“Mexíveis
e imexíveis
‘A escola é tão boa
quanto seus professores.’
Raras afirmativas encontram tanto consenso entre
leigos, pesquisadores, ideólogos e agnósticos. Infelizmente, eles concordam por
ser excessivamente vaga, cada um pondo suas próprias interpretações. Sendo eu
um incurável pesquisador, vejamos o que dizem os estudos.
Primeiro,
há que traduzir: professor bom é aquele cujos alunos aprendem mais. Portanto, o
caminho das luzes consiste em perguntar que características dos professores
estão associadas ao maior aprendizado dos alunos.
Seja
no Brasil, seja alhures, sabemos o que não explica quanto os alunos aprendem: a
experiência do professor, sua idade e nível de escolaridade – mesmo mestrado.
Nada disso se correlaciona com a qualidade do ensino. Não posso deixar de tocar
em um vespeiro zangado: o salário dos professores. As pesquisas tendem a
mostrar a ausência de associação com qualidade. Uma correlação simples, entre
estados brasileiros, mostra que salários mais altos ou mais baixos não se
associam ao Ideb de cada um. Mas essa assombração não é nosso tema.
O
essencial em tais características é serem imexíveis. Não se pode mudar a idade
do corpo de professores, sua formação prévia ou sua carreira acadêmica. Só com
décadas isso se faz. No mundo da fantasia, o salário pode até dobrar. Mas
quebram o Fisco os aumentos que melhorariam a qualidade.
Maurício
M. Fernandes e Claudio Ferraz (da USP e PUC-RJ) realizaram uma pesquisa
econométrica muito cuidadosa, usando funções de produção para testar o impacto
de várias características dos professores
(http:www.econ.puc-rio.br/uploads/adm/trabalhos/files/td620.pdf). Com dados do
Estado de São Paulo, buscaram testar o impacto de duas variáveis críticas sobre
o ensino na 8ª série: 1) o domínio da matéria ensinada (usando as provas da
Secretaria de Educação, aplicadas aos professores) e 2) as práticas adotadas em
sala de aula. Ambas são “mexíveis”, pois é possível aperfeiçoar o conhecimento
dos mestres e, ainda mais factível, melhorar suas técnicas de ensino.
Alvíssaras!
Os resultados são memoráveis. Como em outros países, os professores que melhor
dominam o assunto ensinado têm alunos que aprendem mais. Do ponto de vista
estatístico, esse resultado é robusto.
Contudo,
a análise demonstra que as práticas de sala de aula têm impacto bem maior do
que o conhecimento da matéria. Ou seja, qualquer professor que adotar práticas
hoje recomendadas terá alunos que vão aprender muito mais. São técnicas
simples, que não requerem equipamentos ou malabarismos metodológicos. No caso,
obtêm melhores resultados os professores que passam e corrigem o dever de casa,
explicam a matéria até os alunos entenderem, mostram para que serve o aprendido
e indicam livros de literatura.
Em
pesquisas desse tipo, apenas se consegue medir dimensões relativamente simples
do que acontece na sala de aula. Muita coisa importante fica de fora. Mas já é
um grande avanço quando se logra desenhar uma pesquisa que associe resultados a
medidas confiáveis dessas variáveis. E foi isso que fizeram os autores. Além
disso, foram capazes de controlar estatísticamente – ou seja, manter constantes
– variáveis que poderiam explicar diferenças de aprendizado. No caso, demonstrar
que os resultados não se devem a amostras viciadas, a características do
diretor ou ao que os alunos já sabiam, de séries anteriores.
O
miolo das análises estatísticas é demasiado complicado para explicar em poucas
palavras. Mas os resultados são perfeitamente compreensíveis. Mostram que, no
caldeirão econométrico, as técnicas de sala de aula passaram à frente de todas
as outras variáveis lá despejadas. E são práticas fáceis de aprender e adotar.
Portanto,
a notícia não poderia ser mais bem-vinda. Trata-se de uma pesquisa brasileira,
conduzida por autores de bom pedigree e cujos resultados são difíceis de ser
contestados. Os procedimentos são de fácil incorporação em sala de aula e seu
impacto é maior do que tudo o mais que conhecemos. Pode ser difícil convencer
alguns professores a mudar suas práticas. Mas, pelo menos, isso está no campo
do possível, em contraste com as alternativas imexíveis.”
(Claudio de
Moura Castro. Economista, em artigo publicado na revista VEJA, edição 2375 – ano 47 – n° 22, de
28 de maio de 2014, página 24).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 15 de
outubro de 2014, caderno OPINIÃO, página
9, de autoria de DALVA SOARES GOMES DE
SOUZA, mestre em língua portuguesa, formada em letras e pedagogia, e que
merece igualmente integral transcrição:
“Missão
do professor
Com o avanço da
tecnologia, a sala de aula é quase a mesmo dos longíquos tempos: do quadro de
giz ao de pincel, do CD e toca-fitas ao pen-drive e ao DVD, além de carteiras,
mesa e alguns cartazes alusivos a datas comemorativas ou trabalhos discentes
selecionados.
O
professor, até os mais antigos, ao longo dos anos, vem percorrendo essas etapas
tecnológicas nada difíceis de serem vencidas, principalmente para maioria que
convive bem com a informática, mesmo sem muito aprofundamento.
Como
toda profissão em suas especificidades, a de professor não é diferente. Além da
formação acadêmica tão significativa para o domínio do conhecimento, ele
precisa ter a qualificação pedagógica, que são as técnicas utilizadas no dia a
dia para que possa trabalhar o conteúdo de maneira adequada à realidade da
turma, num clima agradável e prazeroso. Nesse domínio, incluem-se os
instrumentos tecnológicos da Era do Conhecimento, para que o trabalho docente
seja diversificado e atraente. A condução da disciplina trabalhada deve
culminar em aprendizagem, objetivo supremo da escola.
Nos
anos iniciais de ensino, constata-se a valorização do domínio pedagógico
ostentado pelo professor e, à medida que o aluno vai avançando em seus estudos,
o domínio acadêmico do docente vai-se elevando até que, no ensino superior,
sobrepuja o pedagógico, embora o equilíbrio seja a melhor postura a ser
adotada.
O pai
da psicanálise, Sigmund Freud, reconhecia essa profissão como a do grupo das
impossíveis, afirmando: “O fim último da educação é ensinar à criança a dominar
os seus impulsos e, por isso, o professor tem que inibir, proibir e reprimir”.
Reconhecemos que isso não é fácil. Repressão e permissão exigem pulso forte,
naturalmente sem exagero, e muita sabedoria.
A
sociedade não é estática e transforma-se com a rapidez proporcionada pela
tecnologia. O tripé do núcleo familiar – pai, mãe e filhos – ficou prejudicado
em função das separações conjugais e da necessidade de a mãe trabalhar para
ajudar a garantir a sobrevivência da família.
Com o
tempo, a figura do professor ficou excessivamente desgastada. A família, antes
partícipe da vida escolar e das posturas naturais que iam sendo adotadas pelos
professores, na tentativa de formar o caráter de cada aluno para enfrentar a vida,
assume posição contrária, indo de encontro a toda e qualquer atitude que possa
desagradar ao filho, muitas vezes, até agredindo o docente. O respeito já não
existe como em outros tempos.
Como
se vê, a tarefa do professor transcende qualquer linha limítrofe do nosso
sistema terrestre. Ele é formador de opiniões e considerado por seus alunos
como modelo, exemplo e referência indiscutível de ser humano. Por isso, nem
todos podem exercer essa profissão, mesmo que o pretendente tenha bem os
domínios acadêmico e pedagógico.
Assim,
com tanto estímulo e um salário inferior ao de qualquer profissional, uma grave
indiferença assolou o interesse dos vestibulandos para a realização de uma
licenciatura, muitas já esvaziadas e eliminadas das faculdades.
Já
ouvi professores dizendo que não dão aulas porque os alunos não querem saber de
estudar, embora exijam ser aprovados a qualquer preço, a exemplo da infeliz
promoção automática que fez parte da vida escolar e não deu certo. Até quando
essa realidade permanecerá?
As
mudanças ocorrem naturalmente porque a sociedade evolui e a escola tem que
acompanhar. No entanto, a irresponsabilidade não pode sustentar a educação a
ponto de comprometer a formação de nossos profissionais que, tão desinformados,
geram insegurança em todas as áreas. No dia do professor, parabenizamos aqueles
que, mesmo diante de tantas distorções, preocupam-se em qualificar-se e buscam
recursos para tornar suas aulas mais consistentes e sua tarefa mais aprazível.”
Eis, pois, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade), em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que
são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de
forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, há séculos, como um câncer a se espalhar por todas as
esferas da vida nacional – pública e privada – normalmente no cenário perverso
do “dinheiro público versus interesses privados”, e gerando incalculáveis
prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis (a propósito, trecho
de Carta de Vauban, melhor engenheiro militar que a França conheceu, endereçada
a Lauvois, Superintendente das Construções da França, no reinado de Luís XIV,
em 17 de julho de 1683: “Existem algumas pontas de obras dos últimos anos que
não estão terminadas e que nunca irão sê-lo. E tudo isso, Senhor, devido à
confusão causada pelos freqüentes rebaixamentos de preços que se fazem nas
obras de Vossa Mercê,como Empreiteiros, todos os miseráveis que não sabem onde
dar com a cabeça, os trapaceiros e os ignorantes. E afastar de Vossa Mercê
todos aqueles que têm o que perder e que são capazes de conduzir uma
Empresa...”;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$
654 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro pública, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a educação; a saúde; o saneamento
ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados,
macrodrenagem urbana, logística reversa); meio
ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte,
acessibilidade); minas e energia;
emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema
financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança
alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal;
defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e
inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento
– estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia,
efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
São gigantescos desafios, e bem o sabemos, mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e
solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas,
oportunidades e potencialidades com todas
as brasileiras e com todos brasileiros.
Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e
que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos
do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da
internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da
inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo
mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...