“Falta
comida nas mesas de Davos
Davos é uma pequena
cidade, com cerca de 11 mil habitantes, incrustada nos Alpes da Suíça que,
cobertos de neve no inverno, atraem
turistas de todo o mundo. Nesta semana, o bucólico cenário receberá chefes de
governos, líderes políticos e empresariais e acadêmicos de uma centena de
países para o 44º Fórum Econômico Mundial. Entre os chefes de Estado estará a
presidente Dilma Rousseff, que participa pela primeira vez do conclave.
O
Fórum Econômico deste ano traz como tema A reformulação do mundo – consequências
para a sociedade, a política e os negócios. Os organizadores justificam o
ambicioso temário: “Hoje, forças políticas, econômicas, sociais e tecnológicas
transformam nossas vidas, comunidades e instituições; cruzam fronteiras
geográficas, de gênero e de gerações; alteram o poder das hierarquias
tradicionais pelas das redes sociais”. Pauta caudalosa, porém com uma grave
lacuna. Em mais de uma edição, faltou o Fórum Econômico se dedicar a um
problema crucial para a humanidade, hoje, e para um futuro verdadeiramente
sustentável: como debelar a fome do mundo.
Essa
injúria atingiu, e 2013, cerca de 842 milhões de pessoas, como alertou o
brasileiro José Graziano, diretor-geral da Organização das Nações Unidas para
Alimentação e Agricultura (FAO), órgão da ONU, em videoconferência no Fórum
Inovação, Agricultura e Alimentos, uma iniciativa da FAO, Embrapa e entidades
do agronegócio, em outubro, em São Paulo. O Brasil tem o mérito de vir
reduzindo essa nefasta marca. Entre 1993 e 2013, o país tirou 9,2 milhões de
pessoas da linha da fome. Ainda assim, vivem 13,6 milhões de brasileiros em
situação de miséria.
Na
verdade, quase todos nós, bem nutridos, estamos acomodados frente à tragédia da
fome. Por outro lado, muitos somos simpáticos a protestos que, midiáticos,
rendem propaganda fácil para causas diversas, mas a maioria pouco úteis para as
populações – sobretudo as famintas.
Os
chamados eventos extremos climáticos justificam as preocupações ambientais. Sem
dúvida, chocam-nos imagens de encostas soterrando casas, recorrentes no Brasil;
o tsunami no Japão, em 2011, e o tufão nas Filipinas, em novembro último. Mas
tão inaceitável é outra tragédia diária que ceifa muito mais vidas: segundo a
FAO, por desnutrição ou problemas a ela relacionados, morrem no mundo cerca de
12 mil crianças por dia. Portanto, um cotidiano e silencioso tsunami da fome.
O
Fórum Social Mundial, antítese ao encontro de Davos e que ocorre em todos os
anos na mesma semana, perdeu seu apelo político – alternativo, quando partidos
de esquerda alçaram ao poder na América Latina – e agora seus ideólogos
enfrentam a difícil tarefa de governar. Em 2011 e 2012, a presidente Dilma
Rousseff, convidada para Davos, optou por prestigiar o Fórum Social, em Porto
Alegre. O visível esvaziamento do encontro dos movimentos sociais também se
deve a muitas de suas ideias anacrônicas, que recusam agendas construtivas com
setores acadêmicos e produtivos da iniciativa privada. Por exemplo, programas
de inclusão competitiva no mercado para agricultores familiares, estratégia que
tem pleno apoio da FAO – caso da iniciativa global Farming First (farmingfirst.org.br/português), com
representação no Brasil.
Por
isso, o Fórum Econômico deve cuidar para não ratificar as críticas de que se
preocupa demais com as crises do capital e de menos com os dramas sociais. Ou
seja, a esperança é que os apelos dos milhões de famintos alcancem as montanhas
cobertas de gelo em Davos.”
(EDUARDO
DAHER. Economista (FEA-USP), diretor executivo da Associação Nacional de
Defesa Vegetal (Andef), em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição
de 20 de janeiro de 2014, caderno OPINIÃO, página 7).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição,
caderno e página, de autoria de CARLOS
ALBERTO DI FRANCO, que é diretor do Departamento de Comunicação do
Instituto Internacional de Ciências Sociais (IICS) e doutor em Comunicação pela
Universidade de Navarra (Espanha), e que merece igualmente integral
transcrição:
“Hora
da verdade
Albert Einstein não era
um judeu praticante. Mas reconhecia a existência de Deus. Acreditava em padrões
de certo e errado. Sua atividade intelectual era devotada à busca não só da
verdade, mas também da certeza. Viveu o suficiente para sofrer com a
interpretação equivocada do seu trabalho científico. “Como aquele que no conto
de fadas transformava tudo o que tocava em ouro, comigo é em confusão que tudo
se transforma nos jornais” – o comentário de Einstein, em carta a seu amigo Max
Born, em 1920, reflete sua angústia. Uma leitura errônea da Teoria da
Relatividade Geral estimulou a crença de que não havia mais absolutos: de tempo
e espaço, de bem e mal, de conhecimento, sobretudo de valores. Assistiu,
atônito, à metamorfose de seu trabalho na epidemia do relativismo moral, assim
como padeceu a dor de ver a sua equação dar à luz o terror nuclear. Houve
muitas vezes, confidenciou Einstein no final de sua vida, em que desejou ter
sido um simples relojoeiro.
Recentemente,
reli a encíclica Veritatis splendor,
texto obrigatório para quem tem o ofício comprometedor e fascinante de tentar
iluminar a verdade profunda dos fatos e, ao mesmo tempo, defender aquilo que
está no DNA da raça humana: a liberdade. João Paulo II, um papa dotado de
extraordinária cabeça filosófica, pretendeu resgatar este “mundo
desconjuntado”, como tristemente observava Hamlet. Na encíclica, o pontífice
falecido advertiu para a “decadência do sentido moral” na sociedade e suas
consequências dramáticas para a democracia.
“Uma
democracia sem valores se transforma com facilidade num totalitarismo visível
ou encoberto, afirma o texto, com um realismo cortante. “A origem do
totalitarismo moderno deve ser vista na negação da dignidade transcendente da
pessoa, sujeito natural de direitos que ninguém pode violar; nem o indivíduo,
nem a família, nem a sociedade, nem a nação, nem o Estado.” Trata-se de uma
vibrante defesa da liberdade e dos direitos humanos. A democracia é, sem
dúvida, o regime que melhor funciona. É o sistema que mais genuinamente
respeita a dignidade da pessoa humana. Qualquer construção democrática,
autêntica, e não apenas de fachada, reclama os alicerces da lei natural.
Não se
compreende de que modo obteremos uma sociedade mais justa e digna para seres
humanos (os adultos) por meio da organização da morte de outros seres humanos
igualmente vivos (as crianças não nascidas). Há um elo indissolúvel entre a
prática do aborto, o massacre do Carandiru, a chacina da Candelária e outras
agressões à vida: o ser humano é encarado como objeto descartável. Os
argumentos esgrimidos em defesa dessas ações, alguns cruéis, outros carregados
de eufemismos, não conseguem ocultar o desrespeito ao primeiro direito humano
fundamental, base da sociedade democrática: o direito à vida.
Situações
traumáticas merecem compreensão e podem representar atenuantes, mas jamais
justificar a eliminação de uma vida. O aborto, estou certo, é o primeiro elo da
imensa cadeia da violência e da cultura da morte. Após a implantação do aborto
descendente (eliminação do feto), virão inúmeras manifestações do aborto
ascendente (supressão da vida do doente, do idoso e, quem sabe, de todos os que
constituem as classes passivas da sociedade). Delírio premonitório? Penso que
não. Trata-se, na verdade, do corolário de um silogismo dramaticamente lógico.
A vida deixa de ser um fato sagrado. Converte-se, simplesmente, numa realidade
utilitária.
Uma
das doenças culturais do nosso tempo é o empenho em contrapor verdade e
liberdade. As convicções, mesmo quando livremente assumidas, recebem o estigma
de fundamentalismo. Impõe-se, em nome da liberdade, o dogma do relativismo.
Trata-se, na feliz expressão do cineasta marxista Pier Paolo Pasolini, da
“intolerância dos tolerantes”, que, obviamente, conspira contra o sadio
pluralismo democrático. O pós-modernismo é dramático ao dizer que não há
valores absolutos, que não há uma verdade, que a linguagem não pode alcançar a
verdade. Sem verdade as sociedades caminham para a ruína.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, meio à maior crise de
liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação - universal e de qualidade, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária
ordem; III – o desperdício, em todas
as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
inexoravelmente irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
intolerável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 639 bilhões), a exigir
igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública;a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovia, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade,
produtividade, competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada,
qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos
e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do
PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da
globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...
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