terça-feira, 8 de julho de 2014

A CIDADANIA, A PAIXÃO PELA COPA DO MUNDO E A BUSCA DA EXCELÊNCIA NA EDUCAÇÃO

“Elogio do pé, que sustenta a paixão pela Copa do Mundo
         
         Em tempos de Copa do Mundo, o pé é o que conta de verdade, pois é com o pé que se ganham ou se perdem partidas de futebol e, eventualmente, a Copa.
         Entretanto, se algum extraterrestre viesse à Terra e reparasse como os humanos tratam os pés, suspeito que ficariam escandalizados. Parece que os consideram a parte menos nobre do corpo, pois os escondem. Pior, tentam sufocá-los com um pedaço de pano, chamado de meia. Depois, estrangulam-no com algo mais duro, de couro, os sapatos. E, não contentes, amarram-nos com finas cordas, os cadarços, para se assegurar de que não vão se libertar. Por fim, colocam todo o peso do corpo em cima dos pés, obrigando-os a cheirar o pó dos caminhos, a sofrer a dureza das pedras, a sentir o mau cheiro de tanto lixo jogado no chão.
         Mas essa interpretação dos alienígenas é exterior e equivocada. O que fazemos com os pés é cuidar deles, pois constituem nosso meio natural de transporte. Mais ainda, os pés são o sinal  mais convincente de nossa hominização. Deixamos para trás o reino animal quando nossos ancestrais antropóides se ergueram sobre os pés e começaram a andar eretos, a ver longe, permitindo o desenvolvimento do cérebro.
         Anatomicamente, são um milagre, com dorso adaptado para aparar os atritos e planta consistente para defender-se das asperezas do solo. Uma rede de pequenos tendões garante as articulações, que conferem equilíbrio aos movimentos. O que não fazem os dançarinos com os pés?
         O pé é tão importante que foi escolhido por muitos povos antigos e modernos, como os anglo-saxões, como unidade de mentira. Um pé equivale a 12 polegadas, o que corresponde a 30,48 cm. A poesia, a forma mais nobre da literatura, tem que pés certos para ser harmoniosa.
         Sem os pés, não teríamos o futebol, para o qual os pés são tudo. É o esporte mais criativo, diverso e mobilizador que existe. É uma metáfora do que melhor podemos apresentar: a combinação feliz do desempenho do indivíduo com a cooperação do grupo. Poder ser uma verdadeira escola de virtudes: autodomínio, tranquilidade, gentileza e capacidade de perdão ao não retrucar pontapé com pontapé. Por somos humanos, às vezes tal coisa pode acontecer. Mas não é permitida. O jogador é advertido, punido com cartão amarelo ou vermelho e pode até ser expulso.
         Se consultarmos o dicionário Aurélio, encontramos ali mais de uma dezena de significações ligadas ao pé, em sua grande maioria positivas. Com o pé em algumas dessas significações, vamos fazer o elogio do pé, pé que sustenta a paixão pela Copa do Mundo. Num mundo politicamente sem pé nem cabeça, com chefes de Estado metendo os pés pelas mãos em conflitos na Síria, no Afeganistão e na Palestina, e sempre em pé de guerra contra o terrorismo, encontramos o futebol um pé para pensarmos uma sociedade mundial que dê pé para formas de convivência amigável e até fraternal que encontram pé de apoio no entusiasmo das torcidas em todos os países.
         Por um lado, devemos estar com o pé atrás dos utopismos; por outro, não devemos arredar o pé na busca de formas civilizadas de convivência global. Logicamente, esse mundo não chega nem aos pés  do sonho de Jesus, mas ele tem pé na esperança humana. Podemos começar com pé direito já agora, ficando aos pés das vítimas, mesmo que tenhamos que fazer pé atrás às pressões dos poderosos. Mas vamos bater o pé nessa causa sagrada, sabendo que ela não se alcança com o pé nas costas. Jamais vamos dar no pé.
         Oxalá nossos jogadores, alguns pé de ouro, não nos deixem a pé, para não termos que sofrer que nem pé de cego.”

(LEONARDO BOFF. Filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 27 de junho de 2014, caderno O.PINIAO, página 22).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado na revista VEJA, edição 2379 – ano 47 – nº 26, de 25 de junho de 2014, página 22, de autoria de Claudio de Moura Castro, economista, e que merece igualmente integral transcrição:

“Educação: receita para não recuar
        
         Em um ensaio recente, mostrei que as fórmulas para melhorar a escola são conhecidas e convergentes. Mas eis que retruca Maria Helena G. de Castro: “Como fazer para não desmoronar tudo na gestão seguinte?”. De fato, esse tem sido um dos grandes desapontamentos, pois, se há casos de continuidade, também os há de marcha a ré.
         Minas teve uma notável continuidade na política que contagiou o ensino. Era o décimo melhor estado no início dos anos 90. Ao fim de duas gestões, tornara-se o primeiro. Tropeçou na seguinte. Mas, daí para a frente, recuperou a continuidade e o avanço.
         O Ceará lidera o Nordeste, fruto de uma incomum continuidade nas equipes e nas políticas adotadas. Já em São Paulo, a política sobe e desce, e o mesmo ocorreu na sua educação. O peso da tradição permitiu que recuasse pouco, mesmo nos piores períodos, mas a dinheirama paulista não levou à liderança inconteste que poderíamos esperar.
         Saindo do nada, as escolas de Tocantins tiveram um avanço espetacular – em certos níveis, chegaram a ultrapassar o Rio de Janeiro. Mas, nos meandros da política, tropeçou na continuidade.
         No Rio de Janeiro, deu-se o oposto. Governos ineptos e sucessivos minaram sua educação. Mas, em anos recentes, mostra o seu potencial. Terá continuidade a nova trajetória?
         Pelas suas raízes culturais, o Rio Grande do Sul sobressaiu por muito tempo. Mas, nas últimas gestões, perdeu fôlego.
         São apenas exemplos. Há também os cinco e tantos municípios. O que nos ensina a observação desse sobe e desce?
1 Os ganhos não são irreversíveis. Um sopro, de qualquer direção, faz desmoronar a obra.
2 Contudo, quando dá para trás, o recuo tende a não ser total, alguma coisa sobra.
3 Há uma alta correlação entre a qualidade dos governantes e a robustez da educação.
         Sem dúvida, a descontinuidade é fatal para o ensino, quando um faz e políticos e sindicatos desfazem. Sofre a educação quando predominam sobre o interesse coletivo as nomeações de conveniência. Quando, por razões políticas, a fórmula do anterior precisa ser considerada ruim, desmancha-se o que estava sendo construído. Aliás, não basta ser do mesmo partido, pois os compromissos de campanha do novo incumbente podem sacrificar a continuidade e a motivação das equipes.
         Por que tamanha vulnerabilidade?
         A explicação é simples: uma educação de qualidade não é uma prioridade amplamente compartilhada pela sociedade brasileira. Os grandes avanços resultam do voluntarismo, da liderança e da obstinação de alguns governadores, prefeitos ou secretários. Na loteria política, a sorte leva para as cadeiras certas algumas pessoas iluminadas.
         Nesse clima, acontecem os acertos infrequentes. Parece haver uma atitude morna, um apreço frágil por uma meta tão árdua. E ocorrem os acidentes de percurso: “Pensei que fulano era bom...”. Pensou, mas não verificou. Como essas, há muitas outras ameaças, de origens variadas. Não uma causa única para o retrocesso. A grande constante é a fragilidade das defesas de uma educação de qualidade.
         Tem conserto essa fragilidade? Sejamos otimistas! Afinal, os avanços das décadas recentes foram impressionantes, mesmo diante de países bem-sucedidos nesses assuntos.
         Consideremos, no Brasil não falta mais água nem comida. O governo tremelicou quando uma seca reduziu a oferta de eletricidade. Igualmente, as escolas têm vagas. Mas e a qualidade? Tudo depende das prioridades do povo. Nas sociedades em que a educação é para valer, não se aceitam versões pálidas e os governantes são castigados quando cai a qualidade – isso aconteceu na Alemanha diante de resultados no Pisa considerados vexaminosos. Mas permanecerá a vulnerabilidade nas sociedades em que um fracasso das escolas não atemoriza as “autoridades”.
         Por isso, uma educação à prova de retrocessos requer uma sociedade que não os aceite. Infelizmente, como demonstrado por pesquisa da VEJA, 70% dos pais estão satisfeitos com a escola dos filhos. Portanto, não brigam por uma qualidade que acreditam já existir. Blindar a excelência da educação requer convencer esses pais de que nosso ensino é péssimo e está bloqueando o progresso. Basta isso.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores de mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também  a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis (a propósito, segundo estudo divulgado pela Agência Internacional de Energia – AIE, 14 bilhões de aparelhos conectados – como decodificadores de TV por assinatura, consoles de videogames e impressoras, estão desperdiçando US$ 80 bilhões por ano em decorrência de ineficiência das tecnologias usadas...);

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...     

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