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sexta-feira, 30 de outubro de 2015

A CIDADANIA, A LUZ DA CONSCIÊNCIA E OS DESAFIOS DAS PAUTAS SOBRE A FAMÍLIA

“A consciência, una, faz despertar 
a luz que há dentro de tudo
        No caminho espiritual, vamos, aos poucos, ampliando o conceito que temos da consciência. Para o senso comum, em geral, a consciência é a mente ou, quando muito, o que vem do plano intuitivo. Se nos mantemos polarizados no plano mental e no intuitivo, planos de onde provêm ideias, pensamentos e impulsos, tendemos a crer que nossa percepção é a consciência propriamente dita. Mas nesses planos há só uma parcela da consciência, aquela que ali se expressa. O que existe na mente e no plano intuitivo não é a consciência pura.
         Para transcendermos nosso conceito atual de consciência, precisaríamos parar um pouco e observar de fora nossos pensamentos. Ao fazermos isso, não deveríamos confundi-los com a consciência. Da mesma maneira, também deveríamos observar as ideias que nos surgem sem confundi-las com a consciência. A partir daí, poderemos, com mais facilidade, encontrar o que está além.
         Há em nós algo maior, superior ao nível dos pensamentos e das intuições, algo em que a mente normal não penetra. Se ficarmos assistindo o que se passa na mente, cientes de que tudo aquilo é apenas uma parte da consciência, poderemos ter maior clareza. Passaremos a perceber realidades mais profundas sem planejar, e começaremos a nos identificar com esse nível superior que nos toca. Então, na presença de alguma pessoa, situação ou objeto, em vez de automaticamente nos envolvermos com nossas ideias e nossos preconceitos a seu respeito, veremos essas realidades mais internas, subjetivas.
         Podemos, por exemplo, estar diante de um acontecimento e saber para o que ele vai servir, sem havermos pensado algo; ou podemos estar diante de uma pessoa e perceber a realidade interna do seu ser, simplesmente. Quando isso começa a suceder, nossa vida muda por completo. Passamos a compreender melhor os fatos, a conhecer os outros mais verdadeiramente, sem mesmo chegarmos a pensar sobre isso, sem nos basear no que a pessoa diz, ou no que externamente vemos nela, no que achamos dela.
         Assim, reconhecemos que a consciência existe também nas coisas materiais, nos ambientes e na Natureza. Vemos que tudo é consciência – e que a consciência é una. Então, quando atingimos esse ponto passamos a entrar nos lugares com outra atitude, porque distinguimos o que se poderia chamar de “consciência ambiental”.
         Tamanha ampliação traz significativo aprofundamento à nossa vida. Nossos sonhos mudam de qualidade e, aos despertar, notamos que algo se transformou em nós. A consciência vai trabalhando o nosso ser por dentro. E em dado momento ela emerge, seja qual for o estado do nosso ser exterior – queira ele ou não, possa ou não segui-la. Ela romperá qualquer obstáculo e a veremos agir, veremos que basta darmos a permissão para estarmos completamente imbuídos dela. É uma energia maior, e mais cedo ou mais tarde nosso ser inteiro a seguirá.
         A consciência começa a trabalhar nosso ser pelas suas partes menos resistentes. Pouco a pouco, contudo, outras partes vão integrando-se nesse processo, que a tudo englobará: a matéria do corpo físico, do corpo emocional e do corpo mental, o ambiente, o mundo. A consciência, que é una, faz isso para penetrar em tudo e despertar a luz que há dentro de tudo, faz isso para sutilizar, elevar, expandir. Ela tudo transforma. É viva. Sua expansão diviniza a vida.
         E a vida, ao ser divinizada, transforma-se ainda mais e se torna, então, consciência pura.”

(TRIGUEIRINHO. Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 13 de setembro de 2015, caderno O.PINIÃO, página 16).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 9 de outubro de 2015, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Pautas sobre a família
        Centenas de participantes estão reunidos com o papa Francisco no Sínodo dos Bispos, em Roma, para refletir sobre uma realidade que diz respeito a todos: a família. A instituição familiar exige das organizações governamentais e não governamentais, segmentos todos da sociedade, especial atenção. A família – alicerce da vida pessoal, comunitária e social – não deve ser tratada de qualquer maneira. Por isso, a Igreja, de modo comprometido e sério, debruça-se sobre a família, em uma escuta ampla, sensível a diferentes culturas. Considera os muitos desafios e problemas, iluminando-os com sua sólida e inegociável doutrina.
         A retomada indispensável de referências doutrinais não deve ser entendida como um enrijecimento diante das mudanças que marcam a cultura contemporânea. A doutrina cristã católica sobre a família não é uma “camisa de força”. É um horizonte norteador que qualifica a Igreja no exercício de sua missão. Desse patamar seguro, pés firmados na verdade e no amor, podem ser enfrentados os enormes desafios que estão afetando a vida familiar na atualidade, a realidade na casa de cada um de nós.
         Ilusório, obviamente, seria pensar em mudança doutrinal diante de valores inegociáveis que alicerçam a família. Essa base é referência imprescindível para encontrar as respostas novas, que permitam a qualificação indispensável de homens e mulheres para cumprirem sua tarefa e missão como integrantes de grupos familiares. Iluminadas por esses valores, as famílias tornam-se caminhos novos que levam a sociedade a afastar-se de suas muitas decadências.
         Por ser tão determinante, uma realidade complexa, a família reúne também um conjunto complexo de pautas a serem profundamente analisadas. É importante pensá-la a partir das diferentes perspectivas científicas, considerar as muitas culturas, necessidades e as profundas mudanças na contemporaneidade. A Igreja sabe do enorme desafio que é buscar caminhos para que essa instituição continue a ser lugar de processos educativos determinantes na formação de cidadãos. Muito importante é a compreensão e indispensável é o respeito à natureza cristã da família, quanto à sua formação e ao seu funcionamento. Trata-se de clarividência e fidelidade que contribuem para fazer dessa realidade relacional um ambiente melhor e que ajude as pessoas no exercício de tarefas cidadãs, com respeito a princípios éticos e morais. Uma escola que também forma líderes capazes de impulsionar a sociedade na direção do bem, da justiça e da paz.
         É preciso compreender a família na sua configuração antropológica, iluminada pela claridade de valores inegociáveis que definem os seus rumos como lugar de determinantes processos educativos. Ora, a experiência familiar pode fazer avançar a humanidade ou comprometê-la, pois formata a assimilação de modelos que orientam dinâmicas do cotidiano, as condições de inserção em processos sociais e políticos. As instituições e instâncias todas da sociedade têm grande responsabilidade quanto ao tratamento dado à família e ao que define a sua essencialidade. O Sínodo dos Bispos é a Igreja Católica iluminando-se em inesgotável fonte de tradição e valores para encontrar caminhos no enfrentamento de intrincados desafios morais e existenciais, a partir da sua tarefa missionária, espiritual e humanitária.
         Nessa missão, a Igreja, conforma afirma o papa Francisco, se insere como um “hospital de campanha” em plena guerra de ideologias e de perigosas relativizações. Acolhe os feridos para qualificar homens e mulheres no desempenho de tarefas educativas vivendo o amor e por amor, à luz da fé. Busca, assim, fazer com que cada casa, lugar sagrado, seja antídoto para a deterioração da sociedade contemporânea. Modelos rígidos, pouco humanistas, laxistas ou moralistas, incapazes de considerar cada pessoa como única, sem abertura à solidariedade, e com o cultivo suicida do fechamento à espiritualidade, manterão vidas em prisões a céu aberto.
         Orientada por sua sólida doutrina, a Igreja Católica se desafia para encontrar modos e dinâmicas que façam da vida familiar um lugar capaz de formar homens e mulheres marcados pelo humanismo. Não se trata absolutamente de mudanças de práticas burocráticas ou de relativizações pelas fragilidades da cultura contemporânea. Com iluminação teológica e da fé em estreita fidelidade a princípios e valores, a Igreja Católica busca, assim, contribuir para que a sociedade não se acomode nos parâmetros da mediocridade. Todos devemos investir para que a família, cada vez mais, seja grande escola da educação, da santidade e da vida. De pequenas a significativas intervenções, dinâmicas precisam ser intuídas a partir da cooperação e empenho de cada pessoa. Eis o desafio: são muitas as pautas sobre a família.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)      a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da liberdade, da participação, da sustentabilidade...);

     b)      o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em setembro a estratosférica marca de 361,40% ao ano; e mais, também em setembro, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,49%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

     c)       a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”  
  

          

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

A CIDADANIA, A EDUCAÇÃO, A ÉTICA, A FAMÍLIA E A POLÍTICA

“Educação e ética
        A preocupação com a ética tem se tornado cada vez mais urgente na atualidade, despontando como uma das necessidades mais prementes do homem moderno.
         A tão almejada transformação social passa necessariamente por uma mudança no processo educacional, que deve formar seres capazes de construir um mundo novo, mediante o desenvolvimento de seus níveis intelectual, afetivo, emocional e espiritual, e de seu compromisso com a ética e a responsabilidade social numa visão integradora e formadora de caráter. É um compromisso institucional e individual profundo, que se manifesta no servir, nas percepção da unidade, na diversidade e na busca de orientação para agir de forma a tornar a convivência na sociedade mais harmoniosa.
         Atualmente, a educação vem sendo apontada como a mola propulsora no desenvolvimento de um trabalho sistematizado de análise de valores, aprendizagem de conceitos e desenvolvimento de atitudes, no qual o ato de educar jamais esteve à parte das várias expressões culturais e existenciais da pessoa. Sendo um tipo de vivência social, a escola não deixa de ser atingida pelos novos rumos demandados pela sociedade, embora esteja em descompasso com as inovações tecnológico-científicas.
         Nesse contexto, é importante que o professor tenha uma postura diferenciada na ação educativa, sendo um missionário no desenvolvimento da consciência de seus alunos, e estamos comprometido com o conhecimento na evolução do ser humano. O profissional precisa atuar como educador que pratica o ato de ensinar envolvendo o ser humano na dimensão holística, em todos os aspectos físicos, cognitivos e morais, enxergando seu aluno como um ser dotado de qualidades, potencialidades e saberes.
         Tal comportamento ético por parte dos professores é esperado e exigido pela sociedade. Contudo, sempre nos deparamos com esse questionamento: o que envolve tomar uma atitude ética dentro da instituição de trabalho? Antes de tentar encontrar uma resposta, devemos levar em conta que tomar uma decisão ética se assemelha à forma com que os sujeitos agem na família ou na vida pessoal. No entanto, isso se torna complexo e angustiante ao constatarmos que, no contexto educacional, a maioria dos profissionais sofre pressão da instituição na hora de decidir sobre o que é melhor fazer. É nesse momento que percebe claramente a postura do professor e do educador.
         Pensar criticamente e refletir sobre as consequências das escolhas individuais ou coletivas cria espaço para uma ética enraizada no tempo que seja capaz de acolher os desafios. É assim que as instituições pairam em todas as áreas do fazer e do saber humanos.
         Acredito que, para compreender esse processo, cumpre levar em conta a significação social de valores pelos professores, bem como detectar seus interesses, sentimentos e o sentido de ser educador e ser ético.”

(Elma Bernardes Santiago. Professora de ética e responsabilidade social (FGV/Faculdade IBS), em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 16 de outubro de 2014, caderno O.PINIÃO, página 23).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 17 de outubro de 2014, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Família e políticas
        A partir de temas importantes da atualidade e da consideração de diferentes campos – político, acadêmico, econômico e religioso –, a Igreja Católica, por convocação do papa Francisco, debate e estuda a situação da família humana. A 3ª Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos, em Roma, sobre esse tema, congrega representantes de todo o mundo. Contribui para o avanço e compreensão de aspectos cruciais de tudo o que se refere à família na contemporaneidade. O Sínodo indica a preocupação central da Igreja sobre a vida familiar. Sua organização há muito tempo e, certamente, esse significativo processo de escuta e reflexão deve continuar até a sessão ordinária do Sínodo dos Bispos, a ser realizada em outubro de 2015.
         Família humana é tema central, emoldurado por grande complexidade, principalmente quando se consideram aspectos do presente e do futuro da sociedade. A atenção às famílias, sua compreensão e a definição de política emancipatórias em seu favor não podem se reduzir a aportes financeiros mínimos, de caráter compensatório. É preciso avançar na direção da justiça, além de compreender melhor o significado humanístico e o sentido ético-moral de família, uma insubstituível escola de humanidade. Trata-se de ambiente onde cada pessoa vive as experiências mais determinantes em sua trajetória. O sucesso de outras escolas tem íntima relação com as significativas experiências familiares. E as lacunas nessas experiências provocam  prejuízos, atrasam processos e inviabilizam avanços culturais.
         A família tem uma evangelho próprio, que é sua maior riqueza. Compreendê-la inclui, pois, não apenas as definições sobre sua dimensão funcional e de sua sustentabilidade. Assim, quando se pensa a família, explicita-se a exigência importante de não apenas tratá-la como adjetivação de programas sociais. Evidentemente, ao reconhecer o seu amplo papel, deve-se empenhar na criação de condições mínimas para sua sobrevivência. Mas, além disso, governantes e gestores são desafiados a construir, de modo criativo, estratégias capazes de configurar garantias mais amplas aos grupos familiares. Passou aquele tempo em que grande era o bombardeio contra a família, praticado por setores importantes da sociedade. Contudo, apesar de ter amainado a “guerra” contra essa instituição, continua desafiador o seu tratamento no atual contexto sociocultural, caracterizado por muitas nuances.
         Exigente pois, é a escuta e reflexão do evangelho da família, tesouro que guarda valores determinantes para a educação afetiva e humanística de cada pessoa, fonte de insubstituível  sentido moral que a consciência cidadã não pode dispensar. Abdicar-se dessa tarefa é contribuir para processos degradantes como a desumanização, que pode ser até irreversível. Sem dúvida, o ideal de família é um horizonte inspirador.
         A compreensão de família cristã, por exemplo, inclui o balizamento de um desígnio de Deus. Constitui um complexo de relações interpessoais, em referência à vida conjugal, paternidade, maternidade, fraternidade, filiação, configurando a “pertença” à família humana e à família de Deus. Essa compreensão tem o seu nascimento no sacramento do matrimônio. O contexto sociocultural, no entanto, desafia entendimentos e distinções que apontam no sentido de se considerarem muitas exigências e necessidades humanitárias. O certo é que a importância global da família não dispensa, visando seu bem maior e a fecundidade de sua insubstituível tarefa na vida da sociedade, a abordagem das dimensões espiritual, humanística, educativa e social. Nesse sentido, as igrejas têm, no seu serviço à família humana, uma tarefa própria. Também possuem atribuições nesse âmbito as diferentes instituições e instâncias da sociedade pluralista.
         É pertinente, por exemplo, que empresas, ao definirem suas políticas de responsabilidade social, considerem investir nas famílias que sofrem com a miséria, falta de moradia, educação e saúde. No campo político, por que não instituir uma legislação semelhante à que já existe, para incentivar projetos culturais, que estimulem as empresas a investirem no amparo às famílias mais pobres? Talvez fosse o caminho para superar a dependência de alguns grupos familiares das ajudas esporádicas, com alcance muito limitado. No calor dos debates e programas eleitorais, entre outros anseios, espera-se dos candidatos a apresentação de propostas mais ousadas, com força de comprometimento social e político, para as famílias, especialmente as que necessitam de moradia, educação, saúde, lazer e tudo que represente um direito de todos. Não basta apenas  dizer “que vai continuar” ou “dar uma melhorada” no que já é feito.
         O momento eleitoral decisivo de agora não requer propagandas e debates caracterizados pelos ataques pessoais e promessas sem a indicação dos caminhos para sua concretização. É hora de escolher quem, de fato, é propositivo, capaz de mostrar o caminho real das mudanças. Exige-se um perfil com a competência para articular, em rede, a educação, a saúde, a segurança, o respeito aos direitos fundamentais, indo além de questões meramente partidárias. Especialmente, almeja-se que inovadoras políticas voltadas para a família sejam construídas, reconhecendo sempre a centralidade da instituição familiar para a vida em sociedade.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,  fecundas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, há séculos a se espalhar por todas as esferas da vida nacional – pública e privada,  naturalmente promíscua – gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem (a propósito, noticia a Folha de São Paulo de 14/12/1994: “... É preciso que se crie uma política anticorrupção no país, pois o esquema empregado atualmente é sofisticadíssimo”, – disse o presidente da CEI  (Comissão Especial de Investigação), o ministro Romildo Canhim...”; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público; mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


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