital como terras, tecnologia etc.) e na subordinação do trabalho aos interesses do capital. Tal lógica dilacera a sociedade em classes, com interesses antagônicos, incidindo em tudo: na política, no direito, na educação etc.
         As pessoas na ordem capitalista tendem facilmente, quer queiram, quer não, a se tornar desumanas e estruturalmente “egoístas”, pois cada qual se sente urgido a cuidar, primeiro, de seus interesses e somente depois dos interesses coletivos.
         Qual é a saída excogitada por Marx e seguidores? Trocar de modo de produção. No lugar da propriedade privada, introduzir a propriedade social. Mas adverte Marx: a troca do modo de produção não é ainda a solução. Ela não garante a nova sociedade, apenas oferece as chances de desenvolvimento dos indivíduos que não seriam mais meios e objetos, mas fins e sujeitos solidários na construção de um mundo realmente com rosto humano. Mesmo com essas precondições, as pessoas têm que querer viver as novas relações. Caso contrário, não surgirá a nova sociedade. E diz mais: “A história não faz nada; é o ser humano concreto e vivo que tudo faz; a história não é outra coisa que a atividade dos seres humanos buscando seus próprios objetivos”.
         Minha aposta: iremos na direção de uma crise ecológico-social de tal magnitude que, ou assumimos o socialismo com esse teor humanístico, ou então não teremos como sobreviver.”

(LEONARDO BOFF. Filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 29 de agosto de 2014, caderno O.PINIÃO, página 20).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 1º de setembro de 2014, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de CARLOS ALBERTO DI FRANCO, diretor do Departamento de Comunicação do Instituto Internacional de Ciências Sociais (IICS) e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra (Espanha), e que merece igualmente integral transcrição:

“Jornal pauta a agenda
        Relatora de liberdade de expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), a colombiana Catalina Botero agradeceu a coragem dos jornalistas que revelam tramas de corrupção e graves violações dos direitos humanos. Em discurso no último dia do 10º Congresso Brasileiro de Jornais, realizado recentemente em São Paulo, ela frisou a importância do jornalismo profissional e independente para o desenvolvimento e a manutenção dos regimes democráticos e disse ter a certeza de que “a imprensa escrita não poderá ser substituída por mensagens de 140 caracteres”.
         As redes sociais e o jornalismo cidadão têm contribuído  de forma singular para o processo comunicativo e propiciado novas formas de participação, de construção da esfera pública, de mobilização do cidadão. Mas as notícias que realmente importam, isto é, que são capazes de alterar os rumos de um país, são fruto não de boatos ou meias verdades disseminadas de forma irresponsável ou ingênua, e sim de um trabalho investigativo feito dentro de rígidos padrões de qualidade, algo que está na essência dos bons jornais impressos.
         A confiança da população na qualidade ética dos seus jornais tem sido um inestimável apoio para o desenvolvimento de um verdadeiro jornalismo de buldogues. O combate à corrupção só é possível graças à força do binômio  que sustenta a democracia: imprensa livre e opinião pública informada.
         “Poucas coisas podem ter o mesmo impacto que o jornal tem sobre os funcionários públicos corruptos, sobre os políticos que se ligam ao crime, que abusam do seu poder, que traem os valores e os princípios democráticos”, sublinhou Catalina. Os jornais, de fato, determinam a agenda pública e fortalecem a democracia. Políticos e governantes com desvios de conduta odeiam os jornais. Mas eles são, de longe, os grandes parceiros da sociedade. A plataforma digital reverbera, amplifica. Mas a pauta nasce nos jornais. A frivolidade digital não faz contraponto e não edifica a democracia.
         Navega-se freneticamente no espaço virtual. Uma enxurrada de estímulos dispersa a inteligência. Fica-se refém da superficialidade e do vazio. Perde-se contexto e sensibilidade crítica. A fragmentação dos conteúdos pode transmitir certa sensação de liberdade. Não dependemos, aparentemente, de ninguém. Somos os editores do nosso diário personalizado. Será? Não creio, sinceramente. Penso que há uma crescente demanda de jornalismo puro, de conteúdos editados com rigor, critério e qualidade técnica e ética. Há uma nostalgia de reportagem. É preciso recuperar, num contexto muito mais transparente e interativo, as competências e o fascínio do jornalismo de sempre.
         Jornalismo sem brilho e sem alma é uma doença que pode contaminar redações. O leitor não sente o pulsar  da vida. As reportagens não têm cheiro do asfalto. As empresas precisam repensar os seus modelos e investir poderosamente no coração. É preciso dar novo vigor à reportagem e ao conteúdo bem editado, sério, preciso, ético. É preciso contar boas histórias. Com transparência e sem filtros ideológicos.
         A precipitação e a falta de rigor são vírus que ameaçam a qualidade. A incompetência foge dos bancos de dados. Na falta de pergunta inteligente, a ditadura das aspas ocupa o lugar da informação. O jornalismo de registro, burocrático e insosso, é o resultado acabado de uma perversa patologia: a falta de planejamento, o despreparo de repórteres e a obsessão de editores com o fechamento. Quando editores não formam os seus repórteres, quando a qualidade é expulsa pela ditadura do deadline, quando as pautas não nascem da vida real, mas de pauteiros anestesiados pelo clima rarefeito das redações, é preciso ter a coragem de repensar todos os processos.
         A fortaleza do jornal não é dar notícia, é se adiantar e investir em análise, interpretação e se valer de sua credibilidade. Não é verdade que o público não goste de ler. Não lê o que não lhe interessa, o que não tem substância. Um bom texto, para um público que adquire a imprensa de qualidade, sempre vai ter interessados.”

Eis, pois, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (por exemplo, segundo reportagem da Folha de São Paulo, de 14 de dezembro de 1994: “A CEI (Comissão Especial de Investigação) apurou que nos últimos quatro anos a remessa ilegal de dólares ao exterior chegou a US$ 20 bilhões, o que equivale a 15% da dívida externa do Brasil...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (transportes, trânsito, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação); cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...