quarta-feira, 6 de maio de 2015

A CIDADANIA, A VONTADE ESPIRITUAL E AS SAÍDAS DA EXCLUSÃO E DA PUNIÇÃO

“Uma sintonia com a espiritualidade abre caminho para a saúde
        Na época atual, milhões de pessoas necessitam de cura.
         Quando buscamos compreender o que é a doença, percebemos que ela é independente de nós. Embora seja parte do planeta em que vivemos, surge no nosso corpo físico, no mental e no emocional, mas não naquela parte que habita dentro de nós, a alma, que não é de natureza material.
         Uma das tarefas da humanidade é diminuir a tendência à doença, que impregna tudo o que é material, e a forma de transcender os níveis de consciência em que as enfermidades se manifestam é enfocarmos níveis mais elevados, espirituais do nosso ser, que são imunes a elas.
         A atenção da maioria está concentrada no corpo físico e nos próprios sentimentos e ideias. E é nesses níveis de consciência que as doenças se instalam. Mas há outros, não infectados, a que podemos ter acesso. Os níveis intuitivo e espiritual, por exemplo, ficam além da mente e abrem caminho para a saúde, pois estão em sintonia com energias solares e extraplanetárias, e constituem uma espécie de esfera de proteção não só para os seres humanos, mas também para tudo o que os cercam.
         A focalização da mente no nível intuitivo e o espiritual exige reeducação. Por épocas inteiras fomos habituados a só pensar em doenças, a considera-las opositoras e a nos prevenir contra elas.
         Se durante a vida permanecemos com a atenção só no corpo físico, nas emoções e nos pensamentos, não nos libertamos das enfermidades. O sentido real da vida é reconhecido quando nos tornamos cientes de que temos um núcleo espiritual portador de energias universais e curativas. Como o próprio fato de saber disso nos conecta com esse centro interno de poder, resta-nos retirar a atenção dos níveis doentios e coloca-la nele.
         Ao procurarmos contato com o mundo intuitivo e com o espiritual, onde está guardadas as ideias divinas que deram origem à Terra e a nós, estaremos a caminho da cura. Poderemos, então, usar os tratamentos disponíveis na medicina e na psicologia, se necessário, mas saberemos que são recursos acessórios e que a cura vem de regiões profundas do nosso ser.
         Nosso núcleo espiritual conhece a ideia divina que nos deu origem, e sua vontade é realiza-la plenamente. A vontade humana, contudo, atuante no nível físico, no emocional e no mental, é na maioria das vezes oposta a ela. Esse distanciamento entre a vontade espiritual e a vontade humana é outra causa de desequilíbrio, que nos predispõe às enfermidades naturalmente já presentes no planeta.
         Mesmo dentro de conjuntura terrestre podemos estar menos predispostos a enfermidades, a depender da nossa sintonia com a vontade espiritual.
         Se contatamos os níveis superiores da consciência, níveis que estão além da mente, facilitamos a harmonização da vontade humana com a vontade espiritual. Para isso, um dos passos é perguntar para nós mesmos: “Qual é a vontade superior para mim?”. “Qual é a minha verdadeira vida?”;
         Mas, ao fazermos essas perguntas, nosso lado humano tenta dissuadir-nos e diz: “Não mexa com isso?”, ou “Cuidado com essas perguntas, você pode perder algo, é melhor não arriscar”. Essas vozes vêm do velho homem que está em nós.
         As condições da existência material tornam-se cada vez mais difíceis, e isso nos impulsiona ainda mais a procurar o verdadeiro caminho e a realização da vontade espiritual. Temos um trabalho evolutivo a fazer, aguarda-nos um amplo serviço ao próximo e ao planeta que habitamos.”

(TRIGUEIRINHO. Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 27 de julho de 2014, caderno O.PINIÃO, página 20).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 2 de maio de 2015, caderno PENSAR, página 3, de autoria de INEZ LEMOS, psicanalista, e que merece igualmente integral transcrição:

Excluir
E PUNIR
         O filme Casa Grande, de Fellipe Barbosa, coloca em cena o debate das cotas raciais, personagem central do combate ao racismo no Brasil – enquanto o negro for excluído da sociedade, dificilmente será respeitado e acolhido. E para que a inclusão ocorra, ele deve participar das oportunidades que o país oferece. Sem educação de qualidade, sem a inserção no mercado de trabalho e, portanto, na sociedade de consumo, sempre será visto como marginal. A tríade negro, pobre e bandido ainda provoca ressonância nos remanescentes da Casa Grande, cujo imaginário confunde favela com senzala, negro com escravo e pobre com bandido. As cotas são um dos projetos polêmicos que acirram diversas formas de leituras do tecido político, social e cultural que vivemos.
         Destacamos também o que prevê a redução da maioridade pena de 18 anos para 16. Interessa analisar o que subjaz ao projeto, quando esse defende interesses de segmentos sociais economicamente dominantes. Como entender famílias que se julgam do bem, honradas, concordar em encarcerar adolescentes que têm a rua como único recurso de sobrevivência, quando muitos são filhos de famílias abandônicas e desestruturadas? E, em função da falta de apoio e oportunidades, se lançam entre os desamparados e, com eles, ingressam no mundo do crime?
         O argumento de que ao expulsar os adolescentes da rua por meio da repressão e punição iremos reduzir a violência é risível e despropositado. Sabemos que se repressão fosse a saída, a reincidência entre os encarcerados seria quase nula. Na defesa da exclusão da garotada que perambula pelas cidades, sem rumo e programas sociais eficazes, oculta o anseio pela sensação de proteção – fantasia de segurança. Excluir é mais fácil que educar, cuidar e prevenir.
         Cuidar de uma sociedade exige estender o olhar do início ao fim – do momento em que o indivíduo nasce, cresce e morre. Cuidar é mais promissor que abandonar – é mais barato educar bem uma criança, acompanhar sua trajetória e lhe garantir um futuro de oportunidades do que desampará-la e, depois de inserida em atos ilícitos, tentar recuperá-la. Diferente do que muitos afirmam, a maioria dos garotos de 16 anos não escolheram o crime como opção de vida – foi a vida que, ao não lhes garantir melhores oportunidades, os jogou na contravenção. Muitos nem sequer foram alçados a seres humanos e conscientes de seus atos. Agem como animais, movidos por instintos e alheios aos códigos civilizatórios. Excluídos da função paterna, operam fora da culpa. Apenas seguem os ditames do capitalismo cruel: matar para exibir o tênis de marca ou o último lançamento em smartphone.
         Na cultura da ostentação reina o narcisismo individualista e imediatista, que espetaculariza a aparência e despreza a essência. Contudo, somos responsáveis pela demanda dos garotos por objetos de consumo – estilo playboy. Quando os exemplos entre os adultos não coadunam com os discursos moralistas cristãos, respaldados na ideia do livre-arbítrio, justiça e honra, fica visível o desejo incansável em punir por punir, sem se preocupar em oferecer ao garoto chances de se recuperar. O apelo por justiça oculta vingança, maldade, preconceito e racismo. A eugenia é um projeto de limpeza, de higienização – excluir da praça os que incomodam.
         Para que o princípio de realidade se sobreponha ao princípio do prazer, a criança deve ser interditada em suas pulsões perversas – limitada e contrariada em seu corpo pulsional, que berra, chora e exige o que lhe convém. Como bem nos lembrou o psicanalista Hélio Pellegrino: “O pacto edípico que garante o pacto social”. Exigir de um adolescente renúncia pulsional, sem antes lhe oferecer um outro destino às suas pulsões, seria acreditar em autoformação, autogestão.
         Partindo do pressuposto de que ninguém se autoeduca, e que essa é  função dos pais, talvez o melhor fosse criar leis que cobrem responsabilidade destes, e, em caso de descumprimento, recair sobre eles a punição devida. Quando um menor comete um crime, a Promotoria da Infância e da Juventude deve convocar os pais ou responsável e cobrar deles uma atuação mais fecunda junto ao delinquente. Para tanto, o Brasil deve intensificar as políticas públicas de planejamento familiar que assegurem à criança um lar estruturado. Gravidez na adolescência, a metáfora da banalização da vida.
         A lógica do imediatismo não trata de ações preventivas, apenas paliativos que mais machucam, punem e pouco recuperam. Muitas vezes, o garoto parte para o crime como uma forma de reivindicar carinho e atenção. Sabemos que, ao ser privado de uma família que o acolhesse, muitos agem por revolta e vingança – cobram do mundo o que a vida lhes negou. Não devemos castigar e punir quem já é punido e castigado por sociedades excludentes, desiguais e injustas. Há de se descobrirem formas mais eficientes, justas e humanas de inserir o delinquente nos limites da lei. Não há impunidade para a criança que sofre privações afetivas e materiais, viver é a punição.
         Para que o garoto respeite os códigos de convivência social e absolva as regras do bem viver, é preciso que, desde bebê, internalize as restrições e frustrações. A interdição no corpo pulsional provoca mal-estar, efeito da economia pulsional. Ao demandar uma sociedade menos violenta, devemos exigir propostas que visem cuidar e amparar o cidadão, oferecendo-lhe oportunidades, apontando direitos e cobrando deveres. Sem isso, ficamos apenas na retórica do dever cumprido, justificado pelo pagamento de impostos.
         No século 19, Freud, ao intensificar seus estudos sobre a histeria, observa que onde havia um corpo urrando de dor havia um desejo reprimido – efeito da repressão sexual da época sobre o corpo feminino. É quando a literatura começa a se abrir para o desejo sufocado, proibido e tão bem retratado em Madame Bovary, de Gustav Flaubert. Nos romances, as heroínas vivenciavam relações sexuais extraconjugais, despertando o desejo entre as mulheres que, embora casadas, muitas não haviam experimentado o prazer sexual. Hoje, o sintoma social resulta do excesso de permissividade – ausência de repressão. Adolescentes que não são interditados em suas pulsões, quando deparam com a lei não a reconhecem. A sociedade de consumo explora a permissividade por ela ser rentável – vende de tablets a sapato de salto para meninas.
         O declínio da metáfora paterna, quando os pais impõem limites ao filho, culmina em jovens estúpidos. O show de violência, agressividade e desrespeito não se restringe às classes sociais. A roda que gira na senzala gira também na Casa Grande. Um dia, as crianças de hoje serão os adultos desrespeitosos, machistas, corruptos e criminosos de amanhã. Sem consciência social, o Brasil da permissividade é um convite à ilegalidade e à corrupção. Criminalidade e função paterna – relação que inviabiliza responsabilizar apenas os garotos pela violência que aflige o país. A criminalidade não é apenas dos adolescentes, mas de toda a sociedade. Talvez o segmento social que mais esteja interessado na redução da maioridade penal seja dos que sempre lutaram por privilégios, e não por direitos. Punir e excluir a garotada das oportunidades e dos recursos públicos fere o conceito de res publica – coisa pública.
         O cidadão atual é um panicado, estressado. E anseia que algo aconteça e lhe devolva a tranquilidade de outrora. Sai do trabalho e, em casa, é bombardeado pela mídia sangrenta que, por sua vez, é alimentada pela cultura do estupor, disseminando terror e pânico. É de se esperar que se anseie em retornar ao paraíso, lugar sem violência, assaltos, crimes. Longe dos conflitos sociais e das penúrias impostas pela desigualdade social, educação frágil e paternidade e maternidade irresponsável. Contudo, a sociedade atual quer abolir a violência sem enfrentar as raízes do conflito, apenas pela supressão do problema – punindo e excluindo os negativos sociais. Não há dúvida de que, certamente, é sobre eles que a guilhotina recairá.
         A subjetividade atual se caracteriza pela suspensão do pensamento, é quando o cidadão idealiza soluções do campo da reflexão, e, sem se implicar nas questões, se coloca passivo e alheio a tudo o que o incomoda. É como se as agruras que o atingem fossem algo estranho a ele mesmo – não lhe cabe se ocupar ou tentar entender o mal que lhe acomete. Na inexistência do questionamento, o registro do pensamento fica suspenso. No jogo de omissões, implantamos o genocídio dos jovens e adolescentes, principalmente entre pobres e negros.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (assim sendo, já é crítica a superação da marca de 8% no acumulado de doze meses...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a simples divulgação do balanço auditado da Petrobras, que, em síntese, apresenta no exercício de 2014 perdas pela corrupção de R$ 6,2 bilhões e prejuízos de R$ 21,6 bilhões, não pode de forma alguma significar página virada – eis que valores simbólicos –, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (haja vista as muitas faces mostrando a gravidade da dupla crise de falta – de água e de energia elétrica...);

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2015, segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO!...
            

                 

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