quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A CIDADANIA COMEMORA: HELENA, 80 ANOS!


“Convém apontar alguns princípios que sirvam de guia aos trabalhos em marcha:

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2 – Nutrir confiança nos homens e no valor do elemento humano, por mais humilde que seja. Procurar na criança débil ou deficiente, no adolescente desajustado, ou no indivíduo adulto, sem cultura, sem preparo profissional, “leigo”, pela força das circunstâncias que não lhe deram oportunidades escolares “de aprendizagem”, a colaboração, pois pode se encontrar no meio de todos eles indivíduos de invulgar inteligência, de fortes aptidões especiais e de virtudes morais de grande valor para a coletividade.

3 – Manter viva a confiança na democracia e esperar da cooperação, franca e organizada de todos, efeitos substanciais para a sociedade em evolução.

4 – Persistir na idéia de que o verdadeiro progresso social, econômico, político e espiritual não se opera senão através da educação, da educação esmerada das novas gerações, principalmente, cabendo assim aos educadores a máxima responsabilidade tanto pelos males que afligem os povos quanto pelo bem-estar alcançado.”

(Extraído do “Histórico” da Fazenda do Rosário, publicado por D. Helena Antipoff em setembro de 1952. Publicado no Boletim da Sociedade Pestalozzi do Brasil, 1953).

Mais uma NOTÁVEL e ESTIMULANTE lição vem de artigo publicado no Jornal ESTADO DE MINAS, edição de 11 de outubro de 2009, Caderno CULTURA, página 8, de autoria de AFFONSO ROMANO SANT’ANNA, que merece INTEGRAL transcrição do texto:
A educadora Helena Antipoff e seus jovens amigos, em 1963, em Ibirité
“Helena, há 80 anos

Há algumas vantagens em ter “certa idade”. Você não maneja o twitter como um adolescente, mas pode dizer: “Conheci Helena Antipoff”. Isso não é pouca coisa. A idade também é uma tecnologia.

Acabo de descobrir que 2009 tem alguma coisa a ver com 1929. Não, eu não havia nascido ainda, mas foi em 1929, há 80 anos, que Helena Antipoff aceitou o convite para trocar Genebra, onde trabalhava com Edouard Claparede, por Belo Horizonte. Ela poderia ir para o Egito, onde também a queriam. Mas aceitou o chamado do governo Antônio Carlos, e o ensino em Minas nunca mais foi o mesmo.

Estou lendo uma “entrevista virtual” com Helena Antipoff, que Rogério Alvarenga fez, extraindo suas palavras de livros e entrevistas. Vou lhes garantir uma coisa: se alguém se dispusesse a escrever a biografia detalhada dessa russa excepcional, uma biografia minuciosa com essa que Benjamin Moser fez de Clarice Lispector, e que acaba de lançar nos Estados Unidos com grande êxito; se alguém recuperasse, num livro, a vida épica, dramática, lírica e exemplar de Helena Antipoff, teríamos o roteiro de magnífico filme, que retraçaria também a história do século 20: Rússia, Europa e Brasil. Mãos à obra, roteiristas de Minas!

Aí está a história de seu pai – general do czar Nicolau II, primeiro aluno da Academia Militar, mas que acabou consertador de sapatos num lugar qualquer da Rússia. Aí está narrada a trajetória da jovem Helena, que, tendo ido estudar em Paris, na Sorbonne, largou tudo para procurar o pai, caído em desgraça no caos revolucionário soviético. (Isso é mais emocionante que o cinematográfico O resgate do soldado Ryan). Aí estão também as peripécias para salvar e manter o marido, Victor, perseguido pelo governo e exilado em Berlim. Aí está narrado o período de fome e miséria, quando Daniel, filho de Helena com Victor, foi exposto na escola de medicina russa como exemplo de raquitismo.

E, no entanto, essa mulher excepcional, em plena tragédia do comunismo russo, consegue iniciar seu trabalho de educação de “delinqüentes”, como eram chamados jovens perdidos nos bosques “tosquiados como cordeiros”. “É difícil imaginar o que passei no período de 1917 a l921” – diz ela. “Catava-se resina de árvore para saciar a fome. Armadilhas para pegar algum coelho”. É difícil imaginar, penso eu, que intelectuais do mundo inteiro tenham, no século 20, iludido-se com a tragédia soviética. Vão dizer: o regime do czar era um horror. Mas não se combate um horror com outro horror, ou um erro com outro erro.

E Helena chega a Minas. Aqui, um outro capítulo dessa vida romanesca, do Mar Báltico a Ibirité. Uma geração privilegiada a espera. E ela vai citando Marques Lisboa, Jeane Milde, Alda Lodi, Arduino Bolívar, José Lourenço, Alaíde Lisboa, Lúcia e Mário Casassanta, Guilhermino César, Fernando Magalhães Gomes, Lincoln Continentino, padre Negromonte, Olga Ullman, Elza de Moura. Sem contar Abgard Renault e Drummond, o qual também escreveu sobre ela.

E ela narra seus primeiros dias naquela Belo Horizonte de 80 anos atrás: “Montei também meu próprio ritmo pessoal. Ao chegar à casa, vindo do trabalho, ia me deitar às 21h30. Das 23h às 4h, estudava e preparava aulas. Dormia das 4h às 6h, quando me preparava para chegar à escola às 7h. Pegava o bonde e descia na porta da escola. Tudo calmo. A cidade tinha 200 mil habitantes”.

Há pessoas que fazem história. Elegante, culta, simples, bem me lembro dela nas famosas festas do milho, na Fazenda do Rosário. Seu filho Daniel, também brilhante e modesto, deixou depoimentos sobre ela. Mas há muito, muito mais a contar.

Escritores, roteiristas, mãos à obra!

Pois uma personagem maravilhosa habitou algum tempo entre nós!

Ter Helena Antipoff no Brasil e em Minas foi um luxo.”

E, ORGULHOSAMENTE, continuamos: ter HELENA ANTIPOFF em IBIRITÉ foi um LUXO!...

A vida e a obra, e assim a HISTÓRIA de HELENA ANTIPOFF nos FORTALECEM na FÉ e ESPERANÇA de um BRASIL verdadeiramente JUSTO, LIVRE, ÉTICO, DESENVOLVIDO e SOLIDÁRIO, inexoravelmente, nas TRILHAS da EDUCAÇÃO...

O BRASIL TEM JEITO!...

3 comentários:

Maria Helena Santos disse...

Ter Helena Antipoff foi um luxo para Ibirité, Minas e o Brasil. Sim ela poderia ter ido para outro país, mas quis a história que ela viesse para Minas. Em 1952, ela escrevia que a educação era o caminho para o desenvolvimento social e economico...em 2009 ainda não encontramos rumo e nossa educação trilha um caminho do descaso, da "maquiagem pedagócica" de quem tudo vai bem, dos malabarismo de políticos que "inventam" fórmulas para acelelar a aprenizagem, recuperar tempo perdido e na realidade nada acontece, educadores sem invencitivo, que apanham de alunos em sala de aula ( recente reportagem divulgada na tv um aluno bateu na cabeça de um professor e disse que foi "brincadeira" - cadê o respeito??? - Sim Helena foi um luxo que estamos esquecendo.... o que diria ela hoje ao ver o resultado do trabalho que inciou... como está indo a sua obra?? .... quem deu continuidade ao seu estudo pedagógico???...quem segue realmente os ensinamentos de Dona Helena??? ou ela se tornou um ícone do passado lembrado apenas para se fazer política em busca de votos??? Onde estiver Dona Helena, olhe por nossos educadores, olhe por nossas crianças e olhe por aqueles que a senhora tanto lutou em vida...

Sileny disse...

Olá! moro atualmente em Mateus Leme/MG, mas fui criada em Ibirité e mudei no ano de 1993, quando faleceu minha mãe, que por sinal trabalhou junto com dona Helena antipoff. Lembro dela contar as inúmeras histórias daquela fazenda do Rosário que ajudou desde o início,inclusive das festas que tinha e dos amigos que encontravam para divertir. Minha mãe dona Dorcelina andrade, teve papel importante nessa História mas é uma pena não ser citada, como muitas outras pessoas que contribuiram para esse sucesso que é hoje a Fundação Pestalozzi e Fundação Helena Antipoff.Quando foi para Ibirité em 1940, construiu uma casa enorme onde pensionava moças que vinham de várias regiões para estudar. Formava uma turma e chegava outra e muitas das moças ficavam com minha mãe. Quando nasci em 1970, minha mãe já não recebia mais as moças. Trabalhou no antigo artezanato,na FEER, Escola Sandoval de Azevedo,na adav e por último aposentou na Escola Pedro Evangelista diniz no centro de Ibirité. Tive o prazer de estudar na antiga FEER que hoje é a fundação universitária Helena antipoff, estudei também na Escola Sandoval de Azevedo e no Artezanato onde hoje funciona a Zoonose de Ibirité. Assistia ao filme de dona Helena que passava no auditório da fundação assim chamado. apresentei várias peças de teatro, várias danças folclóricas naquele auditório, era lá que faziamos a coroação de Nossa Senhora e tenho muito orgulho de dizer que sou uma ibiriteense de alma. Que bom essa oportunidade de falar um pouco de minha mãe que com certeza trabalhou com carinho e dedicação para ajudar aquela que tanto ela elogiava quando sentava conosco para contar as histórias reais daquele tempo.Obrigado por isso. Um grande abraço.

Arminda disse...

D. Helena,

Figura ilustre. Mente brilhante que Ibirité acolheu e que foi um marco na educação mineira, na formação de professores. Foi professora de minha irmã.