segunda-feira, 28 de julho de 2014

A CIDADANIA, O SENTIDO DAS FESTAS E A HORA DE PENSAR BEM

“As festas e o sentido que têm de nos ajudar a levar avante a vida
        
         O tema “festa” é um fenômeno que tem desafiado grandes nomes do pensamento. É que a festa revela o que ainda há de mítico em nós no meio da prevalência da fria racionalidade.
         Quando se realizou a Copa de futebol no Brasil, irromperam grandes festas em todas as classes sociais, verdadeiras celebrações. Mesmo depois da humilhante derrota do Brasil frente à Alemanha, as festas não esmoreceram. A Costa Rica, mesmo não sendo a campeã do mundo, mostrou excelente futebol. Não foi diferente na Colômbia. A festa faz esquecer os fracassos, suspende o terrível cotidiano e o tempo dos relógios. É como se, por um momento, participássemos da eternidade.
         A festa em si, está livre de interesses e finalidades. Todos estão juntos não para aprender ou ensinar algo uns aos outros, mas para se alegrar. A festa reconcilia todas as coisas e nos devolve a saudade do paraíso das delícias que nunca se perdeu totalmente.
         A festa parece um presente que já não depende de nós e que não podemos manipular. Pode-se preparar a festa. Mas a festividade, vale dizer, o espírito da festa, surge de graça.
         Pertence à festa mais social (bodas, aniversário) a roupa festiva, a ornamentação, a música e até a dança. Onde brota a alegria da festa? Talvez  Nietzsche encontrou sua melhor formulação: “para alegrar-se de alguma coisa, precisa-se dizer a todas as coisas: “sejam benvindas”. Portanto, para podermos festejar de verdade, precisamos afirmar positivamente a totalidade das coisas.
         A festa é o tempo forte no qual o sentido secreto da vida é vivido mesmo inconscientemente. Da festa saímos mais fortes para enfrentar as exigências da vida.
         Em grande parte, a grandeza de uma religião reside em sua capacidade de celebrar e de festejar seus santos e mestres, os tempos sagrados, as datas fundacionais. Na festa, cessam as interrogações do coração e o praticante celebra a alegria de sua fé em companhia de irmãos que com ele partilham das mesmas convicções e se sentem próximos de Deus.
         Vivendo dessa forma a festa religiosa, percebemos como é equivocado o discurso que sensacionalisticamente anuncia a morte de Deus. Trata-se de um trágico sintoma de uma sociedade saturada de bens materiais, que assiste lentamente não à morte de Deus, mas à morte do homem, que perdeu a capacidade de chorar e de se alegrar pelo bom da vida, pelo nascer do sol e pela carícia entre os namorados.
         Novamente voltamos a Nietzsche, que muito entendeu da verdade essencial do Deus vivo, sepultado sob tantos elementos envelhecidos de nossa cultura religiosa e da rigidez da ortodoxia das igrejas: a perda da jovialidade, isto é, da graça divina. É a consequência fundamental da morte de Deus (“Fröhliche Wissenchaft III, aforismo 343 e 125).
         Pelo fato de havermos perdido a jovialidade, grande parte de nossa cultura não sabe festejar. Conhece, sim, a frivolidade, os excessos, os palavrões grosseiros e as festas montadas como comércio.
         A festa tem que ser preparada e somente depois celebrada. Sem essa disposição interior, corre o risco de perder seu sentido alimentador da vida onerosa que levamos. Hoje em dia, vivemos em festas. Mas porque não sabemos nos preparar nem prepará-las, saímos delas vazios ou saturados, quando seu sentido era de encher-nos de um sentido maior para levar avante a vida, sempre desafiante e, para a maioria, trabalhosa.”

(LEONARDO BOFF. Teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 25 de julho de 2014, caderno O.PINIÃO, página 22).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 25 de julho de 2014, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Hora de pensar bem
        
         Não é recomendável alimentar ilusões diante do jogo pesado que comanda o processo eleitoral. Entre outras perplexidades, sabe-se dos grupos, inclusive religiosos (ou supostamente religiosos), que negociam interesses. A partir de interesses nebulosos, alavancam candidaturas com o objetivo de constituir banca própria. Essa postura, assim como as habituais negociatas que ocorrem após as eleições, com a distribuição de cargos segundo interesses partidários, incontestavelmente, está na contramão da envergadura moral que os cidadãos merecem. Obviamente, são posturas que prejudicam a governabilidade e comprometem a própria democracia. É hora de pensar bem sobre a importância do nobre exercício do direito de votar. Também é preciso refletir a respeito da presença dos cristãos na política.
         Essa participação é autêntica e balizada pela moralidade quando, efetivamente, busca a escolha de representantes à altura dos postos de responsabilidade do Legislativo e Executivo. Não é submissa às trocas de favores ou negociações. Quando uma experiência de fé é madura, tem força para enfrentar a realidade e lutar por sua transformação. Nunca se coloca a serviço de um propósito egoísta, reduzido ao território dos interesses de poucos. Lembra-nos o papa Francisco que “devemos envolver-nos na política, porque a política é uma das formas mais altas da caridade, porque busca o bem comum”. À luz dos valores do Evangelho de Jesus e em diálogo com todos os segmentos da sociedade pluralista, o cristão precisa participar das eleições deste ano. Não por interesse seu, nem mesmo por objetivos específicos de determinado grupo ou instituição, mas orientado pela nobre tarefa de ajudar a construir uma sociedade melhor.
         É hora de pensar bem a respeito do que precisa mudar. E não é pouca coisa. Os cenários políticos e a atuação de lideranças não podem ser avaliados de modo ingênuo. Também é preciso refletir sobre benefícios que não possuem caráter emancipatório para avançar o quanto se pode na economia, na cultura, na educação e nos serviços que são direito do povo. Por isso mesmo,  é hora de “passar um pente fino” nos nomes daqueles que disputarão as eleições, mesmo diante do atual jogo eleitoral, que precisa mudar a partir de uma profunda reforma política. Os eleitores devem avaliar seriamente todos os candidatos. É importante votar em quem pauta sua vida e suas ações nos valores cristãos, embora não seja a única condição de adequada participação cidadã.
         Os que submetem seus nomes ao sufrágio dos votos devem determinantemente ter o gosto pelo diálogo. Não se pode governar adequadamente quando não se tem competência e abertura para ouvir., condição indispensável para promover as mudanças necessárias a partir da participação dos diversos setores da sociedade. É hora de pensar bem na lista de candidatos. Apresentar-se como “salvador da pátria”, adotar a tática dos ataques para afirmar-se pela destruição dos outros ou, simplesmente, exaltar as próprias qualidades  não podem constituir estratégia para fortalecer nomes. A crise de liderança na sociedade brasileira, em diferentes âmbitos, políticos e institucionais, não dispensa o despertar de uma grande rede de instituições, inclusive as religiosas, para cultivar o exercício cidadão de votar e escolher bem.
         Seguir no caminho oposto inviabiliza a superação dos gargalos que prejudicam o crescimento e contribui para o fortalecimento da política imoral, que permite apropriação das instâncias governamentais, a perpetuação no poder. Consequentemente, compromete-se o contexto cultural e educativo. Convive-se com os riscos de retrocessos políticos, principalmente quando são exaltados modelos que não se ajustam à realidade brasileira, com sua história e conquistas. É hora de pensar sobre quem tem condições de ser eleito, de representar o povo. A partir do voto, é possível demonstrar a insatisfação com os políticos que exercerem seus mandatos distanciados das necessidades da população, que fazem da política um “balcão de negócios”. É hora de pensar bem!”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas,  soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     Educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (...e que não poupa nem a Cruz Vermelha...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente inestimáveis (a propósito, segundo o Relatório Justiça em Números 2013, do Conselho Nacional de Justiça, há no Brasil 92,2 milhões de processos em andamento; ... haja produtividade...);

    c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação;cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...  


           

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