segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

A CIDADANIA, AS METAS SAUDÁVEIS, A EDUCAÇÃO E A GESTÃO MUNICIPAL

“Metas saudáveis para começar o ano

Novas metas são um assunto em que pensamos no início de cada ano. Ano novo, novos objetivos, mas esses são frequentemente esquecidos nesses 365 dias. Comecemos por uma balanço do ano anterior: quais as metas que estabeleci para mim que foram efetivamente realizadas? Por exemplo: decidi emagrecer e não obtive êxito. Por que deixei de lado essa resolução?

A partir dessa análise, podemos conservar o que parece razoável e fixar novas metas que sejam realizáveis: faça uma lista daquilo que pretende alcançar em 2013, examine cada uma delas e experimente testá-las. Converse com seus amigos, torne públicos os seus objetivos e, se preciso, pela ajuda àqueles com quem você pode contar. Sejam quais forem suas metas estabelecidas, há dois grupos de objetivos que parecem essenciais como metas saudáveis para começar o ano: o cuidado de si e o aprimoramento das relações com os outros – pessoas, animais e planeta.

O conceito de si é a ideia que um indivíduo constrói de si mesmo. Esse sentimento subjetivo é o resultado de múltiplos pensamentos inconscientes e conscientes, de percepções e atitudes. Muitas vezes, essa ideia é influenciada pela mídia e pelos efeitos de moda que seduzem os indivíduos por certas conotações imaginárias relativas à designação de felicidade e de bem-estar que se articulam em torno de arranjos sociais que sustentam o sistema de produção e de consumo de massa. As mercadorias consumidas demarcam lugares e status ao consumidor, assim como definem o sentido de bem-estar ou sofrimento, de inclusão ou exclusão no sistema, de acordo com os modelos propagados pela mídia.

A homogeneização dos desejos – intrinsecamente ligados ao imaginário consumista – estabelece a padronização do consumo e, a partir da igualdade, são criados os parâmetros com os quais os ideais de bem-estar e felicidade serão mensurados e comparados entre os consumidores. A cultura de consumo está alicerçada na evidência às pessoas de lados sempre insatisfeitos de seu ser, ou seja, daquilo que as faz sofrer, e a eficácia da manipulação situa-se na capacidade de a mercadoria se encaixar nos interesses e objetivos dos indivíduos manipulados. Portanto, tente não se deixar levar excessivamente pelos inúmeros apelos que nos “convidam” a ser mais assim ou menos assado. Olhe para você e analise o que, realmente, pode ser modificado, a fim de que sua vida seja mais leve e saudável, sem que essa intervenção venha promover modificações que possam trazer prejuízos à sua saúde.

Apesar de vivermos em uma cultura marcada intensamente pelo culto de si e pelo hipernarcisismo, devemos introduzir como tema fundamental para o estabelecimento de metas saudáveis o cuidado com os outros. Esse requer de nós uma disposição, uma sensibilidade e uma prática que devem ser regidas por um grande princípio: a empatia – a capacidade de sentir e de compreender a emoção de outros. Vivemos em sociedade e, dessa forma, o que atinge os outros também nos atinge. Se queremos um mundo melhor, temos de ser os primeiros a praticar a solidariedade, o respeito, a tolerância e as pequenas gentilezas nos atos cotidianos.

Não precisamos fazer muito esforço para perceber a perda de princípios e o declínio da ética nas relações sociais. Entretanto, a ética é a base de toda e qualquer sociedade saudável e, dessa forma, estamos doentes. Sem ética, uma sociedade torna-se corrupta, desonesta, injusta, desigual e imoral. Portanto, para o ano que se inicia, vamos retomar o sentido ético de todas as relações nas suas mais simples formas e, certamente, além de entrar no ano novo, começaremos um novo ano, com novas práticas saudáveis. Tão fáceis de ser alcançadas!”

(MARÍLIA ANTUNES DANTAS, Psicóloga e coordenadora do curso de pós-graduação em psicossociologia da saúde mental da Faculdade de Medicina de Petrópolis (FMP/Fase), em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 5 de janeiro de 2013, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado na revista VEJA – edição 2302 – ano 46 – nº 1, de 2 de janeiro de 2013, de autoria de Gustavo Ioschpe, que é economista, e que merece igualmente integral transcrição:

“Se eu fosse prefeito

Desde as eleições têm pipocado pedidos de vereadores e prefeitos eleitos para orientações sobre como construir um sistema educacional de qualidade. Impossibilitado de atender a todos eles, vou transformar a consultoria em um artigo, criando o benefício adicional da transparência: espero que ajude não apenas os novos mandatários mas também você, leitor, a cobrar seus representantes eleitos. Obviamente, cada cidade tem a conjuntura e os seus problemas específicos, então o que se segue é um arremedo de políticas públicas de sucesso que são aplicáveis a uma cidade com os problemas usuais das cidades brasileiras. Se eu fosse prefeito de uma cidade comprometida para valer com a educação, eis as medidas e estratégias que procuraria adotar:

. Forjar alianças. O maior problema de quem quer melhorar o sistema educacional é a solidão. A maioria da população acha que a escola do filho é boa e não demanda melhorias. Os sindicatos de professores e funcionários, muito numerosos, só aceitam mudanças que envolvam maiores salários e menos trabalho. Na ausência de uma força que se contraponha ao peso dos sindicatos, qualquer batalha por avanços está perdida. O líder político precisa mobilizar uma coalizão que lhe dê sustentação para encarar as batalhas que virão. Batalhas que serão tão encarniçadas quanto maior for o escopo das mudanças propostas. Há uma série de aliados potenciais, desde grupos da elite – empresários, mídia, Igreja, Judiciário – até, preferencialmente, a população inteira. Para mobilizar pais de alunos, não adianta falar de generalidades; é preciso mostrar que a escola dos filhos é ruim, e que os problemas impedem os projetos de vida dos filhos. Minha sugestão é o Ideb na Escola (www.idebnaescola.org.br): colocar uma placa na entrada de todas as escolas com o seu Ideb. A iniciativa já foi aprovada nos estados de Minas Gerais e Goiás e em cidades como Rio de Janeiro, Vitória, Belém e outras.

. Intervir no que acontece no dia a dia das salas de aula. A maioria dos gestores se contenta em garantir que a infraestrutura das escolas esteja em ordem, que os livros e a merenda cheguem ao destino, que os salários sejam pagos. Isso é necessário, mas não é remotamente suficiente para assegurar um ensino de qualidade. O que importa é aquilo que acontece quando professores e alunos se encontram, na sala de aula. A primeira tarefa é fazer com que esse encontro ocorra: zerar as faltas de professores e alunos. A segunda é que o tempo seja bem aproveitado: nada de atrasos, perda de tempo com avisos e bate-papos o consumo da aula colocando matéria no quadro-negro para a molecada copiar. Aula boa é aquela que começa e termina no horário e é ocupada em sua integridade por discussões relacionadas à matéria, o que envolve muita participação dos alunos via pergunta e resposta e professor preparado. A China adotou uma maneira inteligente de garantir o preparo dos professores. As escolas têm poucas séries (quatro, em geral) e muitas turmas por série, o que faz com que haja mais de um professor por matéria/série. Aí, criam-se grupos de estudos dos professores que ensinam a mesma matéria na mesma série; eles se encontram pelo menos a cada quinzena para planejar aulas e trocar experiências, garantindo que todas as aulas sejam devidamente planejadas e que os professores com dificuldades tenham alguém em quem se apoiar. Uma vez por mês, os professores da cidade, de cada matéria e grupo etário, se reúnem e recebem uma aula magna do professor que tiver ministrado a melhor aula sobre o conteúdo que estiver sendo estudado naquele momento. Assim, as melhores práticas de um professor ou escola contaminam toda a rede. No Brasil, mesmo em uma cidade que vai muito mal no ensino, é comum haver pelo menos uma escola ou professor que faça um trabalho excelente, e que poderia ensinar aos demais como melhorar.

. Fazer monitoramento constante e intervenção rápida. Os bons sistemas educacionais acompanham o desempenho dos alunos continuamente e agem antes que o problema se torne insolúvel e o aluno tenha de repetir o ano. Daí a importância fundamental do dever de casa, especialmente nas exatas. Se o professor prescreve dever de casa todos os dias, ele libera tempo valioso de aula para explicação e resposta a dúvidas, deixando os exercícios para casa. Também tem uma ferramenta preciosa para mensurar seu próprio trabalho: se o dever de casa mostra que a maioria dos alunos não está aprendendo o esperado, o professor precisa mudar de tática. A mesma lógica vale para o uso constante de avaliações (provas): não apenas obriga o aluno a estudar (e quem mais estuda mais aprende) como dá ao professor recursos para entender se está trabalhando da maneira correta. O ideal é que as avaliações sejam as mesmas para toda a rede, de forma que o gestor possa identificar o progresso no geral, sem subjetividade. O mais importante, porém, é o que ocorre depois da avaliação. Nos maus sistemas de ensino, um resultado abaixo do esperado produz tristeza e resignação, às vezes culpabilização dos alunos e das famílias. Nos bons, gera programas de intervenção imediata para o aluno com dificuldade, que podem ter vários formatos, desde reforço no contraturno até maior atenção do professor em sala de aula. A escola entende que os problemas são seus, não de terceiros.

. Ter diretores qualificados em todas as escolas. É preciso acabar com o modelo segundo o qual os diretores chegam ao cargo por conexões políticas ou por ser populares junto à comunidade. O melhor modelo de seleção de diretores é aquele em que os candidatos passam por provas técnicas e, só depois disso, os finalistas vão para uma eleição na comunidade escolar. O diretor precisa ser uma referência acadêmica, não um simples administrador/burocrata. Precisa dar o norte da escola, acompanhar constantemente o trabalho dos professores dentro da sala de aula e estar em contato com os alunos e seus familiares (um traço comum a muitos bons diretores é que eles ficam no portão da escola nos horários de chegada e saída, valendo-se dessa oportunidade para falar com pais e alunos e procurar descobrir o que pode ser melhorado na escola). No caso dos diretores, a pesquisa mostra que o salário está relacionado ao desempenho: quanto mais altos os salários, maior o aprendizado das crianças da escola. Portanto, selecione e remunere bem os diretores de escola. E, importante, crie ferramenta para que os maus diretores possam ser demitidos. Para quem se preocupa com educação de qualidade, diretor de escola é cargo-chave.

. Focar a alfabetização. Todos os alunos devem terminar o 1º ano alfabetizados. No máximo, é tolerável que os alunos com dificuldades concluam sua alfabetização ao longo do 2º ano. Essa precisa ser a prioridade total do gestor municipal, pois sem essa competência o aluno não conseguirá progredir em sua vida educacional a contento. O domínio das operações matemáticas nos primeiros anos também é fundamental. Minha sugestão é que o currículo mantenha o foco nessas duas áreas (português e matemática) até garantir que a tarefa esteja cumprida, mesmo que seja necessário sacrificar a carga horária de outras matérias nos anos iniciais.

. Criar e comunicar expectativas altas – para todos. A maioria dos gestores brasileiros já começa aceitando o fracasso, tolerando como natural o fato de que alguns alunos simplesmente não conseguirão aprender. Esse tipo de pessimismo é uma praga que se alastra pelo sistema: se o fracasso é aceitável, não há por que cobrar os diretores, nem estes os seus professores, nem estes os seus alunos. Os sistemas de excelência estabelecem metas ousadas e não admitem que nenhum aluno fique para trás. E isso é comunicado, a cada início de ano e todos os dias em aula, aos alunos e a seus pais. Não seja um gestor de crise: seja o parteiro da excelência.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, pedagógicas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças, em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, soberanas, civilizadas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

a) a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de seis anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento) –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

b) o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

c) a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e intolerável desembolso da ordem de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, uma previsão de R$ 610 bilhões), igualmente a exigir uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria, que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a confiança em nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado das sempre crescentes demandas, necessidades, carências e deficiências (haja vista os vergonhosos indicadores sociais, econômicos e ambientais, a precariedade e insuficiência de nossa infraestrutura – rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, incipiente mobilidade urbana, elevado déficit habitacional, atraso nos sistemas de energia e comunicações, caos no saneamento ambiental – água, esgoto, resíduos sólidos, macrodrenagem urbana, extrema vulnerabilidade quanto aos acidentes naturais – enchentes, inundações, deslizamentos, assoreamentos de cursos de água, secas prolongadas...), o que aumenta o colossal abismo das nossas desigualdades sociais e regionais e nos afasta num crescendo do seleto grupo dos sustentavelmente desenvolvidos...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação justa, ética, educada, qualificada, civilizada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações de junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, segundo as exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da paz, da liberdade – e com equidade – e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...





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