“As
festas e o sentido que têm de nos ajudar a levar avante a vida
O tema “festa” é um
fenômeno que tem desafiado grandes nomes do pensamento. É que a festa revela o
que ainda há de mítico em nós no meio da prevalência da fria racionalidade.
Quando
se realizou a Copa de futebol no Brasil, irromperam grandes festas em todas as
classes sociais, verdadeiras celebrações. Mesmo depois da humilhante derrota do
Brasil frente à Alemanha, as festas não esmoreceram. A Costa Rica, mesmo não
sendo a campeã do mundo, mostrou excelente futebol. Não foi diferente na
Colômbia. A festa faz esquecer os fracassos, suspende o terrível cotidiano e o
tempo dos relógios. É como se, por um momento, participássemos da eternidade.
A
festa em si, está livre de interesses e finalidades. Todos estão juntos não
para aprender ou ensinar algo uns aos outros, mas para se alegrar. A festa
reconcilia todas as coisas e nos devolve a saudade do paraíso das delícias que
nunca se perdeu totalmente.
A
festa parece um presente que já não depende de nós e que não podemos manipular.
Pode-se preparar a festa. Mas a festividade, vale dizer, o espírito da festa,
surge de graça.
Pertence
à festa mais social (bodas, aniversário) a roupa festiva, a ornamentação, a
música e até a dança. Onde brota a alegria da festa? Talvez Nietzsche encontrou sua melhor formulação:
“para alegrar-se de alguma coisa, precisa-se dizer a todas as coisas: “sejam
benvindas”. Portanto, para podermos festejar de verdade, precisamos afirmar
positivamente a totalidade das coisas.
A
festa é o tempo forte no qual o sentido secreto da vida é vivido mesmo
inconscientemente. Da festa saímos mais fortes para enfrentar as exigências da
vida.
Em
grande parte, a grandeza de uma religião reside em sua capacidade de celebrar e
de festejar seus santos e mestres, os tempos sagrados, as datas fundacionais.
Na festa, cessam as interrogações do coração e o praticante celebra a alegria
de sua fé em companhia de irmãos que com ele partilham das mesmas convicções e
se sentem próximos de Deus.
Vivendo
dessa forma a festa religiosa, percebemos como é equivocado o discurso que
sensacionalisticamente anuncia a morte de Deus. Trata-se de um trágico sintoma
de uma sociedade saturada de bens materiais, que assiste lentamente não à morte
de Deus, mas à morte do homem, que perdeu a capacidade de chorar e de se
alegrar pelo bom da vida, pelo nascer do sol e pela carícia entre os namorados.
Novamente
voltamos a Nietzsche, que muito entendeu da verdade essencial do Deus vivo,
sepultado sob tantos elementos envelhecidos de nossa cultura religiosa e da
rigidez da ortodoxia das igrejas: a perda da jovialidade, isto é, da graça
divina. É a consequência fundamental da morte de Deus (“Fröhliche Wissenchaft
III, aforismo 343 e 125).
Pelo
fato de havermos perdido a jovialidade, grande parte de nossa cultura não sabe
festejar. Conhece, sim, a frivolidade, os excessos, os palavrões grosseiros e
as festas montadas como comércio.
A
festa tem que ser preparada e somente depois celebrada. Sem essa disposição
interior, corre o risco de perder seu sentido alimentador da vida onerosa que
levamos. Hoje em dia, vivemos em festas. Mas porque não sabemos nos preparar
nem prepará-las, saímos delas vazios ou saturados, quando seu sentido era de
encher-nos de um sentido maior para levar avante a vida, sempre desafiante e,
para a maioria, trabalhosa.”
(LEONARDO
BOFF. Teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 25 de julho de 2014, caderno O.PINIÃO, página 22).
Mais uma
importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem
de artigo publicado no jornal ESTADO DE
MINAS, edição de 25 de julho de 2014, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo
Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:
“Hora
de pensar bem
Não é recomendável
alimentar ilusões diante do jogo pesado que comanda o processo eleitoral. Entre
outras perplexidades, sabe-se dos grupos, inclusive religiosos (ou supostamente
religiosos), que negociam interesses. A partir de interesses nebulosos,
alavancam candidaturas com o objetivo de constituir banca própria. Essa
postura, assim como as habituais negociatas que ocorrem após as eleições, com a
distribuição de cargos segundo interesses partidários, incontestavelmente, está
na contramão da envergadura moral que os cidadãos merecem. Obviamente, são
posturas que prejudicam a governabilidade e comprometem a própria democracia. É
hora de pensar bem sobre a importância do nobre exercício do direito de votar.
Também é preciso refletir a respeito da presença dos cristãos na política.
Essa participação
é autêntica e balizada pela moralidade quando, efetivamente, busca a escolha de
representantes à altura dos postos de responsabilidade do Legislativo e
Executivo. Não é submissa às trocas de favores ou negociações. Quando uma
experiência de fé é madura, tem força para enfrentar a realidade e lutar por
sua transformação. Nunca se coloca a serviço de um propósito egoísta, reduzido
ao território dos interesses de poucos. Lembra-nos o papa Francisco que
“devemos envolver-nos na política, porque a política é uma das formas mais
altas da caridade, porque busca o bem comum”. À luz dos valores do Evangelho de
Jesus e em diálogo com todos os segmentos da sociedade pluralista, o cristão
precisa participar das eleições deste ano. Não por interesse seu, nem mesmo por
objetivos específicos de determinado grupo ou instituição, mas orientado pela
nobre tarefa de ajudar a construir uma sociedade melhor.
É hora
de pensar bem a respeito do que precisa mudar. E não é pouca coisa. Os cenários
políticos e a atuação de lideranças não podem ser avaliados de modo ingênuo.
Também é preciso refletir sobre benefícios que não possuem caráter
emancipatório para avançar o quanto se pode na economia, na cultura, na
educação e nos serviços que são direito do povo. Por isso mesmo, é hora de “passar um pente fino” nos nomes
daqueles que disputarão as eleições, mesmo diante do atual jogo eleitoral, que
precisa mudar a partir de uma profunda reforma política. Os eleitores devem
avaliar seriamente todos os candidatos. É importante votar em quem pauta sua
vida e suas ações nos valores cristãos, embora não seja a única condição de
adequada participação cidadã.
Os que
submetem seus nomes ao sufrágio dos votos devem determinantemente ter o gosto
pelo diálogo. Não se pode governar adequadamente quando não se tem competência
e abertura para ouvir., condição indispensável para promover as mudanças
necessárias a partir da participação dos diversos setores da sociedade. É hora
de pensar bem na lista de candidatos. Apresentar-se como “salvador da pátria”,
adotar a tática dos ataques para afirmar-se pela destruição dos outros ou,
simplesmente, exaltar as próprias qualidades
não podem constituir estratégia para fortalecer nomes. A crise de
liderança na sociedade brasileira, em diferentes âmbitos, políticos e
institucionais, não dispensa o despertar de uma grande rede de instituições,
inclusive as religiosas, para cultivar o exercício cidadão de votar e escolher
bem.
Seguir
no caminho oposto inviabiliza a superação dos gargalos que prejudicam o
crescimento e contribui para o fortalecimento da política imoral, que permite
apropriação das instâncias governamentais, a perpetuação no poder. Consequentemente,
compromete-se o contexto cultural e educativo. Convive-se com os riscos de
retrocessos políticos, principalmente quando são exaltados modelos que não se
ajustam à realidade brasileira, com sua história e conquistas. É hora de pensar
sobre quem tem condições de ser eleito, de representar o povo. A partir do
voto, é possível demonstrar a insatisfação com os políticos que exercerem seus
mandatos distanciados das necessidades da população, que fazem da política um
“balcão de negócios”. É hora de pensar bem!”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas,
democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) Educação – universal e de qualidade
–, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária
ordem (...e que não poupa nem a Cruz Vermelha...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente inestimáveis (a propósito, segundo
o Relatório Justiça em Números 2013, do Conselho Nacional de Justiça, há no
Brasil 92,2 milhões de processos em andamento; ... haja produtividade...);
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma
imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos
tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte,
acessibilidade); minas e energia; emprego,
trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro
nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e
nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil;
logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação;cultura,
esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento –
estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia,
efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade);
entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e
solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas,
oportunidades e potencialidades com todas
as brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e
os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da
globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...
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