“Aos
professores, com carinho
Queridos mestres, me
perdoem a falta de jeito, o estilo saudoso de enviar-lhes esta cartinha. Coisa
de aluno antigo, do tempo que os mestres eram sagrados, respeitados, admirados
por todos nós. As coisas mudam, mas nunca mudará a importância e nobreza de
quem transfere conhecimentos e cultura.
Ao me
ver hoje, sei que sou uma extensão de um universo em que fui apresentado por
vocês. Indescritível a emoção de começar a ler e, na mesma medida após esforço
e luta, ser recompensado com uma nota máxima.
Na
minha ante-sala da memória, quadros afetivos povoam a galeria de heroicos e
dedicados mestres: dona Guilhermina e Violeta, professoras da pré-escola, são
lembranças vivas do entusiasmo de lecionar.
E como
descrever os rígidos Dalmi ou Maria Helena? Um imenso desejo de que
aprendêssemos, iluminando o caminho do saber. Dona Marina de biologia, ou o Zé
Mauro, mascarado e achista!
A
beleza e ingenuidade da Amélia dando a química, uma tabela periódica charmosa e
o desejo da alquimia que nos transformasse em mocinhos em busca da musa.
Ensinar
é uma arte, uma missão cada vez mais árdua e heroica. Olhando para trás, revejo
os milagres que o Português trouxe à minha vida ao ensinar que o sujeito, se
usar um verbo sagrado, agirá direta ou indiretamente sobre o objeto, que pode
muito bem ser promovido ou destratado por um adjetivo, e olhe que uma única
vírgula pode atrapalhar tudo!
Aprendi
com dona Emília que palavras têm alma, e lamento que o estudo delas tenha
abolido o latim e o grego.
Quisera
eu dizer a uma musa que ela me “inspira” (“ins”: dentro de, “piros”: chama
sagrada! Ou saber que o universo é “um Deus derramado” ou que entusiasmo
significa, na sua etimologia, “trazer um Deus dentro de si”.
Agradeço
ao professor Dalmi esta revelação de que palavras são códigos que traduzem as
três energias da mente: o que eu penso, o que eu sinto, o que eu desejo fazer.
Pensar, sentir, agir e então me apresentar ao mundo.
Lamento
quando mostra-se que um adolescente atual sabe e convive com no máximo 200
palavras, são analfabetos funcionais, vivem sem poesia, sem expressão, sem
inspiração.
E
falar de história, desvendando todo o caminho que meus antepassados
percorreram, guerreando, inventando, construindo o mundo que habitamos.
Pensar
na biologia, que mostra que cada célula minha é uma cópia de mim mesmo e se
clonado me ressuscitará daqui a mil anos.
Ou a
física, que me faz matéria e energia e a química, que mostra que somos nada
mais que uma tabela periódica de elementos universais: carbono, hidrogênio,
oxigênio, ferro, cálcio e por aí vai, portanto, do “pó vieste e ao pó voltará”.
Não há ouro que sobreviva ao fim certo e a eternidade esperada.
Termino
esta coluna após ver um estudo que mostra que cada vez menos pessoas querem ser
professores e que já faltam docentes em milhares de escolas. E lamento que nós,
alunos, os pais, a comunidade em geral, estejamos tão viciados em celulares e
eletrônicos.
Lamento
que pessoas reais não recebam um abraço, um cumprimento carinhoso, o respeito
mínimo de quem nos forma e, generosamente, doa conhecimentos.
Que
nesta volta a mais um ano letivo, desejo do fundo do meu coração que todos os
professores sejam abençoados com a saúde, a paz, a serenidade e, assim, sejam
reconhecidos como patrimônio da humanidade!
Agradeço
aos mestres citados e perdão aos que não o foram pois homenageei professores de
mais de 40 anos atrás sem os quais esta coluna não teria sido escrita!”
(Eduardo
Aquino. Escritor e neurocientista, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 12 de
janeiro de 2014, caderno CIDADES, página
4, coluna Crônicas sobre o comportamento e o relacionamentos humano).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado na revista VEJA, edição 2356 – ano 47 – nº 3, de
15 de janeiro de 2014, páginas 76 e 77,
de autoria de Gustavo Ioschpe, que é
economista, e que merece igualmente integral transcrição:
“Por
que não falar a verdade, ministro?
Em dezembro, foram
divulgados os resultados do Pisa, o mais importante teste de qualidade da
educação do mundo, realizado a cada três anos com alunos de 15 anos. Como vem
ocorrendo desde a primeira edição, no ano 2000, os resultados do Brasil foram
péssimos. Ficamos em 58º lugar em matemática, 59º em ciências e 55º em leitura,
entre os 65 países que participaram. Caímos no ranking nas três áreas, em
relação à prova anterior. Como já havia acontecido em edições passadas, nem
nossa elite se salvou: os 25% mais ricos entre os alunos brasileiros tiveram
desempenho pior que os 25% mais pobres dos países desenvolvidos (437 pontos versus 452 pontos em matemática).
A
Alemanha, assim como o Brasil, também participa do Pisa desde 2000. Quando os
resultados daquele ano foram divulgados, os alemães descobriram que o país de
Goethe, Hegel e Weber tinha ficado em 21º lugar entre os 31 participantes
daquela edição, abaixo da média dos países da OCDE. Os dados caíram como uma
bomba. A presidente da Comissão de Educação do Parlamento alemão disse que os
resultados eram uma “tragédia para a educação alemã”. A Der Spiegel, a mais importante revista do país, refletiu a tragédia
com a seguinte manchete de capa: “Os alunos alemães são burros?”. O alvoroço
levou inclusive à criação de um game show na TV alemã.
No dia
do anúncio dos resultados da última edição do Pisa, a reação brasileira foi bem
diferente. Nosso ministro da Educação, Aloizio Mercadante, convocou uma
coletiva de imprensa para declarar que o Pisa era uma “grande vitória” da
educação brasileira e um sinal de que “estamos no caminho certo” (rumo ao fundo
do poço?). Recorreu à mesma cantilena de seu antecessor, Fernando Hadad: “A
foto é ruim, mas o filme é muito bom”. Ou seja, a situação atual ainda não é
boa, mas o que importa é a evolução dos resultados. E nesse quesito Mercadante
fez um corte bastante particular dos resultados (focando apenas matemática, e
só de 2003 para cá) para afirmar que o Brasil era “o primeiro aluno da sala”, o
país que mais havia evoluído. Sem mencionar, é claro, que evoluímos tanto
porque partimos de uma base baixíssima. Quando se parte de quase nada, qualquer
pitoco é um salto enorme.
Essas
reações são tão previsíveis que escrevi um artigo, disponível em VEJA.com, um
dia antes da fala do ministro, não só prevendo o teor da resposta como até o
recurso à sétima arte (todos os links disponíveis em twitter.com/gioschpe).
Mas, apesar de esperada, a resposta do ministro me causa perplexidade e espanto.
Ela é muito negativa para o futuro da educação brasileira.
Eis o
motivo da minha perplexidade: Mercadante e seu MEC não administram as escolas
em que estudam nossos alunos de 15 anos. Dos mais de 50 milhões de estudantes
da nossa educação básica, mero 0,5% está na rede federal. No Brasil, a
responsabilidade por alunos do ensino médio é fundamentalmente de estados (85%
da matrícula) e da iniciativa privada (13%). O MEC administra as universidades
federais e cria alguns balizamentos para a educação básica, além de pilotar
programas de reforço orçamentário para questões como transporte e merenda
escolar, entre outras funções. A tarefa de construir as escolas, contratar e
treinar os professores e estruturar o sistema é dos estados. No ensino
fundamental, dos municípios. Portanto, os resultados do Pisa não representam um
atestado de incompetência do Ministério da Educação. A maior parte da
responsabilidade está certamente com estados e municípios. Além do mais, a tolerância
do brasileiro para indicadores medíocres na área educacional é sabida e, ao
contrário da Alemanha em 2000, não havia nenhuma expectativa de que tivéssemos
um desempenho estelar no Piso. Por que, então, o ministro não pode vir a
público e dizer a verdade: que nossa situação é desastrosa, e que enquanto não
melhorarmos a qualidade do nosso ensino continuaremos a chafurdar no pântano do
subdesenvolvimento e da desigualdade? Não haveria custo político para
Mercadante nem para o PT, já que o problema da nossa educação vem de antes da
era lulista, e estados administrados por partidos de oposição tiveram resultados
tão ruins quanto os da situação. Até entendo que seu antecessor se valesse
dessa patacoada, pois teve uma gestão sofrível e era um neófito político em
busca de divulgação, mas Mercadante já é um político consagrado e está fazendo
uma boa gestão, a melhor da era petista; não era preciso disso.
Antes
que os patrulheiros venham com suas pedras, eu me adianto: o ministro não
mentiu em suas declarações, apenas tapou o sol com a peneira. Fez uma seleção
de dados destinada a conferir uma pátina brilhante a um cenário que na verdade
é calamitoso. E esse malabarismo político, longe de ser apenas mera questão de
conveniência pessoal, é muito ruim para o país.
Vocês
que me leem há algum tempo sabem que estou convencido de que o grande entrave
para a melhoria da qualidade educacional brasileira é o fato de que nossa
população está satisfeita com nossa escola (em pesquisa do Inep com amostra
representativa de pais de alunos da escola pública, a qualidade do ensino da
escola do filho teve uma inacreditável nota média de 8,6. Realidade africana,
percepção coreana...). Enquanto a população não demanda nem apoia mudanças, os
governantes não têm capital político para encarar a força obstrucionista dos
sindicatos de professores e funcionários
(um contingente absurdamente inchado de 5 milhões de pessoas). Excetuando VEJA,
este colunista e mais meia dúzia de quixotes, toda a discussão nacional sobre o
tema é dominada por mantenedores do status
quo. Canais de TV buscam sempre alguma história de superação individual,
para dar um contorno feliz a uma história triste. Rádios estão preocupadas com
debates inflamados, a despeito da veracidade do que é discutido, quer o assunto
seja educação, política ou futebol. Jornais acham que aprofundar um assunto é
dar os dois lados da moeda, como se a educação fosse questão de opinião, não de
pesquisa. Empresários não querem falar nada que gere conflito; a maioria dos
intelectuais é também professor e tem interesses pecuniários; políticos em
geral querem se tornar prefeitos ou governadores. Nesse cenário, quem é que vai
falar para o brasileiro aquilo que ele não quer ouvir? O candidato natural é o
ministro da Educação. Imaginem que fantástico seria se o Mercadante tivesse
vindo a público para dizer: “O Brasil foi muito mal no Pisa. Nossos alunos não
estão aprendendo o que precisam. Está na hora de encararmos essa realidade.
Temos uma enorme crise educacional – o que, na Era do Conhecimento, significa
que enfrentamos um gravíssimo problema. Para vencê-lo, todos teremos de
arregaçar as mangas e trabalhar mais. Este ministério não administra as
escolas, mas estamos à disposição de todos os prefeitos, governadores e
secretários de Educação que querem melhorar”.
Essas
palavras poderiam marcar o início de uma nova era. E isso não traria custo político
ao ministro. Acho até que geraria benefícios. São palavras de um estadista, de
alguém que se preocupa com o futuro de milhões de alunos que hoje estão sendo
massacrados por uma sistema educacional inepto.
P.S.:
Depois da comoção de 2000, a Alemanha deu um salto. Neste último Pisa, ficou
bem acima de média obtida pelos países da OCDE, abocanhando o 12º em ciências,
o 16º em matemática e o 19º em leitura.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada
ordem; III – o desperdício, em todas
as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
inexoravelmente irrecuperáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 639 bilhões), a exigir igualmente uma
imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia,
efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade; entre
outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada,
qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que
possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos
e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do
PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da
globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...
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