“Educação
e produtividade
Para que possamos levar
metade da população ainda vulnerável a um padrão aceitável de qualidade de
vida, o Brasil precisará de um crescimento médio anual de 4,2% do PIB até 2030,
segundo especialistas. Uma meta factível se triplicarmos o crescimento da
produtividade de uma forma sistêmica e generalizada. Mas, para aumentarmos a
produtividade, precisamos produzir novos conhecimentos, desenvolver e empregar
muita tecnologia. E, para isso, é necessário ter educação e pesquisa de
qualidade. Os países que se desenvolveram mais rapidamente nas últimas décadas
foram os que mais qualificaram sua força de trabalho.
O
Brasil é perfeitamente capaz disso. Desenvolvemos dois setores bem distintos: o
agrícola e o aeroespacial, que hoje são altamente competitivos, principalmente
devido à ênfase dada a pesquisa e desenvolvimento no passado, que continuam com
muito investimento ainda hoje. Neste mundo globalizado e altamente conectado,
precisamos atrair mais os talentos estrangeiros. Pasmem! O Brasil tinha, no
início de 1900, 5% da força de trabalho de estrangeiros. Hoje, um século
depois, temos somente 0,5%. Devemos não só atrair os estrangeiros, mas
principalmente oferecer condições para que os brasileiros que estão no exterior
tenham um vínculo maior com as instituições brasileiras, elevando, assim, o
nível de qualificação de nossos profissionais e, consequentemente, de nossa
produtividade.
Para o
país tornar-se competitivo, é necessário que suas empresas e organizações sejam
competitivas, e, para isso, é necessário que seus colaboradores sejam
profissionais competitivos, que, por sua vez, só o serão se forem qualificados
e produtivos. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) mostrou que a
produtividade do trabalhador na indústria brasileira caiu de 30% para 20% se
comparado ao trabalhador da indústria norte-americana nos anos de 1973 a 2004.
Hoje, um trabalhador norte-americano produz o equivalente à produção de cinco
brasileiros, por um mesmo período. E somente com educação poderemos reverter
esses números. Educação e pesquisa de qualidade geram novas tecnologias,
processos, negócios e produtos.
O
Plano Nacional de Educação, aprovado recentemente no Congresso Nacional, deu ênfase
ao aumento progressivo no investimento do setor público. O objetivo é chegar a
10% do PIB em 2024. Outra meta importante e ambiciosa é a de formar 60 mil
mestres e 25 mil doutores por ano.
A
pesquisa de inovação tecnológica (Pintec), realizada pelo IBGE e divulgada no
final de 2012, mostrou que, entre as 128,68 mil empresas pesquisadas, somente
35,6% haviam sido inovadoras. Essas empresas empregavam nas atividades internas
de pesquisa e desenvolvimento somente 11 mil profissionais pós-graduados. Mostrou
também que a falta de pessoal qualificado era um gargalo para o avanço da
inovação em 72,5% das empresas.
O
Ietec, referência em educação no setor de engenharia há 27 anos, irá contribuir
com essa meta na formação dos mestres, com o mestrado em engenharia e gestão de
sistemas e processos. A união da engenharia com a gestão vem colaborar
significativamente para o desenvolvimento do país. O Brasil tem cerca de 668
mil engenheiros registrados nos conselhos de engenharia e agronomia, e, segundo
o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), desses, somente 28% exerciam
efetivamente a função típica de engenheiro. Onde estão os outros? Grande parte
exercendo cargos de gestão, e outros estão na área de pesquisa e
desenvolvimento.
Precisamos
proporcionar a união da teoria acadêmica avançada dos pesquisadores com a
prática profissional dos engenheiros, administradores e outros profissionais de
ciências sociais e da terra, formando, assim, profissionais com base conceitual
sólida associada à necessidade empresarial. A formação ideal do profissional é
a combinação de uma base ampla de conhecimento matemático teórico com know-how
prático. Educação e produtividade, com mais mestres, para um Brasil mais
próspero e justo.”
(RONALDO
GUSMÃO. Presidente do Instituto de Educação Tecnológica (Ietec), em artigo
publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição
de 17 de julho de 2014, caderno OPINIÃO,
página 7).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
18 de julho, mesmo caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo
Horizonte, e que merece igualmente transcrição:
“Novo
jogo cultural
Jogadas as partidas da
Copa do Mundo, concluído o evento, com os saldos positivos, a sociedade
brasileira, incontestavelmente, está emoldurada pela exigência de investir em
um novo jogo cultural. É pobre o discurso que considera apenas a avaliação exitosa
do Mundial, como vitorioso contraponto às vozes dos que “torciam contra”,
apostando no caos em aeroportos, trânsito e outros serviços. Não foi assim,
felizmente. Contudo, poderia ter sido bem melhor se governantes agissem com
mais lucidez, as burocracias não atrasassem processos e os interesses espúrios
não fossem tão determinantes. Avanços mais expressivos seriam alcançados se
prevalecesse um sentido cidadão por parte daqueles que têm tarefas
determinantes na condução da sociedade plural.
Não
menos ingênuo, depois de sinalizações e posturas populares, nos estádios e nas
ruas, é apontar aspectos negativos do evento para construir o discurso político
da corrida eleitoral em processo. É inteligente saber que o sentimento popular
resiste a essas estratégias utilizadas na confecção de linguagens políticas que
buscam captar a benevolência de eleitores. O Mundial, junto das manifestações
populares que ocorreram em meados de 2013, desenhou no horizonte da sociedade
brasileira que é indispensável investir num novo jogo cultural, sob pena de
atrasos e de vergonhosas goleadas em muitos campos, não só do futebol.
Essa
intuição não é de um político iluminado, de uma estrela do futebol e nem mesmo
de reverenciados intelectuais de diferentes campos das ciências. O povo fez
essa indicação não por um programa formal escrito, divulgado em redes sociais
ou outros meios de comunicação. A postura popular, desde a presença nos
estádios, suas manifestações de apoio ou descontentamento, a interação com
diferentes culturas representadas por turistas e delegações esportivas, com as
marcas da proximidade, do respeito e da alegria, sacramentou a grande
necessidade de um novo jogo cultural na sociedade brasileira. Discursos
repetitivos, consequentemente estéreis, e dificuldade de ouvir e dialogar,
especialmente com os pobres e excluídos, tenderão a processual desmoronamento.
Sem a necessária alma de caráter antropológico, capaz de compreender o conjunto
da existência humana com suas demandas sociais, culturais, religiosas e
políticas, perpetuarão os políticos com campanhas eleitorais de tempos
passados, com discursos de recíprocos ataques. Predominará a superficial busca
de construção de uma imagem de candidato perfeito e salvador da pátria, uma
entediante comunicação que ninguém mais consegue ver e, sem alternativa,
desliga a TV, o rádio. Prevalece a desilusão.
A
reivindicação desse novo jogo cultural torna-se mais intensa, particularmente,
quando se avalia o percurso do grupo campeão da Copa – sua cultura, suas
escolhas de planejamento, sua aptidão de cultivar uma autoestima que sustenta a
capacidade de lutar, conjuntamente, por metas e ideais. Olhar para essa
realidade mostra que a sociedade brasileira precisa analisar e desmontar os
esquemas de elitização, que pouco ajudam nos avanços possíveis na atualidade. Incontestavelmente,
é hora de aproveitar melhor a oportunidade para a instauração de processos em
níveis diferentes da sociedade e nos seus funcionamentos, investindo numa
grande obra educativa e cultural. Não se pode perder a chance de aprofundar
análises para amadurecer intuições e alcançar indicadores novos, diante da
necessidade de novas respostas. Torna-se inoportuno, simplesmente, contentar-se
com as conquistas obtidas, pois ficaram abaixo do que era possível, por
entraves ideológicos, incompetências de gestão e aprisionamento da cidadania em
defesa dos interesses grupais.
A
condição continental do Brasil não pode dispensar a peculiaridade das
diferentes regiões nos estados da Federação, com seus valores, tradições e
patrimônios próprios. Será sempre inoperante tratar uma realidade grande e
complexa sem considerar aquilo que a constitui: suas tradições e valores
regionais. Esse raciocínio vale também para os campos da política, economia e
religião. Não existe pessoa, ou instância, que, de modo solitário, possa reger
um processo de dimensões continentais. Buscar uma nova realidade a partir do
diálogo – com a competência de programas governamentais menos genéricos e
teóricos, cultivo da autoestima e o investimento de base, iluminado por um
horizonte marcado por valores humanísticos – poderá conduzir a sociedade
brasileira no caminho indicado pelo povo. É hora de investir num novo jogo
cultural.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas
estruturas educacionais, governamentais,
jurídicas, políticas, sociais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária
ordem; III – o desperdício, em todas
as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
inexoravelmente irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma
imediata, abrangente, competente e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade,
produtividade, competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e
solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas,
oportunidades e potencialidades com todas
as brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e
os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da
globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...
Nenhum comentário:
Postar um comentário