segunda-feira, 20 de outubro de 2014

A CIDADANIA, A EDUCAÇÃO, A ÉTICA, A FAMÍLIA E A POLÍTICA

“Educação e ética
        A preocupação com a ética tem se tornado cada vez mais urgente na atualidade, despontando como uma das necessidades mais prementes do homem moderno.
         A tão almejada transformação social passa necessariamente por uma mudança no processo educacional, que deve formar seres capazes de construir um mundo novo, mediante o desenvolvimento de seus níveis intelectual, afetivo, emocional e espiritual, e de seu compromisso com a ética e a responsabilidade social numa visão integradora e formadora de caráter. É um compromisso institucional e individual profundo, que se manifesta no servir, nas percepção da unidade, na diversidade e na busca de orientação para agir de forma a tornar a convivência na sociedade mais harmoniosa.
         Atualmente, a educação vem sendo apontada como a mola propulsora no desenvolvimento de um trabalho sistematizado de análise de valores, aprendizagem de conceitos e desenvolvimento de atitudes, no qual o ato de educar jamais esteve à parte das várias expressões culturais e existenciais da pessoa. Sendo um tipo de vivência social, a escola não deixa de ser atingida pelos novos rumos demandados pela sociedade, embora esteja em descompasso com as inovações tecnológico-científicas.
         Nesse contexto, é importante que o professor tenha uma postura diferenciada na ação educativa, sendo um missionário no desenvolvimento da consciência de seus alunos, e estamos comprometido com o conhecimento na evolução do ser humano. O profissional precisa atuar como educador que pratica o ato de ensinar envolvendo o ser humano na dimensão holística, em todos os aspectos físicos, cognitivos e morais, enxergando seu aluno como um ser dotado de qualidades, potencialidades e saberes.
         Tal comportamento ético por parte dos professores é esperado e exigido pela sociedade. Contudo, sempre nos deparamos com esse questionamento: o que envolve tomar uma atitude ética dentro da instituição de trabalho? Antes de tentar encontrar uma resposta, devemos levar em conta que tomar uma decisão ética se assemelha à forma com que os sujeitos agem na família ou na vida pessoal. No entanto, isso se torna complexo e angustiante ao constatarmos que, no contexto educacional, a maioria dos profissionais sofre pressão da instituição na hora de decidir sobre o que é melhor fazer. É nesse momento que percebe claramente a postura do professor e do educador.
         Pensar criticamente e refletir sobre as consequências das escolhas individuais ou coletivas cria espaço para uma ética enraizada no tempo que seja capaz de acolher os desafios. É assim que as instituições pairam em todas as áreas do fazer e do saber humanos.
         Acredito que, para compreender esse processo, cumpre levar em conta a significação social de valores pelos professores, bem como detectar seus interesses, sentimentos e o sentido de ser educador e ser ético.”

(Elma Bernardes Santiago. Professora de ética e responsabilidade social (FGV/Faculdade IBS), em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 16 de outubro de 2014, caderno O.PINIÃO, página 23).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 17 de outubro de 2014, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Família e políticas
        A partir de temas importantes da atualidade e da consideração de diferentes campos – político, acadêmico, econômico e religioso –, a Igreja Católica, por convocação do papa Francisco, debate e estuda a situação da família humana. A 3ª Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos, em Roma, sobre esse tema, congrega representantes de todo o mundo. Contribui para o avanço e compreensão de aspectos cruciais de tudo o que se refere à família na contemporaneidade. O Sínodo indica a preocupação central da Igreja sobre a vida familiar. Sua organização há muito tempo e, certamente, esse significativo processo de escuta e reflexão deve continuar até a sessão ordinária do Sínodo dos Bispos, a ser realizada em outubro de 2015.
         Família humana é tema central, emoldurado por grande complexidade, principalmente quando se consideram aspectos do presente e do futuro da sociedade. A atenção às famílias, sua compreensão e a definição de política emancipatórias em seu favor não podem se reduzir a aportes financeiros mínimos, de caráter compensatório. É preciso avançar na direção da justiça, além de compreender melhor o significado humanístico e o sentido ético-moral de família, uma insubstituível escola de humanidade. Trata-se de ambiente onde cada pessoa vive as experiências mais determinantes em sua trajetória. O sucesso de outras escolas tem íntima relação com as significativas experiências familiares. E as lacunas nessas experiências provocam  prejuízos, atrasam processos e inviabilizam avanços culturais.
         A família tem uma evangelho próprio, que é sua maior riqueza. Compreendê-la inclui, pois, não apenas as definições sobre sua dimensão funcional e de sua sustentabilidade. Assim, quando se pensa a família, explicita-se a exigência importante de não apenas tratá-la como adjetivação de programas sociais. Evidentemente, ao reconhecer o seu amplo papel, deve-se empenhar na criação de condições mínimas para sua sobrevivência. Mas, além disso, governantes e gestores são desafiados a construir, de modo criativo, estratégias capazes de configurar garantias mais amplas aos grupos familiares. Passou aquele tempo em que grande era o bombardeio contra a família, praticado por setores importantes da sociedade. Contudo, apesar de ter amainado a “guerra” contra essa instituição, continua desafiador o seu tratamento no atual contexto sociocultural, caracterizado por muitas nuances.
         Exigente pois, é a escuta e reflexão do evangelho da família, tesouro que guarda valores determinantes para a educação afetiva e humanística de cada pessoa, fonte de insubstituível  sentido moral que a consciência cidadã não pode dispensar. Abdicar-se dessa tarefa é contribuir para processos degradantes como a desumanização, que pode ser até irreversível. Sem dúvida, o ideal de família é um horizonte inspirador.
         A compreensão de família cristã, por exemplo, inclui o balizamento de um desígnio de Deus. Constitui um complexo de relações interpessoais, em referência à vida conjugal, paternidade, maternidade, fraternidade, filiação, configurando a “pertença” à família humana e à família de Deus. Essa compreensão tem o seu nascimento no sacramento do matrimônio. O contexto sociocultural, no entanto, desafia entendimentos e distinções que apontam no sentido de se considerarem muitas exigências e necessidades humanitárias. O certo é que a importância global da família não dispensa, visando seu bem maior e a fecundidade de sua insubstituível tarefa na vida da sociedade, a abordagem das dimensões espiritual, humanística, educativa e social. Nesse sentido, as igrejas têm, no seu serviço à família humana, uma tarefa própria. Também possuem atribuições nesse âmbito as diferentes instituições e instâncias da sociedade pluralista.
         É pertinente, por exemplo, que empresas, ao definirem suas políticas de responsabilidade social, considerem investir nas famílias que sofrem com a miséria, falta de moradia, educação e saúde. No campo político, por que não instituir uma legislação semelhante à que já existe, para incentivar projetos culturais, que estimulem as empresas a investirem no amparo às famílias mais pobres? Talvez fosse o caminho para superar a dependência de alguns grupos familiares das ajudas esporádicas, com alcance muito limitado. No calor dos debates e programas eleitorais, entre outros anseios, espera-se dos candidatos a apresentação de propostas mais ousadas, com força de comprometimento social e político, para as famílias, especialmente as que necessitam de moradia, educação, saúde, lazer e tudo que represente um direito de todos. Não basta apenas  dizer “que vai continuar” ou “dar uma melhorada” no que já é feito.
         O momento eleitoral decisivo de agora não requer propagandas e debates caracterizados pelos ataques pessoais e promessas sem a indicação dos caminhos para sua concretização. É hora de escolher quem, de fato, é propositivo, capaz de mostrar o caminho real das mudanças. Exige-se um perfil com a competência para articular, em rede, a educação, a saúde, a segurança, o respeito aos direitos fundamentais, indo além de questões meramente partidárias. Especialmente, almeja-se que inovadoras políticas voltadas para a família sejam construídas, reconhecendo sempre a centralidade da instituição familiar para a vida em sociedade.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,  fecundas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, há séculos a se espalhar por todas as esferas da vida nacional – pública e privada,  naturalmente promíscua – gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem (a propósito, noticia a Folha de São Paulo de 14/12/1994: “... É preciso que se crie uma política anticorrupção no país, pois o esquema empregado atualmente é sofisticadíssimo”, – disse o presidente da CEI  (Comissão Especial de Investigação), o ministro Romildo Canhim...”; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público; mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...   

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