segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A AMIZADE NA CIDADANIA (8/52)

(Fevereiro = Mês 8; Faltam 52 meses para a COPA DO MUNDO DE 2014)

“[...] O livro dos mandarins (Editora Alfaguara), recentemente lançado, fala da rotina e das diatribes de Paulo, que persegue o sonho de ocupar na China uma vaga criada pelo banco multinacional onde trabalha, almejando depois outra função em Londres.

[...] Mais: é um livro que faz pensar sobre nossa história recente, sobretudo neste momento de crise avassaladora de valores que atinge o Brasil, em que há um despudorado silêncio quanto ao convívio entre a política e a corrupção, fruto de uma simbiose criminosa e tantas vezes camuflada entre o público e o privado. [...]”
(RONALDO CAGIANO, in artigo “Mundo em CRISE S/A”, publicado no Jornal ESTADO DE MINAS, edição de 30 de janeiro de 2010, Caderno PENSAR, página 3, sobre o livro de Ricardo Lisias).

Mais uma IMPORTANTE contribuição para o nosso trabalho de MOBILIZAÇÃO PARA A CIDADANIA E QUALIDADE vem de artigo publicado no Jornal ESTADO DE MINAS, também de 30 de janeiro de 2010, Caderno PENSAR, página 2, de autoria de JOÃO PAULO, Editor de CULTURA, que merece INTEGRAL transcrição:

“Dois amigos, duas cidades

Santo Agostino, já no século 4, foi sábio em muita coisa, da psicologia à teologia. E o foi também em política. Uma de suas intuições dizia respeito a duas ordens de amores, que geravam duas formas de sociedade. Para cada tipo de amor (o amor dos homens e o amor de Deus), uma cidade. É claro que ele defendia o amor cristão e a cidade de Deus. Mas a ideia que um sentimento sustenta um projeto de civilização é forte o suficiente para entender alguns os impasses que vivemos ainda hoje como homens falhos, em busca de um mundo que nos permita conviver com nossos defeitos e, mesmo assim, apresentar o melhor de nós como projeto. Só quem conhece seus defeitos pode querer melhorar e colocar limites a si mesmo no trato com o outro.

A recente situação dramática no Haiti mostra, com sua face mais cruel, que, assim como há dois amores, existem dois tipos de amizade. O país, que carrega a história nobre de ter sido sede da primeira luta vitoriosa de libertação dos escravos feita pelos próprios cativos animados pelos princípios da Revolução Francesa, se tornou, em razão mesma de sua ligação orgulhosa com a liberdade, um território temido pelo contágio com a defesa da igualdade. As nações ricas isolaram o país como quem se defende de um câncer social. A liberdade servia aos europeus, mas era perigosa em territórios onde a dominação era lucrativa. Entregue ao cruel jogo dos interesses internacionais, o Haiti se viu dominado historicamente pela França, Espanha e Estados Unidos e se torno o mais pobre país das Américas.

Hoje, depois da tragédia que matou dezenas de milhares de pessoas, se percebe um esforço internacional para ajudar o país e promover sua reconstrução. É a face de uma forma de amizade, humanizada pelo sofrimento, que se dispõe a recuperar um crime secularmente imposto ao povo. É claro que o sentimento é nobre e a solidariedade real, mas é também indicativa de duas formas de amizade que, como os amores agostinianos, podem gerar dois projetos de intervenção no Haiti. Há o amor de iguais e o amor de desiguais.

O primeiro impulsiona a política, o segundo a economia. O mundo, hoje, é território do afeto de desiguais, da competição tornada método de civilização. É preciso ser sincero e objetivo: a concorrência (que está na base de produção e das relações humanas no mundo pós-industrial) é ótima para produzir mercadorias, mas nada demonstra que sirva para tornar os homens melhores. Um homem competitivo é um homem (no sentido antropológico) pior, ainda que produza mais e prospere economicamente.

A amizade de iguais é a base da boa política. Basta fazer um pequeno exercício de autoanálise: quem é seu amigo, o que ele tem que o distingue o torna digno de afeto? Certamente não é a excelência nem a perfeição. Escolhemos nossos amigos por uma imponderável vontade de gostar e ser gostado. Nossos amigos são pessoas comuns, que se destacam dos outros porque aceitamos seus defeitos e sabemos que eles aceitarão os nossos. A amizade é uma operação de humildade: conhecemos nossos limites, mas entendemos que mesmo assim podemos partilhar a dimensão humana com outros que nos completam. A competição não cabe no terreno da amizade. Quem disputa não ama.

MELHOR E PIOR Por isso a amizade é a chave para a política e para a vida social. E é exatamente por isso que é preciso destacar sua alta produtividade social. Numa sociedade madura, a civilidade é a dimensão pública da amizade. Quem trata o outro, na sua indefinição pessoal de cidadão, como um igual não fura filas, não frauda, não sonega, não corrompe, não mente, não trapaceia. Cidadania é o nome da amizade vivida publicamente. Talvez seja por isso que nos agrade tanto participar de momentos de cidadania explícita, de amizade pública, como os movimentos de ajuda humanitária. Fazer o bem é uma forma de exercitar o que temos de melhor: ser amigo do outro. Qualquer outro.

Mas não se trata de uma operação assim tão fácil. O outro, que nos enternece, também nos ameaça: disputa os mesmos cargos, os mesmos objetos de status, a mesma distinção social. Nosso tempo é de exclusão, de acirrada disputa para se destacar do outro e justificar a existência na posse de exemplos sofisticados de singularidade e celebridade. Tudo está a indicar que vencer o outro é o caminho do paraíso. É assim no mercado de trabalho, no terreno da produção e até do conhecimento estandartizado pela burocracia falsamente meritocrática das universidades. A cultura da competição dá provas de sua eficácia em termos de resultado, enquanto vai piorando as pessoas moralmente. Com isso, a presença do outro (nosso amigo civil imaginário) pode se tornar fonte de ameaça. A saída é destronar a política em nome dos interesses de grupos, que se isolam como se constituíssem células isoladas, que terminam por criar um espaço privatizado de clubes, condomínios fechados, sociedades defesas do contato com a alteridade. A forma de amizade que vence, nesse contexto, é a dos desiguais que se protegem de outros desiguais. O outro é uma ameaça. Qualquer outro.

COOPERAÇÃO E SOLIDARIEDADE A saída para esse impasse não está em, candidamente, trocar a competição pela colaboração, mas compreender que cada uma deve funcionar em seu território. À produção de mercadorias, a saudável competição que gera eficiência, excelência e economia; ao mundo social que deseja se humanizar, a cooperação e a solidariedade. É o que faz das ações meritórias aos desconhecidos algo tão reconhecidamente bom e prazeroso. As raízes dessa divisão podem ser localizadas num tempo, um tanto fluido, que deu origem, na mesma quadra temporal, ao capitalismo moderno e ao iluminismo. O mesmo que aprendeu a produzir com eficiência descobriu a noção de espaço público, que é um bem de todos, não privatizável, objeto do império da lei e que diz respeito a todos. O homem-cidadão é irmão do homem-econômico. Os ideais de regulação humana do iluminismo (as célebres noções de igualdade, liberdade e fraternidade) precisam se manter operativos para que a vida social e as conquistas políticas sigam adiante, independentemente de governantes ou do espírito da época. É preciso que o homem goste de ser humano, o que o coloca como amigo potencial de todos os outros homens. Fora disso, o mundo que se divide entre guetos e enclaves, tocado pelo medo.

O Haiti é um Estado nacional que, nos últimos anos, foi objeto de intervenção internacional com o objetivo de recuperar condições de governança e autonomia, mantidas por forças de paz. A lógica que perseverava era a da indigência própria em alterar sua situação de dissolução política em razão de sucessivos governos autoritários, mantidos pelos próprios países que, em seguida, em seguida, se ofereceram para ajudar a nação a sair do buraco cavado para eles. Há uma tendência de enfraquecer os Estados nacionais em nome de interesse do mercado transnacional privatizante, dissolvendo as leis no caldo da cultura do mercado. Em tal situação, o cidadão se torna cidadão-consumidor.

Quando, no entanto, essa política encontra contextos pobres, como no Haiti e em alguns países da África, o interesse econômico imediato (a não ser que existam riquezas minerais ou franqueamento à exploração do trabalho) se dissolve. A saída tem sido a caridade, um esforço desigual de definir o outro por sua carência. Que a consciência mundial tenha despertado para sua responsabilidade é, pelo menos, um alento. A Aids, na África, por exemplo, não parece ter seduzido tanto depois que a doença se tornou tratável no Primeiro Mundo: o interesse não era humanitário, mas pessoal. Um cuidado gerado pelo risco de contágio não persevera em cultura de amizade.

Foi a falta de amizade que gerou a miséria no Haiti. Só a amizade pode salvá-lo agora. E pode resgatar o sentido da vida não apenas ao país destruído pela tragédia da natureza e inimizades da história. O mundo, como sonharam os iluministas, ou será um território de amigos ou não será. O futuro será uma praça ou um shopping. A escolha é urgente.”

Eis, pois, mais páginas que nos MOTIVAM e nos FORTALECEM nessa grande CRUZADA NACIONAL pela AMIZADE, CIDADANIA E QUALIDADE, que possa permitir a PARTILHA de nossas EXTRAORDINÁRIAS RIQUEZAS de modo a tornar BENEFICIÁRIOS diretos TODOS os BRASILEIROS e TODAS as BRASILEIRAS, como o EXIGE uma SOCIEDADE verdadeiramente JUSTA, ÉTICA, LIVRE, DESENVOLVIDA e SOLIDÁRIA.

Este é o nosso SONHO, a nossa LUTA, a nossa FÉ e ESPERANÇA!...

O BRASIL TEM JEITO!...