terça-feira, 20 de outubro de 2009

NA CIDADANIA A GENTE DECIDE

“A polis se diferenciava da família pelo fato de que a primeira só conhecia ‘iguais’, ao passo que a segunda era o centro da mais estrita desigualdade. Ser livre significava não estar submetido à necessidade da vida nem sob o mando de alguém e não mandar em ninguém, isto é, não governar nem ser governado. Assim, pois, dentro da esfera doméstica, a liberdade não existia, já que o cabeça da família só era considerado livre quando tinha a faculdade de abandonar o lar e entrar na esfera política, onde todos eram iguais. Nem é preciso dizer que essa igualdade tem muito pouco em comum com nosso conceito de igualdade: significava viver e tratar apenas entre pares, o que pressupunha a existência de ‘desiguais’ que, naturalmente, sempre constituíam a maioria da população numa cidade-estado. Portanto, a igualdade, longe de estar relacionada com a justiça, como nos tempos modernos, era a essência da própria liberdade: ser livre era sê-lo da desigualdade presente no governo e mover-se numa esfera em que não existiam nem governantes nem governados.”
(HANNAH ARENDT, in A condição humana)

Mais uma IMPORTANTE contribuição para o nosso trabalho de MOBILIZAÇÃO PARA A CIDADANIA E QUALIDADE vem de artigo publicado na Revista VEJA, edição 2135 – ano 42 – nº 42, de 21 de outubro de 2009, página 26, de autoria da escritora LYA LUFT, que merece INTEGRAL transcrição:

“A gente decide

No dia dos seus 102 anos, uma adorável matriarca está sentada junto à mesa de sua cozinham rodeada de filhas e amigas. Ela corta os quiabos que serão preparados e servidos mais tarde aos visitantes, como de costume. Entrevistada, diz ao jornalista: “A vida, a gente é que decide. Eu escolhi a felicidade”.

A aniversariante, dona Canô, mãe de Bethânia, minha irmã querida, naturalmente não quis dizer que “escolher felicidade” é viver sem problemas, sem dramas pessoais ou as dores do mundo. Nem quis dizer ser irresponsável, eternamente infantil. Ao contrário, a entrevistada falou em “decidir” e “escolher”.

Apesar de fatalidades como a doença e a morte, o desemprego, as perdas amorosas, a falta do dinheiro essencial à dignidade, podemos decidir que tudo fica como está ou vai melhorar, dentro do que podemos. Posso optar por me sentir injustiçada, ficando amarga e sombria; posso escolher acreditar no ser humano e em alguma coisa maior do que toda a nossa humana circunstância; posso sempre buscar alguma claridade, e colaborar com ela. Dentro de minhas limitações pessoais e de minha condição individual, eu faço diferença, todos fazemos.

Desse início pessoal, passo ao mais geral: leio que 40% dos nossos jovens e crianças vivem abaixo da linha de pobreza; que o desemprego é uma calamidade, a violência cresce a cada dia e o analfabetismo não diminui; que crianças continuam, aos milhares e milhares, brincando no barro feito de terra e esgoto. Leio, vejo e sei que milhares e milhares de velhos vivem em condições sub-humanas, pois sua aposentadoria é miserável, o serviço de saúde pública também, morre-se em corredores de hospitais ou em filas de postos de saúde, onde médicos exaustos e pessimamente pagos fazem muito mais do podem.

Não vou recitar a ladainha de que as circunstâncias não justificam euforia nem ufanismo simplesmente porque nós não decidimos algo melhor do que isso que escrevi acima, e todo o resto que qualquer um conhece – e apesar disso continuamos deitando a cabeça no travesseiro toda noite e dormindo quem sabe até bem.

Tenho medo do ufanismo: ele pode ser burro e cego. Olimpíada no Brasil, Copa do Mundo no Brasil, tudo bem: mas eu preferia que antes disso a gente tivesse resolvido os gravíssimos e tristes problemas, tão dramáticos, de comida, saúde, educação, moradia, decência e dignidade de boa parte do povo brasileiro que agora samba e celebra porque teremos Copa, teremos Olimpíada, teremos festa.

Sei que este não é um artigo simpático. Certamente não é alegrinho. Realmente ele trata do que não decidimos, ou decidimos mal, ou decidimos não existir, como, por exemplo, exigir líderes mais sensatos, mais presentes, mais realistas, mais dignos em todos os níveis. Podíamos decidir ser mais respeitados enquanto povo, mais olhados enquanto gente, mais seguros e mais protegidos enquanto sociedade.

Ou isso a gente não decide porque nem sabe das coisas, pois não se informa, não sabe ler, se sabe ler não costuma, nem o jornal esquecido no banco do ônibus. Onde o povo carrega doença e dor, descrença e desalento, mas também, aqui e ali, leva um jornal para saber onde afinal vivemos, em quem afinal podemos acreditar, e o que afinal deveríamos esperar. Indagados, os mais desassistidos dirão que Deus é quem sabe, Deus decide, a quem ama Deus faz sofrer – frase de imensurável crueldade.

Ou será melhor nem saber nem aprender a ler, nem pegar a folha de jornal, nem ouvir o noticioso no radinho de pilha. Basta saber que sempre há em algum canto motivo para um breve ou longo carnaval, celebrando alguma coisa que possivelmente não vai encher nem o nosso bolso nem a barriga de nossos filhos, nem construir uma casa decente, nem botar esgoto, nem cuidar da nossa saúde, nem amparar nossos velhos, nem coisa nenhuma que seja forte, firme, boa e real. Porque, infelizmente, por aqui ainda decidimos pouco, e poucas vezes decidimos bem. Não porque Deus quis assim, mas porque a gente nem ao menos sabe por onde começar.”

Eis, pois, cenários que nos FORTALECEM e nos MOTIVAM nessa MOBILIZAÇÃO de TODOS para a construção de um BRASIL da COPA DO MUNDO de 2014, da OLIMPÍADA de 2016 e do PRÉ-SAL que seja verdadeiramente JUSTO, LIVRE, DESENVOLVIDO e SOLIDÁRIO, onde os BILIONÁRIOS INVESTIMENTOS e RIQUEZAS NATURAIS, CULTURAIS e ECONÔMICAS cheguem a TODOS os BRASILEIROS e a TODAS as BRASILEIRAS, nas formas de EDUCAÇÃO, SAÚDE, EMPREGO E RENDA, LAZER, MORADIA DECENTE, INFRA-ESTRUTURA URBANA e NO CAMPO, SANEAMENTO BÁSICO (com ÁGUA TRATADA, com ESGOTO TRATADO, LIXO TRATADO e DRENAGEM URBANA EFICIENTE), TRANSPORTE URBANO MODERNO (em todas as MODALIDADES), MEIO AMBIENTE SUSTENTADO, ATENÇÃO MODERNA e QUALIFICADA às nossas CRIANÇAS, ADOLESCENTES, IDOSOS...

O BRASIL TEM JEITO!...

Um comentário:

Anônimo disse...

A gente decide ou pelo menos deveria decidir e fazer escolhas mais acertadas.. Sim, muitos no Brasil comemoram as Olimpiadas, a Copa, mas tantos e tantos questionam.... Um país onde não tem o que comemorar ao se falar em educação, onde tantos e tantos não tem moradia, a saúde é uma vergonha, onde bandido derruba a policia no ar para o mundo ver.... temos que repensar nossas escolhas e nossas lideranças politica...podemos e devemos escolher viver em um país melhor e por isto devemos e podemos em 2010 dar um grande passo rumo a este país, quando formos para as urnas e decidimos que queremos mudar....e quem sabe no futuro possamos realmente ficarmos felizes e até chorarmos (como o presidente) pelas Olimpiadas e pela Copa......