sexta-feira, 26 de março de 2010

A CIDADANIA E A ROTA DA MODERNIDADE

“[...] As sociedades democráticas, baseadas na liberdade e não na unanimidade coativa, são portanto as mais conflituosas que já houve na história da humanidade. O esforço permanente tem de fazer para pensar por conta própria o que lhe convém, justificá-lo, romper com o passado ou buscar nele novas idéias, escolher o que deve ser feito e quem está mais apto a realizá-lo... que complicação! Que responsabilidade enorme! E você ouvirá lhe perguntarem: aonde nos leva tanta liberdade? Francamente, creio que só se podem pedir à política remédios políticos, e a felicidade não é um assunto político. Os governos não podem fazer ninguém feliz; basta que não façam ninguém desgraçado, o que é coisa que, em compensação, podem conseguir muito facilmente. Nos períodos de grande excitação política, como nas revoluções, as pessoas crêem que as transformações radicais não só resolverão os problemas da coletividade, como darão a cada um aquilo que ele mais deseja no fundo do coração. Como isso nunca acontece, as pessoas se “desenganam” da política e a ressaca das grandes mudanças costuma deixar marcas de descontentamento íntimo. Acho que é preciso aprender a buscar a felicidade, o que torna a vida digna de ser vivida, em coisas aparentemente menores, que pouco têm a ver com os grandes planos políticos, e menos ainda, é claro, com a riqueza ou armazenamento de posses e bugigangas. [...]”
(FERNANDO SAVATER, in Política para meu filho; tradução Eduardo Brandão. – São Paulo: Martins Fontes, 1996, páginas 187 e 188).

Mais uma IMPORTANTE e PEDAGÓGICA contribuição para o nosso trabalho de MOBILIZAÇÃO PARA A CIDADANIA E QUALIDADE vem de artigo publicado no Jornal ESTADO DE MINAS, edição de 31 de março de 1993, Caderno OPINIÃO, página 6, de autoria de ALFEU BARBOSA, que merece INTEGRAL transcrição:

“Rota da modernidade

‘A tirania e a injustiça no mundo começaram por uma coisa infinitamente pequena’, ensinava o imperador Nuch-Irreuã, personagem do livro “O Jardim das Rosas”, do escritor Saadi, que viveu de 1194 a 1290. “Se o príncipe resolve tomar um ovo de alguém, os seus súditos, por trás dele, tomarão mil galinhas.Se o sultão come a romã de um jardim e não paga, os seus escravos, por trás dele, levarão a árvore”, acrescentava o rei. “As palavras movem, os exemplos arrastam”, concluía.

Desculpem os leitores (em especial os notáveis da USP e da Unicamp) se na abordagem de tema transcendental, a “modernidade”, objeto ainda agora de pomposos debates acadêmicos, iniciemos estas mal traçadas linhas de forma tão singela, sem ornatos, citando autor desconhecido, lá das Arábias, que passou a maior parte de seu tempo no distante século XIII. Saadi, se vivo, teria hoje 808 anos cravados.

Mas achamos, apenas isso, que na historieta do ovo e da romã, pensando bem, estão contidos ensinamentos indestacáveis do objetivo da modernidade que se quer no momento para o Brasil. O bom exemplo, como todos sabem, tem um fantástico poder de atração. A coerência entre a palavra e o ato, a doutrina e a vida, a teoria e a prática, exercem um papel decisivo na comunidade. Da mesma forma que a influência nefasta do mal exemplo é incalculável: espalha-se como uma reação em cadeia (“em efeito cascata”, diriam os modernos), cuja conseqüência costuma a ser até mesmo a ruína de toda uma geração.

Certo é que não se deve dizer moderno, senão com impropriedade, modernizado ou “em fase de transição para a modernidade”, um país onde os maus exemplos partem de quem deve lições de bom comportamento: um pai, um mestre, um governante.

Pois bem, se é verdade, como se divulga, que os maiores inadimplentes da Previdência Social brasileira são as estatais, os municípios e os Estados, o governo já pode serenamente dar o primeiro passo no caminho da modernidade simplesmente determinando que todos saldem logo, de imediato, os seus débitos. O passo seguinte seria verificar se alguém, em algum momento, cometeu o chamado crime de apropriação indébita, caracterizado pelo ato grotesco de passar a mão nas contribuições dos empregados sem recolhê-las depois aos cofres da Previdência.

Por derradeiro, seria bom parar com essa mania feia de tomar coercitivamente o dinheiro dos contribuintes sob a promessa de uma restituição que sabem ser impossível, até mesmo por questão de operacionalidade para usar uma palavra mais ao gosto dos modernólogos. Vide FNT, imposto sobre combustíveis e outras maracutaias de Terceiro Mundo.

Um príncipe que se queira respeitado, diria o sábio imperador Nuch-Irreuã, não pode falar mentira, nem tirar um grão de arroz de seus súditos sem antes pagar. Se o fizer, os seus assessores, por trás dele, vão mentir também, vão querer levar todo o arrozal, o que, convenhamos, afronta todos os conceitos de modernidade. Os exemplos arrastam, as palavras movem...”.

Vale a pena repetir e grifar: “...NÃO PODE FALAR MENTIRA, NEM TIRAR UM GRÃO DE ARROZ DE SEUS SÚDITOS SEM ANTES PAGAR...”

E quando sabemos que a INFLAÇÃO, a CORRUPÇÃO e o DESPERDÍCIO tiram BILHÕES e BILHÕES de REAIS do POVO BRASILEIRO a cada ano, mais e mais a NECESSIDADE e URGÊNCIA dessa grande CRUZADA NACIONAL pela CIDADANIA e QUALIDADE, visando a construção de uma NAÇÃO verdadeiramente JUSTA, ÉTICA, HONRADA, LIVRE, DESENVOLVIDA e SOLIDÁRIA, e que entre efetivamente na ROTA DA MODERNIDADE, num mundo GLOBALIZADO, das NOVAS TECNOLOGIAS, do CONHECIMENTO, da VERDADE, da INFORMAÇÃO e da PAZ e FRATERNIDADE UNIVERSAL...

Este é o nosso SONHO, a nossa LUTA, a nossa FÉ e a nossa ESPERANÇA!...

O BRASIL TEM JEITO!...

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