quinta-feira, 16 de outubro de 2014

A CIDADANIA, AS PRÁTICAS EDUCACIONAIS MEXÍVEIS E IMEXÍVEIS E A MISSÃO DO PROFESSOR


“Mexíveis e imexíveis
        ‘A escola é tão boa quanto seus professores.’
Raras afirmativas encontram tanto consenso entre leigos, pesquisadores, ideólogos e agnósticos. Infelizmente, eles concordam por ser excessivamente vaga, cada um pondo suas próprias interpretações. Sendo eu um incurável pesquisador, vejamos o que dizem os estudos.
         Primeiro, há que traduzir: professor bom é aquele cujos alunos aprendem mais. Portanto, o caminho das luzes consiste em perguntar que características dos professores estão associadas ao maior aprendizado dos alunos.
         Seja no Brasil, seja alhures, sabemos o que não explica quanto os alunos aprendem: a experiência do professor, sua idade e nível de escolaridade – mesmo mestrado. Nada disso se correlaciona com a qualidade do ensino. Não posso deixar de tocar em um vespeiro zangado: o salário dos professores. As pesquisas tendem a mostrar a ausência de associação com qualidade. Uma correlação simples, entre estados brasileiros, mostra que salários mais altos ou mais baixos não se associam ao Ideb de cada um. Mas essa assombração não é nosso tema.
         O essencial em tais características é serem imexíveis. Não se pode mudar a idade do corpo de professores, sua formação prévia ou sua carreira acadêmica. Só com décadas isso se faz. No mundo da fantasia, o salário pode até dobrar. Mas quebram o Fisco os aumentos que melhorariam a qualidade.
         Maurício M. Fernandes e Claudio Ferraz (da USP e PUC-RJ) realizaram uma pesquisa econométrica muito cuidadosa, usando funções de produção para testar o impacto de várias características dos professores (http:www.econ.puc-rio.br/uploads/adm/trabalhos/files/td620.pdf). Com dados do Estado de São Paulo, buscaram testar o impacto de duas variáveis críticas sobre o ensino na 8ª série: 1) o domínio da matéria ensinada (usando as provas da Secretaria de Educação, aplicadas aos professores) e 2) as práticas adotadas em sala de aula. Ambas são “mexíveis”, pois é possível aperfeiçoar o conhecimento dos mestres e, ainda mais factível, melhorar suas técnicas de ensino.
         Alvíssaras! Os resultados são memoráveis. Como em outros países, os professores que melhor dominam o assunto ensinado têm alunos que aprendem mais. Do ponto de vista estatístico, esse resultado é robusto.
         Contudo, a análise demonstra que as práticas de sala de aula têm impacto bem maior do que o conhecimento da matéria. Ou seja, qualquer professor que adotar práticas hoje recomendadas terá alunos que vão aprender muito mais. São técnicas simples, que não requerem equipamentos ou malabarismos metodológicos. No caso, obtêm melhores resultados os professores que passam e corrigem o dever de casa, explicam a matéria até os alunos entenderem, mostram para que serve o aprendido e indicam livros de literatura.
         Em pesquisas desse tipo, apenas se consegue medir dimensões relativamente simples do que acontece na sala de aula. Muita coisa importante fica de fora. Mas já é um grande avanço quando se logra desenhar uma pesquisa que associe resultados a medidas confiáveis dessas variáveis. E foi isso que fizeram os autores. Além disso, foram capazes de controlar estatísticamente – ou seja, manter constantes – variáveis que poderiam explicar diferenças de aprendizado. No caso, demonstrar que os resultados não se devem a amostras viciadas, a características do diretor ou ao que os alunos já sabiam, de séries anteriores.
         O miolo das análises estatísticas é demasiado complicado para explicar em poucas palavras. Mas os resultados são perfeitamente compreensíveis. Mostram que, no caldeirão econométrico, as técnicas de sala de aula passaram à frente de todas as outras variáveis lá despejadas. E são práticas fáceis de aprender e adotar.
         Portanto, a notícia não poderia ser mais bem-vinda. Trata-se de uma pesquisa brasileira, conduzida por autores de bom pedigree e cujos resultados são difíceis de ser contestados. Os procedimentos são de fácil incorporação em sala de aula e seu impacto é maior do que tudo o mais que conhecemos. Pode ser difícil convencer alguns professores a mudar suas práticas. Mas, pelo menos, isso está no campo do possível, em contraste com as alternativas imexíveis.”

(Claudio de Moura Castro. Economista, em artigo publicado na revista VEJA, edição 2375 – ano 47 – n° 22, de 28 de maio de 2014, página 24).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 15 de outubro de 2014, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de DALVA SOARES GOMES DE SOUZA, mestre em língua portuguesa, formada em letras e pedagogia, e que merece igualmente integral transcrição:

“Missão do professor
        Com o avanço da tecnologia, a sala de aula é quase a mesmo dos longíquos tempos: do quadro de giz ao de pincel, do CD e toca-fitas ao pen-drive e ao DVD, além de carteiras, mesa e alguns cartazes alusivos a datas comemorativas ou trabalhos discentes selecionados.
         O professor, até os mais antigos, ao longo dos anos, vem percorrendo essas etapas tecnológicas nada difíceis de serem vencidas, principalmente para maioria que convive bem com a informática, mesmo sem muito aprofundamento.
         Como toda profissão em suas especificidades, a de professor não é diferente. Além da formação acadêmica tão significativa para o domínio do conhecimento, ele precisa ter a qualificação pedagógica, que são as técnicas utilizadas no dia a dia para que possa trabalhar o conteúdo de maneira adequada à realidade da turma, num clima agradável e prazeroso. Nesse domínio, incluem-se os instrumentos tecnológicos da Era do Conhecimento, para que o trabalho docente seja diversificado e atraente. A condução da disciplina trabalhada deve culminar em aprendizagem, objetivo supremo da escola.
         Nos anos iniciais de ensino, constata-se a valorização do domínio pedagógico ostentado pelo professor e, à medida que o aluno vai avançando em seus estudos, o domínio acadêmico do docente vai-se elevando até que, no ensino superior, sobrepuja o pedagógico, embora o equilíbrio seja a melhor postura a ser adotada.
         O pai da psicanálise, Sigmund Freud, reconhecia essa profissão como a do grupo das impossíveis, afirmando: “O fim último da educação é ensinar à criança a dominar os seus impulsos e, por isso, o professor tem que inibir, proibir e reprimir”. Reconhecemos que isso não é fácil. Repressão e permissão exigem pulso forte, naturalmente sem exagero, e muita sabedoria.
         A sociedade não é estática e transforma-se com a rapidez proporcionada pela tecnologia. O tripé do núcleo familiar – pai, mãe e filhos – ficou prejudicado em função das separações conjugais e da necessidade de a mãe trabalhar para ajudar a garantir a sobrevivência da família.
         Com o tempo, a figura do professor ficou excessivamente desgastada. A família, antes partícipe da vida escolar e das posturas naturais que iam sendo adotadas pelos professores, na tentativa de formar o caráter de cada aluno para enfrentar a vida, assume posição contrária, indo de encontro a toda e qualquer atitude que possa desagradar ao filho, muitas vezes, até agredindo o docente. O respeito já não existe como em outros tempos.
         Como se vê, a tarefa do professor transcende qualquer linha limítrofe do nosso sistema terrestre. Ele é formador de opiniões e considerado por seus alunos como modelo, exemplo e referência indiscutível de ser humano. Por isso, nem todos podem exercer essa profissão, mesmo que o pretendente tenha bem os domínios acadêmico e pedagógico.
         Assim, com tanto estímulo e um salário inferior ao de qualquer profissional, uma grave indiferença assolou o interesse dos vestibulandos para a realização de uma licenciatura, muitas já esvaziadas e eliminadas das faculdades.
         Já ouvi professores dizendo que não dão aulas porque os alunos não querem saber de estudar, embora exijam ser aprovados a qualquer preço, a exemplo da infeliz promoção automática que fez parte da vida escolar e não deu certo. Até quando essa realidade permanecerá?
         As mudanças ocorrem naturalmente porque a sociedade evolui e a escola tem que acompanhar. No entanto, a irresponsabilidade não pode sustentar a educação a ponto de comprometer a formação de nossos profissionais que, tão desinformados, geram insegurança em todas as áreas. No dia do professor, parabenizamos aqueles que, mesmo diante de tantas distorções, preocupam-se em qualificar-se e buscam recursos para tornar suas aulas mais consistentes e sua tarefa mais aprazível.”

Eis, pois, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade), em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:  I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, há séculos, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional – pública e privada – normalmente no cenário perverso do “dinheiro público versus interesses privados”, e gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis (a propósito, trecho de Carta de Vauban, melhor engenheiro militar que a França conheceu, endereçada a Lauvois, Superintendente das Construções da França, no reinado de Luís XIV, em 17 de julho de 1683: “Existem algumas pontas de obras dos últimos anos que não estão terminadas e que nunca irão sê-lo. E tudo isso, Senhor, devido à confusão causada pelos freqüentes rebaixamentos de preços que se fazem nas obras de Vossa Mercê,como Empreiteiros, todos os miseráveis que não sabem onde dar com a cabeça, os trapaceiros e os ignorantes. E afastar de Vossa Mercê todos aqueles que têm o que perder e que são capazes de conduzir uma Empresa...”;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro pública, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São gigantescos desafios, e bem o sabemos, mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...

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